Ricardo Marques serve hoje o
Expresso Curto, com cafeína, acerca da tragédia de Pedrógão Grande e os
documentos desaparecidos sobre as primeiras horas e a ineficácia dos organismos
que deviam atuar corretamente e não o fizeram.
Desapareceram os documentos,
conforme o perfeito modo mafioso. Ora, ora, a impunidade é prato forte dessa
gente nos mais variados setores. De vez em quando a justiça, a PGR, lá dá um ar
da sua graça mas em modo de sol de pouca dura. Justiça? Não nos façam rir
porque de manhã ainda faz frio e o cieiro faz com que as boqueiras se arreganhem todas e doem-nos. É
que se houvesse realmente justiça em Portugal veríamos muitos “lá dentro” e expropiados. Mas não, o
que vimos é eles cá fora a dar ar aos milhões nos offshores do nosso pranto enquanto o povo é enganado e roubado por tantos energúmenos. Exemplo: o caso do senhor
Ricardo Salgado, e outras ilhargas e associados.
Se fossem só esses estávamos nós,
portugueses, menos-mal. Só que esta máfia já tem raízes há décadas, por isto e
aquilo, ali e acolá, e, o que é muito grave, cresce e está instalada à laia de betão armado no sistema económico, político e etc... É um polvo enorme sustentado pelos portugueses. Pelos enganados, explorados,
roubados e oprimidos. Só não sabe e sente isso quem não quer.
É hora de lerem o Curto. É o
melhor. O pior está nos parágrafos anteriores e até nos dá voltas às tripas. Pior
ainda é se um dia essas voltas nos sobem à cabeça e soltam a indignação e
revolta contidas. Não convém nada perdermos as estribeiras, assim como está
comprovado que não convém andar a sustentar chulos, corruptos, ladrões,
criminosos de colarinho branco que são detentores dos poderes, alguns eleitos mas a maioria nem por isso. A dificuldade já é saber quem são os inocentes em toda esta trama. O que é triste e inadmissível.
Adeus, até ao meu regresso… (MM |
PG)
Bom dia este é o
seu Expresso Curto
Não carregue no botão
Ricardo Marques | Expresso
Há um vídeo antigo de
apanhados com o qual já se deve ter cruzado na Internet. Um canal
brasileiro decidiu preparar a 'pegadinha' do ano e
encheu uma praça de figurantes, novos e velhos, como se fosse só mais um dia na
terra da alegria. No meio do jardim, debaixo de uma enorme seta vermelha,
colocaram um botão e uma mensagem: não 'aperte' no botão. Irresistível,
claro.
Quem passa, e não conhece a
história, talvez pense que nada de mal virá ao mundo se carregar no tal
botão. O aviso, colocado à vista de todos e perante o desinteresse
geral, funciona em sentido oposto para o alvo. É um convite a
fazer o contrário daquilo que deve ser feito, um irresistível
abismo para o qual a pessoa avança.
Mas mal o incauto transeunte
carrega no tal botão todos à sua volta caem por terra, como se estivessem
desmaiados ou pior. A praça cheia de vida fica mergulhada em silêncio, num
cenário pós-apocalíptico.
É tal e qual a história do
incêndio em Pedrógão, mas ao contrário. Ontem, o jornal Público carregou
no botão ao revelar as conclusões de uma 'esquecida' auditoria
interna da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) e o assunto, que
parecia adormecido ou pior – ainda que seja difícil esquecê-lo –, ganhou vida
própria, com gente a correr e a falar de todos os lados.
Compreende-se. Era difícil
imaginar que a história de Pedrógão pudesse ficar pior, mas a realidade é mesmo
assim e sabemos agora que desapareceram provas e documentos cruciais
para perceber o que correu mal nos primeiros momentos do combate ao
fogo e, acima de tudo e com sublinhado meu, para prevenir que os
erros se repitam. É isso que está no tal relatório da ANPC que ninguém
conhecia. Pode ver aqui o que pensam os bombeiros do estranho
desaparecimento.
