terça-feira, 17 de abril de 2018

Outrora, faz muito tempo, a verdade era algo importante

Paul Craig Roberts

Pergunto-me quantas pessoas, não apenas americanos mas aqueles em outros países, chegaram à conclusão de que hoje os Estados Unidos são menos livres e menos conscientes do que as sociedades em romances distópicos do século XX, ou de filmes como The Matrix eV for Vendetta . Assim como os personagens de romances distópicos não têm ideia da sua situação real, poucos americanos a tem.

O que devemos fazer quanto aos extraordinários crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos no século XXI que destruíram no todo ou em parte sete países, resultando em milhões de mortos, mutilados, órfãos e deslocados? Considere, por exemplo, o último crime de guerra em Washington, o ataque ilegal à Síria. Ao invés de protestar contra essa ilegalidade, os media americanos incitaram-no, aplaudindo a morte e a destruição iminente.

Durante a totalidade do século XXI, Israel, o único aliado de Washington – em contraste com os europeus, canadianos, australianos e japoneses que não passam de vassalos do império de Washington – com o apoio, protecção e encorajamento de Washington continuou o genocídio do povo palestino. Basicamente, tudo o que resta da Palestina é um campo de concentração gueto conhecido como Gaza, o qual é rotineiramente bombardeado por Israel utilizando armas e dinheiro fornecido por Washington. Quando o bombardeamento de Gaza é anunciado, o Povo Escolhido por Deus leva suas cadeiras de descanso e farnéis de piquenique a uma colina com vista para Gaza e aplaude quando militares israelenses assassinam mulheres e crianças. Este é o único aliado da América.

Os crimes cometidos pelos EUA e Israel são horrendos, mas encontram pouca oposição. Em contraste, um suposto ataque no qual se alega terem morrido 70 sírios põe em andamento os carros da guerra. Não faz qualquer sentido que seja. Israel rotineiramente bombardeia alvos sírios, mata sírios e os EUA armam e apoiam os "rebeldes" que o regime Obama enviou para derrubar Assad, resultando em grande número de mortes sírias. Por que subitamente 70 sírios importam para Washington?

Segundo as autoridades de Washington, ou as reportagens presstitutas das suas declarações, duas ou três alegadas instalações sírias de armas químicas foram destruídas pelo ataque com mísseis de Washington. Pense nisso por um minuto. Se Washington bombardeasse ou enviasse mísseis para instalações de armas químicas, uma vasta nuvem de gás letal teria sido libertada. As baixas civis seriam muitas vezes mais elevadas do que as afirmadas 70 vítimas do alegado e não comprovado ataque químico de Assad utilizado como pretexto para o crime de guerra do regime Trump contra a Síria. Não há qualquer evidência que seja destas baixas.

Se houvesse vítimas, o ataque de Washington seria obviamente um crime muito maior do que o ataque químico que ela utilizou como encobrimento para o seu próprio crime. No entanto, os presstitutos americanos estão a cacarejar a lição de que os EUA deram uma lição à Síria e à Rússia. Aparentemente, os media americanos são constituídos por assalariados tão imorais ou imbecis que os presstitutos são incapazes de compreender que um ataque de Washington a instalações sírias de armas químicas, se realmente houvesse existido, é o equivalente a um ataque à Síria com armas químicas.

Como escrevi ontem, quando era editor do Wall Street Journal, se Washington anunciasse que havia bombardeado instalações de armas químicas de outro país como punição pela alegada utilização de armas químicas por parte desse país, os repórteres do WSJ eram suficientemente inteligentes para perguntar: onde estão as vítimas do ataque químico de Washington àquele país? Terá havido milhares de mortos com os gases químicos libertados pelo ataque de Washington? Estarão os hospitais do país super-cheios com os afectados e moribundos?

Se um repórter nos trouxesse uma peça que não fosse nada mais senão um comunicado de imprensa de Washington a afirmar acontecimentos obviamente impossíveis, nós lhe teríamos dito para voltar lá outra vez e perguntar as questões óbvias. Hoje o NY Times e o Washington Post colocam reportagens não comprovadas na primeira página.

Os repórteres de hoje já não verificam mais as fontes, porque já não há mais jornalismo na América. Quando o regime Clinton em acordo com o Estado Profundo que tornou o Clintons super-ricos permitiu que 90% dos media diversos e independentes dos EUA se concentrassem nas mãos de seis companhias políticas, isso foi o fim do jornalismo na América. Tudo o que temos agora é um ministério da propaganda que mente para viver. Qualquer um no jornalismo americano que conte a verdade ou é imediatamente despedido ou, como no caso de Tucker Carlson da Fox News, é atacado por presstitutos de fora num esforço para obrigar a Fox a substituí-lo. Pergunto-me quanto tempo haverá até que alguma mulher irrompa a afirmar que Tucker Carlson a assediou sexualmente.

Tanto quanto posso dizer, os Estados Unidos são agora um estado policial no qual toda informação é controlada e a população é treinada para acreditar na propaganda ou ser acusada de falta de patriotismo e conluio com terroristas e russos. 

16/Abril/018

Do mesmo autor:

Timor-Leste com um dos índices mais elevados do mundo de doença cardíaca reumática

Díli, 17 abr (Lusa) - Um estudo australiano demonstrou que Timor-Leste tem um dos índices mais elevados de doença cardíaca reumática do mundo, com a maioria dos casos por diagnosticar, até que crianças e jovens desenvolvem graves problemas.

"Fiquei e continuo a ficar surpreendido pela prevalência e pelo número de casos que encontro. A prevalência é das mais elevadas do mundo", disse à Lusa Josh Francis, da Menzies School of Health Research, sediada em Darwin, e que liderou o estudo.

Em Díli, onde equipas de investigadores, médicos e pediatras timorenses e australianos estão a conduzir uma segunda fase do estudo, Francis afirmou que apesar da doença poder ser prevenida e tratada, muitos dos casos tardam em ser diagnosticados.

A doença começa com uma infeção, que pode ser tratada facilmente se detetada a tempo, mas pode degenerar e causar graves problemas ao paciente, incluindo danos às válvulas do coração.

Hoje, os jovens da Escola do Sagrado Coração de Jesus, em Becora, um dos bairros mais populosos da capital timorense, está a ser testado com máquinas portáteis de ecocardiograma, incluindo as mais recentes que são do tamanho de um 'smartphone'.

