Ana
Alexandra Gonçalves*
A
tragédia que assolou o país tem uma dimensão que não permite que se perca tempo
com politiquices, acusações, dedos em riste. Nem tão-pouco será tempo para a
política, a genuína e não vulgar, entrar em campo, através de uma qualquer
deriva legislativa em cima do acontecimento. O que não quer dizer que se entre
num período obscurantista, muito pelo contrário, hoje e no futuro, como deveria
ter sido feito no passado, é imperativo de ouvir quem sabe destas matérias.
Tendo sempre em vista as alterações climáticas e o seu expectável agravamento.
Este
será o tempo de acudir a quem necessita e nem seria preciso fazer uma afirmação
tão óbvia não fosse um ou outro responsável político vir a terreiro apontar o
dedo. E por falar em vulgaridades, Hélder Amaral, deputado do CDS, aponta o
dedo ao Presidente, afirmando que "não basta um Presidente dar beijinhos
no dói-dói e dizer que não há nada a fazer". Sim, Hélder Amaral tem feito
muito para a resolução deste e de outros problemas. Não se lembram? Eu também
não.
Vamos
por partes: Marcelo Rebelo de Sousa não afirmou taxativamente que não há nada a
fazer, procurando antes dar aquilo que num momento de aflição é, amiúde, a
única coisa que se pode proporcionar: conforto e solidariedade. De resto, o
apelo à união não se faz apenas em momentos de felicidade que antecedem um jogo
de futebol; os momentos de união devem ser fortalecidos precisamente em
situações de calamidade, como o Presidente muito bem lembrou.
Por
outro lado, tratou-se, segundo a Polícia Judiciária, de um fenómeno da
natureza. No entanto, compreende-se a necessidade de ter um ou mais culpados
físicos e não abstractos, é mais fácil apontar o dedo. Quanto aos meios no
terreno se foram suficientes ou não, haverá sempre essa discussão e o mais
certo é não serem os suficientes, nunca o serão. E também parece evidente que
não se ouve quem tecnicamente tem competências para dar contributos profícuos e
eventualmente decisivos.
Hélder
Amaral, por exemplo, poderia dar um contributo mais saudável para a discussão,
designadamente abordando os tempos em que a líder do seu partido foi ministra
da Agricultura (entre outras coisas de que ninguém se lembra) e as políticas
desta quanto à proliferação de eucaliptos. E se queremos recuar no tempo,
oiçamos Miguel Sousa Tavares lembrar o papel do Governo de Cavaco Silva.
Seja
como for, anda não é o tempo para politiquices, elas acabarão por vir, inevitavelmente.
Quanto ao deputado do CDS e outros que chegam a pugnar pela demissão da ministra da Administração Interna, procurem dar tempo ao tempo. Bem sei que existe algum desespero em certas hostes, mas o aproveitamento político de uma desgraça como aquela que assolou o país no passado sábado é simplesmente obsceno. A título de exemplo, atente-se à forma como o ministro da Agricultura foi entrevistado na SIC por Clara de Sousa.
Todos
queremos respostas, todos queremos saber como evitar outra situação semelhante,
mas deixe-se passar os três dias de luto nacional. É que para nós serão três
dias, para muitos é toda uma vida. E três dias não é muito tempo.
Ana
Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão
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