domingo, 8 de fevereiro de 2015

Seguindo os passos do grego Syriza, Podemos lidera pesquisa de intenção de voto na Espanha



Opera Mundi, São Paulo

Assim como partido helênico, Podemos prega o fim da 'era da austeridade' e é a grande novidade política do país em 80 anos de bipartidarismo

Pesquisa de intenção de voto realizada pela empresa Metroscopia, divulgada pelo jornal espanhol El País neste domingo (08/02), indica que o novo partido Podemos, criado há um ano, lidera as pesquisas de intenção de voto na Espanha. O protagonismo do movimento comandado por Pablo Iglesias é a grande novidade política no país que há 80 anos alterna o poder entre o PP (Partido Popular) e o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol). 

De acordo com a sondagem, o Podemos lidera com 27,7% das intenções de voto. O governista PP de Mariano Rajoy tem 20,9% e os socialistas de Pedro Sánchez têm a preferência de 18,3% do eleitorado. A Espanha terá dois pleitos em 2015: os locais, em maio, e o geral, em novembro.

A pesquisa foi realizada no começo do mês, entre os dias 3 e 4, dias após a manifetação do Podemos que reuniu mais de 150 mil pessoas na Porta do Sol, em Madrid. Apesar disso, o partido perdeu cinco décimos desde a última sondagem.

Outro novato no cenário político espanhol, o partido de centro-esquerda Ciudadanos já se consolida como a quarta maior força no país, com 12,2%, quatro pontos a mais do que o verificado em janeiro.

Grécia

vitória do partido de esquerda Syriza na Grécia no último mês deu um novo impulso aos movimentos progressistas na Europa. Na noite em que foi divulgado o resultado, o filósofo italiano Paolo Flores d’Arcais escreveu: “Hoje na Grécia, amanhã na Espanha, depois de amanhã na Itália.”

No mesmo sentido, Pablo Iglesias afirmou que “2015 será o ano da mudança na Espanha e na Europa. Vamos começar pela Grécia.” Anuncia-se o fim da “era da austeridade” e um novo efeito dominó, inverso daquele que a Grécia abriu na zona euro em 2010.

Durante discurso na "Marcha da Mudança" - nome dado para o evento realizado no sábado (31/01), Iglesias, usou o exemplo da vitória da esquerda na Grécia para afirmar que leva "muito a sério os sonhos de recuperar o poder estatal de investimento". E acrescentou: "Quem dizia que não era possível? A Grécia como exemplo de mudança política na Europa. Sonhamos com um país melhor, mas não viemos à Porta do Sol para sonhar, e sim para fazer nossos sonhos virarem realidade", reafirmou.

A iniciativa tenta se organizar de maneira diferente dos partidos tradicionais, por meio de grupos de bairros, que são chamados de círculos. Cada círculo tem autonomia para discutir e executar ações dentro de sua região sem precisar da autorização de nenhum dirigente dentro do Podemos. Para o intelectual português Boaventura dos Santos, trata-se da "maior inovação política na Europa desde o fim da Guerra Fria e, ao contrário do Syriza e do BE [Bloco de Esquerda de Portugal], nele não são visíveis traços da Guerra Fria".

Contra o Podemos, no entanto, pesam críticas de que seu programa eleitoral não é baseado em propostas concretas e sim em “sonhos convertíveis em realidade”, baseados na recente experiência grega, como escreveu o jornal El País.

AGORA É QUE SE VAI VER O QUE QUER A EUROPA




O governo grego está a tentar afastar bloqueios políticos a um corte explícito na dívida, substituindo-o por um corte implícito, de menores dimensões, mas com impacto comparável no serviço da dívida. Em resumo, trata-se de ganhar tempo.

José Gusmão*

O braço de ferro entre as instituições europeias, ou seja, o governo alemão, e o governo grego está a ter desenvolvimentos rápidos: o anúncio de Varoufakis de que a Grécia aceita uma reestruturação sem haircut é uma concessão enorme e até arriscada, tendo em conta o carácter obviamente insustentável da dívida atual. O governo grego está a tentar afastar bloqueios políticos a um corte explícito na dívida, substituindo-o por um corte implícito, de menores dimensões, mas com impacto comparável no serviço da dívida. Em resumo, trata-se de ganhar tempo.

Em contrapartida, o governo grego propõe-se transpor o esforço do ajustamento dos cortes na despesa para o aumento da receita fiscal. Em resumo, trata-se de inverter a política de austeridade e fazer o ajustamento pela receita, através do crescimento e do combate á evasão fiscal. O risco da opção do governo grego reside na dúvida sobre se um alívio da ordem dos 3%/3,5% do PIB é suficiente para implementar uma política de relançamento.

Do outro lado da mesa de negociações, a "concessão" de Juncker em relação ao fim da troika é uma mão cheia de nada. Há mais de um ano que foi apresentado no Parlamento Europeu (e entretanto aprovado por esmagadora maioria) um relatório que derrete a Troika, considerando-a uma solução sem legitimidade institucional e democrática. Prometer acabar com a dita é como ameaçar um cadáver.

A nova proposta do Syriza, sendo arriscada, tem o mérito de ser indiscutivelmente razoável. Os apoios à postura negocial do Syriza vão-se multiplicando e o isolamento político arrisca-se a mudar de lado. Isso não quer dizer que a senhora Merkel se impressione, mas esta nova fase destas negociações vai mostrar o que é que é realmente importante para as instituições europeias. Se a União Europeia insistir que a dívida é para pagar, ponto, isso significaria que a Grécia teria de avançar para uma posição de força, que poderia terminar com a sua expulsão do Euro. Ou então ceder em toda a linha, o que seria o fim do governo Syriza.

