1.
Quando este texto for publicado já se saberá de o Reino Unido aprovou o Brexit
(“British exit” – saída da União Europeia) ou se o “Remain” (permanência)
venceu o referendo que se realizará na próxima quinta-feira, dia 23 de Junho.
Pensarão
os leitores, e com alguma pertinência, o que interessará a nós, angolanos, em
particular, e aos africanos, em geral, se os britânicos manter-se-ão ou não na
União Europeia. Para nós, angolanos, e para o s africanos, em geral, isto é um
assnto interno dos europeus.
Não
é bem verdade!
Aos
angolanos que usam, geralmente e na sua maioria, como porta de entrada na
Europa, Portugal (Lisboa ou Porto) a saída do Reino Unido acarretará mais
constrangimentos dos que já aguentam actualmente. Deixamos de poder usar
Portugal – ou a França, se for por via do TGV –, como franquia para um mundo
que alguns de nós estão habituados, seja a nível académico, seja – sublinhe-se
– a nível de utilização de serviços de saúde britânicos.
Também
a nível africano, os países membros da Commonwealth – ao contrário do que se
verifica com a grande maioria dos países da CPLP que não o têm com Portugal –
ao abrigo desta comunidade, que ficam, actualmente, com quase livre acesso aos
estados-membros da EU, deixam de o poder fazer.
Também
a nível financeiro e económico, as trocas de bens e serviços que se fazem com o
Reino Unido através de outros parceiros da UE com quem tenhamos alguns acordos
preferenciais deixam de poder ser enviados por esta via o que poderá encarecer
as nossas exportações e importações devido às “novas” taxas a serem aplicadas
pelos britânicos. Ou talvez, para reduzirem um eventual impacto de uma eventual
saída da EU, os britânicos, numa primeira fase, e para aqueles com quem mantêm
acordos preferenciais ou trocas mais interessantes e importantes poderão manter
as taxas alfandegárias mais baixas. Mas serão de pouca duração.
De
facto não será só a Europa a sofrer, mais que os britânicos, que sempre se
sentiram um porta-aviões que controla os “desmandos” europeus ao longo dos
séculos e que sempre se sentiram a última estância de defesa das liberdades no
continente europeu – veja-se a duas grandes guerras do século XX – os efeitos
desta hipotética saída (Leave) da União Europeia.
Note-se
que no domingo, 26 de Junho, o Reino de Espanha. (e é deliberado este sublinhar
do “Reino” porque um dos candidatos, a coligação Podemos/Esquerda Unida, admite
avançar com uma referendo sobre a Catalunha) vai a votos, pela segunda vez em
poucos meses, onde se digladiam duas concepções sobre a forma como Espanha deve
se comportar face às exigências da UU/Bruxelas. De um lado, conservadores,
liberais e socialistas próximos dos actuais critérios da União Europeia, do
outro, a coligação, que poderá vencer ou condicionar ainda mais a governação de
Madrid, a criticar e a exigir reformulação nas relações com Bruxelas e com a
União Europeia.
Também
em Itália, há um movimento “5 Estrelas (M5S)” que vem condicionando a política
europeísta italiana – venceu, recentemente, duas importantes eleições
autárquicas (Roma e Turim) e já tinha sido um dos principais vencedores das
eleições parlamentares italianas – apela à ruptura política do actual
“political stablishment” quer em Itália, quer com a União Europeia – a Itália
para os italianos e o estabelecimento da “democracia directa”, incluindo via
Internet. Recorde-se que a Grécia, com a eleição do movimento Syriza, foi o
primeiro país da União Europeia a contestar, fortemente – ainda que tenha vindo
a recuar nesta sua posição – as políticas europeístas de Bruxelas, Estrasburgo
e Frankfurt.
Veremos
o que terá ditado o dia de ontem e como este decidirá sobre domingo! Não
esqueçamos que uma vitória do “Leave” – Brexit – poderá (terá) ter impacto na
nossa economia e no modo de vida de uns quantos de nós.
2.
Uma vez mais, a quinta desde 2007/2008, o Prémio MO Ibrahim, que celebra a boa
governação dos Chefes de Estado ou de Governo, ficou sem laureado. A Comissão do
Prémio, entidade independente liderada pelo antigo secretário-geral da então
Organização da Unidade Africana (OUA, hoje, a União Africana), o tanzaniano
Salim Ahmed Salim, que indica os laureados, declarou que não foi seleccionado
qualquer vencedor.
O
prémio, instituído pela Mo Ibrahim Foudation, e indicado pela referida Comissão
independente, só foi entregue em quatro anos (2007, 2008, 2011 e 2014), sendo
os laureados o antigo presidente moçambicano Joaquim Chissano (de 1986 a 2005),
em 2007 – neste ano e em ex-áqueo foi contemplado a título honorário Nelson
Mandela; em 2008, o antigo presidente do Botswana (1998-2008), Festus
Gontebanye Mogae, em 2011 o antigo presidente de Cabo Verde (2001-2010), Pedro
Pires; e em 2014, o também antigo presidente da Namíbia (2005-2015),
Hifikepunye Pohamba.
Resumindo,
desde 2006, ano quando foi instituído o prémio de Boa Governação, que só foram
laureados Chefes de Estado, o que mostra que a governação no continente
africano é, essencialmente, presidencialista e que parece haver indicação de
poucos bons governantes.
Ora,
segundo a Fundação e o seu mentor Mo ibrahim, reconhece que os critérios de
selecção são muito elevados e por isso não se surpreende com esta decisão.
Como
o próprio Mo Ibrahim salienta quando ele a sua Fundação apresentaram, há dez
anos, o Prémio, estabeleceram “deliberadamente uma fasquia muito elevada.
Pretendemos que o prémio distinga capacidades de liderança excecionais, que
gerem figuras modelares para toda a sociedade e apoiem os laureados para que
continuem a servir o continente, partilhando a sua sabedoria e experiência”.
Recorde-se
que o Prémio é concedido aos Chefes de Estado e de Governos que, nos últimos
três anos cessaram as suas funções e que tenham sido “democraticamente eleitos
e cumprido o seu mandato constitucionalmente atribuído”. Recorde-se que o
prémio ascende a 5 milhões de dólares norte-americanos, sendo este valor
distribuído ao longo de 10 anos, ao fim dos quais, o laureado, recebe uma
subvenção vitalícia de 200 mil dólares norte-americanos.
A
Comissão do Prémio já começou a considerar os candidatos ao Prémio Mo Ibrahim
de 2016, acreditando, pessoalmente que o cessante Primeiro-ministro de Cabo
Verde, José Maria Neves poderá ser um dos potenciais vencedores, sendo, a
confirmar-se esta previsão pessoal, o primeiro Chefe de Governo a ser laureado.
Veremos
o que nos reservará a decisão da Comissão em 2017!
*Artigo
de Opinião publicado no semanário angolano Novo Jornal, ed. 437 de 24-Junho-2016,
secção “1º Caderno”, página 19.
*Eugénio
Costa Almeida – Pululu -
Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em
Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo
Relações Internacionais -; nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos
de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.
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