Paul
Chan Wai Chi – Hoje Macau, opinião
O
[/dropap]Comissariado contra a Corrupção (CCAC) apresentou recentemente o
“Relatório de investigação sobre o caso da permuta do terreno da Fábrica de
Panchões Iec Long”. No relatório o Comissariado declarou que o acordo relativo
à troca de terrenos entre o Governo e os proprietários da fábrica é inválido e
que o “termo de compromisso” é uma violação da lei. O relatório provocou grande
celeuma junto da população e o Secretário para os Transportes e Obras Públicas
ordenou que a DSSOPT fizesse de imediato análise e seguimento detalhados da
situação. De momento aguarda-se com grande expectativa a decisão do Chefe do
Executivo sobre o assunto. Houve, no entanto, uma associação que já apelou ao
Ministério Público para que as pessoas envolvidas no caso fossem investigadas.
O caso reporta-se a 2000 e a DSSOPT (Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes) teve conhecimento do “termo de compromisso” relativo à permuta de terrenos, em Janeiro de 2001. Em Março de 2002, o Governo da RAEM aprovou a divisão de terrenos. Em 2006, o então Secretário para os Transportes e Obras Públicas autorizou a DSSOPT a assinar um acordo suplementar. Este processo envolveu ao longo dos anos funcionários do Governo altamente colocados, estando ainda em causa verbas que ascendem aos milhões de patacas. Do processo também constam grandes empresas e figuras de destaque com ligações ao Governo. Se estas figuras, funcionários e entidades vierem a ser investigados, este caso vai ser mais bombástico que o do célebre Ao Man Long!
Segundo a Lei de Murphy,
“qualquer coisa que possa correr mal, vai correr mal”. Prestemos agora atenção
ao cenário político no momento em que o relatório da CCAC foi emitido: o
Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM passa por um processo de
reestruturação, na China continental o combate à corrupção está na ordem do dia
e, em Macau, é preciso não esquecer a iminência das eleições para a Assembleia
Legislativa, marcadas para o próximo ano. Perante todos estes factores, o
desenvolvimento do caso da permuta de terrenos é muito difícil de antever. É
evidente, que o que se vier a apurar pode ter grande impacto em algumas das
figuras que tencionam candidatar-se às próximas eleições.
De acordo com as declarações do deputado em funções, Fong Chi Keong, proferidas
na sequência do seu discurso na Assembleia, o salário mensal dos deputados
ronda as 70.000 patacas. Se compararmos esta verba com o investimento que
alguns tiveram de fazer para se candidatarem à Assembleia em 2013, percebe-se
que gastaram mais do que ganharam, o que nos leva a perguntar porque é que
alguns querem ser deputados, mesmo perdendo dinheiro? Claro que quando alguns
empresários, empreendedores, ou pessoas de grandes recursos em geral, se tornam
deputados, o salário da Assembleia não tem qualquer importância. Mas porque que
gastariam o seu preciosíssimo tempo nas sessões da Assembleia Legislativa, a
não ser pelo seu elevado sentido de patriotismo e amor por Macau?
O relatório da CCAC demonstrou que nenhum dos actuais deputados se encontra na
lista dos dignatários envolvidos no processo Iec Long. Mas, alguns dos
representantes legislativos em funções tiveram o apoio financeiro de pessoas
envolvidas. Por este motivo, assim que o relatório da CCAC se tornou público,
alguns deputados começaram imediatamente a demarcar-se dos envolvidos no
processo. Pelo contrário, outros deputados têm-se feito ouvir a favor da
investigação, numa tentativa de erradicar da Assembleia quem só procura poder e
ganhos pessoais. Dito de outra forma, a corrida eleitoral para as Legislativas
de 2017 começou no momento em que a CCAC deu a conhecer o relatório sobre o
processo Iec Long.
É possível que o caso caia no esquecimento dentro de um ano, é possível que
sofra novos desenvolvimentos após a investidura do novo Director do Gabinete de
Ligação do Governo Central na RAEM. Para já, é também insondável de que forma
irá o Chefe do Executivo de Macau lidar com os resultados do relatório.
Estamos, portanto, perante muitas variáveis imprevisíveis no quadro das
eleições de 2017 para a Assembleia Legislativa.
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