segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Cabo Verde: O MEU CANDIDATO



Clemente Garcia – Expresso das Ilhas, opinião

Aproximamos a passos largos do início da campanha eleitoral, é chegado o momento de trazer para a reflexão o piloto ideal para capitanear os nossos destinos para os próximos tempos que se afiguram difíceis. Pois, há muito que anda na rua a pré-campanha eleitoral para as legislativas de 20 de Marco e, como sempre, os candidatos afadigam-se a fazer passar as suas mensagens, sempre muito COR-DE-ROSA, esquecendo-se que vivemos em tempos de vacas magras.

Efectivamente, o país está em crise e o povo está a passar por inúmeras dificuldades e muitos à míngua, não obstante, o menu favorito dos candidatos continua a ser a promessa: prometer, prometer, prometer. As promessas são tantas que até mete nojo. Atenção! As vezes dá resultado. Lembrem-se do prometido 13º mês para todos os funcionários públicos; crescimento económico a dois dígitos, 150.000 (cento e cinquenta mil) computadores para todos os alunos e professores ….etc. Portanto, todo o cuidado é pouco caros eleitores.

O curioso disto é que o Partido que ainda sustenta o Governo vem prometendo cerca de15.000 (quinze mil)a 25.000 (vinte e cinco mil) empregos por ano e é caso para perguntar onde estavam durante estes longos e dolorosos anos? Por que razão não os criaram nesta legislatura que está a terminar? Estão a brincar com a inteligência dos cabo-verdianos e a responsável por esta promessa é nada mais que a pessoa que respondia por esta área governamental; aumento da pensão social mínima de 5.000$00 (cinco mil escudos) para 7.500$00 (sete mil e quinhentos escudos); aumento do salário mínimo de 11.000$00 para 15.000$00, sabendo que, neste último, nem sequer o governo conseguiu regulamentar e impor o seu cumprimento. Isto não é para ser levado a sério meus caros! É banha de cobra em dias de feira. Eis a razão por que há um certo retraimento dos jovens em relação à política. Deste modo, o actual tédio pela política não resulta da quebra de interesse pelo bem público, mas de ter-se perdido a esperança de poder fazer alguma coisa com a política tradicional.

Quando as promessas perdem o seu carácter de pequenas ilhas de certeza num oceano de incertezas, ou seja, quando se abusa dessa faculdade para abarcar todo o futuro e traçar caminhos seguros em todas as direcções, as promessas perdem o seu carácter de obrigatoriedade e todo o empreendimento se torna contraproducente.

Se fizéssemos um inventário das queixas actualmente correntes, teríamos talvez a surpresa de verificar que o seu teor se modificou radicalmente em poucos anos. O destinatário deste mal-estar é o político que não pode, que não se explica e que repete um discurso convencional com pobre encenação. O que actualmente desacredita a política não é uma atitude autoritária, mas distância que separa do que se faz e daquilo que se devia fazer, a discrepância das palavras e dos actos.

Outros indicadores que atestam um certo retraimento dos jovens em relação à política são a crescente desconfiança face às instituições políticas, os crescentes sentimentos antipartidos e o aumento da insatisfação das democracias, já para não falar da chamada <espiral do cinismo político>. Esta <espiral do cinismo> passa por ideias com a de que <os políticos são todos iguais> e <estão lá para tratar dos seus interesses> e não dos interesses dos cidadãos.

Ora bem, importa referir que as campanhas eleitorais já não são o que eram, isto é, tumultuosas e generosas com banhos de multidão, empolgantes arruadas e distribuições de beijinhos, abraços e brindes, porquanto as redes sociais fazem a sua entrada de leão; entretanto, como sofremos ainda de elevadas doses de iliteracia informática, o povo não resiste a passeatas, festanças e sessões de comes e bebes, muitas vezes à custa do erário público.

Por conseguinte, importa não embarcarmos nestas cantilenas de cigarras tentadoras e políticas demagógicas e irrealistas com que alguns candidatos nos tentam conquistar. Para tanto, devemos estar atentos e vigilantes, analisar as soluções em pauta e escolher em consciência o candidato que apresentar a melhor proposta e responda aos desafios da contemporaneidade que se afiguram bastantes exigentes. Neste sentido se pode entender a firmação de Walter Benjamin de que “não há tempos de decadência; há circunstâncias difíceis para levar a cabo uma determinada política, mas o ofício político saberá sempre descobrir o que se deve fazer no meio da adversidade”.Eis o desafio que o meu candidato terá pela frente.

A formulação dos objectivos políticos coincide no tempo com as campanhas eleitorais, momento pouco apropriado para a reflexão. Todavia, é nesta época que surge a oportunidade política. Importa não esquecer que o grande líder é aquele que sabe aproveitar as oportunidades. Neste sentido, defender a arte da oportunidade política pressupõe tornar-se credor de todas as iras que são dirigidas contra os abusos da política.
A oportunidade significa para Weber realizabilidade, risco, sorte, com todas as matizes de uma experiência da contingência. Ela não significa principalmente o Kairos – como occasione de Maquiavel -, mas aquelas possibilidades de actuar de outra maneira que estão mais ou menos sempre presentes na acção e devem ser objecto de ponderação.
Ora, o êxito de muitos políticos provém de que eles não oferecem mais daquilo que se espera de um dirigente democrático numa sociedade democrática: que se preocupe com a sociedade no seu conjunto, que tenha sensibilidade para captar o que as pessoas querem e que aceite essa vontade como orientação básica das suas acções. Portanto, para descobrir a oportunidade é preciso trabalho, imaginação e coragem.

Neste panorama, o meu candidato ao cargo de Primeiro-ministro de Cabo Verde será aquele que melhor ilumina o exercício do poder, ou seja, aquele que promete menos e com mais verdade e realismo, ou ainda, procuro um candidato: que ponha o país e os seus interesses à frente de tudo e, para o efeito, faça dos cabo-verdianos um povo orgulhoso, galvanizado e solidário na luta por um futuro melhor; que tenha um projecto claro e sólido de luta contra a corrupção e em defesa da moral e dos bons costumes, garantindo uma justiça célere, implacável, sem prescrições e adiamentos injustificáveis; que pela sua honestidade, competência, responsabilidade e consciência garanta uma governação rigorosa, séria e justa. 

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