sexta-feira, 25 de março de 2016

Portugal. TAP – CAIXA NEGRA



Rosário Gamboa* - Jornal de Notícias, opinião

Está nas livrarias o novo livro de Rui Moreira em parceria com Nuno Nogueira Santos que tem como nome o título desta crónica: TAP - Caixa Negra.

O conceito de "caixa negra" (importado da Teoria Geral de Sistemas, mas presente como metáfora forte em diversos contextos) designa um sistema fechado, cuja estrutura interna não é visível. Numa caixa negra registam-se as entradas, inputs, e os resultados, outputs; o que acontece dentro da caixa, a forma como os dados se combinam, interagem ou se transformam, é opaco (negro), desconhecido.

Esta é, pois, a metáfora do caso TAP, onde a transparência dos processos, quer ao longo dos anos da sua gestão como empresa pública quer no modo apressado da sua privatização, ou nos interesses que conduziram à sua recente transformação em empresa público e privada, parecem encobertos sobre os vidros fumados de uma caixa preta.

O livro apresenta dados, muitos. Completa a narrativa que nos chegou sempre mal colada (como dizia Lobo Xavier na apresentação do livro em Serralves), com elos factuais, respeitando a legitimidade da decisão governamental, mesmo quando ela não é clara e é nefasta nas suas consequências.

Mas, sobretudo, o livro põe o dedo na ferida de uma tradição infeliz entre nós: o pensar e decidir o país a partir de Lisboa como marca maior da ausência crónica de uma estratégia real de desenvolvimento e coesão nacional, alicerçada em estudos de contexto, sustentando de forma integradora o potencial económico, cultural e científico de cada território.

A supressão de diversas rotas internacionais a partir do Porto, a redução drástica de voos de médio curso, a par com a redução do hinterland do aeroporto Sá Carneiro, como consequência da operação com Vigo, são, entre outras, evidências empíricas cruéis e difíceis de entender pela Região Norte, pela Região Centro (que de pronto se manifestou) e pela própria Galiza, para quem a estratégia de Vigo não demonstra condições adequadas de funcionamento. São um retrocesso para um "País que muito depende da saída económica daquelas regiões e já experimentou de perto e longamente os malefícios da centralização exagerada que é de tradição" (Valente de Oliveira, Prefácio a TAP - Caixa Negra).

Esta é a causa do Norte, a causa do país, a razão pela qual tantas vozes de diferentes quadrantes políticos, sociais, profissionais se ergueram na voz de Rui Moreira. Será o fim?

*Presidente do Instituto Politécnico do Porto

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