terça-feira, 10 de março de 2015

América Latina vai marcando a diferença e alimentando a esperança num mundo melhor!



Martinho Júnior, Luanda

“O Nascedor

Por que será que o Che
Tem este perigoso costume
De seguir sempre renascendo?
Quanto mais o insultam,
O manipulam
O atraiçoam
Mais ele renasce.
Ele é o mais renascedor de todos!

Não será por que Che
Dizia o que pensava e fazia o que dizia?
Não será por isso que segue sendo
tão extraordinário,
Num mundo onde palavras
e atos tão raramente se encontram?
E quando se encontram
raramente se saúdam,
Por que não se reconhecem?

Eduardo Galeano”
  
1 – O 1º dia do mês de março-mulher foi na América Latina mais uma lufada de ar fresco, oxigenando o tão conspurcado ambiente global.

A América Latina vai marcando a diferença por via da transformação dos seus próprios processos sócio-politicos, socializando-os gradualmente e remetendo as oligarquias nacionais agenciadas pelos interesses e conveniências do império, para o beco sem saída que criou com as suas opções.

A resistência aos deliberados vínculos capitalistas neo liberais, impostos pela hegemonia unipolar ao seu “pátio traseiro”, “explodiu” em molduras de multidões que assumiam nas praças públicas a sua identidade plena para um novo protagonismo de pátria, independente, soberana e integradora, proposta por alguns dos dirigentes mais clarividentes, progressistas e desassombradamente lutadores do quadrante Sul!

Foi assim em Buenos Aires, em Caracas e em Montevideu… onde as praças se tornaram, neste 1º de março do mês mulher, em santuários dos povos!
  
2 – Em Buenos Aires largos milhares identificaram-se com a Presidente Cristina Kirchner na altura do seu balanço social, económico, industrial e tecnológico, perante a 133ª Sessão do Congresso!

A Argentina está a reduzir drasticamente a sua dívida externa em relação ao seu Produto Interno Bruto, o que permite não mais pagar juros sobre os juros das dívidas.

A partir de agora se a Argentina se endividar é para cumprir com programas de desenvolvimento e não para ganhos do sector financeiro internacional!

 A Argentina prepara-se para assumir a estatização de todas as ferrovias do país, o que dá outras garantias aos seus usuários e aumenta exponencialmente a expansão da rede, particularmente em direcção a áreas de menor densidade populacional.

A Presidente Cristina Kirchner ao conduzir esse processo está a marcar e liderar a mobilização patriótica de amplos sectores populares e a granjear a simpatia de todos aqueles que se propõem à integração hemisférica na América Latina.
  
3 – Em Caracas, perante a descoberta de mais uma tentativa de golpe de estado, numa altura em que a situação económica do país é preocupante em função da evolução da cotação média do barril do petróleo e de açambarcamentos de sectores retrógrados da sociedade venezuelana, a mobilização popular em torno do Partido Socialista Unificado da Venezuela, dos ideais bolivarianos e do Presidente Maduro, fez-se sentir expressivamente.

Outras cidades do país seguiram o exemplo da capital.

O plano do golpe de estado, envolvendo sectores da oligarquia nacional servis ao império e em estreita ligação a meios instrumentalizados por ele, foi desmascarado, exposto, com os seus interventores detidos e conduzidos a processos judiciais, que se juntaram a outros já em curso.

O projecto progressista teve inteligência e capacidade para se defender e inibir a sua subversão num contexto conturbado de desestabilização provocado a partir do exterior pelos vínculos poderosos da hegemonia unipolar!

A luta na Venezuela é decisiva para o processo bolivariano de integração em curso, envolvendo organizações como a ALBA, a UNASUR,  ou a CELAC, como também é decisivo como inspirador em relação às transformações sócio-políicas em curso na América Latina, envolvendo as massas populares e garantindo o aprofundar da democracia, abrindo-a à participação.

Caracas encheu-se das cores nacionais e de vermelho, como nos tempos decisivos de Hugo Chavez!
  
4 – Montevideu teve também o seu dia 1º de março por motivos da transferência de poderes entre o cessante Presidente José “Pepe” Mujica e o seu sucessor, Tabaré Vásquez.

Esse foi um motivo para lembrar as vias de desenvolvimento do país, sentidas durante o mandato de Mujica: a diminuição da pobreza, o crescimento do emprego, o aumento dos rendimentos e a diversificação energética.

O caminho progressista já está a produzir os seus frutos e esse foi também um motivo para se exaltar as qualidades de “Pepe” Mujica enquanto Presidente: a sua visão de vanguarda, resguardada na sua simplicidade de sóbrios comportamentos e rigor.

Avesso a qualquer tipo de auto promoção, ou de benefícios indevidos, José “Pepe” Mujica, corajoso guerrilheiro Tupamaru que enfrentou 15 anos de prisão impostos pela ditadura contra a qual lutou, marcou e marca com seu exemplo em todas as latitudes e longitudes, conforme à sua franqueza, reconhecida internacionalmente e a todos os níveis.

Os seus pronunciamentos têm sido divulgados, sendo notável o seu desassombro, a qualquer nível de suas intervenções, reconhecidamente anticapitalistas e seguindo a lógica com sentido de vida, de acordo com profundas convicções, com princípios socialistas e um amor rigoroso pela humanidade!

Diz ele entre muitas outras frases que o demarcam das conjunturas manipuladas do mundo:

“O deus mercado organiza a economia, a vida e financia a aparência de felicidade. Parece que nascemos só para consumir e consumir"…

A transferência de poderes conforme modelo que foi seguido em Montevideu, perante os olhos de todo o povo uruguaio e do mundo, em parte alguma poderia ter sido tão bem concebido em termos de felicidade colectiva e rigor!
  
5 – A América Latina vai dando incomparáveis exemplos de luta em benefício de seus povos e dos povos de todo o mundo.

Os que despontaram logo no 1º dia do mês de março-mulher, não podiam ser melhores para este lado do Atlântico Sul, numa África em que tardam os “nascedores”, muito embora a tradição de luta em prol da libertação contra o colonialismo e o “apartheid”!

A hegemonia unipolar, em especial nos países que bordam o Atlântico, vai conseguindo a ascensão de oligarquias dóceis, assimiladas, que pouco a pouco atentam contra a harmonia e desequilibram as conjunturas patrióticas dos seus povos, monopolizando a “representatividade” inerente aos seus frágeis processos democráticos.

