CITANDO O CAMARADA CABRAL PARA
DEMONSTRAR A IMPERTINÊNCIA TOTAL DESTA EXTRAVAGANTE OFERTA DE VIATURAS AOS
DEPUTADOS E EM GERAL
Abdulai Keita* | opinião
Camarada Amílcar Cabral uma vez
disse num tom, primeiramente muito pessoal e depois geral, referindo-se a um
dos aspectos das suas ambições pessoais e a dos outros dirigentes, da melhoria
ou não das suas condições de vida ou de se tornarem ou não ricos, o que segue.
Cito, “a nossa luta na Guiné, não
é para mim, do ponto de vista material, de melhorar a vida. Se alguma vez na
minha vida, voltar a ter na nossa terra, na Guiné ou em Cabo Verde, a vida que
eu tinha antes… E mesmo, se os dirigentes da nossa terra amanhã, na Guiné ou em
Cabo Verde, viverem tão bem como eu vivia em Portugal, isso quererá dizer que o
nosso país é muito rico. Devemos estar vigilantes para não os deixarmos, os
nossos dirigentes, viverem assim, porque é uma vida demasiada boa, para um país
pobre que tem que trabalhar muito ainda” (A. Cabral, 1979:18, “Análise de
alguns tipos de resistência”, Ed. do PAIGC, Imprensa Nacional Bolama,
Guiné-Bissau, 136 p.).
Porque caso contrário, continuava
ele numa outra ocasião, é criar condições através da autoridade que esses
dirigentes e responsáveis terão amanhã na nossa terra graças à autoridade do
PAIGC e a do nosso povo, de constituir a camada de uma elite burocrática, cujo
interesse fundamental será o seguinte: defender seus privilégios contra os
interesses do povo.
Mas que fique claro, continuava
ele ainda, dizendo, a ideia fundamental do nosso Partido é que nós não queremos
nenhum privilégio para ninguém, contra os interesses do nosso povo. Somos
totalmente contra as ambições profundas daqueles que pensam, talvez já hoje,
“que a luta está abrir caminho para eles mesmos e as suas famílias ficarem cada
dia mais ricos. Isso, digo-vos desde já, é incompatível com os interesses do
nosso povo de sair da miséria, da ignorância, do sofrimento em que tem vivido
durante séculos na Guiné e Cabo Verde” (A. Cabral, 1971: 19, in: PAIGC,
“Reunião do Conselho Superior de Luta [9 a 16 de Agosto de 1971], sobre a
agressão à República da Guiné e os acontecimentos ulteriores nesse país,
Intervenção do camarada Amilcar Cabral; documento dactilografado não publicado,
30 p. na posse do autor).
Sendo assim, o líder fundador do
PAIGC concluía: Nós, os dirigentes, responsáveis e militantes do PAIGC, “na
medida em que somos capazes de pensar no nosso problema comum, nos problemas do
nosso povo, da nossa gente, pondo no devido nível os nossos problemas pessoais
e, se necessário, sacrificando os interesses pessoais, somos capazes de fazer
(até) milagres… […] ao serviço da liberdade e do progresso do nosso povo” (A. Cabral,
1978: 155, “III. O nosso Partido e a luta devem ser dirigidos pelos melhores
filhos do nosso povo“, in: Arma da teoria: unidade e luta, obras escolhidas, Lisboa,
Sera Nova, 2a ed., 248 p.).
Obrigado.
Pelo caminho de Cabral, “luta ka
na pudi maina” (N’Fanmara Mané, Djidiu di Luta).
Por uma Guiné-Bissau de Homem
Novo (Mulheres e Homens), íntegro, idôneo e, pensador com a sua própria cabeça.
Que reine o bom senso e modéstia.
Amizade.
A. Keita
*Pesquisador Independente e
Sociólogo (DEA/ED) | E-mail : abikeita@yahoo.fr
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