O
secretário-geral do PS considera que Pedro Passos Coelho procura agora inverter
o ónus de ter posto um ponto final nas conversações e sustenta que as
divergências não são de lugares, mas de "reorientação de política".
Estas
posições são assumidas por António Costa numa carta de resposta à missiva que
Pedro Passos Coelho enviou no domingo, na qual o presidente do PSD desafiou o
secretário-geral do PS a enviar uma "contraproposta objetiva" para
mostrar empenho nas negociações e a dizer com clareza se pretende entrar numa
coligação de Governo com sociais-democratas e centristas.
"O
que nos separa não são lugares no Governo, que recusámos desde o início, ou o
relacionamento pessoal - bastante cordial, devo reconhecê-lo - mas a imperiosa
necessidade do país e a soberana vontade dos portugueses de uma reorientação de
política, que persistem em não aceitar", contrapõe António Costa na carta
de resposta.
Em
relação à carta que recebeu de Pedro Passos Coelho no domingo, a
que a TSF teve acesso, o líder socialista sustenta que essa missiva "tem
como único propósito procurar inverter o ónus de pôr o 'ponto final' - que já
anunciara - no que designou de conversas entre o PS, o PSD e o CDS com vista a
um entendimento que pudesse garantir a estabilidade e a governabilidade".
"Na
própria noite das eleições tive ocasião de expressar publicamente o que a
Comissão Política Nacional do PS reafirmou na sua deliberação de 6 de outubro:
O PS reconheceu que cabe em primeiro lugar ao PPD/PSD, como partido com maior
representação parlamentar, criar condições de governabilidade;
responsavelmente, o PS assumiu também e desde logo que não contribuiria para
formar uma maioria negativa, apostada em obstaculizar a ação de um governo, ou
a inviabilizar a sua formação sem assegurar uma alternativa real e
credível", afirma António Costa.
Ou
seja, de acordo com o líder socialista, o PS não só reconhece "o legítimo
primado de iniciativa do PPD/PSD como partido com maior representação
parlamentar, como assegura uma atitude construtiva e de não obstaculização da
sua ação governativa ou de inviabilização da formação de um Governo de sua
iniciativa, sem que houvesse uma alternativa real e credível".
Neste
contexto, António Costa refere-se ao principal fator que, na sua perspetiva
estará a bloquear as negociações com a coligação PSD/CDS.
"A
perda da maioria pela coligação constitui um novo cenário político, fruto de
uma expressiva vontade de mudança que coloca no PSD e no CDS o ónus de criarem
condições de governabilidade neste novo quadro parlamentar. A coligação tem de
perceber que não pode governar como se nada tivesse acontecido e deve explicar
como pretende assegurar a governabilidade", vinca António Costa.
Na
carta dirigida a Pedro Passos Coelho, o secretário-geral escreve que solicitou
a 9 de outubro informação financeira detalhada por escrito.
"Aguardámos
um documento que finalmente nos enviou em 12 de outubro e que pudemos apreciar
longamente na reunião de 13 de outubro, conforme sintetizei por escrito na
minha carta de 16 de outubro, expondo a reorientação política que no nosso
entendimento traduz a vontade dos portugueses expressa não só em bases
programáticas como também em medidas concretas. Em vez de, como fizemos,
analisar a minha carta, identificando os pontos de concordância e discordância,
porventura até parcial, [Pedro Passos Coelho] limita-se a rejeitá-lo em bloco,
com o extraordinário argumento de serem as bases programáticas e as medidas
constantes do programa do PS", critica o secretário-geral socialista.
Na
sequência deste episódio, António Costa questiona Pedro Passos Coelho:
"Mas o que esperava? Que propuséssemos as medidas do programa do
PSD/CDS?"
"Nada
acrescentando a sua carta [de domingo] ao anterior documento que considerámos
muito insuficiente, nada mais posso acrescentar, para além de insistir na
necessidade de nos ser disponibilizado integralmente o conjunto de informação
financeira que oportunamente solicitámos e que só foi parcialmente respondido.
Por fim, reafirmo-lhe que, responsavelmente, o PS procurará assegurar as
melhores condições de estabilidade e governabilidade que garantam esta
reorientação, no quadro plural da nova representação parlamentar",
acrescenta António Costa.
TSF
– foto Miguel A. Lopes / Lusa
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