Sob o ponto de vista económico, essas oligarquias tendem a, através de mal paradas parcerias público-privadas, sorverem as finanças do estado e esvaziarem-no de seus conteúdos em termos de independência, soberania e responsabilidades sociais, numa espiral mercenária que começa a envenenar a lógica com sentido de vida que advém do movimento de libertação!

África está a ir precisamente no sentido inverso da América Latina, mas nas suas conturbadas sociedades, perante as avaliações que por vezes são expostas a olho clínico e nu, há muitos que, face à intoxicação global que lhes toca, não podem deixar de absorver a lufada de ar fresco que sopra das Américas, até por que, como durante toda a sua vida estiveram comprometidos e identificados com os povos, expressam claramente: “não foi nada disso que a gente combinou”!!! 

Foto das manifestações populares registadas a 1 de março em Buenos Aires

PREPARANDO LA AGRESSIÓN MILITAR A VENEZUELA



  
Barack Obama, una figura decorativa en la Casa Blanca que no pudo impedir que un energúmeno como Benjamin Netanyhau se dirigiera a ambas cámaras del Congreso para sabotear las conversaciones con Irán en relación al programa nuclear de este país, ha recibido una orden terminante del complejo “militar-industrial-financiero”: debe crear las condiciones que justifiquen una agresión militar a la República Bolivariana de Venezuela. La orden presidencial emitida hace pocas horas y difundida por la oficina de prensa de la Casa Blanca establece que el país de Bolívar y Chávez “constituye una infrecuente y extraordinaria amenaza a la seguridad nacional y la política exterior de Estados Unidos”, razón por la cual “declaro la emergencia nacional para tratar con esa amenaza.”

Este tipo de declaraciones suelen preceder a agresiones militares, sea por mano propia, como la cruenta invasión a Panamá para derrocar a Manuel Noriega, en 1989, o la emitida en relación al Sudeste Asiático y que culminó con la Guerra en Indochina, especialmente en Vietnam, a partir de 1964. Pero puede también ser el prólogo a operaciones militares de otro tipo, en donde Estados Unidos actúa de consumo con sus lacayos europeos, nucleados en la OTAN, y las teocracias petroleras de la región. Ejemplos: la Primera Guerra del Golfo, en 1991; o la Guerra de Irak, 2003-2011, con la entusiasta colaboración de la Gran Bretaña de Tony Blair y la España del impresentable José María Aznar; o el caso de Libia, en 2011, montado sobre la farsa escenificada en Benghazi donde supuestos “combatientes de la libertad” – que luego se probó eran mercenarios reclutados por Washington, Londres y París- fueron contratados para derrocar a Gadaffi y transferir el control de las riquezas petroleras de ese país a sus amos. Casos más recientes son los de Siria y, sobre todo Ucrania, donde el ansiado “cambio de régimen” (eufemismo para evitar hablar de “golpe de estado”) que Washington persigue sin pausa para rediseñar el mundo -y sobre todo América Latina y el Caribe- a su imagen y semejanza se logró gracias a la invalorable cooperación de la Unión Europea y la OTAN, y cuyo resultado ha sido el baño de sangre que continúa en Ucrania hasta el día de hoy. La señora Victoria Nuland, Secretaria de Estado Adjunta para Asuntos Euroasiáticos, fue enviada por el insólito Premio Nobel de la Paz de 2009 a la Plaza Maidan de Kiev para expresar su solidaridad con los manifestantes, incluidos las bandas de neonazis que luego tomarían el poder por asalto a sangre y fuego, y a los cuales la bondadosa funcionaria le entregaba panecillos y botellitas de agua para apagar su sed para demostrar, con ese gesto tan cariñoso, que Washington estaba, como siempre, del lado de la libertad, los derechos humanos y la democracia.

Cuando un “estado canalla” como Estados Unidos, que lo es por su sistemática violación de la legalidad internacional, profiere una amenaza como la que estamos comentando hay que tomarla muy en serio. Especialmente si se recuerda la vigencia de una vieja tradición política norteamericana consistente en realizar autoatentados que sirvan de pretexto para justificar su inmediata respuesta bélica. Lo hizo en 1898, cuando en la Bahía de La Habana hizo estallar el crucero estadounidense Maine, enviando a la tumba a las dos terceras partes de su tripulación y provocando la indignación de la opinión pública norteamericana que impulsó a Washington a declararle la guerra a España. Lo volvió a hacer en Pearl Harbor, en Diciembre de 1941, sacrificando en esa infame maniobra 2,403 marineros norteamericanos e hiriendo a otros 1,178. Reincidió cuando urdió el incidente del Golfo de Tonkin para “vender” su guerra en Indonesia: la supuesta agresión de Vietnam del Norte a dos cruceros norteamericanos –luego desenmascarada como una operación de la CIA- hizo que el presidente Lyndon B. Johnson declarara la emergencia nacional y poco después, la Guerra a Vietnam del Norte. Maurice Bishop, en la pequeña isla de Granada, fue considerado también él como una amenaza a la seguridad nacional norteamericana en 1983, y derrocado y liquidado por una invasión de Marines. ¿Y el sospechoso atentado del 11-S para lanzar la “guerra contra el terrorismo”? 

La historia podría extenderse indefinidamente. Conclusión: nadie podría sorprenderse si en las próximas horas o días Obama autoriza una operación secreta de la CIA o de algunos de los servicios de inteligencia o las propias fuerzas armadas en contra de algún objetivo sensible de Estados Unidos en Venezuela. Por ejemplo, la embajada en Caracas. O alguna otra operación truculenta contra civiles inocentes y desconocidos en Venezuela tal como lo hicieran en el caso de los “atentados terroristas” que sacudieron a Italia –el asesinato de Aldo Moro en 1978 o la bomba detonada en la estación de trenes de Bologna en 1980- para crear el pánico y justificar la respuesta del imperio llamada a “restaurar” la vigencia de los derechos humanos, la democracia y las libertades públicas. Años más tarde se descubrió estos crímenes fueron cometidos por la CIA. 

Recordar que Washington prohijó el golpe de estado del 2002 en Venezuela, tal vez porque quería asegurarse el suministro de petróleo antes de atacar a Irak. Ahora está lanzando una guerra en dos frentes: Siria/Estado Islámico y Rusia, y también quiere tener una retaguardia energética segura. Grave, muy grave. Se impone la solidaridad activa e inmediata de los gobiernos sudamericanos, en forma individual y a través de la UNASUR y la CELAC, y de las organizaciones populares y las fuerzas políticas de Nuestra América para denunciar y detener esta maniobra.

