quinta-feira, 31 de maio de 2018

Portugal | Balança alimentar


O nosso país, apesar de entre os países da União Europeia ter a terceira maior Zona Económica Exclusiva, é deficitário em produtos da pesca e, em quase todos os grandes grupos de produtos alimentares.

José Alberto Lourenço | AbrilAbril | opinião

A análise da evolução da balança alimentar de qualquer país constitui um indicador fundamental de avaliação da sua soberania, reflectida na sua maior ou menor dependência do exterior em bens agro-alimentares.

No caso português essa avaliação conduz-nos invariavelmente à nossa adesão à CEE em 1986 e às consequências directas sobre o sector primário (agricultura, silvicultura, pecuária e pesca) da chamada política agrícola comum e da política comum das pescas.

Uma e outra permanecem na nossa memória colectiva como incentivadoras de abandono das terras, de abate de gado, de redução da frota de pescas, de diminuição da captura de pescado, em suma do crescente abandono da agricultura e pescas.

Por mais que se procure esconder a realidade, os números não mentem e aí estão eles de forma nua e crua a espelharem a evolução do nosso sector primário: a produção agrícola caiu 44% em termos reais, entre 1986 e 2017, e o emprego cerca de 66% – este sector empregava cerca de 900 mil trabalhadores para agora empregar pouco mais de 300 mil –, enquanto o sector das pescas viu a captura de pescado reduzir-se 63% e o emprego 60%.

A quebra registada na produção de cereais (85%), de plantas forrageiras e de batatas (75%), de outros produtos vegetais (60%) e de frutos (12%) são, juntamente com a quebra na produção animal e no pescado, os exemplos mais significativos e que nos nossos dias têm impacto nas necessidades acrescidas de importações e consequentemente no nosso défice alimentar.

 Os dados mais recentes divulgados pelo INE referentes à nossa balança comercial de bens alimentares mostram que o défice desta balança atingiu em 2017 cerca de 4 mil milhões de euros, 29% do nosso défice comercial de bens. 

O nosso país, apesar de entre os países da União Europeia ter a terceira maior Zona Económica Exclusiva, é deficitário em produtos da pesca e, em quase todos os grandes grupos de produtos do reino animal, reino vegetal e produtos das indústrias alimentares.

A excepção são as bebidas, líquidos alcoólicos e vinagres, a preparação de produtos hortícolas e de frutas, e as gorduras e óleos animais ou vegetais. Em tudo o resto, o nosso país depende do exterior para satisfazer plenamente as suas necessidades alimentares.

Balança alimentar em 2017

Principais produtos deficitários (em milhares de euros)

Saldo
-3 983 700
Peixes e crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos
-1 048 100
Carnes e miudezas, comestíveis
-823 700
Cereais
-703 600
Sementes e frutos oleaginosos; grãos, sementes, etc.
-564 300
Resíduos e desperdícios das indústrias alimentares; alimentos preparados para animais
-240 400
Preparações alimentícias diversas
-227 300
Preparações à base de cereais, farinhas, amidos, féculas ou leite; produtos de pastelaria
-193 200
Cacau e suas preparações
-178 700
Café, chá, mate e especiarias
-172 700
Leite e lacticínios; ovos de aves; mel natural; produtos comestíveis de origem animal, n. e.
-163 500
Frutas; cascas de citrinos e de melões
-112 900
Produtos hortícolas, plantas, raízes e tubérculos comestíveis
-87 200
Fonte: Estatísticas do Comércio Externo (INE)
O quadro anterior é bem elucidativo da situação preocupante de dependência externa alimentar em que o nosso país se encontra e para a qual fomos conduzidos após a nossa adesão à CEE, através da destruição do nosso aparelho produtivo, da asfixia dos pequenos e médios comerciantes pelas grandes superfícies comerciais, da liberalização do comércio mundial e das imposições da política agrícola comum e da política comum das pescas. 

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