Um outro cenário é a UE aceitar as condições do governo grego mas impor a habitual "condicionalidade" política, normalmente resumida como "política orçamental saudável" e "reformas estruturais promotoras do crescimento". São expressões bastante ambíguas mas, no jargão europês, toda a gente sabe o que isto quer dizer: cortes na despesa, privatizações, precarização do mercado de trabalho, etc. O problema é que a UE já percebeu que, com este governo, não pode contar com sub-entendidos. Para haver condicionalidade efetiva, terá de haver um memorando clarinho como a água, com as medidas todas discriminadas e prazos férreos.

Penso que será aqui que vai bater o ponto. Se o governo grego aceitar a política de austeridade, terá o seu alívio orçamental, que será completamente inútil. Por outro lado, as instituições europeias sabem que se for permitido a um Estado-membro conduzir uma política em tudo oposta às recomendações de Bruxelas, vai haver milhões de europeus a perceber que há mesmo alternativas. E pior: correm melhor do que o que há. Ou, pelo menos, menos mal. E isso é mau, mau, mau.

O resultado deste confronto será decisivo para a Europa. E para este cantinho da Europa à beira-mar plantado. Que os comentadores de direita critiquem o radicalismo do Syriza às 3ªs, 5ªs e Sábados, e as cedências do Syriza às 2ªs, 4ªs e 6ªs, é compreensível. A descredibilização deste governo é um combate de vida ou morte para a agenda da direita.

O meu maior espanto vai, pelo contrário, para os vastíssimos sectores da esquerda portuguesa que, perante o que ali se passa, se transformam em analistas políticos e espectadores. É um sintoma de provincianismo. Porque a luta dos gregos não é apenas uma luta justa noutro qualquer lugar do mundo. É a nossa luta. A mesmíssima. A nossa própria. Se eles perderem, e podem bem perder, também perdemos nós. Quem não percebe isto, não percebe nada.

José Gusmão - Esquerda.net, opinião

*Dirigente do Bloco de Esquerda, economista - Artigo publicado em Ladrões de Bicicletas

AL QAIDA NÃO ESTÁ IMPLICADA NOS ATENTADOS DO 11 DE SETEMBRO - relatório




Relatório do Congresso sobre a tortura confirma que a al-Qaida não está implicada nos atentados do 11 de Setembro

Thierry Meyssan*

Os extractos tornados públicos do relatório da Comissão senatorial sobre o programa secreto de tortura da CIA fazem surgir à luz do dia uma vasta organização criminosa. Thierry Meyssan leu, por vós, as 525 páginas deste documento. Ele encontrou, lá, as provas do que vêm antecipando desde há vários anos.

Dianne Feinstein, presidente da Comissão senatorial da Inteligência, tornou público, a 9 de dezembro de 2014, um extracto do seu relatório classificado sobre o programa secreto de tortura da CIA [1].

Apresentação do relatório

A parte desclassificada não corresponde senão a uma décima-segunda parte do relatório inicial.

O relatório, em si mesmo, não aborda o vasto sistema de rapto, e sequestro, que a Marinha dos E.U. colocou em prática durante os mandatos do presidente George W. Bush; um programa que levou a raptar, no mundo inteiro, e a sequestrar mais de 80. 000 pessoas, em 17 barcos de fundo chato, estacionados em águas internacionais (estes navios são: o USS Bataan:, USS Peleliu, USS Ashland, USNS Stockham, USNS Watson, USNS Watkins, USNS Sister, USNS Charlton, USNS Pomeroy, USNS Red Cloud, USNS Soderman, USNS Dahl, MV PFC William B Baugh, MV Alex Bonnyman, MV Franklin J Phillips, MV Louis J Huage Jr, MV James Anderson Jr.). Ele limita-se a analisar o conteúdo de 119 casos de cobaias humanas, submetidas a experiências psicológicas em Guantanamo e em cerca de cinquenta prisões secretas, entre 2002 e final de 2009, ou seja, um ano após a eleição de Barack Obama.

Os extractos do relatório não indicam quais os critérios de escolha destas cobaias humanas. Limitam-se a afirmar que todos os prisioneiros denunciaram o que se segue, indicando, ao mesmo tempo, que as confissões não foram extorquidas mas sim captadas sem mais. Por outras palavras, a CIA quis justificar as suas escolhas fabricando denúncias a posteriori.

No relatório inicial, os nomes dos agentes, e contratados da CIA, envolvidos foram substituídos por pseudónimos. Além disso, os extractos desclassificados foram grandemente censurados, principalmente, para apagar os nomes dos cúmplices estrangeiros da CIA.

O conteúdo do relatório

Eu li, de forma completa, as 525 páginas dos extractos do relatório tonados públicos . No entanto, fiquei longe de ter tirado deles todas as informações, já que são necessárias numerosas pesquisas para interpretar as passagens censuradas.

As sessões de condicionamento (mental-ndT) foram efectuadas em cerca de cinquenta prisões secretas, sob a responsabilidade da «Alec Station», a unidade da CIA encarregada de seguir Osama bin Laden. As infra-estruturas, o pessoal e os transportes eram da responsabilidade do «Grupo de logística e detenção» da CIA. As sessões eram concebidas e realizadas sob a supervisão de dois psicólogos contratados, que formaram uma sociedade em 2005. As autorizações de utilização de técnicas de condicionamento foram dadas ao mais alto nível, sem especificar que essas torturas tinham por fim condicionar e não extrair informações.

O vice-presidente Dick Cheney, a conselheira de Segurança Nacional Condoleezza Rice, o secretário da Justiça John Ashcroft, o secretário da Defesa Donald Rumsfeld, secretário de Estado Colin Powell e o director da CIA George Tenet, participaram em reuniões sobre este assunto na Casa Branca. Eles assistiram a simulações na Casa Branca, e visionaram gravações de algumas sessões ; gravações que foram posteriormente, e ilegalmente, destruídas. Estas reuniões tinham, evidentemente, por objectivo «molhar» estas personalidades, mas, não é possível determinar qual delas sabia para que efeito eram usadas essas técnicas.

