O
retrato dos últimos anos é assustador e mostra que Portugal tem um problema
gravíssimo com aeronaves.
Ana Sá Lopes | jornal i |
opinião
A
queda da avioneta na praia de São João da Caparica chocou o país. Morreu uma
criança e um homem de 56 anos. Todas as mortes são estúpidas, mas as mortes por
acidente são profundamente chocantes. Morrer numa praia porque uma avioneta
decidiu aterrar na areia é algo completamente incompreensível.
Em
abril, em Tires, despenhou-se outra avioneta. Morreram cinco pessoas – os
quatro tripulantes da aeronave e uma pessoa que estava a descarregar o camião
sobre o qual a avioneta caiu. Três pessoas ficaram feridas. Em março, no
aeródromo de Ponte de Sor, houve outro acidente, do qual resultou um
ferido.
Estamos
a falar só deste ano que ainda não acabou: sete mortos em acidentes de
aeronaves. Em 2014 e 2015 houve 21 acidentes – 11 mortos e 15 feridos. Um
relatório do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e
Acidentes Ferroviários diz o seguinte: “Os pilotos envolvidos em acidentes
fatais, a baixa altitude e acrobacias eram, geralmente, muito experientes. Os
pilotos em acidentes fatais também eram tipicamente muito experientes.
Provavelmente
acreditaram que a sua experiência lhes permitia voar com segurança em condições
que os outros são aconselhados a evitar.” E diz pior: “Mais de metade dos voos
a baixa altitude e acidentes com manobras acrobáticas envolveram uma
‘audiência’ – geralmente, amigos no terreno, mas às vezes passageiros a levar
para um voo. A tentação de ‘mostrar’ para impressionar aqueles que estão a
assistir foi fatal em muitos dos casos.”
Os
acidentes com aeronaves sucedem-se (em 2012 houve 10 mortos). O retrato dos
últimos anos é assustador e mostra que Portugal tem um problema gravíssimo com
aeronaves. Não tem com aviões, mas tem com aviões que, alegadamente, podem ser
pilotados por pessoas que gostam de “impressionar aqueles que estão a
assistir”. Há um problema sério com avionetas que é preciso pôr em discussão
pública o quanto antes.
Foto:
Mafalda Azevedo
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