segunda-feira, 26 de março de 2018

DEMOCRACIA DE FACHADA | Eleições presidenciais no Egito para reeleger Al-Sisi


Cerca de 59 milhões de egípcios são chamados às urnas, entre segunda e quarta-feira. Sem rivais de peso após purga seletiva, a vitória de Abdel Fatah al-Sisi, o mentor do golpe de 2013, está praticamente garantida.

As assembleias de voto abriram esta manhã para as eleições presidenciais, tendo o vencedor anunciado, o Presidente Abdel Fatah al-Sisi, votado no bairro de Masr al Yadida, no Cairo, antes do restantes eleitores.

Levantam-se dúvidas sobre a natureza democrática desta eleição. "Falta o fator da concorrência nestas presidenciais", lembra Emad Aldin Hussain, editor-chefe do jornal egípcio Shorouk. "O principal rival do Presidente cessante não tem um peso político real e, além disso, declarou-se a favor de Al-Sisi uma semana antes de apresentar a sua própria candidatura. Por isso, muitos acreditam que o resultado já é conhecido e que o Presidente Al-Sisi vai vencer", explica.

Moussa Mostafa Moussa, o único candidato que não se retirou da corrida ou não foi detido, é um fervoroso adepto do Presidente e optou por uma campanha discreta. No final, acabou por reconhecer que se apresentou para que o escrutínio não se assemelhe a um referendo.

Todos os candidatos da oposição abandonaram a corrida eleitoral ou foram forçados a fazê-lo. O general Sami Anan, alvo de uma acção judicial, foi impedido de participar por se ter envolvido na campanha "sem a autorização das Forças Armadas".

O ex-primeiro-ministro Ahmed Shafik renunciou também à sua candidatura. Depois de ter sido conduzido a um hotel no Cairo quando regressava dos Emirados Árabes Unidos, onde estava exilado, o antigo comandante da Força Aérea egípcia foi autorizado a abandonar o edifício apenas depois de desistir da candidatura no início de janeiro, permanecendo na prática em prisão domiciliária. Outros quatro candidatos abandonaram a corrida por falta de mobilização.

Um vazio que beneficia Al-Sisi, mesmo com a popularidade em baixa devido à repressão da oposição e as duras medidas económicas sob pressão do Fundo Monetário Internacional (FMI), que levaram à subida dos preços. No Ocidente, o ex-marechal é visto como um garante da estabilidade.

Sem mudanças

O Presidente, de 63 anos, tenta também conquistar o apoio feminino. O actual Governo conta com seis ministras. E no plano religioso, Abdel Fatah Al-Sisi evita tomar uma posição radical contra o Islão. Acima de tudo, cultiva uma imagem de "menos conversa, mais ação". "Eu não sou um político que só fala, nunca o fiz. Estamos a construir o país, mas não com palavras", declarou.

Para o diretor do jornal egípcio Shorouk, a reeleição de Al-Sisi não trará grandes mudanças. "Significa que ele vai continuar a sua política, não vai mudar muito - em particular, na questão da abertura económica. E a nível político também não se espera uma abertura nos próximos quatro anos", prevê Emad Aldin Hussain.

"A avaliação depende da perspetiva: para os apoiantes de Al-Sisi, ele preservou a estabilidade e evitou a guerra civil. Os seus adversários dizem que as políticas económicas aumentaram a pobreza",lembra.

Nas eleições de 2014, o Presidente cessante obteve 97% dos votos, com uma taxa de participação de 47,5% segundo os números oficiais, muito contestados pela oposição. Entre esta segunda e quarta-feira (28.03), com a eleição praticamente decidida, a principal preocupação do Governo do Cairo consiste em garantir uma razoável taxa de participação para legitimar a reeleição de al-Sisi.

"Democracia de fachada"

"O atual sistema político no Egipto é considerado uma democracia de fachada. A preparação das eleições teve como principal objetivo garantir uma vitória esmagadora de Al-Sisi. E não há dúvidas de que vai sair vencedor", considera Günter Meyer, diretor do Centro de Estudos sobre o Mundo Árabe da Universidade de Mainz, na Alemanha.

A questão que se coloca é a da participação. "Em 2014, foi preciso um dia extra porque a participação foi demasiado baixa nos primeiros dois dias de eleições. Agora espera-se uma participação ainda mais baixa", acrescenta.

Entretanto, as embaixadas espanhola e britânica e a delegação da União Europeia (UE) no Cairo emitiram alertas acerca do perigo de ataques terroristas por ocasião das eleições presidenciais. No sábado (24.03), duas pessoas, entre elas um polícia, morreram na explosão de um carro-bomba em Alexandria.

O primeiro-ministro do Egito, Xerife Ismail, já garantiu que o atentado não vai desencorajar a participação dos egípcios no "processo democrático".

Abdel Fatah Al-Sisi prometeu não ir além dos dois mandatos constitucionais. Se assim for, será uma estreia no Egito moderno. Os cinco predecessores de Al-Sisi foram demitidos, morreram no cargo devido a causas naturais ou foram assassinados.

mjp, Fréjus Quénum, Bachir Amroune, Agência Lusa | em Deutsche Welle

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