segunda-feira, 28 de março de 2016

MAFAMALDA E O PAPA, PRODUTO DA PÁSCOA. BANIF, MAIS UMA ANEDOTA NA AR



Bom dia e boa semana. É o que se deseja a todos que aqui vêm, mas não se iludam. Lá por assim desejarmos não significa que seja o que vai acontecer, temos de fazer por isso lembrando o hino nacional: contra os canhões marchar, marchar. Nos tempos que correm os canhões são uma figura metafórica, talvez substituídos por certos e incertos governos, por banqueiros trampolineiros, por deputados vendidos aos interesses dos lobies, do PR de tipo pimba (uma expressão sobre Cavaco que li hoje algures). Os canhões são os nossos adversários, os nossos inimigos. Contra eles marchar pode ajudar a proporcionar-nos um melhor dia, uma semana igualmente melhor. Para a semana que vem logo se vê contra o que marcharemos. Quase de certeza contra o mesmo e mais os aditivos que surgirem.

Vai haver inquérito sobre o Banif na Comissão de Inquérito da AR. Pois. Blá-blá… O costume. Depois sai dali a impunidade acompanhada dos esclarecimentos da treta. Carlos Costa, governador do Banco de Portugal… Governador do quê? Deixem-nos rir. Pelo menos isso, que é o que acontece depois de escutarmos ou lermos sobre uma anedota. Pois.

Mafalda, a sábia de Quino, abre o Expresso Curto servido por Henrique Monteiro. Carinhosamente, a Mafamalda. Atualize-se, apesar do adiantado da hora. É mais boa tarde que bom dia. Mas seguimos a tradição – que por vezes é muito estúpida.

Siga para bingo. Bom dia.

Redação PG / MM

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Henrique Monteiro – Expresso

Mafalda, o Papa e a paz no mundo

Mafalda, a mais conhecida e inconformada personagem de banda desenhada, foi um dia buscar um banco; colocou-o no meio da sala, subiu para cima dele e proclamou: ”Daqui apelo à paz no mundo”. Quando ia a descer teve a seguinte reflexão: acho que este apelo teve o mesmo efeito do que os apelos do Papa.

Mafalda, ou melhor o seu criador Quino (Joaquín Salvador Lavado Téjon), é natural da Argentina e a história em causa foi desenhada e concebida quando ninguém sonhava sequer com a existência de umPapa argentino. Mas a verdade é que Francisco veio da terra das pampas e ontem, dia de Páscoa, na sua mensagem à cidade e ao mundo (urbi et orbi) apelou à paz e, sobretudo a que “não nos afundemos no abismo do ódio”, criticando a Europa pela forma como recebe os migrantes e aqueles que confundem terroristas com refugiados. Tudo palavras boas, simples, honestas e justas. Mas teme-se que o seu apelo tenho o mesmo efeito do que os apelos de Mafalda há já 40 anos.

Desde logo, nos alinhamentos das notícias, as suas palavras ficam prejudicadas por acontecimentos considerados mais importantes, todos relacionados com o terrorismo. A saber: os 400 neonazis que em Bruxelas gritaram contra os muçulmanos; os esforços na Bélgica e na Holanda para apanhar jihadistas e extraditá-los; o novo balanço das vítimas em Bruxelas (28 mortos e 340 feridos); e, sobretudo, o atentado suicida que matou o dobro de pessoas (mais de 70, diz a BBC) em Lahore, no Paquistão, ontem mesmo, sendo que por ter ocorrido num parque a maioria das vítimas (há que somar cerca de 300 feridos) são mulheres e crianças… embora o ataque tivessecristãos como objetivo (são 1,6% da população do país), alguns muçulmanos hão de ter sido atingidos. O ataque foi reivindicado por talibans.

Ainda na frente do terror e contra terror, uma boa notícia, que bem precisamos: o Daesh foi corrido de Palmira. A cidade histórica, património mundial, ficou estragada pelos bárbaros, mas algo sobreviveu, à sua fúria. Aqui (BBC) pode ver fotografias do que ainda resta.

E perante isto que outras notícias interessam? Algumas…

OUTRAS NOTÍCIAS

Por cá, o tema é o Orçamento. O Presidente Marcelo promulga efala hoje ao país. Há quem diga que ele vai dar uns alertas, há quem aposte que não, que ele e Costa é como Deus com os anjos. Esperemos para ver. Mas a presença de Mario Draghi e de Carlos Costa no Conselho de Estado da semana que vem trará água no bico? É possível, porém, Marques Mendes, que não esconde a amizade por Marcelo, disse ontem na SIC que é difícil ver início de mandato tão virtuoso.

A propósito de finanças: o país divide-se entre a anti-espanholização, a anti-angolanização e outras coisas. A questão é saber de onde vem o dinheiro, porque já todos deram de barato que isso é coisa que por cá não existe… Entretanto, informa o 'Jornal de Negócios', o CaixaBank (espanhol) e Isabel dos Santos (angolana) voltaram a negociar no BPI (é só para assinantes, mas apanha a ideia na parte disponível). Há ainda a informar que a Comissão Parlamentar de Inquérito ao Banif começa amanhã. com as audições de Luís Amado, Jorge Tomé, António Varela e Vieira Monteiro. 'O Público' dá hoje ao tema capa e três páginas ao tema, além do editorial, mas foi José Gomes Ferreira a revelar a estranha existência e redenção do Banif Cayman.

Ainda na frente económico-política tem um excelente artigo de Wolfgang Munchau no 'Financial Times' com este título longo: "Uma história de erros por trás das muitas crises europeias". O artigo vem hoje, também no 'DN' com a vantagem de estar traduzido em português.

