Antonio
Sepúlveda* – Téla Nón, opinião
Trabalhar
para o bem comum, perseguir o interesse público, servir à população
honestamente e defender princípios republicanos significa possuir virtude
cívica. Entretanto, a simples exortação ou a mera esperança na educação das
pessoas a se tornarem virtuosas é insuficiente.
É
inato ao republicanismo a noção de anticorrupção, de autogoverno dos cidadãos,
de não dominação, igualdade, interesse público e representação popular. O
republicanismo se opõe inegavelmente a formas de governo de caráter monárquico,
aristocrático ou oligárquico. Ao mesmo tempo que não admite categorias ou
castas superiores, o republicanismo prega a igualdade, a liberdade de seus
cidadãos, inclusive econômica, pois a “dependência econômica torna impossível
que cidadãos sejam seus próprios mestres”.
Com
o decorrer do tempo, a corrupção sempre encontra novos caminhos para se
instalar no sistema e enfraquecer instituições, afetando as noções republicanas
básicas. A corrupção se espraia quando os agentes públicos perdem sua devoção
pelo bem público, deixando de ser responsáveis. Quando agentes públicos
promovem seus interesses privados, de alguma elite ou oligarquia em detrimento
do interesse ou bem público, instala-se a corrupção.
Para
manter a República saudável, deve-se prevenir a corrupção do processo político.
Deve-se se atentar para a interconexão entre Direito, Política e nossa
estrutura social-econômica, pois, sem boas instituições atentas aos reais
fenômenos do País, pessoas e governos repetidamente se desviarão dos valores
democráticos, na tentativa de se auto-entrincheirar politicamente ou de auferir
benefícios especiais ou privilégios espúrios. Em suma, procurarão promover, por
meios escusos, os seus interesses pessoais.
Sem
um adequado conjunto de arranjos e mecanismos legais e constitucionais, a busca
pelo interesse público será esmagada pela força dos interesses individuais e de
facções; a corrupção individual e estrutural invadirá o sistema e o governo
perderá seu caráter republicano. A chave, então, para o funcionamento da
República, passa por boas instituições, práticas e leis.
As
instituições operam sobre a corrupção por meio da implantação de mecanismos que
propiciem maior transparência, deliberação, imparcialidade e responsabilidade
dos agentes públicos. Pesquisas apontam ainda que a desburocratização
administrativa, além de aumentar a eficiência do Estado, reduz os riscos de
corrupção, inimiga central das repúblicas e característica tanto individual
quanto de sistemas políticos.
Portanto,
a fim de preservar a República, devem ser criadas instituições que preservem e
promovam a virtude cívica e estimulem agentes públicos e cidadãos a trabalhar
pelo bem comum. Por isso, a preservação dos ideais republicanos entre cidadãos
e nas práticas políticas deve ser promovida por meio de estáveis, adaptáveis e
eficazes instituições, de modo que se reduza ou elimine hierarquias de
dominação e dependência.
*Antonio
Sepúlveda (professor e doutorando em Direito/UERJ), Flávio Franco (professor e
mestre em Direito/UFRJ) e Igor De Lazari (graduando/UFRJ) são pesquisadores do
Laboratório de Estudos Teóricos e Analíticos sobre o Comportamento das Instituições
– PPGD/UFRJ (CNPq/FAPERJ/Ministério da Justiça)
Sem comentários:
Enviar um comentário