Paulo Vieira de Castro, opinião*
Uma
das lições mais importantes que aprendi na rua foi a respeito do medo e da
miséria humana. Vivemos numa sociedade assustada, tantas vezes, pela fome e
pela sede dos outros
Naquela
noite estavam juntos dois pequenos grupos na zona da Boavista. O dos sem abrigo
e o dos voluntários de uma instituição de solidariedade.
Um
carro aproximou-se lentamente e, do seu interior, atiraram muitas moedas para o
chão. Todos os presentes ficaram como que congelados perante tão desumana
atitude. Uma das mulheres que ali estava à espera da refeição quente
apressou-se a apanhá-las devolvendo-as violentamente para dentro do carro,
gritando : “ Eu sou dona da minha fome! Eu sou dona da minha fome…”.
Mesmo
vivendo na rua e da caridade ela não tinha perdido a dignidade. Continuava a
ser livre. Naquele preciso momento percebi o que era viver do lado oposto ao
medo e à miséria.
Foi
aí que soube que o estatuto mais elevado que o ser humano pode almejar é “ser
dono da sua própria fome”. Só deste modo poderemos ser realmente nobres. Ao
contrário do que podemos imaginar não é, geralmente, uma mesa farta que nos
torna gente.
Por
isso , muitas vezes, quando me sinto perante a dificuldade me lembro: “ Eu sou
dono da minha fome ! “. Não é fácil vergar o carácter de um homem quando ele já
percebeu isso…
*Jornal
Tornado
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