Entretanto, em junho de 2007, Condoleezza Rice foi, pessoalmente, informada, em resumo, pelo contratado da CIA que supervisionava as experiências. A conselheira de segurança nacional autorizou a continuação das experiências, mas diminuiu o numero de torturas autorizadas.

Os extractos do relatório, publicados, contêm uma análise detalhada do modo como a CIA mentiu aos outros ramos da administração Bush, aos média (mídia-br) e ao Congresso.

As experiências do professor Martin Seligman

O extracto, publicado, do relatório confirma que a CIA realizou experiências baseadas nos trabalhos do professor Martin Seligman (teoria da «impotência assumida»). Elas não tinham por objectivo obter confissões ou informações, mas, sim, incutir um discurso ou um comportamento aos sujeitos. A maior parte das citações que a imprensa fez, dos trechos do relatório, presta-se à confusão. Com efeito, a CIA fala de «métodos de condicionamento», sob o nome de «métodos extra-padrão de interrogatório» (non-standard means of interrogation). Fora de contexto, pode-se, pois, pensar que o termo «interrogatório» designa a pesquisa de informação, quando ele significa sessões de condicionamento dos sujeitos.

Todos os nomes dos torturadores foram censurados no extracto desclassificado do relatório. Porém, reconhece-se Bruce Jessen sob o pseudónimo de «Grayson Swigert», e James Mitchell sob o de «Hammond Dunbar». A partir de 12 de abril de 2002, os dois homens supervisionaram o programa. Eles estavam presentes nas prisões secretas, fisicamente. Em 2005, eles estabeleceram uma sociedade comercial, Mitchell, Jessen & Associates (designada como «Companhia Y» no relatório). A sua empresa recebeu pagamento de 81 milhões de dólares de 2005 a 2010 . Seguidamente, eles foram contratados pelo Exército de Terra para dirigir um programa sobre comportamento em 1,1 milhões de soldados norte-americanos.

Em maio de 2003, um oficial sénior da CIA questionou o inspector-geral da Agência, mostrando que os trabalhos do professor Seligman eram baseados nas torturas praticadas pelo Vietname do Norte, afim de obter de «confissões para efeitos de propaganda». O oficial punha em causa o programa de condicionamento. A sua chamada de atenção não teve qualquer efeito. No entanto, ele cometeu um pequeno erro citando o Vietname do Norte, sendo que as pesquisas de Seligman eram baseadas, tal como as práticas dos norte-vietnamitas, em trabalhos coreanos.

O modo como os torcionários se protegeram

Segundo a Comissão senatorial, o programa de tortura da CIA foi ordenado pelo presidente George W. Bush, a 17 de setembro de 2001, seis dias após os atentados. Ele tinha como único objectivo fornecer meios extra ao inquérito sobre os atentados de 11 de Setembro de 2001. No entanto, este programa foi, imediatamente, desenvolvido em violação de certas instruções do Presidente. Por consequência, logo que terminados os atentados, a CIA, à revelia da Casa Branca, esforçou-se em fabricar falsos testemunhos atestando, mentirosamente, a culpabilidade da al-Qaida.

O presidente George Bush e os parlamentares foram enganados pela CIA que: 

- obteve autorizac
̧ões para a prática de certos actos de tortura mascarando, para isso, a sua verdadeira finalidade 

- e, falsamente, apresentou confisso
̃es inculcadas, como se elas tivessem sido extorquidas sob tortura.

Quando o presidente Bush reconheceu, a 6 de setembro de 2006, a existência do programa de torturas secretas da CIA ele defendeu esta prática, argumentando que ela tinha permitido obter informações que salvaram vidas. Ele baseou-se nos falsos relatórios da CIA, e ignorava que esta fabricava provas em vez de as procurar. De imediato, a imprensa atlantista mergulhou na barbárie e debateu o mérito ou não da tortura, apresentando-o como um mal necessário para obter o bem.

Os torturadores trataram de se garantir cobertura legal. Assim sendo, eles pediram autorização para a praticar ao Departamento de Justiça. Mas, este apenas se pronunciou sobre a legalidade dos métodos utilizados (isolamento, confinamento numa pequena caixa, simulação de enterro, utilização de insectos, etc.), e não sobre o programa no seu conjunto. A maior parte dos juristas só autorizava posturas particulares, ignorando, aqui, as suas consequências psicológicas uma vez combinadas. Todas as autorizações foram reunidas em agosto de 2002.

Os dirigentes da CIA que autorizaram estas experimentações especificaram, por escrito, que as cobaias humanas deviam ser incineradas se sucumbissem durante o condicionamento, ou que elas deveriam ficar em prisão perpétua se sobrevivessem.

«Confissões» fabricadas

Que fique bem claro : a Comissão Senatorial não diz que as confissões dos prisioneiros da CIA são legalmente incorrectas, por terem sido obtidas sob tortura, ela mostra que a CIA não interrogou estes prisioneiros, mas, sim, que os condicionou para que eles confessem situações e actos que lhes são estranhos. A Comissão precisa que os agentes da CIA nem sequer procuraram saber o que os detidos haviam confessado, aquando dos interrogatórios precedentes, às autoridades que os prenderam. Por outras palavras, não só a CIA não procurou saber se a al-Qaida estava envolvida, ou não, nos atentados, como a sua acção não teve outro propósito senão o de fabricar falsos testemunhos atestando, mentirosamente, a implicação da al-Qaida nos atentados de 11 de Setembro.

A Comissão Senatorial não se preocupa em saber se as confissões das cobaias humanas foram extorquidas ou inculcadas, mas, depois de explicar que os supervisores eram peritos do condicionamento e não de interrogatórios, ela detalha, longamente, o facto que nenhum desses «testemunhos» permitiu antecipar fosse o que fosse. Ela demonstra que a CIA mentiu ao pretender que eles tinham permitido evitar outros atentados. A Comissão não escreve que as informações sobre a al-Qaida contidas nessas confissões são fabricações, mas, ela ressalta que tudo o que era comprovável era falso. Ao fazê-lo, a Comissão desmente explicitamente os argumentos que foram utilizados para justificar a tortura e anula, implicitamente, os testemunhos que foram utilizadas para ligar a al-Qaida aos atentados do 11 de Setembro.

