O
governo português não só autorizou o furo como deixa aparentemente sem
quaisquer condições que esse furo seja feito na altura do ano que mais convier
às petrolíferas.
João Camargo*, opinião
Em
agosto do ano passado, 42.295 pessoas opuseram-se à autorização de perfuração a
mais de 1.000 metros de profundidade de um furo de prospeção de petróleo e gás
ao largo do mar frente a Aljezur, numa consulta pública que ficou também
marcada por 4 pessoas que se manifestaram a favor. O governo tinha 30 dias para
emitir um parecer. Ontem, cerca de 150 dias depois, descobriu-se num site que
não é aquele em que as pessoas participaram, que o Governo decidiu autorizar as
concessionárias GALP e ENI a realizar 60 dias de operações, nas datas que lhes
apetecer (com apenas um aviso com 10 dias de antecedência) até 2019, e fazer um
furo entre os 2.500 e os 3.000m de profundidade, isentando aparentemente as
empresas de pagar cauções e de ter seguro de responsabilidade civil.
A
isto chama-se "panelinha". Os atores são os governos e as
petrolíferas. Em maio de 2016 a concessionária GALP/ENI, antes sequer da
abertura da consulta pública para a autorização da realização do furo,
contratou uma empresa chamada MedServ e instalou-a no Porto de Sines para dar
apoio no processo de prospeção offshore. A mesma empresa viria a anunciar publicamente(link is external) que havia
ganho um concurso da ENI para fazer o apoio logístico à prospeção. Claro que
estranhamente isto ocorreu a 26 de maio, quando a consulta pública apenas abriu
4 dias depois, a 30. Como ocorre frequentemente, a democracia é visto como um
artifício, quando se coloca à frente de negócios e negociatas. As consultas
públicas em Portugal são um pró-forma quase tão pouco relevante como as
avaliações de impacto ambiental, porque no fim o negócio tem é de acontecer,
mesmo que seja catastrófico para o Estado, para as populações, para a economia,
e sobre o ambiente nem vale a pena falar.
O
que foi inesperado na consulta pública de julho/agosto de 2016 é que a oposição
social era tão avassaladora (bem expresso nos 42.295 contra os 4 a favor) que
houve a necessidade de criar pelo menos uma aparência de respeito pelo processo
formal. Assim foi. Sabe-se, desde a altura, que houve uma oposição popular de
mais de 10 mil para 1. Sabe-se também que todos os municípios do Algarve se
opuseram ao furo e que inclusivamente interpuseram uma providência cautelar
para travar esse furo. Ficou-se a saber mais tarde que todas as juntas de
freguesia pertencentes ao Parque Natural do Sudoeste Alentejano e da Costa
Vicentina se opuseram ao furo. E sabe-se pouco mais. A Direção-Geral nunca mais
falou sobre o assunto. As pessoas que participaram na consulta pública não
foram informadas acerca de nada. Sobre o que disseram as entidades de consulta
obrigatória, nada. Uma resposta aos vários e múltiplos argumentos invocados,
nada. Um relatório sobre uma consulta pública com mais de 40 mil participações?
Não existe. Até hoje no site da Direção-Geral não há nada.
Outra
questão relevante era a caducidade do contrato de concessão da ENI/GALP. No ano
passado, 2016, nono ano desde a assinatura do contrato em 2007 pelo então
ministro Manuel Pinho, a concessionária tinha de realizar uma sondagem de
pesquisa. Não realizou. Mais um incumprimento contratual que permitiria
cancelar um contrato. A ENI e a GALP terão recebido mais uma borla do governo. Não é a primeira(link is external).
Foi
preciso vasculhar o site do Plano de Situação do Ordenamento do
Espaço Marítimo Nacional para encontrar uma autorização(link is external), assinada a 11
de janeiro de 2017 pelo Diretor-Geral Miguel Sequeira (que entretanto abandonou
a Direção-Geral), que permite à ENI e à GALP realizar furos no fundo do mar
entre o Algarve e o Alentejo, até 3 mil metros de profundidade. A ENI e a GALP
podem, durante 60 dias, fazer o furo Santola1X, bastando para tal avisar o
governo com 10 dias de antecedência. Além disso, o governo aparentemente
isentou as petrolíferas de ter sequer de apresentar caução e de ter seguro de
responsabilidade civil, o que é tão escandaloso que só pode ser um erro.
Tudo
isto significa que mesmo o pequeno espetáculo montado para criar a ideia de que
uma consulta pública servia para alguma coisa não passou de um fogacho. A
posição de dezenas de milhares de pessoas, organizações, municípios e
instituições públicas, foi olimpicamente ignorada sem ter havido sequer uma
resposta, aprovando-se pela porta do cavalo uma licença que é no mínimo dúbia,
mas que pode inclinar-se para o criminosa. E as concessionárias sabiam disso,
já que a MedServ, empresa contratada antes mesmo de ter sido aberta a consulta
pública, manteve-se o resto do ano todo no Porto de Sines. O porto alentejano
teve até direito à expansão do seu heliporto para as operações de logística e à
instalação de de contentores onde há mais de um mês já está todo o material
para o furo de prospeção.
Os
riscos de um furo a 3.000m de profundidade são elevadíssimos. Tal pode ser
atestado pelo auto-explicativo acidente do Deepwater Horizon em 2010, que ao
realizar um furo exploratório no Golfo do México a 1.500m de profundidade teve
um acidente fatal para 11 trabalhadores e que se manteve a perder petróleo de
forma violenta durante os 88 dias seguintes, inviabilizando em grande escala a
vida no litoral ligado ao mar de toda a parte norte do golfo. O governo
português não só autorizou o furo como deixa aparentemente sem quaisquer
condições que esse furo seja feito na altura do ano que mais convier às
petrolíferas, sem restrições de segurança para épocas de baixa agitação
marítima. A licença é válida até janeiro de 2019. A isto chama-se
irresponsabilidade organizada. E se o primeiro nome nessa organização é o que
está no papel – Miguel Sequeira – a seguir não podem deixar de lá estar os
nomes de Ana Paula Vitorino, ministra do Mar, José Matos Fernandes, ministro do
Ambiente, Jorge Seguro Sanches, secretário de Estado da Energia, e António
Costa, primeiro-ministro.
As
centenas de pessoas envolvidas nesta luta há já algum tempo e as centenas mais
que se vêm juntando nos últimos meses sabem que as espera um combate desigual,
do qual fazem parte todos estes jogos de bastidores e simulações de boas
vontades. Sabem também que este furo será para combater por todos os meios.
Artigo
publicado em sabado.pt (link is external)
*Esquerda.net
- João Camargo - Investigador
em Alterações Climáticas. Dirigente do Bloco de Esquerda e deputado municipal
na Amadora
1 comentário:
Asa empréstimo empréstimo empresa estão prontos para emprestar-lhe qualquer quantidade que você precisa para iniciar o seu negócio pessoal. Eu dou para fora o empréstimo à taxa de interesse de 2%, assim que amável aplica para o empréstimo agricultural da agricultura. Se você precisar de empréstimo entre em contato com nosso e-mail: asaloaninstituteplc@gmail.com, você também pode entrar em contato com este e-mail: asaloaninstituteplc@yahoo.com
Asa loan lending company are ready to loan you any amount you need to start up your personal business. we give out loan at 2% interest rate, so Kindly apply for agricultural farming loan. if you need loan contact our email:asaloaninstituteplc@gmail.com, you can also contact this email:asaloaninstituteplc@yahoo.com
Enviar um comentário