Eduardo Cabrita, o ministro da
Administração Interna, apressou-se a
garantir, desde Marraquexe onde está em visita oficial, que o Governo não
escondeu qualquer relatório e que, ao fim de quase um ano, o conteúdo
do documento, que terá sido enviado ao Ministério Público em novembro, só não
era conhecido por o mesmo se encontrar em "segredo de justiça".
Ao final da noite, o
gabinete do ministro enviou uma nota às redações a dizer que não mas que sim ou
que sim mas que não. "O governo não vê inconveniente na
publicitaçãodo relatório, o que transmitiu à senhora procuradora-geral da
República, de modo a que seja avaliado o levantamento do segredo de
justiça", garantiu o MAI.
O PSD e o CDS 'atiraram-se' ao Governo, com acusações
de"ocultação" da auditoria e, através de uma nota
da Procuradoria Geral da República acerca do processo em segredo de
justiça, soube-se que em vez de dois, o processo judicial relativo ao incêndio
de Pedrogão tem, afinal, seis arguidos.
O Diário de Notícias escreve hoje
que a vinda de peritos estrangeiros provoca tensão na Protecção
Civil - são três espanhóis que vão aconselhar as autoridades portuguesas
na prevenção e combate aos incêndios. "Um atestado de incompetência",
diz a ANPC.
Às 14h00, o general Mourato
Nunes, presidente da Autoridade Nacional de Proteção Civil, vai estar no
Parlamento, na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e
Garantias, para falar sobre a preparação, os meios e as respostas
previstas para a fase mais crítica de incêndios.
Veremos como vai estar a praça ao
fim da tarde.
OUTRAS NOTÍCIAS
Antes, convém espreitar
quais os assuntos de que, provavelmente, vai ouvir falar durante este
3 de maio de 2018.
Este é uma aposta segura. A
comissão parlamentar anunciada para o caso Manuel Pinho está a
caminho de evoluir para uma comissão parlamentar com o objetivo
de analisar a questão das rendas da energia, recuando até ao inicio dos
tempos - por proposta do Bloco de Esquerda, que aqui há uns meses, a
propósito da polémica Domingues, não quis ouvir os antigos administradores da
Caixa Geral de Depósitos. Ao final do dia, o PCP acrescentou ainda mais matéria.
Carlos César, o deputado açoriano
que passou incólume, quase em primeira classe, pelo caso das viagens e reembolsos
da Assembleia da República, e que ainda há uns meses recusava comentar
processos judiciais, está agora
enraivecido e revoltado com Manuel Pinho e, parece, com José Sócrates. O
silêncio do ex-ministro está a "revoltar" o PS e João Galamba,
ontem na SIC Notícias, deu quase como certo que Manuel Pinho recebeu dinheiro
do BES, além de dizer que Sócrates
envergonha o PS.
Pinho vai mesmo ser ouvido no Parlamento – ainda que, caso a audição surja
antes do depoimento no Ministério Público, provavelmente fique calado. Palavra do seu advogado, Ricardo Sá
Fernandes.
Quem já falou foi António
Mexia. E o homem forte da EDP garante que a empresa nada tem a ver com o caso de
Manuel Pinho, esse homem (cada vez mais) sozinho. A Visão estimaque o
ex-ministro terá recebido cerca de 800 mil eurosenquanto estava no Governo e
revela que Pinho vendeu, nos últimos meses, a sua casa em Campo de
Ourique. "O saco de Pinho" é a manchete.
Rui Rio - que voltou a
garantir não estar interessado em campeonatos mediáticos e lembrou
que Manuel Sozinho, perdão, Manuel Pinho tem direito à presunção de
inocência - pediu há dias ao Governo que divulgasse a lista dos maiores
devedores da Caixa Geral de Depósitos. O Expresso dá uma ajuda.
Nos jornais de hoje, o assunto
Pinho / BES domina as manchetes. O Correio da Manhã escreve "Pinho no
Governo com promessa de reforma"; o DN confirma que "Governo de Costa
também entra no inquérito" e o i pergunta "Qual a razão para a AR ter
achado Pinho o mau e Sócrates o bom?" A Sábado revela "as ligações
perigosas" do ex-ministro.