Este relatório confirma, de modo oficial, as várias informações que nós havíamos apresentado aos nossos leitores, e, que contradizem e invalidam o trabalho dos “thinks tanks” (círculos de pensamento político- ndT) atlantistas, das universidades e da imprensa desde o 11 de Setembro, tanto no que diz respeito aos atentados de 2.001, em si mesmos, como no que diz respeito à al-Qaida.

Na sequência da publicação de trechos deste relatório, parece que todos os testemunhos, citados no relatório da Comissão Presidencial de inquérito sobre o 11 de Setembro, ligando estes atentados à al-Qaida são falsos. Já não existe mais, nesta altura, o menor indício permitindo atribuir estes atentados à al-Qaida: não existe nenhuma prova que as 19 pessoas acusadas de ser os piratas do ar se tenham encontrado, naquele dia, num destes quatro aviões, e nenhuma das confissões de antigos membros da al-Qaida reivindicando os atentados é genuína [2].

O relatório confirma o que nós reveláramos em 2009

Em outubro de 2009, eu havia publicado um estudo sobre este assunto na revista russa Odnako [3]. Aí, afirmava que Guantanamo não era um centro de interrogatório, mas sim de condicionamento. Por outro lado, eu colocava em causa, pessoalmente, o Professor Seligman. Um ano mais tarde, após o artigo ter sido traduzido para Inglês, psicólogos norte-americanos desencadearam uma campanha para exigir a Martin Seligman que se explicasse. Como resposta este negou o seu papel de torturador, e, lançou um processo judicial contra mim e contra a Rede Voltaire, em França e no Líbano, onde eu morava. Em última análise, o professor Seligman instruiu os seus advogados para parar os procedimentos depois de termos publicado uma das suas cartas, seguida de uma explicação de texto [4]. Martin Seligman demandou identicamente todos aqueles que trataram deste assunto, como Bryant Weich doHunffington Post [5].

E agora

A senadora Diane Feinstein veio, corajosamente, publicar uma parte do seu relatório, apesar da oposição do actual director da CIA, John Brennan, anteriormente encarregado de controlar este programa de tortura.

O Presidente Barak Obama anunciou que ele não demandaria nenhum dos responsáveis deste crimes, enquanto os defensores dos direitos humanos se batem para que os torturadores sejam levados perante a justiça. É o mínimo que se pode fazer.

No entanto, as reais perguntas estão algures: porque é que a CIA cometeu tais crimes ? Porque é que ela fabricou confissões, permitindo conectar artificialmente a al-Qaida aos atentados de 11 de Setembro? E, por conseguinte, não tendo a al-Qaida nenhuma relação com os atentados de 11 de Setembro, quem é que a CIA procurou proteger?

Por fim, o programa da CIA só visou 119 cobaias humanas, que se passa, pois, com os 80. 000 prisioneiros secretos da US Navy (Marinha dos EUA-ndT) ?



*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008)

Notas
[1] “Study of the CIA’s Detention and Interrogation Program - Foreword, Findings and Conclusions, and Executive Summary”, US Senate Select Committee on Intelligence (Ing- « Análise do Programa de Prisões e Interrogatórios da CIA— Prefácio, Resultados, Conclusões e Sumário Final » — Comité restrito de Inteligência do Senado dos E.U.A.— ndT), 9 de dezembro de 204.
[211 de Setembro de 2001 - Uma Terrível Farsa, Thierry Meyssan, Usina do livro (Brasil) /11 de Setembro, 2001 - A Terrível impostura, Thierry Meyssan, Frenesi (Portugal).
[3] “O Segredo de Guantanamo”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Odnako(Rússia), Rede Voltaire, 10 de Setembro de 2014.
[4] “Carta de Martin Seligman”, Martin Seligman, Tradução Alva, Rede Voltaire, 11 de Dezembro de 2014.
[5] “Fort Hood: A Harbinger of Things to Come?” (Ing- « Fort Hood : Um prenúncio do que está para acontecer ? »- ndT), Bryant Welch,Hunffington Post, 18 de março de 2010. E o direito de resposta : “A Response to Bryant Welch” (Ing- « Uma resposta a Bryant Welch »-ndT), Martin Seligman.

A RÚSSIA NA MIRA



Paul Craig Roberts

O ataque de Washington à Rússia ultrapassou a fronteira do absurdo e entrou no âmago da insânia.

O novo chefe do US Broadcasting Board of Governors, Andrew Lack, declarou que o novo serviço russo, RT, o qual difunde em múltiplas línguas, é uma organização terrorista equivalente ao Boko Haram e ao Estado Islâmico. Por sua vez, a Standard and Poor's acaba de degradar a classificação de crédito da Rússia ao nível de lixo.

Hoje a RT International entrevistou-me acerca destes desenvolvimentos insanos.

Outrora, quando a América ainda era um país são, a acusação de Lack teria levado a que fosse escorraçado do cargo. Ele teria sido obrigado a demitir-se e desaparecer da vida pública. Hoje, no mundo simulado que a propaganda ocidental criou, a declaração de Lack é tomada a sério. Mais uma ameaça terrorista foi identificada – a RT. (Embora tanto Boko Haram como o Estado Islâmico empreguem o terror, estritamente falando eles são organizações políticas à procura de domínio, não organizações terroristas, mas esta distinção estaria para além da cabeça de Lack. Sim, eu si. Há uma piada que se podia fazer aqui acerca do que falta a Lack [NT] . Um nome adequado.)

No entanto, seja o que for que possa faltar a Lack, duvido que ele acredite na sua declaração disparatada de que a RT é uma organização terrorista. Então, qual é o seu jogo?

