Rosário
Gamboa* - Jornal de Notícias, opinião
Está
nas livrarias o novo livro de Rui Moreira em parceria com Nuno Nogueira Santos
que tem como nome o título desta crónica: TAP - Caixa Negra.
O
conceito de "caixa negra" (importado da Teoria Geral de Sistemas, mas
presente como metáfora forte em diversos contextos) designa um sistema fechado,
cuja estrutura interna não é visível. Numa caixa negra registam-se as entradas,
inputs, e os resultados, outputs; o que acontece dentro da caixa, a forma como
os dados se combinam, interagem ou se transformam, é opaco (negro),
desconhecido.
Esta
é, pois, a metáfora do caso TAP, onde a transparência dos processos, quer ao
longo dos anos da sua gestão como empresa pública quer no modo apressado da sua
privatização, ou nos interesses que conduziram à sua recente transformação em
empresa público e privada, parecem encobertos sobre os vidros fumados de uma
caixa preta.
O
livro apresenta dados, muitos. Completa a narrativa que nos chegou sempre mal
colada (como dizia Lobo Xavier na apresentação do livro em Serralves), com elos
factuais, respeitando a legitimidade da decisão governamental, mesmo quando ela
não é clara e é nefasta nas suas consequências.
Mas,
sobretudo, o livro põe o dedo na ferida de uma tradição infeliz entre nós: o
pensar e decidir o país a partir de Lisboa como marca maior da ausência crónica
de uma estratégia real de desenvolvimento e coesão nacional, alicerçada em
estudos de contexto, sustentando de forma integradora o potencial económico,
cultural e científico de cada território.
A
supressão de diversas rotas internacionais a partir do Porto, a redução
drástica de voos de médio curso, a par com a redução do hinterland do aeroporto
Sá Carneiro, como consequência da operação com Vigo, são, entre outras,
evidências empíricas cruéis e difíceis de entender pela Região Norte, pela
Região Centro (que de pronto se manifestou) e pela própria Galiza, para quem a
estratégia de Vigo não demonstra condições adequadas de funcionamento. São um
retrocesso para um "País que muito depende da saída económica daquelas regiões
e já experimentou de perto e longamente os malefícios da centralização
exagerada que é de tradição" (Valente de Oliveira, Prefácio a TAP - Caixa
Negra).
Esta
é a causa do Norte, a causa do país, a razão pela qual tantas vozes de
diferentes quadrantes políticos, sociais, profissionais se ergueram na voz de
Rui Moreira. Será o fim?
*Presidente
do Instituto Politécnico do Porto
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