Tecnologia que apesar de cara permite detetar com muito mais eficácia, em mais locais e em regiões mais isoladas, uma doença que, outrora, só era detetada com o estetoscópio, instrumento que podia deixar escapar "até metade dos casos".

É a segunda fase de um estudo que já demonstrou que Timor-Leste tem um dos índices mais elevados de doença cardíaca reumática do mundo, com uma em cada 28 pessoas afetadas, com o número a ser ainda mais elevado (uma em 20) entre raparigas.

Da responsabilidade de uma equipa de especialistas australianos e timorenses, o estudo foi encomendado pela organização East Timor Hearts Fund e envolveu a Menzies School of Health Research e o Telethon Kids Institute.

O trabalho, publicado na última edição do Medical Journal of Australia, envolveu mais de 1.400 crianças em idade escolar em Díli e Ermera e representou a primeira análise de sempre à prevalência da doença no país.

Os dados confirmaram uma prevalência da doença de 3,5%, entre os mais elevados do mundo, sendo que a quase totalidade dos casos identificados não tinham, até então, sido diagnosticados.

Os valores podem ser ainda mais elevados já que muitos casos podem não ser diagnosticados e algumas das crianças afetadas podem não ter ido à escola na altura em que o estudo estava a ser feito.

Daí que os investigadores tenham querido ampliar a base de análise regressado a Timor-Leste para, esperam, estudar entre 2.500 e 3.000 jovens, os primeiros na escola de Becora.

A maior parte dos casos da doença começa com um episódio de faringite estreptocócica ou outra infeção que, por diagnóstico desadequado ou falta de tratamento, acaba por levar a febre reumática, uma doença inflamatória que pode afetar o coração, articulações, pele e cérebro.

Em cerca de metade dos casos, a doença afeta o coração, causando lesões nas válvulas cardíacas, condição denominada por doença cardíaca reumática.

Globalmente, a doença - que pode ser prevenida e tratada - afeta mais de 32 milhões de pessoas, sendo responsável por cerca de 275 mil mortes por ano, de acordo com dados da World Heart Federation.

A desnutrição e a pobreza são alguns dos principais fatores de risco da doença que é mais prevalente em países em vias de desenvolvimento e entre povos indígenas em países desenvolvidos.

"Aqui há duas questões, primeiro a prevenção: a doença é causada por infeções e por isso é essencial melhorar o acesso aos serviços de saúde, melhor o tratamento de infeções comuns. Depois podemos trabalhar nas escolas, ajudar médicos e enfermeiros timorenses para poderem detetar melhor estes casos", afirmou Francis.

O investigador explicou que a equipa está a trabalhar com as autoridades timorenses, incluindo o Ministério da Saúde, para tentar definir um eventual plano de ação para lidar com o problema.

ASP

As escolas em Timor-Leste durante a colonização portuguesa


M. Azancot de Menezes*| Jornal Tornado

As Missões Católicas estabeleceram-se em Timor-Leste desde meados do séc. XVI. Segundo Duarte (1987), até ao ano de 1834, o ensino em Timor-Leste ocorria em dois Seminários que existiam desde o séc. XVIII, um em Oé-cussi e outro em Manatuto.

Portugal viu no ensino uma forma de «portugalização» do povo timorense e a partir de 1913 produziu a primeira legislação específica sobre ensino, nomeadamente o Decreto-Lei nº 233, Portaria nº 165 de 27 de Junho de 1914. Segundo este documento, o ensino primário em Timor-Leste ficaria a cargo das missões católicas, pelo que, durante a presença portuguesa, a igreja católica responsabilizou-se pelas construções das primeiras escolas.

Nos anos 20 fundaram-se os primeiros colégios, sob responsabilidade directa da igreja católica. Ofereciam-se cursos de formação profissional com um currículo que basicamente incluía algumas disciplinas das áreas de ciências exactas e humanas, moral e religião católica, e disciplinas que proporcionavam conhecimentos práticos e possibilitavam aos alunos saídas profissionais nas áreas da costura, da alfaiataria, da sapataria e da carpintaria, entre outras.

Como os missionários existiam em número reduzido, em 1924, decidiram abrir uma escola de formação de professores primários, destinada a timorenses, e que fossem cumulativamente catequistas. Esta escola, designada S. Francisco de Xavier, passaria a formar os professores-catequistas do ensino primário, para leccionar até à 3ª classe.

Das instituições de ensino religiosas mais conhecidas destacam-se, em Díli, o Colégio de S. José (Dare), o Colégio de S. António (Lahane) para filhos de portugueses, a Escola de Artes e Ofícios onde se ensinavam as profissões de alfaiate, carpinteiro e sapateiro, e a Escola Municipal de Díli, mais tarde transformada no Liceu Francisco Machado, edifício que actualmente é utilizado pela Faculdade de Educação e Artes da UNTL. Em outros Municípios sobressaíram, em Soibada, o Colégio da Imaculada Conceição e o Colégio Nuno Álvares e, em Manatuto, o Colégio S. Isabel.

Em 1939 foi produzido pelo Governador Álvaro Fountoura um diploma que separava os alunos em função das suas origens e situação, passando a haver “o ensino oficial ministrado a indígenas e o ensino oficial ministrado a europeus e assimilados” (Duarte, 1987).

Contudo, a partir da década 50, o sector da educação conheceu alguma expansão, o ensino oficial (primário, municipal e escolas regimentais), o ensino missionário e o ensino chinês. A escola de professores catequistas, na década de 60, passou a designar-se Escola de Professores de Posto Eng. Canto Resende, tendo sido responsável pela formação de alguns dos actuais professores timorenses.


Artigo 21º – Sobre o Programa

A educação e instrução do nativo… o ensino da língua portuguesa, coadjuvado provisoriamente pela língua indígena…Lição das grandezas e glórias de Portugal;

A capacidade jurídica de os directores das missões fundarem escolas, colégios ou estabelecimentos de educação e ensino…;

O ensino agrícola… hortas, jardins de ensaio, granjas ou herdades…;

O Ensino da pecuária…;

O ensino doméstico, tendente a fazer a mulher indígena cuidadosa dona de casa e boa mãe de família.

*Secretário-Geral do Partido Socialista de Timor-Leste e PhD em Educação

MOÇAMBIQUE | Raptos de cidadãos portugueses na agenda bilateral


Joaquim Bule assume posto de embaixador de Moçambique em Portugal. Raptos de cidadãos portugueses mantêm-se na agenda político-diplomática dos dois países.