A resposta é que os media prostitutos (presstitute) do Ocidente, ao tornarem-se Ministérios da Propaganda de Washington, criaram grandes mercados para a RT, a Press TV e Al Jazeera. Como cada vez mais povos do mundo voltam-se para estas fontes mais honestas de notícias, declinou a capacidade de Washington de falsificar explicações em causa própria.

A RT, em particular, tem uma grande audiência ocidental. O contraste entre reportagens verdadeiras da RT e as mentiras cuspidas pelos media dos EUA está a minar o controle de Washington da explicação. Isto já não é mais aceitável.

Lack enviou uma mensagem à RT. A mensagem é: contenha-se; parece de informar de modo diferente da nossa linha; pare de contestar os factos tais como Washington declara que são e que os presstitutos relatam; embarque nisso ou se não...

Por outras palavras, o "livre discurso" que Washington e seus estados fantoches da UE, canadiano e australiano apregoam significa: livre discurso para a propaganda e as mentiras de Washington, mas não para qualquer verdade. A verdade é terrorismo, porque a verdade é a principal ameaça a Washington.

Washington preferiria evitar o embaraço de realmente fechar a RT, tal como o seu vassalo do Reino Unido fez com a Press TV. Washington simplesmente quer calar a RT. A mensagem de Lark à RT é:   auto-censurem-se.

Na minha opinião, a RT já não diz tudo (understates) nas suas coberturas e reportagens, como faz Al Jazeera. Ambas as organizações noticiosas entendem que não podem ser demasiado directas, pelo menos não demasiado seguidamente ou em demasiadas ocasiões.

Muitas vezes pergunto-me porque o governo russo permite que 20 por cento dos media russos funcionem como quinta coluna de Washington no interior da Rússia. Suspeito que a razão é que ao tolerar a propaganda descarada de Washington dentro da Rússia, o governo russo espera que algumas notícias factuais possam ser relatadas nos EUA via RT e outras organizações noticiosas russas.

Estas esperanças, tais como outras esperanças russas acerca do Ocidente, provavelmente serão desiludidas no fim. Se a RT for fechada ou assimilada ao padrão dos media presstitutosocidentais, nada será dito acerca disso, mas se o governo russo acabar com os agentes de Washington, mentirosos descarados, nos media russos, ouviremos para sempre que os malévolos russos suprimem o "livre discurso". Recordem: o único "livre discurso" permissível é a propaganda de Washington.

Só o tempo dirá se a RT decide ser encerrada por contar a verdade ou se somará a sua voz à propaganda de Washington.

AS AGÊNCIAS DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO 

O outro ponto da entrevista era a degradação do crédito russo à categoria de lixo.

A degradação feita pela Standard and Poor's é, sem qualquer dúvida, um acto político. Ela prova o que já sabíamos e é que as firmas americanas de classificação são operações políticas corruptas. Recordam a classificação "Investment Grade" que as agências de classificação americanas deram ao lixo óbvio da subprime? Estas agências de classificação são pagas pela Wall Street e, tal como a Wall Street, servem o governo dos EUA.

Uma olhadela aos factos permite estabelecer a natureza política da decisão. Não espere que a corrupta imprensa financeira dos EUA examine os factos. Mas neste exacto momento, nós examinaremos os factos.

Na verdade, colocaremos os factos no contexto da situação da dívida estado-unidense.

De acordo com contadores da dívida (debt clocks) disponíveis online, a dívida nacional russa como percentagem do PIB russo é de 11 por cento. A dívida nacional americana em percentagem do PIB dos EUA é de 105 por cento, cerca de dez vezes mais alta. Meus co-autores, Dave Kranzler, John Williams e eu temos mostrado que, quando medida correctamente, a dívida dos EUA em percentagem do PIB é muito mais alta do que o número oficial.

A dívida nacional russa per capital é de US$1.645. A dívida nacional estado-unidense per capita é de US$56.952.

A dimensão da dívida nacional da Rússia é de US$235 mil milhões, menos de um quarto de um trilião. A dimensão da dívida nacional dos EUA é de US$18 triliões (milhões de milhões), 76,6 vezes maior do que a dívida russa.

Colocando isto em perspectiva de acordo com os contadores da dívida, o PIB dos EUA é de US$17,3 triliões e o PIB da Rússia é de US$2,1 triliões. Assim, o PIB dos EUA é oito vezes maior do que o da Rússia, mas a dívida nacional dos EUA é 76,5 vezes maior do que a dívida russa.

Evidentemente, é a classificação de crédito dos EUA que deveria ter sido degradada para o status de lixo. Mas isto não pode acontecer. Qualquer agência de classificação de crédito que contasse a verdade seria fechada e processada. Não importaria quão absurdas fossem as acusações. As agência de classificação seriam culpadas por serem anti-americanas, organizações terroristas como a RT, etc e tudo o mais, e elas sabem disso. Nunca espere qualquer verdade de qualquer cidadão da Wall Street. Eles mentem como modo de vida.

Segundo este sítio web , os EUA deviam à Rússia desde Janeiro de 2013 a quantia de US$162,9 mil milhões. Como a dívida nacional russa é de US$235 mil milhões, 69 por cento desta é coberta pelas obrigações de dívida dos EUA para com a Rússia.

Se isto é uma crise russa, eu sou Alexandre o Grande.

Como a Rússia tem haveres suficientes em US dólar para resgatar toda a sua dívida nacional e ainda lhe sobrar um par de centenas de milhares de milhões de dólares, o que é o problema da Rússia?

ECONOMISTAS NEOLIBERAIS, A QUINTA COLUNA 

Um dos problemas da Rússia é o seu banco central. Na sua maior parte, os economistas russos são os mesmos neoliberais incompetentes que existem no mundo ocidental. Os economistas russos estão enamorados dos seus contactos com o Ocidente "superior" e com o prestígio que eles imaginam que estes contactos lhes dão. Enquanto os economistas russos concordam com os ocidentais, obtêm convites para conferências no exterior. Estes economistas russos são de facto agentes americanos, quer o percebam ou não.

