segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

DEEM O SUBSÍDIO A DIJSSELBLOEM



Inês Cardoso* | Jornal de Notícias | opinião

A frase passou quase despercebida e só reparei nela graças a um amigo e jornalista que a destacou no Facebook. Enquanto prestava declarações à Comunicação Social, o ainda presidente do Eurogrupo foi questionado sobre o futuro, quando em janeiro terminar as funções. A resposta é, supostamente, uma piada bem-humorada: Dijsselbloem espera não ter de vir a fazer "uso do regime europeu de benefícios do desemprego".

A piada desperta duas reações imediatas. Uma é relembrar as enormes portas giratórias entre cargos políticos e económicos na Europa. Não, caro ministro holandês, não é de todo expectável que venha a ter problemas em prosseguir a carreira num cargo apetecível e suficientemente bem pago para não ter de fazer duros sacrifícios. A segunda é recordar que enquanto os líderes europeus traçaram linhas e metas políticas para os países da Zona Euro, durante o período de austeridade milhões de pessoas, incluindo milhares de portugueses, viram-se obrigados a recorrer ao subsídio de desemprego. E será difícil acharem graça ao humor de Dijsselbloem.

Os quadros macroeconómicos são linhas estatísticas nas quais não cabem considerações sobre o impacto de cada opção e medida na vida concreta das pessoas. Mas ainda assim dos decisores espera-se a sensibilidade e capacidade de avaliação para perceberem a quem se dirigem. A piada do líder do Eurogrupo demonstra o inverso. A vida de tantos europeus em dificuldades diz-lhe muito pouco.

Mal-amado em Portugal, sobretudo desde as considerações relativamente aos hábitos dos países do Sul, Jeroen Dijsselbloem não é um caso único. É um exemplo de um certo estilo de fazer política que coloca os resultados acima das pessoas. E que se caracteriza pela dificuldade em, no mínimo, dizer as palavras certas em contextos difíceis para as populações. Dentro de portas, o primeiro-ministro sentiu a mesma incapacidade nos momentos trágicos dos incêndios deste verão.

Esta semana, António Costa foi integrado no top ten dos políticos europeus mais influentes. A escolha de Mário Centeno para liderar o Eurogrupo é outra prova da imagem externa positiva de que goza o seu Governo. Mas essa imagem tem muitas nuances dentro de portas. Os próximos dois anos serão decisivos para António Costa demonstrar se quer governar para as pessoas ou para os resultados. Sem piadas nem artifícios, que de ambas as coisas estão os eleitores fartos.

*Subdiretora do JN

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