O
Projeto de Emenda Constitucional nº 241 (PEC 241) demonstra de forma clara o
que está na agenda política do governo Michel Temer e na pauta econômica do
ministro Henrique Meirelles
Daniel
Arias Vazquez, São Paulo – Correio do Brasil, opinião
A
proposta impõe um limite para o aumento do gasto público federal definido pela
inflação do ano anterior, por um período de 20 anos. Ou seja, propõe congelar o
gasto público em termos reais, retirando a decisão de gasto da esfera da
política ao estabelecer um indexador econômico fixo, que não possui qualquer
relação com capacidade de arrecadação (receita) ou com as demandas por bens e
serviços públicos (despesa), que são as variáveis centrais da função alocativa
de qualquer governo.
Ao
congelar o gasto federal, a PEC 241 desestrutura o financiamento da política
social brasileira ao eliminar a vinculação de receitas destinadas à educação e
ao orçamento da seguridade social, que compreende as políticas de saúde,
previdência e assistência social. Tais vinculações expressam conquistas sociais
que foram garantidas na Constituição de 1988, visando estabelecer prioridade e
preservar o gasto público nestas áreas sociais, independentemente do governo
que estivesse no poder.
Caso
a PEC 241 seja aprovada, os recursos cativos para a educação, saúde,
previdência e assistência social serão desvinculados e limitados à evolução dos
gastos à correção da inflação. Diante disso, quais são os efeitos esperados da
PEC 241 sobre a trajetória do Gasto Social Federal – GSF?
Se
realizarmos uma simulação para o período de 2003 a 2015, em vez da trajetória
ascendente do GSF aplicado nos governos Lula e Dilma, o Plano Temer/ Meirelles
significa um congelamento de todo gasto federal em termos reais. Em valores
reais de dezembro de 2015, a PEC 241 teria retirado R$ 3,2 trilhões de recursos
federais aplicados na política social. Caso ela estivesse em vigor desde 2003,
o GSF seria 37% menor que os recursos destinados à política social nos governos
Lula e Dilma.
Por
área de atuação, as perdas de recursos seriam da ordem de: R$ 437,7 bilhões na
assistência social (o que representa uma redução de 68,5%); R$ 453,9 bilhões em
educação e cultura (39% a menos); R$ 253,4 bilhões na saúde (26,5% a menos); R$
1,7 trilhão na previdência (perda de 32,6% dos recursos destinados ao pagamento
dos benefícios previdenciários).
Como
o efeito da medida é acumulativo, os recursos disponíveis para o GSF seria
menos da metade dos recursos efetivamente aplicados no ano de 2015, mais
precisamente 55% a menos. Por área, a redução do gasto social seria de: menos
79% na assistência social; menos 62% na educação e cultura; menos 45% na saúde
e menos 49% na previdência, mostra o artigo “O plano Temer/ Meirelles contra o
povo: o desmonte social proposto pela PEC 241”.
É
importante ressaltar que o Plano Temer/ Meirelles tem como ponto de partida os
gastos públicos em um período de recessão, que afetou o orçamento e, portanto,
os gastos federais. Ou seja, a PEC 241 pretende projetar no futuro a restrição orçamentária
atual para os próximos 20 anos, mesmo quando o país retomar o crescimento e as
receitas governamentais voltarem a crescer acima da inflação.
Embora
a “falácia da confiança dos mercados” afirme que um ajuste fiscal dessa
magnitude e de longo prazo seja um pré-requisito para a retomada do crescimento
econômico, sabemos que uma política fiscal restritiva atua no sentido contrário
e que, na realidade, os investimentos atraídos por essa estratégia são de
caráter eminentemente financeiro.
No
lugar de estabelecer uma trava ao gasto público, deveria se identificar que
tipo de gasto público poderia ter maior efeito multiplicador, uma vez que o
aumento das desonerações e subsídios concedidos ao setor privado não foram
capazes de estimular o investimento produtivo. Além de combater a desigualdade
e a pobreza no Brasil, o gasto social também cumpriria esse papel de estímulo
para a retomada do crescimento.
Em
direção contrária, a PEC 241 impõe outra trajetória para os gastos públicos
federais como um todo para os próximos 20 anos e, inexoravelmente, reduzirá as
possibilidades de atuação do Estado na área social. Trata-se de um duro golpe
para a espinha dorsal da proteção social no Brasil, estabelecida na
Constituição de 1988 e ainda em consolidação.
*Daniel
Arias Vazquez, é doutor em desenvolvimento econômico e professor da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
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