Rebelión ha publicado este artículo con el permiso del autor mediante una licencia de Creative Commons, respetando su libertad para publicarlo en otras fuentes.

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MULHERES AO PODER!




Cabo Verde é o segundo país a nível mundial com o maior número de ministras em 2015 e o primeiro entre os países lusófonos, segundo o relatório da União Interparlamentar (UIP), divulgado hoje em Genebra.

Folha 8 (ao)

Anível mundial, 30 países contabilizam pelo menos 30% de mulheres ministras, sendo que a Finlândia (62,5%), Cabo Verde (52,9%), Suécia (52,2%) ocupam os três primeiros lugares.

Até Janeiro de 2015, entre os 17 ministérios do Governo de Cabo Verde, 9 eram dirigidos por mulheres, de acordo com a UIP.

Na Finlândia, 10 dos 16 cargos de ministro são ocupados por mulheres, enquanto a Suécia contabiliza 12 ministras em 23 ministérios.

Nos países de língua oficial portuguesa, a Cabo Verde seguem-se Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, Angola, Brasil, Timor-Leste, Guiné Equatorial e São Tomé e Príncipe.

A 18ª posição no ‘ranking’ é ocupada pela Guiné-Bissau com 31,9% de ministras, sendo 5 ministérios em 16 dirigidos por mulheres.

Portugal e Moçambique ocupam a 24ª posição, com 28,9% de mulheres representadas nos ministérios. Portugal contabiliza quatro ministras entre 14 ministérios, enquanto Moçambique tem oito ministras e 20 ministros.

Angola está no 37° lugar da classificação mundial, o número de ministras é de oito para 36 postos de ministros, correspondendo a uma percentagem de 22,2%.

Já o Brasil, está na 52° posição, com 15,4% de mulheres representadas em 2015, o que corresponde a seis ministras entre 39 ministérios.

Segue-se Timor-Leste, no 62° lugar, com 12,5% de mulheres ministras, o equivale a 2 ministras para 16 ministérios.

A Guiné Equatorial e São Tomé e Príncipe ocupam respectivamente o 73º lugar, com 8,7% de mulheres ministras, e o 76º lugar, com 7,7%.

A Guiné Equatorial, que integrou recentemente a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), contabiliza quatro mulheres ministras para 46 ministérios.

São Tomé e Príncipe tem uma ministra entre 13 ministérios.

A UIP destaca também que, a nível regional, Cabo Verde é o país de África com maior número de ministras, seguido pela África do Sul, com 41,7% e o Ruanda com 35,5%.

A nível mundial, 30 países contabilizam pelo menos 30% de mulheres ministras em 2015, contra 36 países no ano precedente.

Segundo o relatório, as mulheres assumem geralmente pastas relacionadas com assuntos sociais, educação, família e assuntos femininos.

No mundo, há 19 mulheres presidentes, o maior número registado até hoje, e 15,8% de mulheres ocupam o cargo de presidente de parlamento.

O relatório referencia a nível mundial o número de mulheres ministras até dia 01 de Janeiro de 2015.

A directora da organização ONU mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, apelou a mais compromissos e novos investimentos no quadro do programa de Pequim para a emancipação das mulheres, adoptado em 1995.

“Se os dirigentes actuais se concentrarem na igualdade dos sexos, se começarem a cumprir as promessas feitas há 20 anos, a igualdade entre homens e mulheres poderá ser uma realidade em 2030″, disse a directora, citada em comunicado.

A UIP agrupa 166 membros e 10 membros associados, foi criada em 1889, tendo a sua sede em Genebra, Suíça.

Foto: A presidente do Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV), Janira Hopffer Almada.

Leia mais em Folha 8

Em Angola combate à SIDA está comprometido com a redução de verbas




A verba destinada à luta contra o HIV SIDA em Angola deverá diminuir em 30% em 2015. A redução é uma consequência da baixa do preço do petróleo no mercado internacional, que já afeta o Orçamento Geral do Estado (OGE).

O orçamento vai cair de 16 para 11 milhões de dólares. A redução representa a continuação da tendência de descida: em 2014 o orçamento para a luta contra a SIDA previa 16 milhões, e em 2013 a verba esteve nos 22 milhões de dólares. Entrevistamos o secretário executivo da Rede Angolana das Organizações de Serviços de SIDA, ANASO, António Coelho sobre o assunto.

DW África: Quais são as consequências da diminuição da verba?

António Coelho (AC): As consequências de uma forma geral são graves. Estamos a falar de um país que regista em média 28 mil novas infeções por ano e 12 mil mortos por ano. Estamos a falar de um país que regista 4 mil novas infeções anualmente, entre crianças de zero aos 14 anos e o nosso compromisso é o de, por um lado, reduzir as novas infeções em crianças, e por outro, estender a terapia anti-retroviral aos que ainda precisam. E do ponto de vista da prevenção realizar cada vez mais campanhas públicas. Portanto, se pretendemos, de facto, inverter o curso da epidemia nos próximos tempos, isso só será possível com fundos adicionais. Isso quer dizer com uma redução dos fundos, primeiro, não vamos conseguir reduzir as novas infeções, o número de mortes e nem as ações relacionadas com a estigmatização e discriminação. O sonho em relação ao alcance das metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, zero morte, zero estigma, zero novas infeções, fica comprometido. E fica também comprometido o conjunto de ações que temos vindo a realizar junto das famílias e das comunidades. Nos últimos três anos foram reduzidas drásticamente as ações realizadas junto das famílias e comunidades. E como consequência os ganhos conseguidos ao longo dos mais de 20 anos de luta contra o HIV SIDA estão comprometidos.

DW África: Sendo Angola um país em desenvolvimento, e por isso a saúde e educação importantes neste contexto, acha que faz sentido esta redução?

AC: Não faz sentido a redução, quer ao nível das ações de saúde quer das ações de educação, porque entendemos que o principal direito da população é o direito à vida, o direito à saúde. Se nos retiram esses direitos, todo o resto fica comprometido. Há um grande esforço do Governo em aproximar os serviços de saúde à população através da municipalização e cuidados primários de saúde, mas esses esforços têm de ser acompanhados de outras ações, de uma melhoria da qualidade dos serviços que se oferece e de fundos adicionais para que, de facto, se possam realizar ações de sensibilização e educação para que as pessoas possam aderir a esses serviços. Repare que ao nível da terapia anti-retroviral a taxa de abandono é muito alta, anda à volta dos 20%.

