Isabel
Moreira | Expresso | opinião
Passado
mais de meio século sobre a segunda guerra mundial, foi revelada a existência
de campos de concentração para homens gay na Tchetchénia. Tivemos acesso a
relatos macabros por parte de quem sobrevive a um regime que tem os gays como
impuros, que os quer eliminar, diretamente ou incumbindo a sociedade e as suas
famílias de o fazerem.
A
ver se nos entendemos: demorou demasiado tempo para que fosse reconhecido o que
o nazismo fez aos homossexuais (porque a homossexualidade era considerada uma
patologia, certo?) e em 2017 somos confrontados com uma monstruosidade
contemporânea sem grandes consequências.
Com
base em discursos de base religiosa, moral e nacionalista, Putin e outros de
sua espécie justificam a perseguição da “impureza”, por isso já sabíamos da
“lei que proíbe a propaganda homossexual” de Putin, e agora somos bombardeados
com um campo para espancar, torturar e eletrocutar gays.
A
falta de empatia relativamente à violação dos direitos humanos das pessoas LGBT
é gritante. É sempre assim e continua a ser assim mesmo quando a notícia é,
repito, a existência de campos de concentração para homens gay na Tchetchénia.
Aquando
do ataque terrorista homofóbico ao clube “Pulse”, em junho de 2016, foi
chocante ver como efetivamente se abriu um “debate” sobre se deveria referir o
facto como um ataque homofóbico e não “simplesmente” como um ato de terrorismo.
“São pessoas, para quê frisar que a discoteca era uma discoteca LGBT”? Isto era
dito por várias almas, sem empatia alguma pela evidência de se ter tratado de
um ataque movido pela homofobia, mesmo que nem todas as pessoas que estavam na
discoteca fossem lésbicas ou gays. Claro que essas mesmas pessoas não hesitam
em chamar as coisas pelos nomes se uma igreja católica ou uma mesquita for alvo
de um ataque terrorista. Nesses casos, o ataque é definido, e bem, como sendo
feito às comunidades em causa, mas nesses casos, claro.
Sabemos
da existência de campos de concentração para homens gay na Tchetchénia, há uma
manifestação em Lisboa em frente à Embaixada da Rússia quase sem imprensa
presente, nenhum telejornal tem início neste horror e os líderes nacionais,
europeus, a UE e o SG da ONU estão calados.
São
gays, não se trata de um grupo étnico, não fomos alarmados pela notícia de um
campo de concentração para outra categoria de pessoas, por isso não há empatia,
são gays, ninguém está de acordo com as perseguições e com o campo de
concentração, mas daí a reagir vai toda uma cultura de adesão total à
consideração de que as pessoas LGBT são vítimas históricas e nenhum direito conferido
ao resto da população lhes pode ser negado.
Se
são gays não somos nós, não é?
O
caminho para essa empatia é longo, o silêncio é cúmplice, a vergonha alheia é
enorme.
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