Em telefonema, líderes da
Alemanha, França e Reino Unido avaliam encontros recentes com Trump e reafirmam
apoio ao acordo nuclear iraniano. Sobre tarifas comerciais de Washington à UE,
dizem estar "prontos para reagir".
A chanceler federal alemã, Angela
Merkel, o presidente francês, Emmanuel Macron, e a primeira–ministra britânica,
Theresa May, conversaram por telefone neste fim de semana para avaliar os
recentes encontros com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Segundo comunicaram os três
governos neste domingo (29/04), as conversas entre os líderes europeus se
centraram no acordo nuclear com o Irã e nas relações comerciais entre Bruxelas
e Washington, em meio a tarifas comerciais impostas por Trump à União Europeia
(UE).
Em comunicado, o gabinete da
premiê britânica afirmou que, durante o telefonema, Merkel, Macron e May
reafirmaram o apoio europeu ao acordo nuclear iraniano, descrevendo-o como a
"melhor maneira de neutralizar a ameaça de um Irã munido de armas
nucleares".
Segundo o texto, os três líderes
concordaram que existem "elementos importantes" fora do acordo, os
quais precisam ser abordados entre as potências. Entre os temas estão mísseis
balísticos; o que acontece quando o pacto expirar; e a atividade
desestabilizadora do Irã na região.
"Eles se comprometeram a
continuar trabalhando juntos entre si e com os EUA para descobrir como
enfrentar a série de desafios que Teerã representa, incluindo essas questões
que um novo acordo pode incluir", diz o comunicado do governo britânico.
Os três governantes ainda
reiteraram que sua prioridade, "como comunidade internacional, continua
sendo impedir o Irã de desenvolver armas nucleares".
Em outro comunicado, o governo
francês disse que Macron está tentando criar um eixo com Berlim e Londres que
considera "decisivo" para convencer os EUA a não abandonarem o acordo
com o Irã. O pacto, por sua vez, seria "decisivo para preservar os
interesses" dos três países e sua segurança.
O porta-voz do governo alemão,
Steffen Seibert, ainda acrescentou que Alemanha, França e Reino Unido estão
dispostos a elaborar, "em um texto mais amplo e com a presença de todos as
partes envolvidas", medidas adicionais ao acordo.
Em telefonema com Macron neste
domingo, o presidente iraniano, Hassan Rohani, afirmou que o pacto nuclear
"não é negociável de maneira nenhuma", reiterando a posição
firme de Teerã em relação à questão. "O Irã não aceitará qualquer
restrição além de seus compromissos", disse ele ao presidente francês,
segundo a página da presidência do Irã na internet.
A ameaça de Trump ao acordo
O pacto foi assinado em 2015 pelo
ex-presidente americano Barack Obama, envolvendo, além de Irã e EUA, a
Alemanha, a França, a China, o Reino Unido e a Rússia. Ele visava restringir o
programa nuclear iraniano em troca do alívio das sanções internacionais ao
país.
Trump tem até 12 de maio para
decidir o futuro do acordo – isso porque as sanções americanas são revistas
periodicamente. Na vez passada, em 12 de janeiro, o presidente disse que aquela
seria a "última vez" que manteria as sanções suspensas.
Mais recentemente, Trump reiterou
sua ameaça de descumprir o acordo, a menos que seus aliados europeus consertem,
até o dia 12, as "terríveis falhas" presentes no pacto.
Em encontro
com Macron em Washington no início da semana, o presidente americano
afirmou que o trato com Teerã possui "bases decadentes". "É um
acordo ruim, com uma estrutura ruim, e está desmoronando", criticou o
republicano.
Na ocasião, Trump ainda usou
linguagem forte para acusar Teerã de causar problemas em toda a região.
"Não importa aonde você vá no Oriente Médio, o Irã parece estar por trás
de todos os lugares onde há problemas", disse ele na última terça-feira.
A viagem do presidente francês
aos Estados Unidos foi seguida de uma visita
de Merkel a Trump, na sexta-feira, e faz parte do esforço
europeu para convencer o presidente americano a permanecer no acordo
com o Irã.
Em seu encontro na Casa Branca,
Macron propôs buscar um "novo acordo" além do existente. Merkel
acrescentou depois que a Alemanha também acha que é preciso "adicionar mais",
uma vez que as cláusulas atuais "não são suficientes para conferir ao Irã
um papel baseado na confiança".
Deutsche Welle
Os pontos de divergência entre
Merkel e Trump
Chanceler alemã faz ofensiva para
tentar fazer presidente americano mudar de ideia em várias frentes.
Divergências vão desde tarifas e balança comercial até acordo nuclear com o Irã
e despesas com defesa.
Em missão delicada e num momento
tenso das relações entre Estados Unidos e Alemanha, a chanceler federal Angela
Merkel viajou para Washington nesta quinta-feira (26/04) para um encontro com o
presidente americano, Donald Trump.
O encontro, nesta sexta-feira,
acontece poucos dias antes do fim do período de isenção das tarifasamericanas
de importação de aço e alumínio, válido para países europeus até 1° de
maio. Merkel quer convencer Trump a pelo menos adiar o fim do prazo para a
Alemanha.
O encontro de Merkel com Trump
também ocorrerá poucos dias depois da passagem do presidente da França,
Emmanuel Macron, por Washington.
Além da ameaça de uma guerra
comercial entre os Estados Unidos e a Europa, outros temas do encontro
desta sexta deverão ser a guerra civil na Síria e o acordo nuclear com o
Irã, assim como as críticas do governo Trump ao projeto do gasoduto
Nordstream 2, no Mar Báltico, de que a Alemanha se tornará muito dependente do
gás russo.