Actualmente o banco central russo está a esbanjar desnecessariamente os grandes haveres russos de divisas externas para apoiar o ataque ocidental ao rublo. Isto é um jogo de loucos que nenhum banco central deveria jogar. O banco central da Rússia deveria recordar, ou aprender se não souber, o ataque de Soros ao Banco da Inglaterra.

As reservas da Rússia deveriam ser utilizadas para que se retirasse da dívida nacional em aberto, tornando-a então o único país do mundo sem dívida nacional. Os dólares restantes deveriam ser descarregados em acções coordenadas com a China a fim de destruir o dólar, a base de poder do imperialismo americano.

Alternativamente, o governo russo deveria anunciar que a sua resposta à guerra económica que está a ser conduzida contra a Rússia pelo governo em Washington e pelas agências de classificação da Wall Street é o incumprimento dos seus empréstimos a credores ocidentais. A Rússia nada tem a perder quando já está desligada do crédito ocidental devido às sanções estado-unidenses. O incumprimento russo causaria consternação e crise no sistema bancário europeu, o que é exactamente o que a Rússia precisa a fim de romper o apoio da Europa às sanções estado-unidenses.

Na minha opinião, os economistas neoliberais que controlam a política económica russo são uma ameaça muito maior à soberania da Rússia do que as sanções económicas e as bases de mísseis dos EUA. Para sobreviver a Washington, a Rússia precisa desesperadamente de pessoas que não sejam românticas acerca do Ocidente.

Para dramatizar a situação, se o Presidente Putin conceder-me cidadania russa e permitir-me nomear Michael Hudson e Nomi Prins como meus representantes, assumirei o comando do banco central russo e colocarei o Ocidente fora das operações.

Mas isso exigiria que a Rússia assumisse os riscos associados à vitória. Os Integracionistas Atlantistas no interior do governo russo querem a vitória para o Ocidente, não para a Rússia. Um país cheio de traição dentro do próprio governo tem possibilidades reduzidas contra Washington, um jogador determinado.

Outra quinta coluna a operar contra a Rússia a partir de dentro são as ONGs financiadas pelos EUA e Alemanha. Estes agentes americanos mascarados como "organizações de direitos humanos", "organizações de direitos da mulher", "organizações para a democracia" e quaisquer outros títulos politicamente correctos de que se servem e que são incontestáveis.

Ainda outra ameaça à Rússia vem da percentagem da juventude russa que cobiça a cultura depravada do Ocidente. Permissividade sexual, pornografia, drogas, auto-absorção. Estas são as ofertas culturais do Ocidente. E, naturalmente, matar muçulmanos.

Se os russos quisessem matar pessoas por diversão e consolidar a hegemonia dos EUA sobre si próprios e o mundo, eles deveria apoiar a "integração atlantista" e virar as costas ao nacionalismo russo. Por que serem russos se você podem ser servos dos americanos?

Que melhor resultado para os neoconservadores americanos do que terem apoio russo à hegemonia de Washington sobre o mundo? Isso é o que os economistas neoliberais russos e os "integracionistas europeus" apoiam. Estes russos estão desejosos de serem servos americanos a fim de fazerem parte do Ocidente e serem bem pagos pela sua traição.

Quanto fui entrevistado pela RT acerca destes desenvolvimentos, o âncora do noticiário esteve a tentar confrontar as acusações de Washington com osf actos. É espantosos que os jornalistas russos não entendam que os factos nada têm a ver com isto. Os jornalistas russos, aqueles independentes de subornos americanos, pensam que os factos importam nas discussões acerca das acções russas. Eles pensam que os assaltos a civis pelos nazis ucranianos apoiados pelos americanos são um facto. Mas, naturalmente, nenhum de tais factos existe nos media ocidentais. Nos media do Ocidente os russos, e apenas os russos, são responsáveis pela violência na Ucrânia.

A narrativa de Washington é que a malévola intenção de Putin de restaurar o império soviética é a causa do conflito. Esta linha dos media no Ocidente não tem relacionamento com quaisquer factos.

Na minha opinião a Rússia está em grave perigo. Os russos estão a confiar nos factos e Washington está a confiar na propaganda. Para Washington, factos não são relevantes. As vozes russas são escassas em comparação com as vozes ocidentais.

A falta de uma voz russa deve-se à própria Rússia. A Rússia aceitou viver num mundo controlado pelos serviços financeiros, legais e de telecomunicações dos EUA. Viver neste mundo significa que a única voz é a de Washington.

Por que a Rússia concordou com esta desvantagem estratégica é um mistério. Mas em consequência deste erro estratégico, a Rússia está com uma desvantagem.

Considerando as intrusões que Washington tem dentro do próprio governo russo, os oligarcas economicamente poderosos e os empregados do estado com conexões ao Ocidente, bem como os media russos e a juventude russa, com as centenas de ONGs financiadas por americanos e alemães que podem colocar russos na ruas para protestar contra qualquer defesa da Rússia, o futuro da Rússia como um país soberano é duvidoso.

Os neoconservadores americanos são implacáveis. O seu oponente russo está enfraquecido pelos êxitos no interior da Rússia da propaganda ocidental de guerra fria e que retrata os EUA como o salvador e o futuro da espécie humana.

A escuridão do Sauron América continua a propagar-se sobre o mundo. 

[NT] Jogo de palavras intraduzível.

Ver também: 
Instrumentalisation des agences de notation , Jacques Sapir 

Ucrânia: UMA AVANTESMA MONSTRUOSA E ASSASSINA




Os media dominantes falam de mil e uma trivialidades, mas ocultam cuidadosamente a avantesma nazi que fincou suas garras na Ucrânia. O regime de Kiev, saído do golpe de Fevereiro/2014 promovido pelos EUA, repousa nos dois partidos nazis que agora mandam no governo, nomeadamente nas suas forças policiais e de segurança e nos batalhões privados de oligarcas, inclusive os batalhões ditos "punitivos". Estas tropas estão a consumar verdadeiras atrocidades na região do Donbass, com o massacre indiscriminado de populações civis com artilharia pesada. Já há milhares de mortos em consequência destas operações genocidas. Nada disto seria possível sem o sinal verde do embaixador dos EUA e do chefe de estação da CIA em Kiev. São eles o verdadeiro governo ucraniano, pois o sr. Poroshenko não passa de um presidente pro-forma, efémero e sem poderes reais.

