José
Soeiro – Expresso, opinião
Aparentemente
Portugal assiste a um verdadeiro escândalo: o Governo quer cumprir a lei. Falo,
obviamente, da polémica que se procura instalar sobre os famosos contratos de
associação com os colégios privados.
Criados
para colmatar falhas da rede pública, a lei determina que o Estado pode
financiar colégios para que os alunos de uma determinada zona onde a escola
pública não exista ou não chegue possam frequentar gratuitamente um colégio, na
proporção do número de alunos nessa condição. O problema foi que, com o
anterior Governo, se abandalhou o cumprimento deste princípio.
Durante
anos, baixaram as verbas para a educação pré-escolar, para o básico, para o
secundário, mas subiram as transferências para o privado. O objetivo foi
garantir uma renda ilegítima para escolas privadas que roubavam os alunos às
públicas a escassas centenas de metros.
Mas
não têm as famílias - perguntam indignados diretores de colégios e deputados da
Direita - o direito de escolher onde estudam os seus filhos? Claro que têm. E
podem frequentar os privados que entenderem, mesmo com uma escola pública à
porta. Têm é de pagá-los.
O
debate sobre o cumprimento dos contratos de associação não tem nada a ver com a
liberdade de escolha. Trata-se apenas de acabar com uma anormalidade que nunca
constou dos objetivos dos ditos contratos, que é o Estado financiar escolas
privadas ao lado de escolas públicas subocupadas, esbanjando recursos de todos
e pagando duas vezes o mesmo serviço na mesma zona, como acontece em Leiria ou
em Coimbra de forma flagrante. Pagar nestas condições determinados colégios é
até, de um ponto de vista liberal, uma distorção da “livre concorrência” que os
defensores do privado supostamente advogam: os contratos de associação financiam
um colégio em particular e não cada aluno independentemente da escola privada
que escolha na mesma zona.
Entretanto,
como no passado, há uma campanha montada no espaço público. Colégios que há
anos pagam salários baixos e mantêm professores precários, às vezes com recibos
verdes à margem da lei, apregoam a importância do emprego. Deputados que foram
afoitos a degradar a escola pública e os apoios sociais falam da “igualdade”
entre as crianças. Empresas que vivem de subsídios pagos com os impostos de todos
contestam o ataque à “livre concorrência”. Está bom de ver que quem dirige esta
campanha não está preocupado com os pais, com professores nem com os alunos,
por mais que os instrumentalize para interesse próprio. Está apenas a querer
manter uma renda ilegítima.
Defenda-se
então o que é de elementar justiça. Onde ainda faltar escola pública, o Estado
deve proteger as crianças, contratualizando com os privados. Onde houver escola
pública, deve acabar a aberração de utilizar os nossos impostos para financiar
duas vezes o mesmo serviço. Ganhamos todos.
1 comentário:
Porque a foto das crianças, se são os pais que reivindicam?
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