Esta é a segunda visita que
Merkel faz a Trump desde que este assumiu a Casa Branca, em janeiro de 2017.
Apesar de Berlim declarar que a chanceler quer aprofundar as
"excelentes" relações econômicas entre os dois países, vários
assuntos da agenda internacional opõem os dois líderes políticos. Entenda quais
são:
O acordo nuclear com o Irã
A Alemanha apoia firmemente o
JCPOA, sigla em inglês para Plano Integral de Ação Conjunta, nome oficial do
acordo nuclear firmado em 2015 entre o Irã, a Alemanha e as cinco potências do
Conselho de Segurança (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China). No
pacto, Teerã prometeu restringir seu programa nuclear e não desenvolver
armas nucleares. Em troca, haveria um relaxamento das sanções das Nações
Unidas, da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos.
Já Trump chamou o JCPOA de
"pior acordo de todos os tempos" e acusou o governo iraniano de não
cumpri-lo. Em outubro, o presidente americano se recusou a certificar que
o Irã está respeitando o acordo – um atestado requerido a cada 120 dias –, mas
não chegou a rompê-lo.
Porém, ele ameaçou voltar a impor
sanções secundárias a países que fazem negócios com o Irã – o que, basicamente,
afundaria o acordo. A Alemanha e seus parceiros europeus gostariam de evitar
esse cenário.
Desequilíbrios comerciais e
tarifas
Trump acusa a UE – e a Alemanha,
em particular – de uma relação econômica injusta com os EUA. Como prova dessa
suposta desigualdade, ele cita o déficit comercial de 50 bilhões de dólares com
a Alemanha. A indústria automobilística alemã é um dos alvos favoritos dos
ataques do presidente americano.
Trump também ameaçou impor
tarifas a importações europeias de aço e alumínio, que podem entrar em vigor em
1° de maio, quando se encerra um período temporário de exceção aos europeus. A
Comissão Europeia avalia que a exceção será mantida por mais algum tempo, mas o
governo da Alemanha não conta com isso.
O protecionismo econômico de
Trump também acarretou o fim
das negociações para um tratado de livre comércio entre os EUA e a UE,
conhecido pela sigla em inglês TTIP.
A Alemanha apoia o livre comércio
global e gostaria de ver o retorno do TTIP, que a Comissão Europeia diz
que impulsionaria a economia do bloco em 120 bilhões de euros e a dos
Estados Unidos em 90 bilhões de euros.
A Alemanha argumenta que as
tarifas europeias sobre a totalidade dos produtos americanos que entram no
bloco são, em média, ligeiramente mais baixas que as tarifas americanas sobre
os produtos europeus. A Alemanha também indicou disposição para renegociar
acordos tarifários – o último deles foi fechado em 1994. Mas, se Trump iniciar
uma guerra comercial, Berlim ameaçou responder na mesma moeda, defendendo a
proposta de a UE taxar produtos americanos como motocicletas, calças jeans
e uísque.
Gastos com defesa
Trump acusa a Alemanha de
gastar muito pouco com defesa – ou seja, de tirar proveito dos investimentos
feitos por outros países da Otan, como os EUA. O presidente americano quer
que Berlim se comprometa a gastar 2%
do PIB no setor, alinhando-se a um objetivo estabelecido
pela Otan em 2014.
Atualmente, a Alemanha gasta
cerca de 1,2% do seu PIB (mais ou menos 37 bilhões de euros) com defesa. O
atual acordo de coalizão estabelece um leve aumento desses gastos, mas
nada perto dos 2% exigidos por Trump. Berlim argumenta que os montantes
relativamente altos que investe em ajuda ao desenvolvimento (23,3 bilhões de
euros em 2016) ajudam a evitar conflitos ao redor do mundo e deveriam ser
levados em conta como contribuição à segurança internacional.
Meio ambiente
A Alemanha é um dos maiores
defensores do Acordo de Paris para reduzir as emissões de gases poluentes e
combater o aquecimento global – apesar de Berlim
ja admitir que não conseguirá cumprir suas próprias metas
climáticas até 2020.
Trump anunciou que os Estados
Unidos vão deixar o acordo em novembro de 2020, a primeira data possível para
essa retirada. Apesar de o presidente americano sinalizar, mais tarde, que pode
reconsiderar essa decisão, a Alemanha parece trabalhar com a possibilidade de
que isso nunca acontecerá.
Imigrantes e refugiados
Em nenhum outro tema, o contraste
entre Merkel e Trump é tão grande quanto no tema imigrantes e refugiados.
Enquanto o presidente prometeu construir um muro entre os Estados Unidos e o
México para impedir a entrada de imigrantes ilegais, a chanceler adotou uma
política de boas-vindas na crise de refugiados de 2015.
Pouco depois de sua vitória nas
urnas, Trump disse ao diário alemão Bild que Merkel tinha cometido
"um erro catastrófico ao deixar todos aqueles ilegais entrarem no
país". Já Merkel afirmou que um muro na fronteira sul dos Estados Unidos
não resolverá o problema da imigração ilegal.
O gasoduto no Mar Báltico
Trump fez críticas pesadas aos
planos de Berlim para um segundo gasoduto no Mar Báltico, ligando a Rússia à
Alemanha. Segundo o presidente americano, isso aumentaria a dependência alemã
do Kremlin. Ele disse que a Alemanha acabaria pagando "bilhões de
dólares" para a Rússia. E acrescentou: "Isso não está certo".
Países-membros da UE no Leste
Europeu partilham das críticas americanas em relação ao gasoduto, enquanto a
Alemanha desconfia que os EUA querem exportar mais gás natural liquefeito para
a Europa.
Jefferson Chase (rk) | Deutsche
Welle
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