O nosso país, apesar de entre os
países da União Europeia ter a terceira maior Zona Económica
Exclusiva, é deficitário em produtos da pesca e, em quase todos os grandes
grupos de produtos alimentares.
José Alberto Lourenço |
AbrilAbril | opinião
A análise da evolução da balança
alimentar de qualquer país constitui um indicador fundamental de avaliação da
sua soberania, reflectida na sua maior ou menor dependência do exterior em bens
agro-alimentares.
No caso português essa avaliação
conduz-nos invariavelmente à nossa adesão à CEE em 1986 e às consequências
directas sobre o sector primário (agricultura, silvicultura, pecuária e pesca)
da chamada política agrícola comum e da política comum das pescas.
Uma e outra permanecem na nossa
memória colectiva como incentivadoras de abandono das terras, de abate de gado,
de redução da frota de pescas, de diminuição da captura de pescado, em suma do
crescente abandono da agricultura e pescas.
Por mais que se procure esconder
a realidade, os números não mentem e aí estão eles de forma nua e crua a
espelharem a evolução do nosso sector primário: a produção agrícola
caiu 44% em termos reais, entre 1986 e 2017, e o emprego cerca de 66% –
este sector empregava cerca de 900 mil trabalhadores para agora empregar
pouco mais de 300 mil –, enquanto o sector das pescas viu a captura de
pescado reduzir-se 63% e o emprego 60%.
A quebra registada na
produção de cereais (85%), de plantas forrageiras e de batatas (75%),
de outros produtos vegetais (60%) e de
frutos (12%) são, juntamente com a quebra na produção animal e
no pescado, os exemplos mais significativos e que nos nossos dias têm impacto
nas necessidades acrescidas de importações e consequentemente no nosso
défice alimentar.
Os dados mais recentes
divulgados pelo INE referentes à nossa balança comercial de bens alimentares
mostram que o défice desta balança atingiu em 2017 cerca de 4 mil milhões de
euros, 29% do nosso défice comercial de bens.
O nosso país, apesar de entre os
países da União Europeia ter a terceira maior Zona Económica
Exclusiva, é deficitário em produtos da pesca e, em quase todos os grandes
grupos de produtos do reino animal, reino vegetal e produtos das indústrias
alimentares.
A excepção são as
bebidas, líquidos alcoólicos e vinagres, a preparação de produtos hortícolas e
de frutas, e as gorduras e óleos animais ou vegetais. Em tudo o resto, o nosso
país depende do exterior para satisfazer plenamente as suas necessidades
alimentares.
Balança alimentar em 2017
Principais produtos deficitários (em milhares de euros) |
Saldo
|
-3 983 700
|
Peixes e crustáceos, moluscos e
outros invertebrados aquáticos
|
-1 048 100
|
Carnes e miudezas, comestíveis
|
-823 700
|
Cereais
|
-703 600
|
Sementes e frutos oleaginosos;
grãos, sementes, etc.
|
-564 300
|
Resíduos e desperdícios das
indústrias alimentares; alimentos preparados para animais
|
-240 400
|
Preparações alimentícias
diversas
|
-227 300
|
Preparações à base de cereais,
farinhas, amidos, féculas ou leite; produtos de pastelaria
|
-193 200
|
Cacau e suas preparações
|
-178 700
|
Café, chá, mate e especiarias
|
-172 700
|
Leite e lacticínios; ovos de
aves; mel natural; produtos comestíveis de origem animal, n. e.
|
-163 500
|
Frutas; cascas de citrinos e de
melões
|
-112 900
|
Produtos hortícolas, plantas,
raízes e tubérculos comestíveis
|
-87 200
|
Fonte: Estatísticas do Comércio
Externo (INE)
|
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O quadro anterior é bem
elucidativo da situação preocupante de dependência externa alimentar em que o
nosso país se encontra e para a qual fomos conduzidos após a nossa adesão à
CEE, através da destruição do nosso aparelho produtivo, da asfixia dos pequenos
e médios comerciantes pelas grandes superfícies comerciais, da liberalização do
comércio mundial e das imposições da política agrícola comum e da política
comum das pescas.
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