DW África: Quais são as regiões em Angola onde se registam as maiores taxas de infeção?

AC: A epidemia em Angola é generalizada. Ao contrário de muitos países não temos a epidemia concentrada em grupos específicos, o que requer da nossa parte uma resposta generalizada, o nosso grupo alvo é a população em geral. Para todos os efeitos até bem pouco tempo estávamos a olhar para as províncias que faziam fronteira com países cujas taxas de prevalência eram muito altas, estamos a falar de províncias que fazem fronteira com a África do Sul, Namíbia, etc. Províncias como o Cunene, as Lundas, cujas taxas de prevalência eram altíssimas. Mas hoje já temos províncias no interior de Angola que também estão a registar taxas muito altas. Então, do ponto de vista de dados a província com a maior taxa de prevalência é o Cunene, com mais de 8% da sua população infetada, depois temos a província do Bié, que fica no centro, que tem mais de 5%, e depois Luanda que tem mais 4%. Mas do ponto de vista dos números a nossa menina dos olhos continua a ser Luanda, porque estamos a falar de quatro por cento de seis milhões de habitantes, ou seja de 240 mil pessoas.

Nádia Issufo – Deutsche Welle

Profissionais dizem que crise do petróleo ameaça saúde pública em Angola




São cada vez mais visíveis os efeitos negativos da baixa do preço do petróleo nos mercados internacionais, também na área da saúde pública em Angola. A denúncia é feita por médicos e farmacêuticos.

Segundo Rosa Cirilo, o setor da saúde enfrenta dias difíceis com a crise do petróleo em Angola. A farmacêutica fornece medicamentos e equipamento médico a clínicas e hospitais, sobretudo analgésicos para intervenções estomatológicas. Mas, segundo ela, nos últimos tempos, os bancos não têm pago aos fornecedores estrangeiros a tempo e horas, por falta de divisas. Por isso, não tem conseguido importar medicamentos necessários com urgência.

"Se esta situação continuar por muito mais tempo vamos ter de repensar o negócio", diz Rosa Cirilo. "Este é um país que vive das importações. Não há fábricas de medicamentos, que, normalmente, vêm da Alemanha, de Portugal, da Polónia, dos Estados Unidos da América, do Brasil. Sem receber o dinheiro, os fornecedores não mandam a mercadoria."

Sair do país?

O Dr. Luís Filipe, chefe de uma conceituada clínica especializada em medicina tradicional chinesa, em Luanda, diz que o seu maior problema é a falta de material necessário para as terapias.

"Tinha um grande stock, mas já está a chegar ao fim", conta. O médico sublinha que o seu problema não é a falta de dinheiro, mas sim os enormes atrasos nas transferências bancárias e nos pagamentos aos fornecedores, tal como as restrições nas importações.

O Banco Nacional de Angola nega quaisquer restrições e assegura que não há razões para atrasos. Mas, segundo o Dr. Luís Filipe, o certo é que os atrasos são grandes, muitos e generalizados e ele já pensa em ir para o estrangeiro. "A minha situação está periclitante e estou a pensar sair do país, porque temo não ter material para tratar os meus pacientes. […] Este desenvolvimento de Angola era completamente fictício e só estava assente na especulação do petróleo. O trabalho de casa estava todo por fazer."

Quem sofre são os pacientes

Agora, quem sofre são os pacientes. Sobretudo quem não tem possibilidade de ir para o estrangeiro para se tratar: "As pessoas com mais posses metem-se num avião e vão para a Namíbia, África do Sul, Portugal", afirma o médico angolano.

O Governo angolano investe menos de três por cento do Produto Interno Bruto (PIB) na área da saúde. Com a baixa do preço do crude nos mercados internacionais, os investimentos neste setor baixarão ainda mais.

O Dr. Luís Filipe prevê dias ainda mais difíceis: "Eu digo muitas vezes que a situação de Angola, ao nível da saúde, é como a de um doente com cancro em fase terminal."

António Cascais – Deutsche Welle

Moçambique. DIÁLOGO VOLTA A ENCALHAR ENTRE GOVERNO E RENAMO




Dois assuntos considerados cruciais, nomeadamente paridade nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e na Polícia da República de Moçambique (PRM) e impedimento aos titulares dos órgãos do Estado, incluindo o Presidente da República, e servidores públicos do exercício de actividades políticas durante as horas normais de expediente, encalharam ontem o diálogo entre o Governo e a Renamo, que já vai na sua 97.ª ronda.

 Por imperativos do acordo de cessação das hostilidades militares assinado a 5 de Setembro de 2014, o enquadramento e integração dos homens da Renamo nas FADM e na PRM é uma questão central. Segundo aquele instrumento legal, esse enquadramento e integração deve ter lugar para que no final nenhuma força política detenha ou permaneça armada, responsabilidade acometida aos órgãos específicos do Estado no âmbito da defesa da soberania e integridade territorial.

É justamente para assegurar a concretização daquele propósito que as partes acordaram constituir a Equipa Militar de Observação da Cessação das Hostilidades Militares (EMOCHM), de que fazem parte integrante peritos militares do Governo, da Renamo e internacionais, até aqui constituída por oito países.

Aquando da sua constituição, a EMOCHM tinha um mandato de 135 dias prorrogáveis no quadro do acordo transformado em lei pela Assembleia da República. Expirado aquele período em Fevereiro último e à luz daquele acordo, o mandato da Equipa Militar de Observação da Cessação das Hostilidades Militares ficou automaticamente prorrogado mas, até ontem, o Governo e a Renamo não haviam alcançado consenso sobre o prazo.

Com efeito, o Executivo, cuja delegação no diálogo é chefiada pelo Ministro da Agricultura e Segurança Alimentar, José Pacheco, fixou em 60 dias o prazo de prorrogação da missão da EMOCHM, dentro do qual deverão começar a ser implementadas as acções consensuais entre as partes, enquanto a Renamo defende um período de 120 dias como sendo razoável para se processar o enquadramento, integração e inserção social e económica dos seus homens.

Sobre a questão específica do enquadramento e integração dos homens da Renamo nas FADM, Saimone Macuiana, chefe da delegação do maior partido da oposição no diálogo com o Governo, disse haver muitos oficiais provenientes das hostes da formação política liderada por Afonso Dhlakama que não têm ordem de serviço regularizado e que a pretensão é que haja partilha de responsabilidades.