Hoje os heróicos defensores das Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk que combatem os nazis de Kiev representam o que há de mais são na Europa, eles levantam a bandeira da civillização e do progresso. Apoiar a independência das novas repúblicas é um dever e já há voluntários de toda a Europa que acorrem em seu socorro. 

O governo dos EUA esforça-se por provocar a intervenção directa da Rússia nos assuntos ucranianos, aumenta o nível das provocações e ameaça escalar o conflito com a entrega de armamento pesado aos pobres diabos de Kiev. Se os EUA derem esse passo, as consequências podem ser terríficas. O espectro de uma III Guerra Mundial está no horizonte. A crise económica e monetária dos EUA parece toldar os cérebros dos seus dirigentes. Quanto aos dirigentes da UE, esses desde há muito estão de cócoras diante dos EUA.

Resistir.info

Na foto: Oleh Tiahnybok, neo-nazista antisssemita e um dos líderes da revolução ucraniana

Portugal: O PÓQUER DAS PRESIDENCIAIS



Domingos de Andrade – Jornal de Notícias, opinião

O tempo da política não é forçosamente o tempo dos cidadãos. Poderia ter sido esse o rasgo de inteligência que levou as lideranças do PSD e do PS a fazerem estancar a corrida de protocandidatos às presidenciais de 2016. Mas não. A coisa é bem mais prosaica. Vamos aos lances da mesa de póquer. Santana Lopes tem ambições declaradas de ocupar Belém. E estava a fazer tudo bem, no tempo errado. Posicionou-se de forma a não dar mais espaço de manobra a Pedro Passos Coelho. Fechou, em suma, a muralha. Faltava-lhe conquistar a simpatia do Porto, onde esteve na semana passada a dar apoio financeiro ao Coliseu. E terá sido aí que as coisas deixaram de correr de feição, levando-o a adiar para outubro outras intenções.

Do almoço com Rui Moreira, pouco se sabe, como nada se sabe do encontro com o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Mas se o presidente da autarquia não é homem para fechar portas, já António Tavares, discreto mobilizador da candidatura de Rui Rio, outra coisa não terá dito que a verdade dos factos: Santana entrou cedo de mais e corria o risco de ficar colado às políticas da coligação. Mau sinal. Há ainda o passado, que, por muito curta que seja a memória dos povos, não é tão curta assim. Santana Lopes deitou o jogo abaixo. Era bluff. Para já, pelo menos. Mas um bluff que marcou a agenda. Durão Barroso nem a isso chegou.

Rui Rio faz o seu caminho. Tem encontros pelo país, um discreto movimento de apoio, ambição que chegue. Mas o ex-autarca é sobretudo um executivo. E o que gostaria mesmo era de governar. Verdadeiramente, vai esperar quase até ao dia da reflexão para lançar a sua candidatura. À Presidência ou ao PSD. Não importa. Tem mão cheia.

Na mesa, o Partido Socialista é o que tem o jogo mais escondido. Como se tivesse o jogo todo e não tivesse nenhum. De António Guterres a António Vitorino, passando por Maria de Belém. Vale tudo e não vale nada, porque antes disso há as legislativas. Mas não se pode deixar o vizinho sozinho. Tanto pode estar a fazer bluff, como ter uma "royal straight flush".

E Marcelo? Marcelo Rebelo de Sousa é o croupier. Distribui jogo todas as semanas do palco da TVI. Fala de si na terceira pessoa, como se não tivesse nada que ver com nada. Arregimenta o lóbi de Lisboa. Sorri ao povo do Porto. E tem a asa partida por ser aquele que Pedro Passos Coelho nunca apoiará.

Resta saber o que estará Passos Coelho a fazer quando começar a campanha oficial para as presidenciais. É outro que, no próximo outono, tanto poderá ter mais poder do que alguma vez teve, como estar em Massamá, quieto e sozinho, a lamber as feridas.

Grécia tem sido "objeto de escárnio do Governo português" – Jerónimo de Sousa




Jerónimo de Sousa não gostou dos modos com que Passos Coelho se referiu à Grécia, a repetir "os estereótipos e as opiniões preconceituosas das elites económicas e políticas de alguns países do norte da Europa, a começar pela Alemanha."

O secretário-geral do PCP considerou hoje que a Grécia "tem sido objeto de escárnio do Governo português" e defendeu a realização de uma conferência intergovernamental europeia para discutir a dívida, não apenas a grega, mas a "de todos".

Portugal, disse Jerónimo de Sousa, num comício em Évora, tem um serviço de dívida anual que "é maior, em percentagem do Produto Interno Bruto [PIB], ao da Grécia", país que "tem sido objeto de escárnio do Governo português".

"Um comportamento inaceitável" e que "nos envergonha quando, despido de qualquer brio patriótico, repete os estereótipos e as opiniões preconceituosas das elites económicas e políticas de alguns países do norte da Europa, a começar pela Alemanha, contra os países do sul, onde se inclui o nosso", frisou.

A cigarra e a formiga 

A analogia à história da cigarra e da formiga é exemplo dessas opiniões do norte contra o sul, sublinhou o líder comunista, acrescentando: "Nem a Grécia é a cigarra, nem Portugal o é ou foi, como o têm insinuado".

Para Jerónimo de Sousa, que discursava no Teatro Garcia de Resende, em Évora, durante um comício comemorativo dos 40 anos da Reforma Agrária, a "insofismável verdade" é que a dívida pública de Portugal "é cada vez mais insustentável". A dívida pública, argumentou, ronda os "130% do PIB", ou seja, "excede em muito qualquer limiar de sustentabilidade".

