O
cabeça-de-lista da UNITA às eleições gerais angolanas, Isaías Samakuva, dedicou
dois dias da campanha eleitoral aos mercados e feiras de Malanje, por serem os
locais onde o povo consegue ter “a panela sempre no fogo” e algum rendimento.
Além disso acusa o partido/Estado (MPLA) de “enveredar por assassinatos
selectivos de cidadãos por motivos políticos”.
Os
mercados de Chauande e de Katepa, arredores da capital da província de Malanje,
a mais de 400 quilómetros de Luanda, juntam todos os dias centenas de pessoas,
para comprar e vender de tudo um pouco, e foram visitados terça e quarta-feira
por Isaías Samakuva, num apelo cada vez mais directo ao voto e às propostas da
UNITA para o país.
“Mas
antes é preciso que estes cidadãos nos coloquem no lugar em que podemos
influenciar as coisas, e isso pode ocorrer no dia 23 de Agosto”, disse, em
Chauande, o candidato da UNITA à eleição, indirecta, para Presidente da
República, sempre rodeado por apoiantes, vendedores e clientes daquele mercado.
Depois
de dias marcados por promessas eleitorais, como o salário mínimo de 500 dólares
(83.000 kwanzas) em Angola ou um Governo “inclusivo e participativo”, tentando
afastar fantasmas de caça às bruxas com uma eventual liderança da UNITA, face
aos 42 anos de poder do MPLA, Samakuva deixou-se ficar pelo apelo pessoal ao
voto nos mercados de Malanje.
“O
cidadão também sente a nossa presença junto dele. Eu penso que para transmitir
a nossa mensagem este contacto directo é muito importante, daí a necessidade
de, sempre que pudermos, passarmos por estas localidades. Porque é aqui onde
eles passam a sua vida. É aqui onde conseguem, como eles próprios dizem, ter o
fogareiro aceso e a panela sempre no fogo. Então, é aqui que temos de os
encontrar”, apontou.
Nos
últimos dias, o cabeça-de-lista da UNITA, o maior partido da oposição, voltou a
desafiar directamente o candidato do MPLA, João Lourenço, para um debate
eleitoral, pretensão que ficou sem resposta por parte do partido no poder em
Angola desde 1975.
Antes,
Isaías Samakuva passou pela província do Cuanza Norte, onde apontou as
consequências do elevado índice de desemprego em Angola: “Quando nós falamos de
crise profunda, é porque afecta também os nossos costumes e a nossa cultura,
por isso queremos reconstruir e recuperar isso tudo”, afirmou, prometendo como
prioridade, em caso de vitória eleitoral, medidas para fomentar o emprego.
“Mas
tem que ser emprego para os angolanos, em primeiro lugar”, atirou.
MPLA/regime
endurece perseguição
OSecretariado
Executivo do Comité Permanente da Comissão Política da UNITA manifestou,
entretanto, a sua apreensão e indignação com os sucessivos casos de
“assassinatos selectivos de cidadãos por motivos políticos”:
“1.
O agravamento da postura discriminatória dos órgãos de comunicação social
públicos, no tratamento desigual às candidaturas, favorecendo vergonhosamente o
Partido-Estado, numa clara violação da Constituição e da Lei;
2.
A persistência dos actos de coacção, sequestro do eleitor e de corrupção
eleitoral, praticados e publicitados em todo o país pelo candidato do MPLA,
perante a passividade e omissão da Comissão Nacional Eleitoral, a quem o Estado
angolano incumbiu a responsabilidade de estabelecer todas as medidas
necessárias para que o processo eleitoral se desenvolva em condições de plena
liberdade, justiça e transparência;
3.
O facto de que o MPLA decidiu agora enveredar, mais uma vez, por assassinatos
selectivos de cidadãos, por motivos políticos, pela violência física e verbal,
assim como outras formas de intimidação do eleitor, com vista a alterar o clima
de paz e de tranquilidade em que até aqui se vem desenvolvendo a campanha
eleitoral;
4.
O retorno, por parte do MPLA e seu candidato, do discurso da guerra, com a
intenção clara de atiçar ódios que os angolanos enterraram desde 2002, demonstrativo
de que os actos de intolerância que estão a decorrer um pouco por todo o país
não são factos isolados.”
Face
a estas constatações, o Secretariado Executivo do Comité Permanente da UNITA
decidiu:
“1.
Exortar o povo angolano a não ceder às provocações para que os inimigos da
democracia não concretizem os seus intentos de impedir o voto de mudança;
2.
Recordar às forças de Defesa e Segurança que a sua missão fundamental é a defesa
da ordem constitucional estabelecida, defendendo a paz, a democracia e a
soberania do povo que deverá ser expressa, pelo voto livre e democrático dos
angolanos, no dia 23 de Agosto de 2017;
3.
Apelar à Comissão Nacional Eleitoral a afirmar a sua independência
institucional de forma a assegurar, de modo efectivo, a igualdade de
oportunidade e de tratamento das diversas candidaturas.”
Neste
contexto, a “UNITA considera que chegou a hora da mudança e exorta os
angolanos, de todas as matrizes, a usar da sabedoria para não permitir que as
ideias do passado, os discursos caducos e os interesses instalados da corrupção
inviabilizem a instauração do Governo Inclusivo e Participativo.”
Folha
8 com Lusa
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