Continuam no segredo dos deuses as razões que levaram ao rapto de Américo Sebastião, a 29 de julho de 2016, na província de Sofala, palco recente de tensões e conflitos entre as forças da RENAMO (Resistência Nacional de Moçambique) e o exército do partido no poder, FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique). De acordo com a esposa, Salomé Sebastião, as versões sobre quem terá raptado o empresário português são contraditórias, Salomé Sebastião.

"Há pessoas e fontes que apontam que tenham sido agentes fardados e há outras fontes que apontam que as pessoas que raptaram o Américo não tinham farda alguma", conta Salomé Sebastião.

Até hoje não há qualquer rasto sobre o paradeiro do empresário, que segundo a mulher "nunca fez mal a ninguém". Dava emprego a cerca de 300 trabalhadores moçambicanos.


Um caso dos 150 cidadãos portugueses raptados em 6 anos

Américo Sebastião foi levado de forma forçada e, até à presente data, Salomé diz que não foi contactada pelos raptores. Este é um dos mais de 150 casos de portugueses raptados em Moçambique nos últimos seis anos com o objetivo de obter resgate em dinheiro.

Entre 2013 e 2014, foram raptados pelo menos oito portugueses. Um assunto que marca a agenda político-diplomática do novo embaixador de Moçambique, Joaquim Casimiro Simeão Bule, que entregou as suas cartas credenciais ao Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, a 3 de abril. O chefe de Estado disse estar a acompanhar o caso com inquietação. Contactado telefonicamente e por e-mail, Joaquim Bule não reagiu ao pedido de pronunciamento sobre estes crimes. 

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, disse à DW África que tudo está a ser feito para garantir proteção consular e apoio diplomático à família.

"Das autoridades de Moçambique ouvi uma disponibilidade política para connosco continuarem este trabalho de cooperação visando apoiar em todas as necessidades que a família venha a ter, tendo em vista determinar as causa do desaparecimento e, naturalmente, encontrar este português", garantiu José Luís Carneiro.

Portugal oferece cooperação judicial e jurídica

O secretário de Estado esteve na semana passada em Moçambique e encontrou-se com Rodrigo Sebastião, filho do empresário, na região da Beira. Encontrou-se ainda com as vice-ministras da Administração Interna, Helena Mateus Kida, e dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Manuela Lucas.

Portugal voltou a oferecer cooperação judicial e jurídica ao Governo moçambicano para ajudar na investigação do crime. Além disso, estão em marcha duas petições. Uma em Moçambique e outra em Portugal, já com mais de quatro mil assinaturas, visando levar o tema ao Parlamento português.

"Eu espero que a Assembleia da República portuguesa também possa contribuir com ações concretas, não só junto do Governo moçambicano como da sua congénere moçambicana", pede a esposa do empresário, que espera igualmente uma intervenção junto da União parlamentar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Família apela a organizações internacionais

A família lançou também apelos e pedidos de ajuda a organismos internacionais como o Parlamento Europeu e o Comité dos Desaparecimentos Forçados ou Involuntários das Nações Unidas, assim como ao Vaticano e ao Papa Francisco.

Salomé Sebastião mostra-se sensibilizada com as diligências em curso por parte das autoridades dos dois países e acredita na capacidade de investigação da polícia e da justiça moçambicanas, que "conhecem muito bem o território". Por isso, mantém a fé e esperança que o marido vai reaparecer.

"Reitero a minha confiança no Estado moçambicano e na sua capacidade de investigar e acredito que vai localizar o Américo e vai-me devolver o Américo são e salvo", diz. 

João Carlos | Deutsche Welle

Crise em Moçambique chega ao futebol


A crise económica atinge o futebol moçambicano. Por falta de fundos, o Moçambola, a maior prova futebolística, pode parar por tempo indeterminado no próximo fim de semana. Paralisação pode ter impacto em várias áreas.

O Campeonato Nacional de Futebol poderá sofrer uma interrupção por tempo indeterminado, admitiu publicamente a Liga Moçambicana da modalidade. Já no último fim de semana foi cancelada a maior parte dos jogos do campeonato, que mal começou e vai ainda na sexta jornada. Em causa está a falta de fundos para custear as despesas em passagens aéreas para a deslocação das equipas.

A Liga Moçambicana de Futebol reuniu-se esta segunda-feira (16.04) de emergência com os clubes para tentar encontrar propostas viáveis a serem levadas a um encontro com o Governo, agendado para esta terça-feira (17.04), para tentar salvar o Moçambola.

"Ficou claro que estamos em dificuldades, mas todos estamos unânimes em podermos fazer um esforço , de modo a terminarmos o nosso campeonato nacional nos moldes em que se iniciou", disse o presidente da Liga, Ananias Couana.

Segundo o dirigente, os participantes no encontro chegaram a um acordo de princípio, mantendo-se em aberto a discussão sobre o tipo de transporte a utilizar nas várias deslocações.

"Temos de massificar o transporte terrestre. Tudo será feito para garantir que o Moçambola prossiga no próximo fim de semana com a conclusão da sexta jornada", afirmou o presidente da Liga."

Consequências

O comentador desportivo Alexandre Zandamela disse à DW África que a eventual interrupção do Moçambola poderá afetar várias áreas. "O Moçambola é um meio através do qual as pessoas convivem e se conhecem. O Moçambola é visto também como um elemento aglutinador, de autoestima, de alavancar a unidade nacional", explica.

Do ponto de vista económico, também haverá consequências, já que "as pequenas empresas e os pequenos negociantes encontram no Moçambola uma oportunidade de fazerem um encaixe financeiro através dos seus negócios", lembra o comentador.

E também a componente desportiva vai ficar mais afetada. "Sem o Moçambola, tudo se desmorona do ponto de vista da ambição, da projeção dos adeptos de futebol", diz Alexandre Zandamela.

O comentador desportivo Manuel Moreira também destaca que uma eventual interrupção do campeonato poderá provocar ainda atrasos na conclusão da prova e chocar com os prazos para a apresentação dos nomes dos representantes do país nas competições africanas.

"Isto está extremamente complicado", considera Manuel Moreira. "Em setembro temos de ter o finalista da taça e um campeão nacional, porque o figurino das competições africanas irá mudar. Não vejo como é que vamos terminar o campeonato nacional e temos ainda a Taça de Moçambique. Começámos o campeonato nacional com três semanas de atraso, já temos duas jornadas que não se vão realizar, uma delas incompleta só com três jogos realizados", lembra.

