segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Portugal. O GOVERNO CEDEU E NÃO FOI POUCO



Paulo Baldaia –TSF, opinião

São os aliados do PS, PCP e Bloco, que dizem que o orçamento ficou pior do que o esboço. Dizem que as cedências são por culpa do PSD e CDS, mas a tese do ministro Mário Centeno é mais credível: "numa negociação só há vencedores".

O orçamento é agora pior do que era quando foi entregue em Bruxelas, diz o PCP e o Bloco. Também acho. Tem menos coerência, é menos de esquerda do que era, carrega nos impostos indirectos, como se eles não tivessem implicação no custo de vida de pobres e ricos.

Deixa cair uma bandeira socialista que fazia todo o sentido para um governo de esquerda, mesmo que nunca tivesse tido o apoio entusiástico do PCP e do Bloco, que era a descida da TSU para trabalhadores que ganham menos de 600 euros. Estes são os trabalhadores, sempre nos lembrou o PS, que não ganhariam nada com o fim da sobretaxa. Estes são os trabalhadores para quem 10 ou 20 euros fazem a diferença.

Quem acreditou que era possível vergar Bruxelas argumenta agora que numa negociação ambas as partes têm de ceder. É verdade, mas isso foi o que sempre foi dito pelos que criticavam o irrealismo das contas e a impossibilidade de cumprir as regras, aumentando a despesa e diminuindo a receita.

Tudo começou com um esboço que agora é um orçamento. São ainda apenas contas num papel, compromissos que todos os anos os governos assumem e corrigem de acordo com a execução. O anterior governo conseguiu até a proeza de ter mais orçamentos rectificativos que orçamentos propriamente ditos. Depois de tudo o que a Comissão impôs ao documento que o PS entregou hoje no Parlamento, tendo a comissão feito também algumas cedências, o que fica para um futuro próximo é o recado de que haverá, por parte de Bruxelas, um "controlo ao detalhe", porque continua a haver um "risco de incumprimento".

Fica provado, como hoje disse o ministro Mário Centeno, que "há alternativa". Ainda bem. O pior que nos podia acontecer a todos, aos que gostam deste governo e aos que não gostam, é que tivesse ficado provado que existe uma ditadura de pensamento único. É possível mudar, aconselha-se prudência e uma execução profissional e sem falhas. No papel a alternativa é possível, mostrem agora na prática que a alternativa é melhor.

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