Referem
as notícias de hoje, desde há poucas horas, que o governo espanhol (leia-se
Iberdrola e Endesa) ordenou para iniciarem rapidamente a construção do armazém de resíduos nucleares. Assim será,
a construção vai começar nos “próximos dias”.
Considerando que a central já
dispõe de um armazém de resíduos nucleares e que depois de passar o prazo de
validade ele foi prorrogado até 2020, construir um novo armazém – quando o
existente ainda tem espaço livre – só pode significar que a central nuclear da
Iberdrola e da Endesa, em Almaraz, vai ter nova prorrogação do seu prazo de
validade até 2030, pelo menos.
Almaraz
tem sido uma central problemática que já regista cerca de 70 alarmes de
funcionamentos incorretos. Está à beira-Tejo e à beira de Portugal… “E que
tenho eu a ver com isso”, parece que é o que pensam os portugueses,
encurralados na sua passividade, na sua cobardia e preguiça em raciocinarem e
agirem. “Além disso temos por cá a nossa senhora de Fátima”, acabam por
concluir.
A
falta de interesse dos portugueses acerca de Almaraz ficou documentada na ausência
de presenças na manifestação de contestação junto à embaixada de Espanha em
Lisboa e ainda pelo desprezo sobre Almaraz que é demonstrado no fraco numero
dos que procuram atualizar-se sobre o assunto através das notícias. Comparativamente
à opinião pública espanhola diretamente afetada e que se manifesta estamos
perante algumas formigas e um elefante.
Redação
PG
Construção
de armazém de resíduos nucleares começa "nos próximos dias"
É
oficial. Espanha vai iniciar "nos próximos dias" a construção do
armazém de resíduos nucleares na central de Almaraz
Governo
espanhol garante que a estrutura do armazém que será segura, mas Portugal vai
contestar hoje, com uma queixa à Comissão Europeia.
A
informação sobre o projeto foi adiantada à Lusa pelo secretário de Estado para
a União Europeia espanhol, Jorge Toledo, que se reuniu esta manhã com a
secretária de Estado dos Assuntos Europeus portuguesa, Margarida Marques, em
Lisboa.
"A
obra civil, que vai durar quase um ano, vai começar nos próximos dias, mas é
uma obra civil. Ainda não se iniciou o procedimento de autorização da operação,
do funcionamento do armazém, que terá, como é normal, todas as garantias,
necessitará de um relatório do Conselho de Segurança Nuclear espanhol para que
tenha absolutamente todas as garantias", afirmou o governante espanhol.
Questionado
sobre se o executivo espanhol vai esperar o parecer da Comissão Europeia sobre
o projeto antes de emitir a licença para a operação do armazém de resíduos
nucleares, Jorge Toledo indicou que Madrid "terá que autorizar o
funcionamento, na altura devida, o que não será antes de princípio de
2018".
"Entretanto,
a Comissão decidirá qual é a sua interpretação da diretiva que exige, quando há
impacto transfronteiriço, a participação de outro país", referiu.
O
governante espanhol disse ainda que a construção do armazém na central de
Almaraz pretende precisamente garantir a segurança: "Se não houvesse
armazém, estaríamos perante um cenário de insegurança", disse.
"O
principal interessado em que a operação da central de Almaraz e, em concreto, a
construção e operação do armazém de resíduos tenha todas as garantias de
segurança é Espanha. É uma central que está a 110 quilómetros em linha reta da
fronteira portuguesa, e portanto está em pleno território espanhol, com muitos
espanhóis que vivem ali", acrescentando que o Governo de Madrid está
"disposto, como até agora, a oferecer toda a informação necessária aos
amigos portugueses".
Portugal
vai apresentar hoje a queixa a Bruxelas contra Espanha, um procedimento inédito
entre os dois países ibéricos, confirmou à Lusa a secretária de Estado dos
Assuntos Europeus.
Segundo
Margarida Marques, está em causa uma divergência entre os dois países,
"que são amigos", sobre uma diretiva comunitária e o executivo
português entende que, "em determinado momento do processo, Espanha devia
ter informado Portugal do processo da construção da central".
O
projeto esteve em consulta pública, mas, disse Margarida Marques, esse processo
decorreu em Espanha e "não houve uma informação formal do Governo espanhol
ao Governo português".
"É
isso que entendemos que não foi feito, é por isso que entendemos que o artigo
7.º da diretiva [2011/92/UE, de 13 de dezembro de 2011] não foi respeitado",
mencionou.
"Nós
confiamos no Governo espanhol no sentido de entender que está preocupado com a
segurança dos cidadãos espanhóis, como nós estamos preocupados com a segurança
dos cidadãos portugueses", disse ainda a governante portuguesa.
Portugal
considera que tem de ser feita uma avaliação de impacto transfronteiriço do
projeto.
Na
semana passada, numa reunião em Madrid entre o ministro do Ambiente português,
João Matos Fernandes, e os ministros da Energia de Espanha e do Ambiente, o
Governo espanhol sugeriu que fosse Portugal a realizar esse estudo, proposta
que o executivo português recusou, considerando que essa responsabilidade cabe
a Espanha.
De
acordo com o Boletim Oficial do Estado (BOE), uma resolução de 14 de dezembro
de 2016, da Direção-Geral de Política Energética e Minas, o Governo espanhol
"autoriza a execução e montagem da modificação do desenho correspondente
ao Armazém Temporário Individualizado da Central Nuclear Almaraz, Unidades I e
II".
No
texto do BOE, publicado após os pareceres favoráveis por parte do Conselho de
Segurança Nuclear (CSN) e da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, o executivo
espanhol autorizou a construção do armazém temporário individualizado (ATI) da
central de Almaraz de acordo com as condições impostas pelo CSN espanhol.
O
processo para a construção do ATI teve início em 18 de novembro de 2015, quando
o diretor-geral das Centrais Nucleares de Almaz-Trillo (CNAT) solicitou a
autorização para a construção do armazém de resíduos nucleares, com o objetivo
de resolver as necessidades de armazenamento do combustível gasto nos reatores.
A
funcionar desde o início da década de 1980, a central está situada junto ao
Tejo e faz fronteira com os distritos portugueses de Castelo Branco e
Portalegre, sendo Vila Velha de Ródão a primeira povoação portuguesa banhada
pelo Tejo depois de o rio entrar em Portugal.
A
central nuclear de Almaraz tem dois reatores nucleares, cada um com uma
"piscina" para guardar o lixo nuclear, prevendo-se que a do
"reator 1" alcance o limite da sua capacidade em 2018.
Segundo
fontes da central, o ATI a construir vai ser necessário para armazenar qualquer
material radioativo, mesmo aquele que resultar da desativação da central em
2020, como está previsto.
Os
ambientalistas portugueses desconfiam que a decisão de construção do ATI seja o
primeiro passo para prolongar a vida da central para além de 2020.
Lusa
– em Diário de Notícias – Foto: Paulo Spranger / Global Imagens
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