Leonel Matias (Maputo) | Deutsche Welle

Portugal | ANDAMOS A SER ROUBADOS, SABEMOS E NADA FAZEMOS


Ontem houve cambalacho, hoje há cambalacho, amanhã haverá cambalacho?

Bom dia e boas festas aos animais por que passarem. Hoje há cambalachos por descobrir, é certo, os poderes estão repletos de gente parasitária que mama e abusa. Daí esta certeza. 

Assim sendo amanhã também vai haver cambalachos e o ponto de interrogação do subtítulo nem faz sentido. Bem, faz, porque há sempre uma réstia de esperança de melhorias na honestidade desses tais dos poderes. É que já chega de ladrões em que nem votamos, quanto mais andarmos a votar em quem depois nos parasita garbosamente e se acha e diz-se honesto.

Os parágrafos anteriores têm que ver com o caso dos mamões eleitos, deputados, dos Açores e da Madeira. Aqui, mais em baixo, o Curto do Expresso, da lavra de Pedro Santos Guerreiro, abre e aborda esses tais mamões que foram eleitos para abusarem da teta do povo, da teta da Mãe Pátria. Acresce que os vimos a dizer, depois de se empanturrarem com o que pertence a todos os portugueses e não só a eles, que não o fizeram intencionalmente com desonestidade, que pensavam que era assim, era legal e normal, que se enganaram, etc. São tão desonestos quanto isso. Bem, mas há os que têm alguma dignidade e reconhecem o erro, a desonestidade por eles cometida e vai daí demitem-se. Foi o caso de UM (estão a ler bem). UM deputado, do BE. Até agora, que se saiba, foi o único a considerar que fez uma grande trampa ao estar a parasitar o que é do país e do povo. Há os que dizem que vão devolver o dinheiro que foram sacar indevidamente… mas sem mais consequências pela sua desonestidade. E lá ficam como deputados a ver quando chega o dia e o objeto em que possam deitar a mão, ou as mãos de amigos e familiares. É isso mesmo: “é fartar vilanagem”. Só que, lamentavelmente, a vilanagem nunca se farta. Mesmo que de vez em quando sejam protagonistas de conhecimento público das suas desonestidades. Algumas. Porque outras devem estar em algum alçapão muito escuro… até que se faça alguma luz. Pior é que os desonestos devem ser tantos que não há luz que chegue para tantos alçapões escuros como breu. E então… o mesmo do costume: paga Zé!

Fim da ‘opiniretórica’ em que as palavras saem em catadupa, ao ritmo da indignação. Que neste caso concreto, das viagens, não nos roubam mas enganam-nos, aproveitam-se, etc. Pois. e isso não vai dar ao mesmo? Sentimos que somos roubados, pronto. Sinceramente, estamos cansados de sermos roubados por gentalha que merece a cadeia ou não reunirem as condições para serem eleitos, nem de estarem nos assentos dos poderes. É que sistematicamente os portugueses andam a ser vigarizados, roubados por este, aquele e aqueloutro dos poderes "democráticos". Sabemos e nada fazemos… Adiante. Até amanhã se… (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Ao marido da mulher de César não basta ser…

Pedro Santos Guerreiro | Expresso

Um deputado do Bloco de Esquerda demitiu-se, uma deputada do PSD prometeu devolver dinheiro e a subcomissão de Ética do Parlamento já foi chamada a dar um parecer urgente. O PS ainda não disse nada. Começando pelo seu presidente, Carlos César.

São as reações e a falta delas à manchete de sábado do Expresso, onde revelávamos que deputados dos Açores e da Madeira do PS, PSD e BE acumulam benefícios de viagens para as ilhas: recebem €500 por semana da Assembleia e pedem depois, como cidadão das ilhas, reembolso dos bilhetes aos balcões dos CTT. Ou seja, acumulam benefícios.

O Expresso confirmou a acumulação de benefícios por sete deputados: Carlos César, Lara Martinho, João Azevedo Castro, Luís Vilhena e Carlos Pereira do PS, Paulo Neves do PSD e José Paulino de Ascensão do Bloco de Esquerda; quatro deputados do PSD fugiram à seringa e não confirmaram nem responderam se os acumulam: Berta Cabral, Sara Madruga, Carlos Costa Neves e António Ventura; e uma deputada do PSD, Rubina Berardo respondeu não pedir reembolso dos bilhetes “por opção pessoal”.

Foi Sara Madruga da Costa que assumiu em comunicado que foi buscar algumas vezes o reembolso de viagens, anunciando que irá devolver as verbas recebidas. Já a demissão de Paulino Ascenção, do Bloco de Esquerda, “'entala' objetivamente outros partidos, com o PS em realce, que não conseguiram responder da mesma forma”, escreve o Martim Silva no Expresso Diário: “Pode legal+legal ser ilegal (e imoral)? Pode.”

Falta ouvir deputados do PSD e do PS que ainda não se pronunciaram. Carlos César é, entre todos, o que ocupa uma posição institucional mais relevante, como presidente do partido e líder da bancada parlamentar. Vai continuar a achar que é uma questão do foro pessoal, como começou por responder ao Expresso? Não é foro pessoal, é parlamentar. Ao marido da mulher de César não basta ser, tem de aparecer.

OUTRAS NOTÍCIAS

Avançamos no espaço político para aumentos na função pública, como noticiava o Expresso este sábado, citando o primeiro-ministro: “Isso é para 2019”. Jerónimo de Sousa insiste em aumentos mas admite negociar mais tarde. “Todas as partes saem ganhar” com aumento dos salários da função pública, afirma Miguel Sousa Tavares.

A partir de Madrid, Marcelo afirma que o “equilíbrio” entre redução do défice e medidas sociais prova “maturidade democrática”.

A greve no Metro de Lisboa, agendada para quinta-feira, foi suspensa.

Dias depois dos bombardeamentos, os EUA acusam a Rússia de tentar adulterar provas de ataques químicos e a Rússia dá luz verde a inspetores de armas químicas na Síria. “O ambiente era de causar calafrios a qualquer pessoa”, comenta Miguel Sousa Tavares na SIC. A resposta dos EUA, França e Reino Unido ao ataque químico em Douma com bombardeamentos na Síria foi “simbólico", acrescenta, “e ainda bem”.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, deu uma entrevista à BBC para dizer que o ataque químico na Síria foi encenado pelo Ocidente. “É como naquele episódio de ‘Alice no País das Maravilhas’ em que, durante um julgamento, o rei diz ‘vamos perguntar ao júri” e a rainha grita ‘nada de Júri, sentença primeiro, veredicto depois’”.