Portugal não está satisfeito com a proposta
da Comissão Europeia para o Orçamento Comunitário pós
2020 (pós-Brexit, leia-se). Augusto Santos Silva, considerou-a um
“mau ponto de partida”, por “ser muito insuficiente” o nível de ambição em
matéria de recursos. Marcelo Rebelo de Sousa, após uma manhã no novo
Bulhão provisório, disse mais ou menos o mesmo.
Eutanásia debatida a 29 de
maio no Parlamento. A data foi acordada ontem, após a conferência de líderes
parlamentares. PS e PSD já anunciaram liberdade de voto para os seus
deputados.
Até lá, e como pode ver
nesta peça da SIC, ainda muita água vai correr por
baixo das nossas pontes. Tome nota de todas as greves marcadas para as
próximas semanas. O vídeo começa precisamente com a paralisação no sector da saúde, que termina hoje.
Soldados portugueses na República
Centro Africana. Ontem à tarde, a Rádio Renascença conseguiu falar com o segundo comandante da força portuguesa que
integra a Minusca, a missão da ONU no terreno. Aquela hora, os
paraquedistas procuravam garantir a segurança de uma igreja em Bangui – a
igreja de Nossa Senhora de Fátima - depois de um ataque que provocou a
morte de 20 pessoas, incluindo o padre que celebrava missa. O som não é o
melhor, mas o assunto é da máxima importância e é provável que haja
desenvolvimentos.
A fábrica da antiga
Triumph vai a
leilão por 5,7 milhões de euros. À venda, à procura da melhor oferta,
estão as instalações, a frota e os equipamentos da Triumph, que está
insolvente. A ideia, adianta a Lusa, é vender os bens no conjunto, mas
que, caso isso não seja possível, a venda será feita separando o imóvel
dos bens móveis, que serão vendidos lote a lote.
Arrancou ontem, ao final da
tarde, o protesto que junta militares e polícias numa vigília diante
do Palácio de Belém. Começou assim,
mas não é certo como vai acabar. Ou quando...
Segue-se o bloco desportivo,
e dentro de minutos a atualidade internacional
Bruno de Carvalho, o sportbilly
presidencial, estrela maior do banco de suplentes, qualquer que seja a
modalidade, vai falhar o derby com o Benfica. O presidente do
Sporting foi castigado por palavras dirigidas ao presidente do Braga.
Mas, como pode ler na Tribuna, claro que nada é tão simples como parece e o
castigo ainda vai dar que falar.
O Liverpool sofreu ontem a
melhor derrota da época, ao perder em Roma por 4-2 e, desse modo, garantir a presença na final da Liga dos
Campeões. Dois dos melhores jogadores da atualidade, Ronaldo e Salah,
frente a frente (há um mês, quando Portugal defrontou o Egipto, foi CR7 a
evitar a derrota...).Jogam a 26 de maio, em Kiev, na Ucrânia.
Deixo aqui mais uma história,
para ler com calma, sobre Anthony Davis, uma das estrelas da atual NBA.
Ou, dito de outra forma, aproveite para perceber como se escreve bem sobre basquetebol. Parece uma tendência,
mas não é. Os playoff estão
aí e, além de grandes jogadores e grandes jogos, é a melhor altura do ano
para descobrir as grandes histórias.
E agora o noticiário
Internacional
Depois da Guiné-Equatorial,
essa estranha democracia do mundo lusófono, agora é a França a
aproximar-se da CPLP, tendo Paris requerido o estatuto de observador associado. O
ministro dos Negócios Estrangeiro, Augusto Santos Silva, ontem à noite na SIC
Notícias, disse estar tranquilo com a movimentação francesa.
Lembra-se da Cambridge
Analytica? A tal empresa que usou dados do Facebook e que terá prestado
apoio à candidatura presidencial de Donald Trump? Essa mesmo. Vai
fechar, como conta o The Wall Street Journal.
