Jorge
Fonseca de Almeida, pós-graduado em Estudos Estratégicos e de Segurança,
analisa a pirataria no Golfo da Guiné, uma tendência crescente e preocupante
que faz subir custos do transporte.
Jorge
Fonseca de Almeida - OJE
O
Golfo da Guiné é um dos pontos quentes em que a pirataria está mais ativa e
mais presente no mundo. É importante perceber porquê e qual a importância deste
facto para Portugal.
A
pirataria é uma atividade criminosa milenar que consiste em sequestrar barcos
no sentido de roubar a sua carga ou de capturar reféns pelos quais se pode
depois um resgate, um pagamento em dinheiro contra a libertação das pessoas
presas.
No
passado muitos piratas ou corsários estavam ao serviço de estados como o Reino
Unido, a França ou a Holanda que usavam esse meio para desafiar a supremacia
portuguesa ou espanhola nos mares. Hoje, contudo, ela é utilizada por grupos
criminosos organizados com intuitos de mero enriquecimento dos seus mentores.
O
Golfo da Guiné abrange uma larga fatia da costa ocidental africana,
sensivelmente na zona do equador, banhando países como a Nigéria, que fica no
centro do Golfo, o Benim, o Togo, os Camarões, o Gana e a Costa do Marfim, a
Guiné-Equatorial e o Gabão. Ao largo da costa, mas ainda no Golfo fica São Tomé
e Príncipe.
Deste
conjunto dois países fazem parte da Comunidade de Países de Língua Portuguesa
(CPLP) São Tomé e Príncipe e a Guiné-Equatorial. Um tema aparentemente longínquo
começa desta forma a aproximar-se das preocupações portuguesas.
Esta
é uma região rica em petróleo, sendo a Nigéria a para com Angola um dos dois
maiores produtores africanos, mas o ouro negro é também explorado pela
Guiné-Equatorial, pelos Camarões, pelo Gana e pelo Gabão embora estes países o
façam em menor escala. São Tomé e Príncipe detêm também importantes jazidas de
petróleo. O Gama para além do petróleo dispõe de ouro e diamantes.
Como
se vê, esta é uma zona rica em matérias-primas estratégicas. Compreende-se
então a tentação dos grupos criminosos.
E,
de facto, aqui não se assiste essencialmente a tentativas de rapto de
passageiros ou tripulantes, que também acontecem, mas simplesmente ao roubo das
cargas para sua posterior comercialização. Não tendo as tripulações valor
económico aumenta a tentação de não deixar testemunhas e com isso o risco de
vida dos trabalhadores marítimos.
O
número de ataques de piratas chegou a ultrapassar a centena. Estes números
ultrapassam os dos ataques piratas ao largo da costa da Somália que eram mais
dirigidos à captura de pessoas para pedidos de resgate.
A
frequência dos assaltos é tal que muitas companhias de navegação evitam já os
portos destes países para paragens de reabastecimento o que se traduz em elevados
custos económicos para alguns destes países nomeadamente os mais pequenos e os
que não têm petróleo.
Os
estados da região tem coligado esforços para combater o fenómeno mas a verdade
é que, embora tenham conseguido diminuir o número de casos, ainda não reuniram
as capacidades, em termos de meios, organização e pessoal qualificado,
necessárias para erradicar o fenómeno.
A
maioria dos incidentes ocorre nas águas da Nigéria, logo seguidas das do Togo e
do Gana. Mas existem também roubos nos próprios portos, sendo daí levadas
cargas de elevado valor.
Com
os retornos dos seus atos criminosos as organizações piratas tem vindo a
investir quer em instalações na costa, para refinar o petróleo roubado e assim
vender o combustível mais facilmente, quer na melhoria do seu próprio
equipamento, conseguindo embarcações mais rápidas e melhor armadas e de maior
raio de ação.
Preocupante
é que a capacidade dos piratas começa a estender-se para Sul, estando já a
atuar na costa de Angola.
Parte
do petróleo que Portugal compra vem desta região. A pirataria está a fazer
subir o custo associado com o transporte, nomeadamente os custos de seguros e
de pessoal, uma vez que as tripulações exigem, muito naturalmente, prémios de
risco mais elevados. Países da CPLP como Angola, São Tomé e a Guiné Equatorial
estão diretamente sobre ameaça. Este não é um assunto longínquo mas algo que
nos bate à porta com grande premência. Portugal deve cooperar com os países
amigos, nomeadamente com os da CPLP, para conter este preocupante fenómeno.
*Pós-graduado em Estudos Estratégicos e de Segurança
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