Presidente americano, Donald
Trump, cumpre ameaça e retira isenções para aço e alumínio. União Europeia
tentou até o fim contornar o confronto. Agora especialistas temem um
acirramento do conflito comercial.
Nenhum tuíte, nem uma declaração
feita pessoalmente: o presidente dos EUA, Donald Trump, deixou o anúncio da
decisão para seu secretário de Comércio, Wilbur Ross: nesta sexta-feira (01/06)
começam a vigorar para a UE as taxas de importação de 25% sobre o aço e de 10%
sobre o alumínio. A isenção, que desde março vinha poupando os europeus das
sobretaxas impostas em março, expirou neste 1° de junho.
Isso não surpreende os europeus.
Eles tentaram até o fim contornar um conflito comercial com os EUA, mas sem sucesso.
As posições recíprocas são rígidas demais. Enquanto os EUA apostam em acordos
bilaterais, a UE não quer se deixar dividir e insiste no cumprimento das regras
da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Durante reunião ministerial da
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Paris, o
ministro alemão da Economia, Peter Altmaier, ressaltou a importância de os
europeus se manterem coesos na defesa dos princípios do livre-comércio e dos
acordos mútuos. "Nas últimas semanas, temos agido de forma muito intensa,
muito sólida, muito solidária em nível europeu", frisou, defendendo que
essa atitude seja mantida.
Uísque, motocicletas e jeans
ficarão caros
A UE ofereceu negociar vantagens
comerciais para empresas dos EUA, reivindicando a isenção permanente das novas
tarifas dos EUA sobre importação de aço e alumínio como requisito prévio para
essas negociações, mas os EUA não aceitaram a oferta.
Entretanto o bloco europeu se
preparou intensamente também para este caso. A comissária de Comércio da UE,
Cecilia Malmström, anunciou que entrará com uma queixa junto à OMC, além de
determinar medidas de proteção para a economia europeia e tarifas de retaliação
sobre produtos dos EUA.
A UE tem agora 90 dias, segundo
as regras da OMC, para tomar medidas de retaliação, denominadas como "re-balancing":
as importações dos EUA podem ser sobretaxadas num nível necessário para
compensar os danos financeiros causados à indústria europeia.
Na Comissão Europeia é importante
a constatação de que as medidas compensatórias não sejam uma punição, e sim
tenham um fundo político. Com uísque, motocicletas Harley-Davidson e jeans,
foram escolhidas mercadorias produzidas em estados americanos governados por
republicanos, cujos governadores devem exercer pressão sobre o presidente e
levá-lo de volta "ao caminho certo".
Será que isso vai funcionar? O
presidente da Confederação da Indústria Alemã (BDI), Dieter Kempf, teme um
acirramento da disputa. "Temos que contar com a possibilidade de o
presidente americano lançar novas medidas, e isso é realmente
preocupante", disse em entrevista à emissora de rádio alemã
Deutschlandfunk. De fato, o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross,
declarou na reunião da OCDE que, se houver uma escalada, será porque a UE
decidiu revidar.
Sobretaxação de carros europeus?
Donald Trump já anunciou que está
também considerando o aumento dos impostos sobre importações de carros
europeus. "Indústrias importantes, como carros e autopeças, são cruciais
para a força da nação”, comentou recentemente. O Departamento de Comércio dos EUA
estaria, portanto, avaliando uma base legal que permita taxas de importação
sobre certas mercadorias, no caso de a segurança nacional ser ameaçada.
O ministro alemão da Justiça,
Heiko Maas, soube da novidade no fim de maio, durante uma visita aos EUA. "É
óbvio que isso pode ser especialmente direcionado contra carros alemães",
disse na terça-feira, no Global Solutions Forum, uma reunião preparatória em
Berlim para o G20.
Na oportunidade, ele disse a seu
colega Mike Pompeo: "Mike, vocês não podem estar falando sério, que carros
alemães afetam seus interesses de segurança nacional. Pelo contrário: carros
alemães tornam as estradas americanas mais seguras."
Sem brincadeira
Ainda que a observação tenha sido
feita em tom jocoso, o Ministro alemão do Exterior está pouco disposto a
brincar sobre o tema. Atualmente, o protecionismo molda quase todas as
discussões com Washington, segundo Maas. "A balança comercial parece se
tornar a nova referência nas relações políticas", queixou-se.
No entanto o comércio global,
segundo ele, não é um jogo global de soma zero para a Alemanha, mas um
importante impulsionador do crescimento, que promove a inovação e cria
empregos. "Mas isso também requer um sistema de negócios funcional,
baseado em regras", ressaltou.
No entanto é exatamente isso o
que os EUA questionam. Os fabricantes de automóveis alemães já estão
preocupados. Por último eles venderam 480 mil veículos por ano para os
Estados Unidos. De acordo com relatos da imprensa, a tarifa sobre carros,
caminhões e peças de carros cogitada por Trump pode chegar a 25%. Até o
momento, a taxa de importação de carros nos Estados Unidos é de 3%, enquanto a
UE cobra10% pelos carros americanos importados.
Várias vezes Trump se disse
incomodado pelas importações de carros alemães em particular. Segundo a revista
alemã de economia Wirtschaftswoche, citando fontes anônimas da diplomacia
europeia e americana, o presidente americano teria mencionado em abril, durante
a visita do presidente francês, Emmanuel Macron, que manteria sua política comercial
até que não haja mais modelos da Mercedes circulando pela Quinta Avenida de
Nova York.
Sabine Kinkartz (md) | Deutsche
Welle
Foto: Carros aguardam embarque no
porto de Bremen: ameaça de tarifas sobre automóveis preocupa alemães
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