Martinho Júnior | Luanda
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As alterações sócio-políticas em curso na África Ocidental e Central, no
rescaldo das intervenções injectadas com as “primaveras árabes” e
particularmente em função do caos e terrorismo que se semeou na Líbia desde
2011 e se tem vindo a expandir por todo o Sahel, são um motivo para os da “civilização
judaico-cristã ocidental” engendrarem todo o tipo de justificações para
aumentar as ingerências em África, numa reedição colonial sem precedentes em
pleno século XXI.
África
a norte do Equador está sob a linha de mira dos reciclados apetites… a sul
dessa linha logo se verá, pois a eternamente apodrecida charneira-circulatória
da RDC dá boas garantias para ir mais longe…
O
Presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, sobre África não tem
qualquer tipo de dúvidas: “I think there is no shortcut to maturity and in
my view, Africa should be recolonized for another 100 years because Africans
are still under slavery”…
Na
Europa o poder da Alemanha, da Grã Bretanha, da França, da Espanha e da Itália
têm um ponto de vista comum sobre o “direito a intervir” fundamentado na
necessidade de pôr fim à massiva migração africana na sequência das “primaveras
árabes”, uma migração que enfrenta os perigos da escravatura e do tráfico
humano na Líbia, assim como os riscos da travessia do Mediterrâneo em barcos de
ocasião de muito baixo-custo, superlotados e sem condições…
Eles
sabem que entre o sul da Europa e a África ultra-periférica, está a África do
Norte que sofreu o choque neoliberal por via das “primaveras árabes”, algo a
que Marrocos escapou, pois Marrocos já antes estava afectado à terapia
neoliberal.
Esse
“direito a intervir” que foi parido por Bérnard Kouchner quando constatou a
Guerra do Biafra, é um recurso inesgotável por extensão, para a hegemonia
unipolar nos termos do capitalismo neoliberal, seja quando se aplica o choque,
seja quando se aplica a terapia nos meandros do “soft power”.
Só
o facto duma parte dessa migração se afogar no Mediterrâneo, transformado num
cemitério, é que tem inibido a chegada à Europa (sobretudo à Itália) de ainda
mais desamparados migrantes, quando as correntes migratórias são controladas
por todo o tipo de traficantes, que tornam essa numa actividade lucrativa, que
é um autêntico crime contra a humanidade.
A
evocação do “direito por intervir” por parte dos europeus, fá-los publicitar os
contínuos desastres da travessia do Mediterrâneo e quase esconder por completo
o papel dos traficantes e é claro que por muitos crimes contra a humanidade que
sejam praticados por estes últimos, a Europa trata do seu umbigo e é apenas
nesses termos que os africanos existem e ela justifica a sua intervenção!