Para a Renamo, só depois de regularizada aquela situação é que se poderá falar do enquadramento dos seus homens em si, bem como da inserção social e económica. Saimone Macuiana sublinhou que é interesse do seu partido que o acordo de cessação das hostilidades seja cumprido na íntegra, em nome da paz.

O Governo considera que as Forças de Defesa e Segurança são soberanas e regem-se por instrumentos próprios e têm as suas próprias competências, daí que se trata de matéria a ser analisada pelos seus peritos militares.

Ainda ontem, as duas delegações voltaram a divergir quanto a um dos pontos atinentes à despartidarização da Administração Pública. Trata-se da proposta avançada pela Renamo visando impedir que os titulares dos órgãos do Estado, incluindo o Presidente da República, cujo cargo é eminentemente político, e os servidores públicos exerçam actividades políticas nas horas normais de expediente, o que para o Governo é contrário ao espírito do quadro político e jurídico nacional.

As partes voltam a encontrar-se ordinariamente na próxima segunda-feira.

Felisberto Arnaça – Notícias (mz)

POLÍCIA MOÇAMBICANA SEM DESENVOLVIMENTOS SOBRE CISTAC




Uma semana após o assassinato de Gilles Cistac, a polícia moçambicana ainda não apresentou dados consistentes sobre a investigação. Velório do constitucionalista realiza-se na tarde desta terça-feira (10.03), em Maputo.

O corpo de Gilles Cistac segue na quinta-feira (12.03) para França, a sua terra natal, onde será enterrado. O constitucionalista, conhecido por defender teses nem sempre favoráveis à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, foi assassinado a tiro na terça-feira (03.03) da semana passada por desconhecidos, à saída de um café no centro da capital, Maputo.

Até ao momento, a Polícia da República de Moçambique (PRM) não deu a conhecer novos elementos sobre o homicídio do constitucionalista, alegando que assim não põe em causa a investigação. Na última sexta-feira (06.03), o ministro do Interior, Jaime Basílio Monteiro, garantiu que já havia pistas.

A DW África falou sobre as investigações com o porta-voz do comando da polícia da cidade de Maputo, Orlando Mudumane.

DW África: Qual o ponto de situação das investigações sobre o assassinato de Gilles Cistac?

Orlando Mudumane (OM): A polícia está a trabalhar neste momento no sentido de esclarecer o caso. Estamos numa fase de instrução, que tem um carácter secreto para bem da própria investigação. Neste momento não há nenhum dado que possa ser tornado público sob pena de pôr em causa a própria investigação. Mas o que se garante é que várias linhas operativas da PRM, sobretudo da Polícia de Investigação Criminal, estão no terreno no sentido de neutralizar os autores do macabro crime, para que sejam responsabilizados.

Indivíduos especializados neste tipo de crime estão a trabalhar para que essas pessoas sejam encontradas e responsabilizadas, leve o tempo que levar. Queremos tranquilizar os moçambicanos e a família do malogrado. A polícia está a fazer tudo e vai encontrar esses indivíduos, que serão levados à barra do tribunal.

DW África: Algumas pessoas em Moçambique dizem que a polícia não terá respeitado os procedimentos de perícia na altura do crime. Confirma?

OM: A polícia dirigiu-se ao local do crime e fez o que tinha de fazer nos primeiros momentos, logo que chegou ao local. As pessoas são livres de fazer o ajuizamento que entenderem. Se houve uma ou outra falha, isso não significa que a polícia não esteja interessada em esclarecer o crime. Se houve uma ou outra falha, são falhas inerentes ao próprio trabalho - pequenas falhas que foram pontualmente corrigidas. E neste momento o que interessa é que as pessoas confiem na capacidade da Polícia da República de Moçambique, nas pessoas que estão no terreno a investigar este caso para encontrar os responsáveis por este macabro crime.

DW África: Confirma que a PRM terá solicitado a ajuda da Polícia Internacional (Interpol) para este caso?

OM: Não confirmo, não tenho essa informação. Mas quero garantir que a Polícia de Moçambique irá fazer tudo o que for necessário para esclarecer este crime. Se houver necessidade disso, poderá fazê-lo, mas neste momento não confirmo essa situação.

DW África: A PRM sente que tem capacidade para conseguir neutralizar este tipo de criminosos?

OM: Tem capacidade, sim. Como disse, é preciso que as pessoas confiem no trabalho que a polícia está a fazer, que confiem na PRM. A Polícia da República de Moçambique tem capacidade para esclarecer qualquer tipo de crime. Pode levar o tempo que levar, mas a seu tempo o caso será esclarecido. A polícia já esclareceu tantos outros casos e acredita-se que este também será esclarecido.

Nádia Issufo – Deutsche Welle

DESIGUALDADES SOCIAIS E CORRUPÇÃO EM TIMOR-LESTE TAMBÉM É VIOLÊNCIA




Os despachos noticiosos da Agência Lusa sobre Timor-Leste têm sido muito numerosos, não há quem fora do país possa dizer-se desatualizado. O ritmo não é usual. Só por isso percebemos logo que a condução da locomotiva mudou de mãos. Podemos dizer que há mais carvão, lenha e água para produzir o vapor indispensável ao bom andamento registado. A chuva de noticiário não permite que no Página Global publiquemos de uma assentada aquilo que a Lusa despacha. Temos de fazer a nossa seleção entre tanta notícia. Agora umas, depois outras.

Seleção que toma por maior interesse na divulgação o caso da violência em Baguia. Polícias feridos à granada em ataque a uma esquadra. O presidente do Parlamento timorense estava a cem metros do local do ataque em visita familiar. Não era o alvo da peleja. As entidades oficiais acusam o dissidente Mauk Moruk e os seus guerrilheiros pelo ataque. Moruk desmente. É visível que a violência está a recrudescer. Aquele tipo de violência.

Outro tipo de violência existe em Timor-Leste e propaga-se quase em silêncio. A fome, a miséria existente e numerosa, as desigualdades sociais tão vincadas e que vitima mais de dois terços da população, o desemprego, a justiça forte com os fracos e fraca com os fortes, a corrupção de membros dos governos, de empresários amigos, da elite que se apossou do país quando ainda não tinha sequer comemorado a sua independência. Sobre essa violência de Estado não vimos que façam tanto alarido como por causa do rebentamento de duas ou três granadas. Mas essa violência mata mais que qualquer outra existente no país. Mata por carências inadmissíveis nos cuidados de saúde, pela falta de infraestruras que assegurem sanidade na água que os timorenses utilizam para seu consumo e nos esgotos tantas vezes inexistentes ou que são em valas e corregos a céu aberto. 

