João
Galamba – Expresso, opinião
Maria
Luís Albuquerque decidiu fazer uma conferência de imprensa para dizer que, se o
Governo anterior tivesse continuado em funções, e sobretudo se a própria
continuasse Ministra das Finanças, a questão das sanções por incumprimento do
procedimento por défices excessivos nunca se colocaria. A haver sanções, a
culpa é do atual Governo, que se desviou da “trajetória de consolidação
orçamental e de crescimento que herdou do anterior Governo”. É tudo uma questão
de “confiança e credibilidade”, que, assegura-nos Maria Luís Albuquerque, o
Governo anterior e ela própria tinham em abundância, mas que o atual Governo
desbaratou.
Acontece
que estamos a falar de sanções, não porque o atual Governo tenha feito isto ou
aquilo, não porque o atual Governo tenha incumprido esta ou aquela meta, não
porque a execução orçamental de 2016 esteja a correr mal, mas sim por causa do
ajustamento orçamental de 2013-5, que a Comissão considera insuficiente, porque
o défice de 2015 não ficou abaixo de 3% e porque o défice estrutural em 2015,
ao invés de baixar 0.6 pontos percentuais do PIB, aumentou 0.6. São estas as
razões, e não outras, que estão em causa na discussão sobre as sanções. O risco
de sanções existe não porque Maria Luís Albuquerque já não é Ministra, mas
porque foi.
Os
dados oficiais dizem-nos que o défice em contabilidade nacional no primeiro
trimestre caiu 2.3 pontos percentuais em termos homólogos, quando o objetivo
para o ano de 2016 é baixar o défice cerca de 1 ponto. O défice em
contabilidade pública até maio está a baixar mais de 400 milhões de euros,
quando o objetivo anual inscrito no orçamento de 2016 é que aumente (sim,
aumente) cerca 900 milhões de euros. Quer isto dizer que as metas orçamentais
vão ser cumpridas? Não. Quer apenas dizer que, olhando para os dados atuais,
torna-se evidente que não podemos falar em qualquer incumprimento por parte do
atual Governo. Por muito que isso incomode Maria Luís Albuquerque,
incumprimentos só existem mesmo os seus.
Pode dar-se o caso de Maria Luís achar que os resultados são menos importantes
do que a orientação político-ideológica do Governo, o que daria algum sentido à
ideia de que a sua permanência no Governo afastaria a possibilidade de sanções.
O que acontecer no caso espanhol vai ajudar se estamos perante regras orçamentais
iguais para todos ou meros instrumentos de pressão e coerção política.
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