Clemente
Garcia – Expresso das Ilhas, opinião
Aproximamos
a passos largos do início da campanha eleitoral, é chegado o momento de trazer
para a reflexão o piloto ideal para capitanear os nossos destinos para os
próximos tempos que se afiguram difíceis. Pois, há muito que anda na rua a
pré-campanha eleitoral para as legislativas de 20 de Marco e, como sempre, os
candidatos afadigam-se a fazer passar as suas mensagens, sempre muito
COR-DE-ROSA, esquecendo-se que vivemos em tempos de vacas magras.
Efectivamente,
o país está em crise e o povo está a passar por inúmeras dificuldades e muitos
à míngua, não obstante, o menu favorito dos candidatos continua a ser a promessa:
prometer, prometer, prometer. As promessas são tantas que até mete nojo.
Atenção! As vezes dá resultado. Lembrem-se do prometido 13º mês para todos os
funcionários públicos; crescimento económico a dois dígitos, 150.000 (cento e
cinquenta mil) computadores para todos os alunos e professores ….etc. Portanto,
todo o cuidado é pouco caros eleitores.
O
curioso disto é que o Partido que ainda sustenta o Governo vem prometendo cerca
de15.000 (quinze mil)a 25.000 (vinte e cinco mil) empregos por ano e é caso
para perguntar onde estavam durante estes longos e dolorosos anos? Por que
razão não os criaram nesta legislatura que está a terminar? Estão a brincar com
a inteligência dos cabo-verdianos e a responsável por esta promessa é nada mais
que a pessoa que respondia por esta área governamental; aumento da pensão
social mínima de 5.000$00 (cinco mil escudos) para 7.500$00 (sete mil e
quinhentos escudos); aumento do salário mínimo de 11.000$00 para 15.000$00,
sabendo que, neste último, nem sequer o governo conseguiu regulamentar e impor
o seu cumprimento. Isto não é para ser levado a sério meus caros! É banha de
cobra em dias de feira. Eis a razão por que há um certo retraimento dos jovens
em relação à política. Deste modo, o actual tédio pela política não resulta da
quebra de interesse pelo bem público, mas de ter-se perdido a esperança de
poder fazer alguma coisa com a política tradicional.
Quando
as promessas perdem o seu carácter de pequenas ilhas de certeza num oceano de
incertezas, ou seja, quando se abusa dessa faculdade para abarcar todo o futuro
e traçar caminhos seguros em todas as direcções, as promessas perdem o seu
carácter de obrigatoriedade e todo o empreendimento se torna contraproducente.
Se
fizéssemos um inventário das queixas actualmente correntes, teríamos talvez a
surpresa de verificar que o seu teor se modificou radicalmente em poucos anos.
O destinatário deste mal-estar é o político que não pode, que não se explica e
que repete um discurso convencional com pobre encenação. O que actualmente
desacredita a política não é uma atitude autoritária, mas distância que separa
do que se faz e daquilo que se devia fazer, a discrepância das palavras e dos
actos.
Outros
indicadores que atestam um certo retraimento dos jovens em relação à política
são a crescente desconfiança face às instituições políticas, os crescentes
sentimentos antipartidos e o aumento da insatisfação das democracias, já para
não falar da chamada <espiral do cinismo político>. Esta <espiral do
cinismo> passa por ideias com a de que <os políticos são todos iguais>
e <estão lá para tratar dos seus interesses> e não dos interesses dos
cidadãos.
Ora
bem, importa referir que as campanhas eleitorais já não são o que eram, isto é,
tumultuosas e generosas com banhos de multidão, empolgantes arruadas e
distribuições de beijinhos, abraços e brindes, porquanto as redes sociais fazem
a sua entrada de leão; entretanto, como sofremos ainda de elevadas doses de
iliteracia informática, o povo não resiste a passeatas, festanças e sessões de
comes e bebes, muitas vezes à custa do erário público.
Por
conseguinte, importa não embarcarmos nestas cantilenas de cigarras tentadoras e
políticas demagógicas e irrealistas com que alguns candidatos nos tentam
conquistar. Para tanto, devemos estar atentos e vigilantes, analisar as
soluções em pauta e escolher em consciência o candidato que apresentar a melhor
proposta e responda aos desafios da contemporaneidade que se afiguram bastantes
exigentes. Neste sentido se pode entender a firmação de Walter Benjamin de que “não
há tempos de decadência; há circunstâncias difíceis para levar a cabo uma
determinada política, mas o ofício político saberá sempre descobrir o que se
deve fazer no meio da adversidade”.Eis o desafio que o meu candidato terá pela
frente.
A
formulação dos objectivos políticos coincide no tempo com as campanhas
eleitorais, momento pouco apropriado para a reflexão. Todavia, é nesta época
que surge a oportunidade política. Importa não esquecer que o grande líder é
aquele que sabe aproveitar as oportunidades. Neste sentido, defender a arte da
oportunidade política pressupõe tornar-se credor de todas as iras que são
dirigidas contra os abusos da política.
A
oportunidade significa para Weber realizabilidade, risco, sorte, com todas
as matizes de uma experiência da contingência. Ela não significa principalmente
o Kairos – como occasione de Maquiavel -, mas aquelas
possibilidades de actuar de outra maneira que estão mais ou menos sempre
presentes na acção e devem ser objecto de ponderação.
Ora,
o êxito de muitos políticos provém de que eles não oferecem mais daquilo que se
espera de um dirigente democrático numa sociedade democrática: que se preocupe
com a sociedade no seu conjunto, que tenha sensibilidade para captar o que as
pessoas querem e que aceite essa vontade como orientação básica das suas acções.
Portanto, para descobrir a oportunidade é preciso trabalho, imaginação e
coragem.
Neste
panorama, o meu candidato ao cargo de Primeiro-ministro de Cabo Verde será
aquele que melhor ilumina o exercício do poder, ou seja, aquele que promete
menos e com mais verdade e realismo, ou ainda, procuro um candidato: que ponha
o país e os seus interesses à frente de tudo e, para o efeito, faça dos
cabo-verdianos um povo orgulhoso, galvanizado e solidário na luta por um futuro
melhor; que tenha um projecto claro e sólido de luta contra a corrupção e em
defesa da moral e dos bons costumes, garantindo uma justiça célere, implacável,
sem prescrições e adiamentos injustificáveis; que pela sua honestidade,
competência, responsabilidade e consciência garanta uma governação rigorosa,
séria e justa.
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