Cerca de 59 milhões de egípcios
são chamados às urnas, entre segunda e quarta-feira. Sem rivais de peso após
purga seletiva, a vitória de Abdel Fatah al-Sisi, o mentor do golpe de 2013,
está praticamente garantida.
As assembleias de voto abriram
esta manhã para as eleições
presidenciais, tendo o vencedor anunciado, o Presidente
Abdel Fatah al-Sisi, votado no bairro de Masr al Yadida, no Cairo, antes do
restantes eleitores.
Levantam-se dúvidas sobre a
natureza democrática desta eleição. "Falta o fator da concorrência nestas
presidenciais", lembra Emad Aldin Hussain, editor-chefe do jornal egípcio
Shorouk. "O principal rival do Presidente cessante não tem um peso
político real e, além disso, declarou-se a favor de Al-Sisi uma semana antes de
apresentar a sua própria candidatura. Por isso, muitos acreditam que o
resultado já é conhecido e que o Presidente Al-Sisi vai vencer", explica.
Moussa Mostafa Moussa, o único
candidato que não se retirou da corrida ou não foi detido, é um fervoroso adepto
do Presidente e optou por uma campanha discreta. No final, acabou por
reconhecer que se apresentou para que o escrutínio não se assemelhe a um
referendo.
Todos os candidatos da oposição
abandonaram a corrida eleitoral ou foram forçados a fazê-lo. O general Sami
Anan, alvo de uma acção judicial, foi impedido de participar por se ter
envolvido na campanha "sem a autorização das Forças Armadas".
O ex-primeiro-ministro Ahmed
Shafik renunciou também à sua candidatura. Depois de ter sido conduzido a um
hotel no Cairo quando regressava dos Emirados Árabes Unidos, onde estava
exilado, o antigo comandante da Força Aérea egípcia foi autorizado a abandonar
o edifício apenas depois de desistir da candidatura no início de janeiro,
permanecendo na prática em prisão domiciliária. Outros quatro candidatos
abandonaram a corrida por falta de mobilização.
Um vazio que beneficia Al-Sisi,
mesmo com a popularidade em baixa devido à repressão da oposição e as duras
medidas económicas sob pressão do Fundo Monetário Internacional (FMI), que
levaram à subida dos preços. No Ocidente, o ex-marechal é visto como um garante
da estabilidade.
Sem mudanças
O Presidente, de 63 anos, tenta
também conquistar o apoio feminino. O actual Governo conta com seis ministras.
E no plano religioso, Abdel Fatah Al-Sisi evita tomar uma posição radical
contra o Islão. Acima de tudo, cultiva uma imagem de "menos conversa, mais
ação". "Eu não sou um político que só fala, nunca o fiz. Estamos a
construir o país, mas não com palavras", declarou.
Para o diretor do jornal egípcio
Shorouk, a reeleição de Al-Sisi não trará grandes mudanças. "Significa que
ele vai continuar a sua política, não vai mudar muito - em particular, na
questão da abertura económica. E a nível político também não se espera uma
abertura nos próximos quatro anos", prevê Emad Aldin Hussain.
"A avaliação depende da
perspetiva: para os apoiantes de Al-Sisi, ele preservou a estabilidade e evitou
a guerra civil. Os seus adversários dizem que as políticas económicas
aumentaram a pobreza",lembra.
Nas eleições de 2014, o
Presidente cessante obteve 97% dos votos, com uma taxa de participação de 47,5%
segundo os números oficiais, muito contestados pela oposição. Entre esta
segunda e quarta-feira (28.03), com a eleição praticamente decidida, a
principal preocupação do Governo do Cairo consiste em garantir uma razoável
taxa de participação para legitimar a reeleição de al-Sisi.
"Democracia de fachada"
"O atual sistema político no
Egipto é considerado uma democracia de fachada. A preparação das eleições teve
como principal objetivo garantir uma vitória esmagadora de Al-Sisi. E não há
dúvidas de que vai sair vencedor", considera Günter Meyer, diretor do
Centro de Estudos sobre o Mundo Árabe da Universidade de Mainz, na Alemanha.
A questão que se coloca é a da
participação. "Em 2014, foi preciso um dia extra porque a participação foi
demasiado baixa nos primeiros dois dias de eleições. Agora espera-se uma
participação ainda mais baixa", acrescenta.
Entretanto, as embaixadas
espanhola e britânica e a delegação da União Europeia (UE) no Cairo emitiram
alertas acerca do perigo de ataques terroristas por ocasião das eleições
presidenciais. No sábado (24.03), duas pessoas, entre elas um polícia, morreram
na explosão de um carro-bomba em Alexandria.
O primeiro-ministro do Egito,
Xerife Ismail, já garantiu que o atentado não vai desencorajar a participação
dos egípcios no "processo democrático".
Abdel Fatah Al-Sisi prometeu não
ir além dos dois mandatos constitucionais. Se assim for, será uma estreia no
Egito moderno. Os cinco predecessores de Al-Sisi foram demitidos, morreram no
cargo devido a causas naturais ou foram assassinados.
mjp, Fréjus Quénum, Bachir
Amroune, Agência Lusa | em Deutsche Welle
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