Wolfgang
Münchau*
O
presidente Donald Trump quer destruir a UE? Não podemos responder a essa
pergunta decisivamente, mas os sinais que ele enviou sugerem que o bloco deve
levar a potencial ameaça mais a sério do que o está a fazer.
Basta
considerar esta declaração de Ted Malloch, o homem que segundo a opinião
generalizada vai ser o embaixador do Sr. Trump na UE. Malloch, professor da
Henley Business School da Universidade de Reading, disse que queria
"vender os euros". A moeda única está em risco de colapsar nos
próximos 18 meses, disse ele.
Eu
próprio não sou o maior otimista em relação ao euro, mas ficaria feliz por ser
parceiro neste negócio em particular. O pior cenário para o euro não é a sua
aniquilação total, mas a perda de um dos seus membros.
Mais
preocupante para a União Europeia do que um putativo diplomata são as
negociações comerciais que se seguirão à reunião de sexta--feira passada entre
Trump e Theresa May, a primeira-ministra britânica. Os oponentes do brexit no
Reino Unido descartaram a possibilidade de um pacto comercial com os EUA,
alegando que a agenda protecionista de Trump também afetaria o Reino Unido. Só
que este acordo não será prioritariamente sobre o comércio. Trata--se de um
acordo político, um veículo para semear a discórdia entre o Reino Unido e a UE,
o único acordo comercial que Donald Trump pode adotar por razões estratégicas.
É
por isso que a retórica da negociação dura do brexit adotada por alguns
políticos em Bruxelas é contraproducente, porque deixa o Reino Unido nas mãos
de Trump. É do interesse da UE manter uma relação aberta com o Reino Unido. O
país tiraria mais proveito de um acordo justo com a Europa do que do mais
confortável dos acordos com o Sr. Trump. O Reino Unido negociará sempre mais
com a UE do que com os EUA. A geografia conta.
O
segundo risco, e talvez o mais iminente, para a coesão interna da UE seria um
levantamento unilateral por parte do Sr. Trump das sanções contra a Rússia.
Isso ainda não aconteceu, mas se acontecesse, arruinaria o protocolo de Minsk
através do qual a UE, a Rússia e a Ucrânia organizaram a sua relação trilateral
desde a anexação da Crimeia pela Rússia. As sanções europeias tornar-se-iam
nessa altura não só política mas também fisicamente impossíveis de sustentar.
Os investidores europeus poderiam facilmente contornar muitas das restrições.
Uma
tal decisão poderia potencialmente desestabilizar e isolar Angela Merkel, a
chanceler alemã, que tem sido fundamental na estruturação da diplomacia da UE
relativamente à Rússia, tanto a nível interno como da UE. Seria fazer o jogo
dos seus parceiros de coligação, os sociais-democratas, antes das eleições de
setembro. O novo ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Sigmar
Gabriel, um social--democrata, defende a eliminação das sanções. Uma decisão
unilateral dos EUA para levantar as sanções isolaria potencialmente Merkel, na
Alemanha e na UE.
Tendo
em conta estas ameaças, a UE deveria considerar as quatro medidas seguintes:
Em
primeiro lugar, deveria instituir um aumento imediato de 2% dos gastos de
defesa para reafirmar o compromisso na NATO. Muitos países da UE são
vulneráveis a acusações de que não contribuíram com a parte que lhes era
devida. Com as próximas eleições em França e na Alemanha, e muito possivelmente
em Itália, este não é o melhor momento para a UE operar uma grande iniciativa
de defesa conjunta para além do que já existe. Mas um aumento nos gastos com a
defesa pode ser conseguido.
Em
segundo lugar, a UE deve acelerar as conversações com o Reino Unido sobre o
Artigo 50, o mecanismo para sair da união. Bruxelas deveria procurar negociar
um acordo de comércio livre provisório e restrito que requer apenas a aprovação
das instituições europeias, em vez da dos parlamentos nacionais dos restantes
27 Estados membros. Um pré-acordo rápido para o brexit beneficiaria ambos os
lados. Um acordo mais abrangente poderia vir mais tarde.
Em
terceiro lugar, a UE deveria considerar a possibilidade de estabelecer uma
relação económica com a China. A decisão de Donald Trump de revogar a Parceria
Transpacífico e a supressão agora certa da Parceria Transatlântica de Comércio
e Investimento entre os EUA e a UE abrirão o caminho para novas alianças
económicas.
Em
quarto lugar, a UE terá de corrigir a zona euro, e não apenas para frustrar a
especulação proposta pelo professor Malloch. Esta crise vai no seu oitavo ano.
A União Europeia tem de parar de discutir sobre a Grécia ou de se preocupar se
o euro consegue sobreviver às próximas eleições italianas. Não há muitas opções
para corrigir a zona euro. A história das uniões monetárias mostrou-nos que
elas precisam de ser incorporadas numa união política para serem sustentáveis.
O
instinto da UE na última década foi o de fazer o mínimo necessário - uma
política que a deixou pateticamente fraca. Os europeus devem parar de
hiperventilar sobre o Sr. Trump e olhar para o que a UE precisa de fazer. A
União Europeia não será capaz de continuar a marcar passo durante quatro anos
de uma presidência Trump e, muito menos, durante oito.
*Diário
de Notícias, opinião
-
Título ligeiramente manipulado por PG
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