Por falar em Trump... O
presidente dos Estados Unidos da América quer contratar um dos advogados que,
em 1998, defenderam o então presidente Bill Clinton, marido de Hillary
Clinton, que Trump derrotou, no processo de impeachment. Para ler aqui. Ao mesmo tempo, esta história de ligações da
administração à Rússia está a crescer e as opçõesdo presidente parecem cada vez mais difíceis.
Uma investigação do The New York Times revela os meandros
do negócio dos opiáceos e como estes medicamentos são responsáveis por
uma das maiores crises sociais nos Estados Unidos da América.
Foi notícia há dias. Os dois
homens negros detidos numa loja da Starbucks, sem qualquer motivo, chegaram a
acordo com a empresa (que vai fechar todas as lojas a 29 de maio para que os
empregados recebam formação sobre discriminação) e a cidade de Filadélfia.
Desistem das queixas e vão receber 1 dólar cada um - e a cidade vai
doar 200 mil dólares a um programa de apoio às escolas públicas.
Os ingleses vão hoje a
votos - as eleições são locais mas, como sempre, vão ter uma leitura
nacional.
E se pela hora de almoço
começar a ouvir falar de corrupção, não se assuste. O organismo anticorrupção
do Conselho da Europa ( GRECO)
publica o seu relatório anual, que analisa a ação de 49 países contra a
corrupção em 2017.
Em Espanha, a notícia do dia
é o fim da ETA. O El Mundo escreve que a organização terrorista anunciou a
dissolução, mas sem pedir perdão a todas as vítimas. Isto porque, há duas
semanas, em comunicado, a ETA pediu perdão às vítimas que não tinham
"participação direta" no conflito. O governo espanhol, por seu lado,
já garantiu que não
haverá perdão.
Na Síria, que há duas semanas
ameaçava tornar-se o epicentro daterceira guerra mundial, a guerra não parou.
E, de acordo com a Sky News, que cita o líder do Hezzbollah, a tendência é para
piorar bastante antes de melhorar.
Da Venezuela vem a
subida do salário mínimo: mais 95%. Ou seja, atinge os 2 milhões quinhentos e cinquenta e cinco mil
e quinhentos bolívares. Qualquer coisa como 31 euros, o suficiente
para comprar um quilo de carne num talho em Caracas.
O QUE ANDO A LER
Comprei há dias um livro capaz de
reconciliar o mais desanimado aluno do secundário com essa mal-amada
disciplina que é a filosofia. Chama-se "Uma viagem pela Filosofia em 101
episódios", de Nicholas Rescher (Gradiva).
Não faltam clássicos como
o paradoxo de Zenão - que tanto jeito tem dado em artigos de opinião
sobre a offshore de Manuel Pinho, que tem uma conta chamada tartaruga – ou
o paradoxo de Condorcet, sobre as maiorias em democracia. "Apesar das
suas vantagens, a democracia eleitoral não é uma cura universal - nem sequer em
teoria, quando mais na prática", escreve Rescher.
Mas o que mais importa para hoje
está na página 58, sob o título "O anel de Giges de Platão". Ora,
escreve Platão em "A República", um pastor descobriu que, ao
rodar o anel que tinha no dedo, ficava invisível, o que lhe permitia tudo fazer
em total impunidade. De tal modo que, após uma série de diatribes, se tornou senhor
de um império - sem nunca deixar de ser um pastor capaz do pior.
Segundo Rescher, o desafio é o
seguinte: "que individuo real poderia resistir a uma oportunidade para
obter ilicitamente os muitos bens deste mundo – ou que o individuo sensato o faria
– se tivesse a certeza de se safar sem problemas?"
E qual é a lição? "As ações
que executamos têm um duplo aspeto. Irão influenciar como o mundo nos
vê - que é algo que talvez consigamos manipular. Mas quer
queiramos quer não são também fatores determinantes da nossa própria
constituição, servindo para fazer de nós o género de pessoa que de facto
somos".
Seremos a pessoa que
carrega no botão?
A informação segue a qualquer
hora no site do Expresso e às seis da tarde com o Expresso
Diário.
Tenha uma excelente quinta-feira.
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