A renegociação da dívida é, assim, "uma necessidade e um imperativo nacional", pois o país "não pode estar hipotecado a uma dívida que consome os rendimentos das famílias, os recursos do país e que impede o crescimento económico e o desenvolvimento da produção", alegou.

"Guardiães do templo e da ortodoxia neoliberal e monetarista e das regras da 'troika'" 

Esta semana, o grupo parlamentar do PCP decidiu propor um projeto de resolução a recomendar a realização de uma conferência intergovernamental sobre a renegociação da dívida pública e a revogação do tratado orçamental, depois de o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, ter já recusado a ideia.

Na intervenção, no comício de hoje, que encheu o Teatro Garcia de Resende, Jerónimo de Sousa insistiu na necessidade desta conferência e acusou Passos Coelho e o vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, de agirem "ao arrepio do que são os verdadeiros interesses do país".

"Assumindo-se como guardiães do templo e da ortodoxia neoliberal e monetarista e das regras da 'troika', repisando os argumentos germânicos, vieram bradar 'aqui d'el-rei' contra a possibilidade de uma conferência para a reestruturação da dívida", acusou.

Mas a conferência proposta, defendeu, "não é para discutir a dívida de um só país, como maldosamente se insinua, mas de todos. A dívida dos gregos, dos irlandeses, dos cipriotas, dos espanhóis, dos italianos, dos belgas e a nossa dívida, a dos portugueses. É para resolver os problemas dos povos e não o contrário".

"Eles não querem a conferência, nem renegociar a dívida e discutir o tratamento orçamental, porque querem continuar a ter pretexto para chantagear os povos, para continuar a política de sufoco popular, de exploração do trabalho e de rapina nacional do futuro. Falam de viragem e de recuperação, mas é até às eleições", argumentou.

Lusa, em Expresso (ontem)

POLÍCIA EM PORTUGAL SOMA E SEGUE NAS TENDÊNCIAS RACISTAS E XENÓFOBAS


RACISMO E XENOFOBIA

Uma “invasão a esquadra” inventada – Relatos da Cova da Moura e de Alfragide

Invadidos por notícias de “invasões”, deixamos aqui (embora com mais actualizações para breve) o relato dos acontecimentos vividos hoje no Bairro da Cova da Moura e na Esquadra da PSP de Alfragide:

a) No início da tarde uma patrulha da PSP da esquadra de Alfragide invadiu o Bairro da Cova da Moura, numa acção de rotina que concluiu na detenção de uma pessoa;

b) Durante a acção, o detido – apesar de não ter oferecido resistência – foi agredido violentamente, de pé e depois no chão, pelos diversos elementos da PSP presentes;

c) Perante o elevado número de testemunhas (algumas talvez armadas com telemóveis que filmam) , a PSP tratou de “limpar” as redondezas com recurso a violência física. A todos aqueles que: pela distância, por estarem à janela ou em propriedade privada e por isso distantes do cassetete , a polícia optou pelo disparo de balas de borracha;

d) Entre as vítimas das balas contam-se: mãe e filho (de apenas três anos de idade) que foram encaminhadas para o hospital, a mãe foi sujeita a uma operação cirúrgica; uma mulher atingida na face que se encontrava à janela; dois deficientes físicos; e ainda um grupo de raparigas que se encontrava no espaço público;

e) Perante o caos instalado pela PSP, quatro cidadãos do Bairro, alguns colaboradores do Moinho da Juventude, cientes do seus direitos e preocupados com a situação criada, dirigiram-se à esquadra de Alfragide para apresentar queixa dos agentes e saber informações do detido na acção de Bairro;

f) Apesar da esquadra ser um espaço público com serviço de atendimento ao cidadão, isso não impediu que os quatro fossem agredidos por vários agentes, em franca maioria, e que recorreram inclusive, e novamente, a balas de borracha;

g) Um sexto indivíduo que se encontrava no espaço público da esquadra foi agregado pela PSP aos 5 previamente detidos;

h) Dada a natureza das agressões, os seis indivíduos foram assistidos durante várias horas no hospital Amadora-Sintra, e diga-se, estavam todos irreconhecíveis, tal a brutalidade da acção policial.

Durante todo o tempo de espera e desenvolvimento da situação dos detidos, a polícia apresentou-se nervosa, talvez consciente da dimensão do ocorrido. Vários polícias fardados e à paisana cobriam várias espaços do hospital de forma desconfiada, enquanto na esquadra faziam o possível por não exteriorizar, embora de forma infrutífera, a insegurança dos seus actos. Como se o cenário não fosse estranho o suficiente, ficamos a saber que um dos polícias da esquadra de Alfragide ostenta uma tatuagem nazi. É evidente que, por tudo o descrito e pelas notícias veiculadas pela PSP aos media, vão tentar acusar este grupo de cidadãos de um crime directamente proporcional ao erro grave cometido pela corporação. Temos de estar vigilantes e atentos. Afinal quem invade quem?


Foto em Vias de Facto, casa na Cova da Moura


*Título PG

Nota Página Global

Perante a denúncia de factos que demonstram ação imprópria de elementos da PSP o que fez a ministra da Admnistração Interna? Parece que nada. Perante o laxismo o que está a acontecer é o alastrar da brutalidade criminosa do racismo e xenofobia entre as forças de segurança pública que, pelo relatado, estão a proceder como forças de insegurança pública demonstrando especial incidência em sentimentos racistas e xenófobos que em nada dignificam a corporação policial sob a tutela da respetiva ministra. Compete à ministra averiguar o que realmente aconteceu e, principalmente, informar-se se não prestam serviço na corporação PSP indivíduos conotados com a direita nazi existente em Portugal. O que se pretende é sermos servidos por uma polícia de segurança pública e não por arruaceiros nazis que se infiltram nas forças de segurança, como é voz corrente. Urge averiguar e tomar as medidas adequadas se for necessário.

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