Eugénio Costa Almeida* | opinião
Há uns dias que, citando – como
alguém já o denominou – o Muhammad Ali da radiofonia, Guilherme Galiano,
decorre uma «lavagem de roupa suja na praça pública» entre as antiga e actual
administrações da Sonangol, sobre actos de gestão praticados nesta principal e
recolectora empresa para o OGE nacional.
Isabel dos Santos, a PCA da
anterior administração da Sonangol, sentiu-se atingida no seu bom nome
empresarial pelas declarações do actual PCA, Carlos Saturnino, e, de imediato,
não só procurou rebater todas as acusações que foi alvo, como terá concedido um
prazo para que Saturnino se retratasse, sob pena deste, em 24 horas, ser levado
a Tribunal, algo que, como confirmou a Galiano, não o fez.
Ora e apesar do País já ter uma
“excelente cobertura de Internet” , como as suas defesas não estavam a chegar a
todos os concidadãos, Isabel dos Santos considerava que a sua defesa
necessitava de uma maior audiência o que a TV Zimbo, e Guilherme Galiano lhe
proporcionaram.
Vou comentar de memória – depois
da entrevista, decidi não ver nem ler mais nada que pudesse ajudar a esta
análise – algumas das fases da sua entrevista de quase meia-hora. Apesar de
esperar uma maior acutilância de Galiano, na realidade, como demonstram os seus
muitos anos de tarimba, este foi assertivo nas questões e nas interrupções que
considerou necessárias fazer.
Só que Isabel dos Santos
apresentou-se muito calma, de quem já anda nas andanças televisivas há bué,
demonstrando que deve ter um bom assessor de imagem; parecia que estava em
campanha eleitoral – o que, de certa forma, não será totalmente errado.
A sua calma olímpica só pareceu
beliscada com a questão da Cruz Vermelha de Angola e com a sua putativa
demissão do cargo de presidente desta reconhecida entidade de solidariedade
nacional.
E pareceu safar-se, demonstrando
que o seu cargo é meramente honorífico – ou seja não remunerado – e que a
gestão da CVA depende dos fundos que são disponibilizados pelo OGE que o
Executivo – discreto ataque – disponibiliza; além de, na sua opinião, a
propalada Comissão de gestão que terá sido criada, não terá base estatutária.
No resto, entre os ataques e
contra-ataques à actual administração, particularmente no que tange à
preocupante situação social, económica e financeira da empresa, Isabel dos
Santos, por mais de uma vez, remeteu para um relatório da administração de
Francisco Lemos que apresentava já essas deficiências.
O único, para mim, facto em que
Isabel dos Santos poderá ter ganho um ponto importante, foi com a abertura de
conta no banco norte-americano Merrill Lynch; como se sabe, quer o Estado
de Angola, quer – e principalmente -a Sonangol estavam condicionados, ou mesmo
impedidos, de movimentar contas bancárias em dólares em território
norte-americano. E, de acordo com a empresária, ela conseguiu que isso fosse
possível.
De resto, e voltando a citar
Guilherme Galiano quando questionou, quase no fim Isabel dos Santos «até
quando este lavar de roupa suja em praça pública?», e apesar da PGR estar – ou
dever estar – a trabalhar, juridicamente no caso, este parece estar para durar
e que vamos continuar a ver e ouvir pedras no ar entre o pós-calado Carlos
Saturnino e a mediática Isabel dos Santos.
De uma coisa, temos de
reconhecer, Isabel dos Santos mostra as mãos e as pedras, atira-as e fica
pronta para o retorno. Até agora, tem se mantido incólume. Aguardemos, como ela
também diz aguardar, que a PGR faça o seu trabalho!
*Investigador do Centro de
Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e Pós-Doutorando da Faculdade de
Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**
** Todos os textos por mim escritos
só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado
- em Vivências Press News
*Eugénio Costa Almeida – Pululu - Página de um lusofónico
angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e
Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais - nele
poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a
actividade académica, social e associativa.
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