O embaixador de Portugal regressa a Moscovo. “Entendemos que já há condições para isso”, diz o governo.

Esta noite, defesas antimíssil sírias terão detetado um ataque sobre a cidade de Homs, a 160 quillómetros de Damasco. A notícia foi avançada pela Reuters, citando agências oficiais da Síria, segundo as quais os mísseis foram intercetados. Os Estados Unidos negaram estar associados ao ataque.

O Facebook bloqueou Richard Spencer, o homem do “hail, Trump” e que tem orgulho na escravatura.

Na Catalunha, o presidente do Parlamento diz que investir Puigdemont "é uma possibilidade". Leu bem, não é investigar, é investir. Porque Carles Puigdemont é o "presidente legítimo" da Catalunha, afirma Roger Torrent.

“Ou solta Lula ou não vai ter sossego”. O tríplex do Guarujá, apartamento que está no centro da acusação ao ex-presidente brasileiro, foi ocupado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Tecto. “No anticlímax de Lula, o Brasil pariu indiferença”, analisa o Expresso.

Sócrates, “O Confronto”, é o nome da reportagem que a SIC ontem levou para o ar sobre o processo da Operação Marquês, a investigação judicial mais importante da democracia portuguesa. José Sócrates e mais 27 arguidos estão formalmente acusados por suspeitas de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais há seis meses. O Ministério Público afirma que o antigo governante recebeu 36 milhões de euros em troca de decisões favoráveis ao Grupo Lena, ao empreendimento Vale do Lobo e sobretudo ao grupo de Ricardo Salgado. Desde o primeiro dia que Sócrates rejeita publicamente todas as acusações.

Rui Moreira apresentou as “melhores contas do milénio” da Câmara Municipal do Porto, fechadas no ano de autárquicas com um saldo superior em €22 milhões ao do ano anterior. São as “contas à moda do Porto”, que sempre prometeu para os seus mandatos. A oposição fala em “excedente brutal” e “falta de transparência”.

"O empreendedorismo é uma tradição do Porto", afirmam os protagonistas do XV Encontro Fora da Caixa, organizado pelo Expresso. Um deles é o Prémio Pessoa 2018 Manuel Aires Mateus, que em discurso direto "alerta para a ideia que a cidade tem que acumular tudo". Já Daniel Bessa diz que "a única forma de fazer crescer a economia portuguesa é através das exportações".

Lisboa recebeu mais €1,2 milhões por semana que o previsto com a venda de casas. O turismo desencadeou uma espiral imobiliária em Lisboa que enche como nunca os cofres da autarquia. Se no orçamento para 2017 o IMT já representava um quinto das receitas da câmara, os números finais deixaram “surpreendido” o vereador das Finanças, João Paulo Saraiva.

A Câmara de Lisboa já devolveu 44,2 milhões da Taxa Municipal de Proteção Civil.

Pensar que se tiram 1500 milhões de barris do mar alentejano é como sonhar com um “oásis no deserto”. Ricardo Paes Mamede põe em causa os estudos da Eni e da Galp, criticando o Governo por “falta de racionalidade, de transparência e de coerência” em todo este processo.

O governo e o PSD chegaram a acordo para negociar com Bruxelas fundos comunitários, mas, pela voz do ministro Pedro Marques, quer envolver mais partidos num apoio político mais alargado.

Rui Rio alerta para “graves problemas” da Saúde em Portugal.

“Não há investimento sério na saúde pública há 10 anos. É uma opção política que me entristece”. A frase é de António Oliveira e Silva, presidente do Conselho de Administração do Hospital de São João, que afirma que o relato negro dos pais das crianças em tratamento em instalações provisórias desde 2011 “é exato”. Por isso, espera que até ao início de maio o governo disponibilize os 23,8 milhões contratualizados para a construção do novo Centro Pediátrico, ou deixará o cargo. O ministro da Saúde estima que a situação da ala pediátrica do S. João fique desbloqueada em duas semanas.

Beijinhos, apertos de mão entusiásticos e declarações de amor a Madrid: foi assim que Marcelo navegou por uma agenda apertada no primeiro dia de visita oficial a Espanha. Pelo meio tirou uma fotografia “com” Saramago e arriscou umas frases em espanhol. E ouviu de uma autarca madrilena: “Sabemos que és um presidente especial. Estamos particularmente orgulhosos de receber um presidente como tu”. A reportagem do Expresso aqui.

Entreguei o IRS Automático, mas descobri que perdi dinheiro. Posso corrigir? É o Dicas de poupança desta semana.

Crédito ao consumo dispara em fevereiro.

Conhece Yuki Kawauchi? Em 2017 correu 12 maratonas e este ano já vai em quatro. Acaba de vencer a histórica Maratona de Boston. É um amador, trabalha a tempo inteiro como funcionário público e não tem patrocinadores. Como consegue vencer uma corrida assim? “Está muito habituado ao sofrimento”. A história pode ser lida na Tribuna Expresso.

O que falta a FC Porto e Benfica até ao final do campeonato? Uma viagem à Madeira, uma ida a Alvalade, muitas complicações fora de portas. Ora veja aqui.

FRASES

“Rui Rio começou a falar e a dizer coisas concretas”. Miguel Sousa Tavares, na SIC.

“Senhor presidente, bem-vindo a sua casa”. Felipe VI de Espanha, dirigindo-se a Marcelo Rebelo de Sousa.

O QUE EU ANDO A LER

A Biblioteca Expresso tem o primeiro volume nas bancas desde este sábado e depois de “A Ordem Mundial”, de Henry Kissinger, no próximo sábado será a vez de “Blink”, o “best seller” de Malcolm Gladwell, “um autor que adora destruir ideias feitas, mesmo as boas ideias ou as convicções mais sólidas” como escreve o Ricardo Costa no prefácio que o acompanha.

A coleção tem ao todo seis volumes, a publicar até 12 de maio, e apresenta-se como um conjunto de “obras de grande relevância capazes de provocar, à época da sua primeira edição, uma fratura no pensamento dominante”: “A Nova Era Digital”, de Eric Schmidt e Jared Cohen (com prefácio de Miguel Cadete) será publicado a 21 de abril; “O Cisne Negro”, de Nassim Nicholas Taleb (prefácio de Henrique Raposo) a 28 de abril; “Keynes: O Regresso do Mestre”, de Robert Skidelski (prefácio de Francisco Louçã) a 5 de maio e “Uma Sociedade Funcional”, de Peter F. Drucker (cujo prefácio é escrito por mim) a 12 de maio.

