A comissão técnica independente
que analisou os incêndios de outubro de 2017 revela escassez de meios e
considera que "as populações ficaram entregues a si próprias".
Segundo o relatório entregue na
Assembleia da República, esta situação de abandono foi sobretudo sentida a 15
de outubro.
O documento que faz uma análise
aos incêndios que deflagraram nos dias 14, 15 e 16 de outubro de 2017, com um
total de 48 mortos, indica que "por momentos iniciais" foram
cumpridas as determinações fixadas nas diretivas.
"Mas rapidamente se
verificou não haver possibilidade de manter a estratégia teoricamente fixada,
sobretudo devido a duas razões: dificuldade de mobilizar forças suficientes
perante o número de ignições que se sucediam em áreas de grande dimensão e
impossibilidade de dar uma resposta a todos os incêndios por parte dos corpos
de bombeiros", sublinha o relatório.
A impossibilidade de dar uma
resposta esteve relacionada, refere o documento, com o facto de se estar em
outubro e na fase Delta de combate a incêndios em que há "uma capacidade
de mobilização limitada".
Os peritos da comissão sustentam
que, na fase de ataque inicial, "a dispersão dos fogos, a sua velocidade
de expansão e a respetiva severidade impediram muitas vezes a aplicação do
conceito de triangulação, até porque os corpos de bombeiros que se tinham movimentado
para teatros de operações afastados dos seus concelhos tiveram de regressar aos
seus concelhos de origem de forma a garantirem o combate aos incêndios que
eclodiram na sua área de atuação própria".
Em relação ao ataque ampliado,
que implica o recurso a forças exteriores, terrestres e aéreas, registou
"enormes dificuldades para a respetiva concretização", uma vez que o
número significativo das forças nacionais "estava já descontinuado",
designadamente os meios aéreos, e a quantidade enorme de solicitações impediu
que a alocação de meios se fizesse de acordo com as normas operacionais
estabelecidas.
"Os contactos realizados
permitem concluir que, em muitas situações, não havia possibilidade alguma de
combater o incêndio. Nalguns concelhos, o fogo entrou por várias direções, com
uma velocidade e severidade nada habitual, pelo que o esforço se concentrou
naturalmente na defesa de pessoas e bens. E nem sempre com êxito", lê-se
no relatório.
Dá também conta que os postos de
comando operacional "estavam desfasados na sua dimensão e complexidade,
não conseguindo corresponder às necessidades exigidas pelo ataque ao fogo".
Nesse sentido, a comissão nomeada
pelo parlamento aponta nove questões que são necessárias corrigir no sentido de
melhorar a eficácia do combate, designadamente a localização deficiente dos
postos de comando operacional, organizar uma primeira intervenção da
responsabilidade de forças devidamente profissionalizadas e colocadas num
estado de alerta logo após a difusão dos estados de alerta e definir um sistema
de mobilização de meios aéreos nos momentos em que são mais necessários,
independente das épocas do ano.
É também recomendado a adoção de
um sistema de comunicação eficiente, garantindo as necessárias redundâncias
para impedir falhas de ligação entre as forças operacionais e os postos de
comando, utilização criteriosa dos estados de alerta, acompanhando cada um
deles de iniciativas precisas e necessárias sobre as iniciativas a tomar e
evitando uma vulgarização destes avisos, e dinamização do patamar municipal,
através dos serviços municipais e das unidades locais de proteção civil,
reconhecendo-se que esta terão sido as grandes ausente dos incêndios de outubro
de 2017, além de conferir operacionalidade aos planos Municipais de emergência,
transformando-os em instrumentos mobilizadores e de ação.
Sensibilizar as populações para
uma maior cidadania e adoção de uma cultura territorial que garanta uma
preparação de defesa pessoal contra catástrofes e definindo meios locais para
as enfrentar e criar um sistema robusto de informação, que permita abranger
genericamente a população e difundir com eficácia os alertas e avisos nos
momentos críticos, são outras propostas para melhorar o combate aos fogos.
Jornal de Notícias | Foto: Rui
Oliveira / Global Imagens
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