Também o défice democrático acaba por matar mais que uma simples mas indesejada granada. Não pode existir democracia sem justiça social, sem justiça judiciária, sem o cuidado e cumprimento constitucional que não permita o alargamento do fosso das desigualdades. Fosso cavado profundamente durante os governos de Gusmão. É essa violência de Estado que gera mais violência pela via da indignação, da revolta. Os timorenses querem paz mas também querem ser bem governados. Governados democraticamente, com justiça. Enquanto assim não acontecer a violência está para ficar em Timor-Leste.

Redação PG

Governo timorense defende ação para evitar que atos de instabilidade se repitam

Díli, 10 mar (Lusa) - O Governo timorense vai apostar nas ações policiais de repressão e prevenção para evitar que ataques semelhantes ao de domingo na esquadra da vila de Baguia, que feriu quatro agentes policiais, se repitam noutros pontos do país.

O executivo aprovou hoje uma resolução que autoriza uma operação conjunta da polícia (PNTL) e das Forças Armadas (F-FDTL), através de uma "força-tarefa", para "prevenir e reprimir a atuação criminosa de grupos ilegais que estão a causar instabilidade no país".

O texto final da resolução, obtido pela agência Lusa, baseia-se numa primeira resolução aprovada na segunda-feira numa reunião extraordinária do Conselho de Ministros e foi hoje alvo de várias alterações, após várias consultas no Governo, Parlamento Nacional e Presidência da República.

Para aprovar o "empenhamento operacional conjunto" da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) e das forças armadas (F-FDTL) o Governo teve em conta os "graves acontecimentos" da madrugada de domingo "que constituem um atentado contra a segurança nacional e um crime que jamais poderá ser tolerado".

Entre os feridos no ataque estão três elementos do Corpo de Segurança Pessoal do presidente do Parlamento Nacional, Vicente da Silva Guterres, que estava numa casa próxima para um velório de um familiar.

No ataque foram ainda "destruídos bens e incendiadas casas da população indefesa", refere a resolução, que considera que estes "atos de perturbação da ordem pública" estão relacionados com outros, ocorridos na localidade de Laga a 15 de janeiro.

Segundo o Governo, "caso não sejam definitivamente resolvidos, poderão incitar ao surgimento de acontecimentos semelhantes noutros locais do território nacional e criar insegurança nas populações".

O executivo explicou que analisou "toda a informação recolhida sobre todos os acontecimentos e tomadas de posição relacionadas com a situação" e que "indiciam a existência de grupos dedicados ao crime organizado e com objetivos de criar instabilidade no país".

A resolução recorda que "a lei proíbe a existência de associações armadas e organizações de tipo militar ou paramilitar" e explica que a decisão sobre uma operação conjunta foi tomada "ouvindo o Parlamento Nacional e concertado o empenhamento operacional conjunto com o Presidente da República".

Apesar de considerar que não se justifica a situação de estado de exceção constitucional, o Governo considerou que "devem ser adotadas medidas que impliquem a ação conjunta" das forças de segurança.

O texto da resolução aprova o "empenhamento operacional conjunto", designadamente em Baguia, através de "operações de atuação proporcional no uso da força".

Instrui o chefe de Estado Maior General das F-FDTL e o comandante geral da PNTL a preparar e apresentar ao Governo as "regras de empenhamento" e a implementar "com a máxima urgência" a resolução.

O texto final da resolução foi acordado hoje depois de várias reuniões e de uma audiência pública do parlamento, à porta fechada, aos ministros do Interior, Longuinhos Monteiro, e da Defesa, Cirilo Cristóvão.

A resolução foi aprovada de acordo com a Lei de Segurança Nacional de 2010, que prevê o "empenhamento conjunto operacional das entidades que compõem o Sistema Integrado de Segurança Nacional" em situações em que se "constate a insuficiência da intervenção das entidades", separadamente, para cumprir os seus objetivos constitucionais.

ASP // VM

Governo timorense ativa operação conjunta da polícia e forças armadas

Díli, 10 mar (Lusa) - O Governo timorense aprovou uma operação conjunta da polícia (PNTL) e das Forças Armadas (F-FDTL), através de uma "força-tarefa", para "prevenir e reprimir a atuação de grupos ilegais que estão a causar instabilidade no país".

"Após a análise da informação recolhida sobre todos os acontecimentos, e ouvidos o Parlamento Nacional e o Presidente da República, tudo indicia a existência de grupos dedicados ao crime organizado e com objetivos de criar instabilidade no país", refere um comunicado do executivo.

A resolução do Governo "incumbe o Chefe do Estado Maior General das F-FDTL e o Comandante Geral da PNTL de elaborar e propor ao Conselho de Ministros as regras de empenhamento, que serão implementadas de modo a prevenir e a reprimir a atuação criminosa de grupos ilegais que estão a causar instabilidade no país".

O texto foi aprovado em resposta ao ataque da madrugada de domingo na esquadra da localidade de Baguia, a 40 quilómetros sudeste de Baucau, a segunda cidade timorense, que feriu quatro agentes policiais.

Entre os feridos estão três elementos do Corpo de Segurança Pessoal do presidente do Parlamento Nacional, Vicente da Silva Guterres, que estava numa casa próxima para um velório de um familiar.

O comunicado do Governo refere que os "atos de perturbação da ordem pública" podem estar relacionados com outros ocorridos em janeiro e "devem ser definitivamente resolvidos, por constituírem um atentado contra a segurança nacional e um crime que jamais poderá ser tolerado".

"Saliente-se que a lei proíbe a existência de associações armadas e organizações de tipo militar ou paramilitares", refere o comunicado.

O texto final da resolução, que começou a ser discutida numa reunião extraordinária do Conselho de Ministros na segunda-feira, foi acordado hoje depois de várias reuniões e de uma audiência pública do parlamento, à porta fechada, aos ministros do Interior, Longuinhos Monteiro, e da Defesa, Cirilo Cristóvão.

A resolução foi aprovada de acordo com a Lei de Segurança Nacional de 2010 que prevê o "empenhamento conjunto operacional das entidades que compõem o Sistema Integrado de Segurança Nacional" em situações em que se "constate a insuficiência da intervenção das entidades", separadamente, para cumprir os seus objetivos constitucionais.

Tanto o primeiro-ministro timorense, Rui Araújo, com o ministro do Interior, Longuinhos Monteiro, responsabilizaram o ex-comandante da guerrilha timorense Mauk Moruk pelo ataque.