São livros para ter na estante, claro, mas sobretudo para tirá-los de lá e ler. Para compreender melhor a sociedade e o mundo em que vivemos – e de que forma estamos a evoluir… progredindo ou talvez não.

Tenha uma excelente semana.

Angola | EM SEIS MESES SÓ MUDOU O EMBRULHO DA PROPAGANDA


João Lourenço disse esperar que a impunidade “tenha os dias contados” em Angola. Insistiu na “moralização” da sociedade angolana. Estava a ser ingénuo, imprudente ou suicida? Se calhar, fazendo a simbiose de tudo isto, está apenas a gozar com a nossa chipala e fazer de todos nós… matumbos. Seis meses depois da posse a grande diferença está no embrulho e no acessório.

O Presidente disse, por exemplo, no dia 23 de Novembro de 2017, ser necessária a “moralização” da sociedade, com um “combate sério” a práticas que “lesam o interesse público” para garantir que a impunidade “tenha os dias contados”.

É uma verdade de La Palice. É verdade há muitos anos e a responsabilidade é do MPLA, partido do qual João Lourenço foi e é dirigente, tal como foi dos governos de José Eduardo dos Santos aos quais João Lourenço pertenceu como ministro. Então, durante todos esses anos, o que fez João Lourenço para combater as práticas que “lesam o interesse público”?

O chefe de Estado falava no Palácio Presidencial, em Luanda, na tomada de posse do novo inspector-geral da Administração do Estado, Sebastião Domingos Gunza, que transitou do Serviço de Investigação Criminal (SIC).

“No quadro da necessidade de moralização da nossa sociedade, importa que levemos a cabo um combate sério contra certas práticas, levadas a cabo quer por gestores quer por funcionários públicos. Práticas que, em princípio, lesam o interesse público, o interesse do Estado, o interesse dos cidadãos que recorrem aos serviços públicos”, disse João Lourenço.

Sendo, repita-se, uma verdade de La Palice, como tantas outras que constituem o ADN do partido do qual é vice-presidente, é caso para perguntar se só agora é que João Lourenço descobriu a pólvora?

Ou será que só agora é que João Lourenço descobriu que Angola é um dos países mais corruptos do mundo? Que é líder mundial da mortalidade infantil? Que tem 20 milhões de pobres?

“Esperamos que a tão falada impunidade nos serviços públicos tenha os dias contados. Não é num dia, naturalmente, que vamos pôr fim a essa mesma impunidade, mas contem com a ajuda de todos e acreditamos que, paulatinamente, vamos, passo a passo, caminhar para a redução e posteriormente a eliminação da chamada impunidade”, concluiu João Lourenço.

Na cerimónia, Sebastião Domingos Gunza assumiu o compromisso de “acabar com as más práticas” e os “vícios” na administração do Estado.

Recorde-se que o Presidente exonerou a 20 de Novembro o anterior Inspector-geral da Administração do Estado, Joaquim Mande que, num despacho publicado a 15 de Setembro, gerou forte polémica em Angola e não chegou a ser esclarecido publicamente.

O documento, publicado 11 dias antes da tomada de posse de João Lourenço como Presidente, mostrava o que era e é o MPLA: Determinava que ficavam “arquivados todos os processos da actividade inspectiva desenvolvida pela Inspecção Geral da Administração do Estado de 1 de Janeiro de 2013 a 30 de Agosto de 2017”.

Desde que tomou posse, a 26 de Setembro, na sequência das eleições de 23 de Agosto, João Lourenço começou a mudar a decoração do país, exonerando diversas administrações de empresas estatais, dos sectores de diamantes, minerais, petróleos, comunicação social, banca comercial pública e Banco Nacional de Angola, anteriormente nomeadas por José Eduardo dos Santos.

Génios e matumbos?

Quando, a 10 de Maio de 2017, João Lourenço, garantiu em Luanda que o MPLA iria lutar contra a corrupção, má gestão do erário público e o tráfico de influências… poucos acreditaram. Hoje há mais gente a acreditar? Já houve mais. As dúvidas continuam a ser mais do que as certezas.

João Lourenço discursava – recorde-se – no acto de apresentação pública do Programa de Governo 2017-2022 do MPLA e do seu Manifesto Eleitoral, mostrando a convicção de que – mais uma vez – os angolanos iriam votar com a barriga (vazia) e que havendo 20 milhões de pobres… a vitória seria certa. E foi.

João Lourenço sublinhou que o programa do MPLA para os próximos cinco anos “é coerente e consistente”, mas para a sua aplicação “de modo efectivo e com sucesso” são precisas instituições fortes e credíveis.

“Para a efectiva implementação deste programa temos de ter os homens certos nos lugares certos”, referiu João Lourenço, então ministro da Defesa, efusivamente aplaudido pelos militantes presentes, na altura (hoje já não é bem assim) formatados e pagos para aplaudir seja o que for que João Lourenço dissesse.

Ainda de acordo com João Lourenço o MPLA iria “promover e estimular a competência, a honestidade e entrega ao trabalho e desencorajar o ‘amiguismo’ e compadrio no trabalho”.

Já antes, no dia 28 de Fevereiro, prometeu um “cerco apertado” à corrupção, que está a “corroer a sociedade”, e o fim da “impunidade” no país. Recorde-se que este mesmo MPLA sempre negou, ou minimizou, que a corrupção fosse um “mal que corrói a sociedade”, dizendo que a corrupção é um fenómeno que afecta todos os países. Aliás, João Lourenço advertiu que o problema é a “forma” como Angola encara o problema: “Não podemos é aceitar a impunidade perante a corrupção”.

“O MPLA reafirma neste programa de governação o seu compromisso na luta contra a corrupção, contra a má gestão do erário público e o tráfico de influências”, reitera João Lourenço, acrescentando que o partido conta com “os angolanos empenhados na concretização do sonho da construção de um futuro melhor para todos”.

“Vamos contar com aqueles que estão verdadeiramente dispostos a melhorar o que está bem e a corrigir o que está mal”, disse numa referência ao lema da campanha do MPLA.

João Lourenço admitiu que o “MPLA tem consciência de que muito ainda há a fazer e que nem tudo o que foi projectado foi realizado como previsto”. Por outras palavras, se ao fim de 42 anos de poder, 16 de paz total, o MPLA só conseguiu trabalhar para que os poucos que têm milhões passassem a ter mais milhões, esquecendo os muitos milhões que têm pouco… ou nada, talvez seja preciso manter o regime do MPLA mais 50 anos no poder.

