Mariana
Mortágua* - Jornal de Notícias, opinião
Passos
Coelho não teve pudor em deslocar-se à Madeira, onde o PSD bateu o recorde do
endividamento e má gestão dos recursos públicos, para aí afirmar que as sanções
ao país são o resultado da desconfiança europeia quanto às opções do atual
Governo. A afirmação é grave.
Não
é que não seja verdade que a Comissão Europeia esteja a usar as sanções para,
de forma arbitrária e discricionária, condicionar o Governo e, sobretudo, o
próximo Orçamento do Estado. O problema está no facto de Passos Coelho se
sentir confortável com a prática de punição política a partir de Bruxelas.
É
sabido que as regras que determinam as sanções são absurdas. Em primeiro lugar,
porque são cegas ao contexto específico de cada país. Em segundo lugar, porque
partem do princípio que quem não cumpre o défice é porque não quer, e não
porque não consegue, face a outras responsabilidades igualmente importantes do
Estado. Em terceiro lugar, porque as sanções, para além de humilhantes,
dificultam ainda mais o cumprimento de qualquer regra orçamental. Também é
sabido que estas regras têm funcionado de forma diferente para diferentes
países, tendo sido suspensas sempre que os incumpridores eram a França ou a
Alemanha. Mas a posição do PSD está um passo muito à frente do absurdo. Para já
porque ignora o redondo falhanço das suas próprias políticas de austeridade.
Mas sobretudo porque admite que as sanções estão a servir para pressionar um
Governo democraticamente eleito, que nada tem a ver com o desempenho orçamental
do passado, e acha isso normal. Mais do que isso, apoia a chantagem de
Bruxelas.
Ao
embarcar na estratégia da chantagem externa, ao explicá-la e validá-la
internamente, o PSD é hoje muito mais que um mero ventríloquo de Bruxelas. É,
na verdade, um partido que defende que as instituições nacionais, o Parlamento
e as suas opções democráticas devem estar sob o domínio e a autoridade de
instituições europeias, na sua maioria não eleitas pelo povo português.
O
PSD não gosta de ser chamado de antipatriótico. É preciso explicar a Passos
Coelho que não é a sua defesa da austeridade que o torna antipatriótico. É o
facto de querer impô-la apesar da vontade do povo português e da autodeterminação
das instituições nacionais.
*Deputada
do BE
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