Em entrevista telefónica à Lusa Mauk Moruk negou envolvimento no ataque - que disse ter sido o resultado de confrontos entre familiares do presidente do parlamento - confirmando porém que participaram nos incidentes elementos do Conselho da Revolução Maubere (CRM), organização que lidera.

A resolução hoje publicada surge depois de dois dias de intensos contactos entre os principais líderes timorenses, incluindo o Governo, o Presidente da República, o Parlamento Nacional e as forças de segurança.

Nos últimos dias o Presidente da República, Taur Matan Ruak, tem mantido várias reuniões com responsáveis timorenses entre os quais o presidente do Parlamento, Vicente da Silva Guterres, e o primeiro-ministro, Rui Araújo.

Recebeu ainda o ex-primeiro-ministro Xanana Gusmão, líderes das bancadas parlamentares e os ministros do Interior e da Defesa.

ASP // DM

Parlamento timorense em audiência à porta-fechada com ministros do Interior e Defesa

Díli, 10 mar (Lusa) - O Parlamento Nacional de Timor-Leste está reunido à porta-fechada desde as 10:00 locais (01:00 em Lisboa) para ouvir os ministros do Interior e da Defesa, para tratar "assuntos de relevante interesse nacional", disse à Lusa fonte parlamentar.

A mesma fonte explicou que o debate se centra na situação gerada depois do ataque da madrugada de domingo na esquadra da localidade de Baguia, a 40 quilómetros sudeste de Baucau, a segunda cidade timorense, que feriu quatro agentes policiais.

Entre os feridos estão três elementos do Corpo de Segurança Pessoal do presidente do Parlamento Nacional, Vicente da Silva Guterres, que estava numa casa próxima para um velório de um familiar.

O debate parlamentar tem como único ponto na agenda a audiência ao ministro do Interior, Longuinhos Monteiro, e da Defesa, Cirilo Cristóvão, e poderá resultar na ativação da lei de segurança nacional que prevê o envolvimento conjunto operacional das várias forças de segurança timorenses - policiais e militares.

Uma resolução nesse sentido - cujo texto ainda não é conhecido - foi aprovada numa reunião extraordinária do Conselho de Ministros na segunda-feira.

ASP // JCS

Mauk Moruk nega envolvimento no ataque à esquadra da vila timorense de Baguia

Díli, 10 mar (Lusa) - O ex-comandante da guerrilha timorense Mauk Moruk negou envolvimento no ataque da madrugada de domingo à esquadra da vila de Baguia, mas em entrevista à Lusa confirmou que participaram elementos do grupo que lidera.

"Foram os próprios homens do Vicente que se atacaram uns aos outros. Se eu tivesse ali, na linha da frente, limpava o sarampo aos homens todos porque já fizeram demasiado", afirmou, numa entrevista à agência Lusa, ao telefone.

"Se estivesse lá dizia que tinha estado. A verdade é que não estive. Quando dou as ordens admito e confirmo. É a minha honestidade e dignidade que prevalecerá. Sou um cristão e não quero mentir", garantiu.

Apesar disso e depois de insistência da Lusa Mauk Moruk confirmou que nos incidentes estiveram envolvidos membros do CRM (Conselho da Revolução Maubere), organização que lidera.

"Eu já disse mais de uma vez. Isto foi uma questão de batatada entre familiares. Houve problemas, sei que ali estavam alguns elementos do CRM (Conselho da Revolução Maubere), a polícia apoiou o presidente e depois houve uma reação brutal", afirmou.

"Estávamos preparados para mobilizar cinco mil homens. Mas como percebemos que eram problemas familiares deixamos a coisa", disse.

Tanto o primeiro-ministro timorense, Rui Araújo, com o ministro do Interior, Longuinhos Monteiro, responsabilizaram Mauk Moruk e os seus homens pelo ataque que causou quatro feridos, na localidade de Baguia, a 40 quilómetros sudeste de Baucau, a segunda cidade timorense.

Entre os feridos estão três elementos do Corpo de Segurança Pessoal do presidente do Parlamento Nacional, Vicente da Silva Guterres, que estava numa casa próxima para um velório de um familiar.

Mauk Moruk, que disse à Lusa estar "numa vila fronteiriça", garantiu que não se entregará às autoridades timorenses, considerando não reconhecer a sua legitimidade.

ASP // JCS

Família de português preso preventivamente em Timor-Leste inicia campanha nas redes sociais




Díli, 10 mar (Lusa) - A família de um cidadão português preso preventivamente em Díli desde outubro do ano passado e contra quem, até agora, ainda não foi formulada qualquer acusação, iniciou hoje nas redes sociais uma campanha de sensibilização para o caso.

A campanha, que pede ainda para que se enviem cartas às autoridades timorenses, refere-se ao caso de Tiago Guerra, que foi detido em Díli, juntamente com a mulher no passado dia 18 de outubro.

Inês Lau, irmã de Tiago Guerra e atualmente a residir no Brasil, é um dos familiares envolvidos na campanha, tendo já enviado uma carta ao primeiro-ministro, Rui Araújo, com conhecimento para o chefe de Estado timorense, Taur Matan Ruak, o chefe do Governo português, Pedro Passos Coelho e para o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário.

Na carta, a que a Lusa teve acesso, Inês Lau manifesta preocupação pela detenção do seu irmão sem que, até ao momento tenha sido feita qualquer acusação.

"Até à presente data, o Tiago continua detido em prisão preventiva em Bécora e a sua mulher está com um Termo de Identidade e Residência, impossibilitada de se ausentar do país", disse.

"Sabendo que o Tiago, ao fim de cinco meses de detenção, ainda não foi formalmente acusado, nem tão pouco diretamente responsabilizado por qualquer crime por ele cometido, venho manifestar junto de Vossa Excelência a minha profunda preocupação pela situação do Tiago, agravada pelas insuficiências do sistema judicial de Timor-Leste", escreve.

A irmã de Tiago Guerra apela à "intervenção pessoal" do chefe do Governo timorense para "a breve resolução desta lamentável situação".

Nas mensagens de sensibilização sobre a situação do Tiago Guerra - que estão igualmente a ser divulgadas através de uma página do facebook - Inês Lau refere que a sua cunhada, Fong Fong Chan, continua impossibilitada de sair de Timor-Leste.

Os filhos do casal estão atualmente "a morar com os avós paternos em Portugal".

