A companhia de teatro do Porto
Mala Voadora vai colocar em cena, uma vez por mês e sempre com um ator
diferente, a peça de teatro "White Rabbit, Red Rabbit", do iraniano
Nassim Soleimanpour, a partir de hoje.
As representações começam com
João Pedro Vaz, que estreia a obra em Portugal, e o ciclo repete-se em cada dia
10 até ao final do ano, sempre com um ator diferente, com nomes como Maria João
Luís, Fernanda Lapa, Tiago Rodrigues, Ana Deus e Gonçalo Waddington, entre
outros, no alinhamento, que irá sendo revelado ao longo do ano.
Em 2010, o autor, de 35 anos,
estava impedido de sair do Irão por não ter cumprido as obrigações militares
impostas, tendo escrito a peça para que esta pudesse ser apresentada em todo o
mundo, por oposição à situação imposta ao dramaturgo e ator.
"Um texto que não precisa de
cenário, nem de figurinos, nem de um elenco, nem de ensaios. Aliás, não pode
ser ensaiado", pode ler-se na apresentação da peça, em estreia nacional.
O texto só é entregue ao ator da
noite em questão, quando este já se encontra em frente ao público, o que cria
uma "partilha de poder, porque público e intérprete ouvem as instruções
exatamente ao mesmo tempo", disse à Lusa Vânia Rodrigues, da Mala Voadora.
Em 2013, Souleimanpour conseguiu
ver em palco, pela primeira vez, a peça que escreveu, numa sala de Brisbane, na
Austrália, depois de descobrir que um problema médico o isentava do serviço
militar.
Apresentado em mais de 20 línguas
diferentes, "White Rabbit, Red Rabbit" lançou Soleimanpour como
dramaturgo, estando atualmente em digressão por vários países a apresentar
"Nassim", obra que surge dos mesmos ideais do primeiro trabalho.
"Adquirimos os direitos
exclusivos para a peça, o que interessou bastante à produtora. (...) A lista de
atores que já interpretaram a peça é impressionante. Era estranho que Portugal
não fizesse parte dessa rota", justificou Vânia Rodrigues, à Lusa.
Além da carga política do texto,
que é "impossível não surgir ao público como reflexão, além da liberdade
de expressão e condicionamento coletivo", a peça tem ainda uma "carga
emocional incrível".
"Tem muito que ver com o
sentido da presença dele, de o texto viajar. Ele pede para guardar sempre um
lugar vazio para ele, e praticamente sente-se o autor ali. (...) Não há
mediador nenhum, e mesmo o intérprete sabe tanto como nós. É aí que o poder
começa a ser redistribuído", acrescentou Vânia Rodrigues.
Um outro lado de interesse
relaciona-se com a forma como cada ator enfrenta o mesmo texto, além da plateia
em si, partindo do mesmo pressuposto, mas com "abordagens subjetivas a
partir de algo aparentemente objetivo, as instruções".
A peça inaugura "uma nova
fase de programação da Mala Voadora", no próprio espaço. "Vamos
procurar que os projetos que vamos apresentar no espaço da rua do Almada
dialoguem com os espetáculos que estamos a conceber nesse ano", referiu.
Notícias ao Minuto | Foto Stock
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