Governo cabo-verdiano entregou
esta segunda-feira (26.03) a candidatura da morna a Património Imaterial da
Humanidade. Resultado só será conhecido em dezembro 2019.
Internacionalizada pela voz de
Cesária Évora, a morna é um dos mais antigos géneros musicais cabo-verdianos.
Para o investigador César Monteiro, que conta já várias publicações sobre
cultura e música cabo-verdianas, é um símbolo de unidade nacional.
"A morna é um fator de
unidade nacional e um elo entre os cabo-verdianos residentes em Cabo Verde e as
comunidades emigradas e, ao mesmo tempo, um fator de comunicação. A morna
é a expressão da alma cabo-verdiana", descreve.
O dossier de candidatura da morna
a Património Imaterial da Humanidade foi entregue esta segunda-feira, na
UNESCO e custou 150 000 euros ao Governo. São cerca de 6.000 páginas,
fotografias, um filme de 10 minutos sobre este género musical e ainda
manifestações de apoio de mais de 600 pessoas. É o produto de cinco anos de
intenso trabalho coordenado pela historiadora Sandra Mascarenhas, que espera
por um resultado favorável.
"Eu creio que
nós conseguimos ao longo desse tempo de trabalho fazer uma candidatura que
ambicionamos ser ganhadora. Tecnicamente, responde a todos os requisitos que a
UNESCO nos pede, neste momento".
Em entrevista à Rádio de Cabo
Verde, a historiadora destaca como pontos fortes desta candidatura a
valorização linguística do crioulo e a sua importância sócio-cultural no
quotidiano de cidadãos de Cabo Verde.
"Há um terceiro fator
que também foi utilizado aquando da candidatura da Cidade Velha a Património
Mundial e foi fundamental na classificação que é o facto de ser algo que nasce
aqui no Atlântico da inter-penetração cultural de vários povos",
acrescenta ainda Sandra Mascarenhas.
Por estas riquezas e pela
qualidade técnica do dossier, também Abraão Vicente, ministro da
Cultura e das Indústrias Criativas, acredita que estão reunidas todas as
condições para que a morna seja reconhecida como Património Imaterial da
Humanidade.
"Eu estou convencido
que temos todas as condições para tal. Não sou expert da UNESCO, mas pela
qualidade técnica do trabalho desenvolvido quer pelo Instituto de Património
Cultural (IPC) quer pela equipa técnica, eu creio que temos todas as
possibilidades de ter uma candidatura de sucesso".
Promover a morna dentro e fora do
país
Agora que a candidatura foi
entregue, começa uma outra fase que durará cerca de dois anos, pois os
resultados só serão conhecidos em dezembro 2019. A estratégia passa por
envolver toda a nação a fazer lobby por Cabo Verde, a começar pelo
Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, e realçar junto da UNESCO a
importância desta iniciativa para a nação cabo-verdiana.
"A minha proposta de
agenda pós entrega nesta segunda-feira é que ponhamos o próprio Presidente da
República envolvido defendendo na UNESCO a candidatura da morna, ponhamos o
Primeiro-ministro, o ministro dos Negócios Estrangeiros e toda a diplomacia
cabo-verdiana, porque esta não é uma causa deste Governo, nós herdamos a
ideia da morna a Património Imaterial da Humanidade mas não herdamos o dossier",
explica o ministro.
Para já, a nível interno a morna
já tem o seu dia nacional. No passado mês de fevereiro, o Parlamento
cabo-verdiano aprovou, por unanimidade, a data de 03 de dezembro como Dia
Nacional da Morna, dia em que nasceu Francisco Xavier da Cruz, mais conhecido
por B. Léza (1905 - 1958), considerado um dos maiores compositores deste género
musical e com uma influência inquestionável nas gerações futuras.
Este Dia Nacional da Morna
visa homenagear todos os outros compositores, músicos e intérpretes, exaltar e
reconhecer a sua importância e chamar atenção da sociedade cabo-verdiana para a
necessidade de valorização do género musical. Se a distinção da UNESCO for
alcançada, será outro grande passo para a morna.
Nélio dos Santos (Praia) |
Deutsche Welle
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