Inês Lau denuncia as condições da prisão onde se encontra o irmão, referindo que está a partilhar uma cela com outros presos, "em débeis condições de higiene (sem água canalizada, cama ou sequer um colchão".

"Aconselhados pelos advogados e acreditando na justiça e que tudo se resolveria com brevidade, visto o Tiago não ter cometido qualquer crime, pouco fizemos para tornar do conhecimento público esta causa que se tornou humanitária", disse.

"Ao fim de quase cinco meses damo-nos conta de que nada mudou e de que se nada for feito, o Tiago permanecerá encarcerado indefinidamente, esquecido, inocente, e a sua mulher, Fong Fong, continuará impossibilitada de sair do país. Os filhos sentem muito a ausência dos pais e anseiam para que ambos regressem a casa", escreve, pedindo que se gere uma "corrente de solidariedade".

Não foi possível à agência Lusa obter junto do Ministério Público ou da procuradoria-geral timorense qualquer informação sobre o processo de Tiago Guerra.

ASP // FV

GUINÉ EQUATORIAL CRIA POLÉMICA ENTRE PORTUGAL E TIMOR-LESTE




A entrada da Guiné-Equatorial na CPLP voltou à cena política por uma razão inesperada: no prefácio aos seus "Roteiros", Cavaco diz que Timor-Leste se empenhou na adesão e que era impossível dizer que não. O ex-Presidente timorense Ramos-Horta veio dizer que isso é uma "falsidade".

Luísa Meireles - Expresso

Não era novidade para ninguém, em vésperas da X cimeira da CPLP, realizada em julho do ano passado, em Díli, que a Guiné-Equatorial iria ser aceite na organização, apesar de todas as polémicas.

Os grande apoiantes, Angola e Brasil, estavam de acordo, os países mais pequenos também e Timor, que pela primeira vez organizou uma cimeira da Comunidade, estava entre eles. Por várias vezes Xanana Gusmão, então primeiro-ministro, se deslocou a Malabo, capital da Guiné-Equatorial, com agendas que frequentemente se confundiram entre as da CPLP e a dos interesses de Timor.

Portugal resistira até ao limite. Atrasara o processo de entrada durante duas cimeiras seguidas (2010, 2012) e, finalmente, rendera-se à evidência. Com sete membros da CPLP a votar a favor, a negativa portuguesa podia por em causa o princípio do consenso e, pior, por em questão a sua própria presença.

Já se tinha inventado um roteiro para a Guiné cumprir, colocara-se como condição o uso do português e uma moratória, pelo menos, da abolição da pena de morte e fizera-se a verificação de progressos. Chegado o momento, o Governo rendeu-se às evidências. Perante a ameaça de uma eventual "cisão" na CPLP, isolando Lisboa, avançou. E o próprio Cavaco Silva, o rosto visível do "travão" à adesão da Guiné Equatorial teve de render-se à evidência dos novos tempos.

Trocado por miúdos, é isto que Cavaco afirma no seu prefácio: "Sendo a adesão fortemente apoiada pelos países africanos de língua oficial portuguesa, pertencentes ao mesmo espaço regional que a Guiné Equatorial, a que se juntava o Brasil e Timor-Leste, um veto de Portugal poderia, no limite, pôr em causa a própria sobrevivência da CPLP". Ora, acrescenta, esta é um "ativo estratégico para Portugal".

A surpresa em Díli

Cavaco
partiu para Díli em perfeita sintonia com o Governo (a tal coordenação de posições em política externa de que também fala no seu prefácio). Timor preparava-se para assumir a presidência da organização e, diz o Presidente, era "a primeira vez que Timor-Leste era chamado a desempenhar uma tarefa de tal dimensão internacional. Tendo existido um grande empenho das autoridades timorenses na adesão da Guiné-Equatorial, um veto português significaria o fracasso da cimeira, com elevados danos reputacionais para Timor-Leste", tanto mais que a cimeira de Díli era vista como um teste à sua entrada na ASEAN.

Assim foi. Só que, para grande surpresa da delegação portuguesa à chegada a Díli, tudo estava já preparado como se a decisão da adesão da Guiné-Equatorial já tivesse sido tomada. Na reunião prévia dos chefes de Estado e de Governo onde a questão devia ser deliberada, estava reservado um lugar à mesa para Obiang, o chefe de Estado daquele país.

Ao que sabe o Expresso - e foi noticiado na altura - Cavaco levantou a questão e a delegação portuguesa protestou. Obiang teve que ficar retido numa sala ao lado, até ser chamado para responder às questões que o coletivo de dirigentes decidira colocar-lhe. Só depois disso foi formalmente aprovada a entrada da Guiné-Equatorial na CPLP. Quem lá esteve deu conta do embaraço protocolar que tal exigência motivou.

Quando, finalmente, na cerimónia pública, Obiang entrou na sala da reunião dos chefes de Estado e de Governo, fê-lo ao som de música e foi acolhido com uma salva de palmas. As televisões mostraram: Cavaco não bateu palmas e ficou-se a olhar para ao lado.

Cavaco escreve no prefácio: "O insucesso da cimeira seria um golpe nos esforços de Timor-Leste para reforçar a sua credibilidade internacional. Neste quadro, uma questão não podia deixar de ser colocada: como reagiria Timor-Leste em relação a Portugal, encarado como o responsável pelo fracasso da Cimeira [se tivesse vetado a entrada]? Qual o efeito que isso teria sobre a difusão da língua portuguesa em Timor? Surpreende que muitos dos que defenderam ativamente o veto de Portugal à adesão da Guiné Equatorial tivessem ignorado os danos para Timor-Leste de uma tal decisão".

Ramos Horta protesta agora, dizendo que é uma "falsidade" atribuir a Timor-Leste um papel de relevo no lóbi para a adesão da Guiné-Equatorial à CPLP e considera que essa falsidade "tem sido propagada nos media portugueses desde a Cimeira de Dili de Julho de 2014".

E acrescenta: "De lembrar que na Cimeira de Luanda de 2010 registou-se um forte embaraço diplomático quando o Presidente da GE, estando presente e confiante que o seu país iria ser admitido, foi humilhado pelo veto de Portugal". Aparentemente, a história não lhe deu razão.

Ramos Horta, todavia, foi escolhido pelo Presidente timorense Taur Matan Ruak para monitorizar e apoiar a adoção, por parte da Guiné Equatorial, das disposições estatutárias da CPLP, informa Cavaco no seu prefácio. Para já, não se conhece ainda nenhum relatório.

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