Os Governos de Angola e França
assinaram nesta segunda-feira (28.05.) acordos de cooperação em várias áreas,
com destaque para a Defesa e Economia. Uma nova era nas relações marcada por
degelo depois do caso Angolagate.
É a primeira visita de João
Lourenço a Paris e a Europa, desde que assumiu a Presidência de Angola em 2017.
A visita começou nesta segunda-feira e acontece a convite do Governo francês.
Depois do encontro com o seu
homólogo Emmanuel Macron, na conferência de imprensa João Lourenço
pronunciou-se: "Reafirmar aqui a vontade de Angola em estreitarmos cada
vez mais as nossas relações. Dai o facto de termos manifestado o interesse
em sermos membros, de alguma forma, como observadores ou membros de pleno
direito da organização internacional da francofonia pelo importante papel que
joga no mundo, mas muito em particular no nosso continente, África."
E Lourenço deixa
uma promessa: "Do nosso lado tudo faremos no sentido dos importantes
acordos que acabamos de ver assinados aqui nesta sala não ficarem apenas no
papel, mas refletirem-se, de facto, na prática com projetos concretos que vão
ajudar a desenvolver os nossos países no interesse dos angolanos e dos
franceses."
Mensagens implícitas
Fora o tradicional reforço dos
laços de cooperação nas áreas da Defesa, Agricultura, Economia
e formação de quadros oficialmente divulgado pelas presidências dos dois
países, a visita do Presidente angolano visa outros objetivos, principalmente
de caráter externo, considera o sociólogo angolano Paulo Inglês.
A visita está carregada de
mensagens implícitas dirigidas também a Portugal. Paulo Inglês considera que
"depois do affair Manuel Vicente em Portugal, que de certa
maneira desanuviam as relações com Portugal, João Lourenço quer mostrar também
que tem outras possibilidades de contato na Europa para além de Portugal, seu
tradicional parceiro."
E o analista acredita ainda em
relações baseadas na ética: "Depois o Presidente da França é novo e
imagino que as relações estejam baseadas em acordos mais transparentes. Também
para João Lourenço é uma forma de se mostrar ao mundo, depois de ter colocado
algumas peças nos seus lugares em casa, ao nível exterior está a tentar dar uma
imagem de que quer fazer coisas em Angola."
Mais transparência e menos
corrupção a partir de agora?
Por outro lado, a visita de João
Lourenço é vista como mais um passo para o fim definitivo das tensões entre
Angola e França, depois do escândalo Angolagate. Foi um caso de venda ilícita
de armas ao regime angolano durante a guerra civil, envolvendo figuras
políticas dos dois países. O caso que chegou à justiça envolvia entre outros
crimes, atos de corrupção.
E nesta visita de Lourenço a
cooperação na área da defesa está contemplada, embora não tenham sido
publicados detalhes.
Pode-se esperar mais
transparência e menos corrupção nas relações, a partir de agora? O sociólogo
responde: "Acho que sim porque o Angolagate, de facto, surgiu num contexto
de guerra. Agora o que se espera é que neste novo contexto e com o novo
Presidente os acordos sejam mais transparentes. Acho que neste momento há um
certo desanuviamento [das tensões], já houve um pouco com Sarkozy, foi o
primeiro a desanuviar isso."
Os interesses da França
E do lado da França convém também
continuar a quebrar o gelo. É que Paris tem vários interesses em
Angola, e um deles é geo-estratégico. Angola é vizinho de países de sua
influência.
E Paulo Inglês explica:
"Porque na altura Angola era importante porque havia conflitos na região
dos Grandes Lagos e viu-se que era importante ter boas relações com Angola. E
acho que a França quer contar com Angola, porque acha que é um país estável,
apesar de não haver muita democracia interna, mas mais estabilidade política,
tem um exército mais ou menos "domesticado" e isso pode ajudar a
resolver os problemas da região. Vejo a situação nesse sentido, mais do que o
negócio de compras de armas em si."
E não menos importante nesta
relação é a questão económica. A francesa Total é uma das petrolíferas mais
importantes e a mais antiga a operar em Angola. Garantir que assim continue a
ser também é interesse dos dois países.
"Uma petrolífera que tem
muitos interesses em Angola, sobretudo depois que Isabel dos Santos saiu da
Sonangol, há um certo desanuviamento nesse sentido. E acho que têm todos a
ganhar, tanto João Lourenço como a França", conclui Paulo Inglês.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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