segunda-feira, 26 de março de 2018

Cabo Verde quer que morna seja Património Cultural Imaterial da UNESCO


Governo cabo-verdiano entregou esta segunda-feira (26.03) a candidatura da morna a Património Imaterial da Humanidade. Resultado só será conhecido em dezembro 2019.

Internacionalizada pela voz de Cesária Évora, a morna é um dos mais antigos géneros musicais cabo-verdianos. Para o investigador César Monteiro,  que conta já várias publicações sobre cultura e música cabo-verdianas, é um símbolo de unidade nacional.

 "A morna é um fator de unidade nacional e um elo entre os cabo-verdianos residentes em Cabo Verde e as comunidades emigradas e, ao mesmo tempo, um fator de comunicação. A morna é a expressão da alma cabo-verdiana", descreve. 
     
O dossier de candidatura da morna a Património Imaterial da Humanidade foi entregue esta segunda-feira, na UNESCO e custou 150 000 euros ao Governo. São cerca de 6.000 páginas, fotografias, um filme de 10 minutos sobre este género musical e ainda manifestações de apoio de mais de 600 pessoas. É o produto de cinco anos de intenso trabalho coordenado pela historiadora Sandra Mascarenhas, que espera por um resultado favorável.

"Eu  creio que nós conseguimos ao longo desse tempo de trabalho fazer uma candidatura que ambicionamos ser ganhadora. Tecnicamente, responde a todos os requisitos que a UNESCO nos pede, neste momento".

Em entrevista à Rádio de Cabo Verde, a historiadora destaca como pontos fortes desta candidatura a valorização linguística do crioulo e a sua importância sócio-cultural no quotidiano de cidadãos de Cabo Verde.

 "Há um terceiro fator que também foi utilizado aquando da candidatura da Cidade Velha a Património Mundial e foi fundamental na classificação que é o facto de ser algo que nasce aqui no Atlântico da inter-penetração cultural de vários povos", acrescenta ainda Sandra Mascarenhas.

Por estas riquezas e pela qualidade técnica do dossier, também Abraão Vicente, ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, acredita que estão reunidas todas as condições para que a morna seja reconhecida como Património Imaterial da Humanidade.

 "Eu estou convencido que temos todas as condições para tal. Não sou expert da UNESCO, mas pela qualidade técnica do trabalho desenvolvido quer pelo Instituto de Património Cultural (IPC) quer pela equipa técnica, eu creio que temos todas as possibilidades de ter uma candidatura de sucesso".

Promover a morna dentro e fora do país

Agora que a candidatura foi entregue, começa uma outra fase que durará cerca de dois anos, pois os resultados só serão conhecidos em dezembro 2019. A estratégia passa por envolver toda a nação a fazer lobby por Cabo Verde, a começar pelo Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, e realçar junto da UNESCO a importância desta iniciativa para a nação cabo-verdiana.

 "A minha proposta de agenda pós entrega nesta segunda-feira é que ponhamos o próprio Presidente da República envolvido defendendo na UNESCO a candidatura da morna, ponhamos o Primeiro-ministro, o ministro dos Negócios Estrangeiros e toda a diplomacia cabo-verdiana, porque esta não é uma causa deste Governo, nós herdamos a ideia da morna a Património Imaterial da Humanidade mas não herdamos o dossier", explica o ministro.

Para já, a nível interno a morna já tem o seu dia nacional. No passado mês de fevereiro, o Parlamento cabo-verdiano aprovou, por unanimidade, a data de 03 de dezembro como Dia Nacional da Morna, dia em que nasceu Francisco Xavier da Cruz, mais conhecido por B. Léza (1905 - 1958), considerado um dos maiores compositores deste género musical e com uma influência inquestionável nas gerações futuras.

Este Dia Nacional da Morna visa homenagear todos os outros compositores, músicos e intérpretes, exaltar e reconhecer a sua importância e chamar atenção da sociedade cabo-verdiana para a necessidade de valorização do género musical. Se a distinção da UNESCO for alcançada, será outro grande passo para a morna.

Nélio dos Santos (Praia) | Deutsche Welle

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