Kay-Alexander
Scholz*, opinião
Como
Würzburg, Munique, Reutlingen, Ansbach afetam a "chanceler dos
refugiados" da Alemanha? Certo está: a cada atentado diminuem as chances
de ela disputar um novo mandato, opina o jornalista Kay-Alexander Scholz.
A
crise dos refugiados de 2015 lançou sombras profundas sobre a imagem lustrosa
de uma Angela Merkel querida por todos na Alemanha. Em anos anteriores seriam
impensáveis os brados de "Fora, Merkel!" que se leram e ouviram por
todo o país, partindo de adeptos do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) e
de outros críticos da chefe de governo alemã.
A
própria Merkel se encenou como "chanceler dos refugiados", o que
despertou grande respeito em parte dos alemães, enquanto muitos outros
balançavam a cabeça em sinal de desaprovação.
Nas
últimas semanas, esse clima polarizado se amainara um pouco.
Significativamente, essa distensão coincidiu com a queda radical nos números de
novos migrantes, após o fechamento da rota dos Bálcãs Ocidentais. Na mídia, o
tema "refugiados" caiu para segundo plano, enquanto se recuperava o
apoio do eleitorado à legenda de Merkel, a União Democrata Cristã (CDU).
Extremamente
favorável para a chanceler federal foi também a disputa interna na AfD, tão
perigosa para a CDU. A liderança do partido populista de direita mostrou que
prefere uma briga política até a morte a se apresentar como equipe. O episódio
se refletiu numa perda de pontos imediata nas pesquisas de opinião.
Os
atentados dos últimos dias na Alemanha abrem um novo capítulo. Pois, para a
opinião pública alemã, Merkel e os refugiados constituem uma dupla
indissociável. Portanto, uma vez que os refugiados – num sentido mais amplo –
estão novamente gerando manchetes negativas, voltará a crescer a pressão sobre
a chefe de governo.
E
tanto faz se os atentados em Würzburg, Munique, Reutlingen ou Ansbach foram
mesmo perpetrados por refugiados ou se tiveram motivação fundamentalista
islâmica (as investigações ainda estão em curso): muitos alemães não vão querer
ou ser capazes de fazer essa indispensável distinção. Estrangeiros, migrantes,
refugiados, teuto-iranianos: todos são jogados na mesma panela. Quando, como
nos últimos dias, atos violentos se acumulam, é grande o risco de um
curto-circuito na mente.
Fornecendo
apoio mental a esses eleitores está a AfD, para cujas metas políticas os
acontecimentos fornecem um flanco de ataque ideal. "Nós sempre dissemos
que uma imigração descontrolada representava perigo" é mais ou menos o que
se lê nas contas de políticos da AfD no Twitter e no Facebook. A principal
culpada é Merkel, que quis abrir as fronteiras.
No
momento, a líder democrata-cristã está de férias na região em que cresceu, a
Uckermark, no nordeste do país. Consta que ela está sempre em serviço. De fato,
vai ser difícil se desligar inteiramente. Pois, além da violência na Alemanha,
também a tentativa de golpe de Estado na Turquia e suas consequências abalam o
acordo sobre os refugiados, negociado por Merkel a duras penas, entre União
Europeia e o presidente Recep Tayyip Erdogan.
Dentro
de cerca de um ano haverá eleições legislativas na Alemanha. Até agora, Merkel
tem deixado em aberto se tornará a se candidatar. Sua decisão final deve
depender essencialmente de como evolui o complexo temático
"refugiados". Um atentado de grandes proporções, como em Paris ou
Bruxelas, tornará improvável um novo mandato para Merkel.
No
que diz respeito à AfD, já nas eleições estaduais de setembro poderá haver uma
guinada decisiva. Justamente no estado natal de Merkel, Mecklemburgo-Pomerânia
Ocidental, é no mínimo cogitável que os ultradireitistas se consagrem como
partido mais forte.
A
distância entre eles e a CDU, líder das pesquisas de opinião, ainda é muito
grande. Mas, caso ocorram novos disparos a esmo ou atentados terroristas, essa
distância poderá minguar. Quanto à luta de liderança dentro da AfD, ela deverá
ser decidida nas próximas semanas, segundo a vontade de Frauke Petry, a
principal líder do partido e sedenta de poder.
*Deutsche
Welle
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