“Contudo, o país tem rumo e estamos no caminho certo, no sentido da satisfação progressiva das aspirações e dos anseios mais profundos do povo angolano”, disse João Lourenço.

Segundo João Lourenço, para que todos os angolanos beneficiem cada vez mais das riquezas do país, o MPLA tem como foco no seu programa de governação para os próximos cinco anos dar continuidade ao seu programa de combate à pobreza e à fome, bem como o aumento da qualidade de vida do povo.

Para a juventude, a franja da sociedade a quem o MPLA atribui “importância fundamental nos processos de transformação política e social de Angola”, João Lourenço disse que vai continuar “a contar cada vez mais com os jovens nas imensas tarefas do progresso e do desenvolvimento”.

Sobre a consolidação da democracia angolana, destacou a realização de eleições autárquicas, a permissão para posicionar o país “num movimento de verdadeira descentralização administrativa”.

“Com a instauração das autarquias, a administração estará mais próxima das populações, o que tornará mais fácil a percepção das suas necessidades e aspirações e também a sua satisfação”, realçou. Terá João Lourenço descoberto a pólvora?

No Lubango disse: “Uma das nossas preocupações, depois de Agosto, será precisamente, não digo criar, mas procurar ampliar ao máximo essa classe média angolana, à custa da redução dos pobres (…) Fazer com que a classe média seja superior à soma dos pobres e dos ricos”.

Se para esses acólitos do MPLA o período de guerra civil (apesar de ter terminado em 2002) justifica tudo, para nós não. Dá jeito ao MPLA estar sempre a falar disso, ir ressuscitando Jonas Savimbi, e, misturando tudo, renovando que heróis só são os do MPLA. Tudo porque… ou o MPLA ganhava ou o fim do mundo chegaria no dia seguinte. Mas não é assim.

ANGOLA | Os números da população penal


Jornal de Angola | editorial

O crescimento da população penal em todo país, fruto da superlotação das cadeias na maior parte do país, começa a atingir contornos preocupantes, numa altura em que urge inverter algumas das causas por detrás dessa tendência.

Embora se trate de uma situação cujos números variam,  algumas vezes, para cima e outras vezes para baixo, na verdade, a quantidade de reclusos na maior parte das cadeias continua a exceder a capacidade dessas mesmas unidades penitenciárias.

 O caso mais recente, uma simples amostra, é verdade,  tem a ver com dois estabelecimentos penitenciários da província do Zaire, ambos com capacidade para acolher  470 e que , nesta altura, se encontram com quase o dobro daquele número.

Não há dúvidas de que uma das causas da superlotação das cadeias tem a ver com procedimentos policiais e jurídico-penais, traduzidos no uso excessivo de uma das medidas de coacção, traduzidos em detenção. A lei prevê outros recursos e não unicamente a detenção que, em vez de ser aplicada excepcionalmente como recomendam as normas jurídicas, acabam por transformar-se em opção privilegiada dos órgãos policiais.  

Não é exagerado afirmar que a Polícia Nacional continua a persistir na prática reprovável e extemporânea de prender para investigar, em vez do procedimento contrário que contribuiria também para a inversão do crescimento da população penal. Embora a Lei da Prisão Preventiva, nos seus artigos 9º e 14º, exija que as pessoas detidas sejam apresentadas, no mesmo dia da detenção, a um procurador para que este valide ou não a privação de liberdade, continua em muitos casos a inobservância daquele requisito legal.

É verdade que existem outros pressupostos que  acabam por contribuir para a superlotação das cadeias, nomeadamente a componente económica e social que leva as pessoas a incorrer em actos ilícitos previstos e puníveis por lei com a privação de liberdade. 

Toda a sociedade é chamada a contribuir para que o actual quadro caracterizado pela tendência em prender e privar de liberdade dê lugar a outras medidas previstas por lei e que sirvam os propósitos do Estado Democrático de Direito que pretendemos para Angola.

Temos muito trabalho pela frente e acreditamos que com o processo de reforma do Código Penal angolano, mais de século e meio de uso, teremos numerosas alterações consentâneas com a realidade jurídica, constitucional e democrática actuais.

 Precisamos de ultrapassar rapidamente esta situação porque não é bom e sustentável, nem do ponto de vista económico, manter um número de pessoas encarceradas recorrendo a medidas que não estão a ajudar. Mais do que optar pela privação de liberdade como medida privilegiada de coacção, é preciso que nos certifiquemos sobre a sua eficiência, sobre a sua eficácia  e a se mesma está a servir para resolver ou para criar outros problemas.

ANGOLA | Os corruptos que recuem


Jornal de Angola/Cartoon de Casimiro Pedro

PESADAS PENAS NEOCOLONIAIS PARA ÁFRICA- II


(ALERTA A TODOS OS PROGRESSISTAS DO MUNDO) - conclusão

“Não há independência verdadeira sem socialismo”, palavras do Presidente António Agostinho Neto, a 1 de Julho de 1979 – http://agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=689:nao-ha-independencia-verdadeira-sem-socialismo&catid=48:discursos&Itemid=232

Martinho Júnior | Luanda 

4- O capitalismo neoliberal, cuja “escola” tomou o miolo do poder anglo-saxónico (Wallstreat e City) com o Republicano Ronald Reagan e a Conservadora Margareth Thatcher a partir da década de 80 do século XX, em 1990 e com o colapso socialista, viria a desencadear em África sucessivas ondas de choque, abrindo espaços aos interesses mais “activos” da panóplia de suas multinacionais ávidas de minerais e de petróleo.

Tudo isso tem sido contemporâneo duma nova Revolução Tecnológica e, aos materiais e minérios característicos da Revolução Industrial, o poder dominante fazia somar outros recomendados para alimentar as tecnologias aplicadas no espaço, nas comunicações, na electrónica…

Tudo se congregou para que os lucros da aristocracia financeira mundial passassem dum nível aritmético, para um nível geométrico e, por via dum petrodólar predador instalado em desequilíbrios que fomentam o saque, se abrissem as portas à especulação com o fim do padrão ouro na utilização da “moeda global”.

O “berço” do choque neoliberal em África ocorreu precisamente nessa altura nos Grandes Lagos (holocausto do Ruanda em 1994), no colapso de Mobutu no Congo (em 1997) e em Angola (transformações decorrentes dos acordos de Nova York, em 22 de Dezembro de 1988 e de Bicesse, em 31 de Maio de 1991).

