Rui
Sá* – Jornal de Notícias
Eu,
pecador, me confesso. Seja qual for a solução governativa que viermos a ter,
esta semana já valeu a pena pelas gargalhadas que me provocaram alguns
argumentos utilizados por caras tão indignadas como assustadas. E,
principalmente, por ver tantas máscaras a cair a tão distintos como, pelos
vistos, falsos democratas.
Eu
sei, que os assuntos são sérios mas, caramba, um homem não é de pau, e ver como
a simples hipótese de o Governo vir a ser viabilizado pela CDU (e pelo BE)
causa tanto cagaço a certos senhores, deu-me um grande gozo.
De
facto, para estes senhores, as eleições são algo de tolerável, mas só se os
resultados forem de acordo com o que está previamente definido: ou seja, apenas
se conduzirem a governos constituídos e/ou viabilizados pelos do costume... No
entender destes senhores, há para aí uns partidos que devem (ou podem?)
concorrer às eleições, mas, sejam quais forem os resultados, irem para o
Governo (ou simplesmente viabilizarem o Governo) é que não!... Sim, que isto de
democracia tem que ter limites...
Agora,
até dizem que há falta de ética política, pois caso o PS tivesse dito que se
coligaria à esquerda, os resultados seriam diferentes. Mas os que dizem isto
são os mesmos que fizeram exatamente o contrário do que o PSD e o CDS
prometeram aos eleitores em 2011. Não seriam diferentes os resultados se Passos
e Portas dissessem que iam aumentar os impostos, baixar salários, retirar
subsídios de Natal? Claro que, para estes senhores, mentir aos eleitores faz
parte da ética democrática...
Mas,
em desespero de causa, vão ao baú buscar os argumentos que esgrimiram no pós-25
de Abril. Verdade seja dita, estão mais modernos... Já não dizem (como nessa
altura alguns destes senhores disseram) que os comunistas comem criancinhas ou
dão injeções atrás das orelhas aos velhinhos... Atualizaram-se, mas o objetivo
é o mesmo: espalhar o medo, difundir a ideia do "ou nós ou o caos",
da inexistência de alternativas - como os senhores da Inquisição que julgaram
Galileu por saberem como é perigoso pôr em causa o
"inquestionável"...
Entretanto,
dirigentes do PS mostram a sua verdadeira cara, defendendo o apoio deste
partido a um Governo da coligação PSD/CDS... Fazendo com que os adeptos da PàF
apelem a dissidências nos deputados do PS que viabilizem um eventual Governo de
Passos/Portas - o que seria, na sua opinião, verdadeiramente "ético"
e "democrático"...
Já
não é uma questão de verniz a estalar. É mesmo falta de verniz...
*Engenheiro
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