Na política portuguesa destaque para o Congresso do PSD que começa sexta-feira, 1 de abril - é verdade. Já se sabe que Passos vai ganhar. A questão é se vai durar. Há quatro dias já Morais Sarmento lhe andava a 'fazer a cama',

Bernie Sanders uma das poucas figuras de topo da política americana que se afirma socialista (ou social-democrata, consoante as traduções) esmagou Hillary em três estados este fim de semana:Washington (onde fica Seattle, sede da Boeing e da Microsoft);Hawai (as ilhas do pacífico onde vivia a família de Obama) e Alaska(terra da conservadora Sarah Palin). Sanders ainda tem hipóteses? Não parece… Mas ainda tem cartas para jogar. Do lado republicano não houve primárias e o senhor Trump continua a dar cartas, embora sem o número mágico de delegados que o levaria à nomeação direta.

No Brasil continua a saga, que por ser brasileira parece mais umatelenovela. Se Lula e Dilma andam pelas ruas da amargura, a verdade é que não sobressai ninguém para os substituir. Um trabalho de Sara Antunes de Oliveira diz isso mesmo: quase nove em cada dez brasileiros não se lembram de ninguém para substituir Dilma no Palácio do Planalto. E, pormenor curioso, dos escassos 11% que apontam um nome a maioria indica… o Papa Francisco! Um argentino a liderar o Brasil? E nós a pensar que já tínhamos visto tudo.

desastre com a carrinha que transportava, aparentemente de forma ilegal, emigrantes portugueses provenientes da Suíca e do qual resultou 12 mortos, continua a dar que falar. Seja pela idade do condutor (19 anos) abaixo do limite de 21 para o transporte de passageiros, seja pelos seguros, seja, sobretudo pela consternação que provocou em diversas comunidades.

A velha revista ‘Time’ tem um trabalho sobre as pessoas mais influentes na Internet. Não desista se não conhecer os primeiros… Também lá estão o nosso conhecido Trump e o nosso herói (fraquinho contra a Bulgária no último jogo da seleção) Cristiano Ronaldo.

No sítio do ‘Observador’ e para quem se interessa por religiões, há um belo (e longo) texto de Bruno Vieira Amaral sobre os fundadores e os fundamentos de três religiões: o mormonismo, a cientologia e o tocoísmo. No caso de nunca ter ouvido falar em Simão Toco, saiba que é um português de Angola terra onde deixou uma igreja com bastantes seguidores

FRASES

”Há uma onda cada vez maior de migrantes e refugiados que estão a fugir da guerra, da fome, da pobreza e da injustiça social”, Papa Francisco na mensagem da Páscoa.

“Não deixem que vos digam que não temos hipótese de garantir a nomeação nem de ganhar as eleições gerais. Vamos ganhar as duas coisas!", Bernie Sanders, concorrente nas primárias democratas para a nomeação a candidato à Casa Branca, depois das três vitórias seguidas contra Hillary Clinton, sua rival.

“A vida de um Estado não se esgota na sua Constituição, nem deve mitificar uma obra que, como qualquer outra realização humana, é imperfeita”, Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República num artigo publicado ontem no ‘Diário de Notícias’

“Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa são dois homens felizes (parecem a versão política do “Sr. Feliz e do Sr. Contente“). Fazem-me lembrar dois meninos que receberam os brinquedos dos seus sonhos”, João Marques de Almeida, in ‘Observador’

“Ser contra a espanholização da banca é como ser contra a ocidentalização de Raqqa, ou a juventização do Tondela. Nesta tonteria apenas há coerência no Bloco de Esquerda, que é pela nacionalização da banca, o que repetiu através de vários dos seus dirigentes e deputados nos últimos dias, alegremente como se não fizessem parte do governo que vendeu o Banif ao Santander”, João Taborda Gama, in ‘DN’

O QUE EU ANDO A LER

A biografia do general Norton de Matos, escrita pelo seu sobrinho neto José Norton, homem de escrita agradável e que conta com várias biografias na sua já assinalável lista de livros publicados, é uma das boas formas que temos de conhecer a história da I República e do salazarismo, durante a primeira metade do século passado.

O livro, que sai agora com edição revista e aumentada com a chancela da D. Quixote (Grupo Leya), depois de ter sido publicado em 2001 pela Bertrand, tem um autor municiado não só com o facto de muito novo ter conhecido o tio-avô, bem como com a tradição e os muitos documentos inéditos na posse da família e os inúmeros documentos que o seu espírito de investigador de bibliotecas e acervos lhe permitiu recolher.

O biografado foi várias vezes ministro, matemático e engenheiro, general do Exército, um dos homens que organizou a participação de Portugal na I Grande Guerra (no chamado ‘milagre de Tancos’), fundador de Nova Lisboa, em Angola (atual Huambo), colonialista da estirpe dos grandes europeus do início do século XX, maçon e grão-mestre do Grande Oriente Lusitano até à sua ilegalização em 1935 e candidato presidencial pela oposição democrática em 1949, tendo sido derrotado com a habitual receita do regime salazarista

Trata-se, como se vê, de uma personagem multifacetada e complexa cuja vida é relatada com objetividade, apesar da proximidade entre biógrafo e biografado. Vale a pena a ler.

E pronto, logo às 18 horas há Expresso Diário e tudo o resto que ao longo da semana temos o prazer de escrever, editar e distribuir para os leitores mais bem informados de Portugal. Até amanhã.

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