Ana
Sá Lopes – jornal i, editorial
Ontem,
com a sua particular linguagem, com muito de terra-a-terra - Marcelo é político
mais próximo de Jerónimo de Sousa no uso da linguagem eminentemente popular -,
o Presidente da República deu por encerrada a crise política mais rápida da
história da democracia portuguesa.
A
linguagem de Marcelo Rebelo de Sousa é, obviamente, património nacional, e isso
começou a acontecer muito antes de se ter tornado Presidente da República. Não
está cá Roland Barthes para explicar como isso - a linguagem de Marcelo -
também o ajudou a ser eleito chefe de Estado. Mas dava um bom ensaio do tipo
“fragmentos de um discurso amoroso-político”.
Ontem,
com a sua particular linguagem, com muito de terra-a-terra - Marcelo é político
mais próximo de Jerónimo de Sousa no uso da linguagem eminentemente popular -,
o Presidente da República deu por encerrada a crise política mais rápida da
história da democracia portuguesa. Para “facto político”, a frase é uma
delícia: “A crise política evaporou-se tal como tinha aparecido.”
Marcelo
ouviu esta semana os partidos com representação parlamentar e os parceiros
sociais e nem em sinais de fumo viu uma crise no Orçamento de 2017. “Basta ter
ouvido o que disseram os partidos e parceiros à saída das audiências para terem
percebido que não há crise política e não vai haver crise política”. Ou:
“Daquilo que ouvi dos partidos que apoiam o governo, não ouvi nenhum falar em
qualquer hipótese de retirar o apoio ou de haver qualquer cenário, mesmo vago,
de crise.” Nem um cenário “vago” de crise.
O
mundo muda de um momento para o outro, mas é difícil de explicar a origem do
epifenómeno que se evaporou numa semana. Foi Passos Coelho que assustou alguém
quando anunciou “vem aí o diabo” numa reunião do conselho nacional do PSD? Mas
à saída da reunião com o Presidente, também para o PSD a crise já se tinha
“evaporado”. Sofia Galvão, vice-presidente do partido, anunciou ao país que o
PSD não encontrava razões para a possibilidade de uma crise política. Na
realidade, a crise não interessava a ninguém: nem a Costa, porque não pode pôr
em risco o sistema financeiro e os compromissos com Bruxelas; nem a Passos, que
se arrisca a perder e a ser demitido. Como diz Marcelo, evaporou-se...
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