Ana Sá Lopes – jornal i,
opinião
É
verdade que nós, portugueses, andávamos a precisar de mimo.
O
conceito de mimo popular e em série era totalmente desconhecido da persona de
Cavaco Silva. O mimo em política parece indefinível – o “carisma” é uma coisa
totalmente diferente –, mas Marcelo deu-lhe corpo e nome quando instituiu, logo
na campanha eleitoral, a “política dos afetos”.
Percebe-se:
a política dos ódios – de que Cavaco tinha sido um epicentro de há uns anos
para cá – não tinha tido grande sucesso e o ex-Presidente saiu de Belém com o
rótulo do mais impopular dos últimos tempos. Marcelo e os seu irresistíveis
mimos chegaram no momento certo. A política não se restringe às “políticas” e o
Presidente sempre soube que uma grande parte da sua atração consistia em ser um
sedutor de públicos.
Mas
para quem julgava que Marcelo se iria ficar pelo aconchego quase físico com os
portugueses não foi preciso sequer um mês de mandato para perceber que não será
assim. Ou não será só isso. A política do mimo é apenas uma das alíneas que
Marcelo escrevinhou no seu moleskine de Presidente da República. A outra –
estamos a assistir em direto e a cores – é um desejo de ação política que, a
avaliar pelos acontecimentos desta semana, poderá catapultá-lo para o “posto”
de Presidente mais interventor de sempre.
Numa
semaninha apenas, Marcelo interveio ativamente na estratégia contra a
“espanholização” da banca, isolando Passos Coelho e colocando-se ao lado de
Costa. No dia seguinte anunciou que não passaria “cheques em branco” ao
governo. Fez saber que a nova política de educação só passou porque ele exigiu,
para a promulgar, que as provas de aferição passassem a ser facultativas, ao
contrário do que o governo queria. A cereja no topo do bolo marcelista é esta
fabulosa reunião do Conselho de Estado com special guest stars como Mario
Draghi e Carlos Costa, o homem do Banco de Portugal que o governo quer abater.
Isto está só a começar e promete fazer história, ou alguma história.
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