Paula
Ferreira* – Jornal de Notícias, opinião
O
número é avassalador. Numa década, o Estado português injetou na Banca 13 mil
milhões de euros. Quantas escolas deixaram de ser feitas, quantos hospitais de
média dimensão ficaram no papel? Os números, divulgados ontem pelo "Jornal
de Notícias", são do INE e não deixam margem para dúvidas. Portugal, este
pequeno país, gastou mais com a Banca do que o Reino Unido - sendo o sexto, da
União Europeia, onde os gastos com os bancos em dificuldades são maiores.
E
de que valeu? Parece, à luz dos novos desenvolvimentos, muito pouco. Os
depositantes ficaram sem parte das suas poupanças e o país foi flagelado por
duras medidas de austeridade. Para que os bancos não falissem, os portugueses
viram as suas condições de vida recuar décadas: o desemprego aumentou em flecha,
os apoios sociais encolheram, os ordenados também, os direitos dos
trabalhadores foram atacados. António Costa não correria o risco de vir dizer
que a venda ou doação do Novo Banco (um dia se saberá qual foi a modalidade)
não vai custar nada aos contribuintes. Ninguém lhe perdoaria se o assumisse.
Agora,
o Novo Banco foi transacionado e o Estado ficou com 25 por cento do seu
capital. Para mandar alguma coisa ou para assumir os riscos que os americanos
do Lone Star podem encontrar? O primeiro-ministro garante que os portugueses
não terão de gastar um cêntimo. Se algum problema houver, as garantias serão
dadas pelo Fundo de Resolução.
Marcelo
Rebelo de Sousa, como já vem sendo habitual, reforça a posição de António
Costa. Ainda ontem, em Viseu, o presidente da República garantiu: "são os
bancos que, realmente, a 30 anos, caso seja possível, irão pagando aquilo que
for a diferença, esperando que seja o mínimo possível". Ora aí está. Sendo
o Fundo de Resolução constituído pelo capital dos bancos, nunca ninguém viu a
Banca assumir as perdas que lhe são imputadas. Como o presidente da Caixa de
Crédito Agrícola deixou claríssimo, numa entrevista à Antena 1, os bancos farão
refletir esses custos junto dos seus clientes. Alguém acharia que seria de
outra maneira?
*Editora
executiva-adjunta
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