Vários bancos estão a falir em
São Tomé e Príncipe, transformando o Estado no maior cliente dos bancos que
sobrevivem para salvar o sistema financeiro.
Os bancos presentes na praça
financeira de São Tomé e Príncipe lutam pela sobrevivência. Dos oito bancos
existentes, a maioria foi atraída pela tão anunciada exploração conjunta de
petróleo entre a Nigéria e o arquipélago, em 2006.
Mas com o arrefecimento dos
negócios ligados à indústria petrolífera, na fronteira marítima entre os dois
Estados, os bancos injetaram na economia são-tomense dezenas de milhares de
euros, em 2012.
Quatro anos depois, os bancos
começaram a acumular prejuízos face à lenta recuperação do capital,
principalmente quando surgiram problemas político-institucionais, nos últimos
anos. Como consequência, registou-se a falência de alguns desses bancos.
Banco de desenvolvimento
para STP?
Face a este quadro, o economista
Felisberto Castilho, que foi presidente da associação dos bancos de São Tomé e
Príncipe entre 2015-2017, reconhece que "de facto, o sistema financeiro
vem vivendo alguma crise associada à baixa do preço do petróleo nos países
produtores que suportam o Orçamento Geral do Estado são-tomense, como é o caso
da Nigéria, Angola ou Gabão."
Castilho sublinha que
"dentro de pouco tempo, passaremos de oito para cinco instituições
bancárias."
Segundo vários economistas, a
falência dos bancos deve-se sobretudo a créditos malparados, sobretudo nos
setores do comércio e do crédito à habitação. Este é problema que afeta
também o tecido empresarial do arquipélago e que está na origem do "seu
gradual desaparecimento".
Cosme Rita, vice-presidente
da Câmara de Comércio, Indústria, Agricultura e Serviços de São Tomé e
Príncipe, considera que "os bancos comerciais não são mais
favoráveis, porque não ajudam no desenvolvimento do país. Para os agentes
económicos, entendemos que um banco de desenvolvimento é o mais ideal."
Queda das exportações
Para atrair investimento
estrangeiro, o Governo de São Tomé e Príncipe elaborou um conjunto de leis que
visava melhorar o ambiente de negócios. Em janeiro de 2017, foram introduzidas
várias reformas monetárias e fiscais, mas a produção interna continua muito
abaixo do desejado.
Dados recentes do Banco Central
indicam que as exportações de cacau, pimenta e baunilha atingiram somente 9
milhões euros, enquanto as importações chegaram aos 130 milhões euros.
Com a queda do preço do cacau no
mercado internacional em 2016, a economia são-tomense registou um impacto
negativo na economia. O cacau é o principal produto de exportação e
atração de divisas.
Segundo o Fundo Monetário
Internacional, em 2017 o crescimento económico desacelerou ligeiramente,
situando-se nos 3,9 por cento do Produto Interno Bruto, devido a uma diminuição
na entrada no país de fundos provenientes do exterior.
Para salvar o sistema financeiro,
que "está praticamente parado", o Estado passou a ser o príncipal
cliente dos bancos, como afirma Felisberto Castilho, também diretor geral do
BGFI Bank: "Em 2018, tivemos um equilíbrio do nosso resultado graças a
umas aplicações que nós fizemos com o Estado. Temos é que felicitar o Estado."
Petróleo não é a solução
Ainda assim, continua a haver
esperança no negócio do petróleo. Nos últimos tempos, a zona económica
exclusiva de São Tomé e Príncipe atraiu cinco empresas petrolíferas, entre elas
a americana Kosmos Energy, que prometeu realizar os primeiros furos de
prospeção em 2019.
Mas Cosme Rita, da Câmara de
Comércio, Indústria, Agricultura e Serviços, entende que o petróleo não é a
melhor alternativa para o país.
"O petróleo é um adicional,
mas não é mais prioritário. Vai contribuir para o desenvolvimento, mas temos
que aproveitar os recursos oriundos dessa exploração petrolífera para
desenvolvermos outras áreas que são fundamentais como o turismo e
agricultura", sugere Rita.
Ramusel Graça | Deutsche Welle
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