Uma guerra em cadeia devastadora eclodiu dos Grandes Lagos ao Atlântico, estendendo-se depois à África Ocidental, sobretudo à Serra Leoa e à Libéria.

Do rescaldo do choque, no princípio do século XXI, sobraram países ainda mais desarticulados, vulneráveis e “em ponto-rebuçado”para uma globalização decorrente dum império hegemónico unipolar, cujos “mercados” propiciavam uma ressacada onda de terapias dispostas a engrossar os lucros da aristocracia financeira mundial e os dispositivos afins, ainda que surgissem “novos actores” como a China e “velhos actores” como a Rússia, quaisquer deles poderosos emergentes colaterais e em muitos sectores de concorrente actividade, “filtrados” pelo poder económico e financeiro dominante, bem como por seus mecanismos promotores de desequilíbrios e desigualdades…


5- Até 2010 ao choque sucedeu-se sob controlo do império da hegemonia unipolar uma terapia capitalista neoliberal, ofuscada pelos brilhos e luzes do “mercado” e pela panóplia de suas alienações e diversionismos, absorvidos em África por um largo espectro das elites do continente.

As doutrinas, filosofias e ideologias neoconservadoras, social-democratas e neoliberais próprias dos “mercados livres”, preencheram invariavelmente a superestrutura ideológica do poder dos estados africanos, pelo que as elites se afoitaram ao jogo, alinhando com a voracidade predadora, apossando-se sem ética, sem moral, sem mérito e sem escrúpulos das riquezas disponíveis no corpo africano, assim tornado ainda mais inerte.

Quando as cíclicas crises assolam as economias ultraperiféricas, mergulhadas na terapia neoliberal, por dentro das elites os clãs tornam-se entre si gladiadores à margem dos povos, perdidos nos equívocos e nos labirintos criados pela superestrutura do poder capitalista global do império da hegemonia unipolar e por si próprios, criando a ilusão de mudança… está a ser assim em Angola, pois mantém-se a mesma doutrina, a mesma filosofia e a mesma ideologia; mexem-se as águas à superfície, mas jamais nas profundas casualidades das marés e das correntes!

Há sectores das elites angolanas asfixiadas mentalmente pelos “mercados” que a todo o transe procuram dominar as nascentes e os cursos dos rios, apropriando-se deles a fim de garantir emparceiramentos mercenários, antipatrióticos e contra os interesses mais legítimos de todo o povo angolano que deveria estar já mobilizado para levar a cabo com os olhos num futuro a muito longo prazo numa geoestratégia para um desenvolvimento sustentável no país e em África!

Por todo o lado essas elites afoitavam-se à privatização dos lucros, ao mesmo tempo que os frágeis estados socializam as perdas, ao ponto de serem obrigados a desvalorizar as moedas nacionais, agravando-se a crise com a queda dos preços do barril de petróleo como tem ocorrido na Nigéria ou em Angola.

No sector da saúde tanto pior: com uma saúde mercenária ao serviço do “mercado” a factura paga-se além do mais em perdas de vidas!

Em Angola, recorde-se, o poder do império da hegemonia unipolar conseguiu durante o choque manipular com a riqueza do país a ponto dos contentores no terreno se barricarem para fazer a guerra: um lado no sector petrolífero, o outro no sector dos diamantes, algo indispensável aos “lobbies” cruciais do poder nos Estados Unidos, pois se dum lado havia o sinal republicano (petróleo), no outro subsistia o sinal democrata (minerais) e ambos esperavam a sua hora de melhor aproveitar o bolo.

No Congo o processo histórico ainda foi mais drástico, tendo em conta o facto de ser um país central e decisivo em relação à equação água-espaço vital do continente e um dos mais ricos em coltan, um mineral indispensável nas aplicações de novas tecnologias!

Em todos os casos o poder dominante começou a jogar de outra forma nas suas abordagens em relação à existência ou não da água interior do continente, em função da dicotomia contraditória entre as enormes extensões de desertos quentes (Sahara e Sahel) e os espaços vitais equatoriais e tropicais, ricos em água interior (bacias do Congo, do Zambeze, do Níger e do Nilo, assim como os Grandes Lagos e o Lago Chade).

Para introduzir mais contradições manipuladas e manipuladoras, em 2011 sucedeu-se o ataque à Líbia, “pedra de toque” e“corolário” do choque neoliberal em África, com a intervenção directa do Comando África do Pentágono e de “solícitos” membros da NATO (na mesma composição do último ataque à Síria).

Com uma Líbia voltada para África, Kadafi projectava o impensável e o “imperdoável”: um dirham (moeda líbia de elevada cotação que desse modo iria fazer frente ao CFA do “pré-carré”) para o norte de África, um exército comum em África, um satélite comum de África…

A Grã-Bretanha alinhou conforme tem alinhado invariavelmente no âmbito estrito anglo-saxónico, eliminando qualquer veleidade de concorrência…

A França havia-se rendido ao “diktat” do império da hegemonia unipolar desde a derrota dos seus agentes no Ruanda, sepultando o gaulismo e abrindo o caminho a “presidenciáveis interlocutores” como Sarkozy, “rendidos às evidências”, pois de outro modo não lhes seria possível “defender seu pré-carré”, em especial na África do Oeste e no Sahel…

A Itália, antiga potência colonial da Líbia, submissa e voluntariosa, “cedeu” seu território “ao abrigo da NATO” para as acções“punitivas” de grande envergadura que fizeram soçobrar o obsoleto exército líbio…

A parada neocolonial atingindo todo o continente africano subiu ainda mais a fasquia do saque e a intensidade maquiavélica do seu perverso jogo ante a impotência africana!


6- Das cinzas da Líbia erigida a pulso por Kadafi, resta um corpo disforme, inerte, dilacerado e, “aproveitando o êxito”, os fundamentalistas islâmicos wahabitas, financiados por sectores importantes das monarquias arábicas sunitas influentes no petrodólar, aproveitaram para disseminar o caos, o terrorismo e a desagregação por todo o Sahel a norte do Equador: até à Nigéria, à República Centro Africana e à Somália.

A “nova” ameaça surgida de manipulação em manipulação em África, “justifica” as campanhas afins obrigando a unir sob jugo neocolonial as velhas potências coloniais, sobretudo a França ciosa de possessivo “pré-carré” rico em petróleo, urânio, produtos tropicais e moeda sob tutela (o Franco CFA, que Kadafi queria fazer desaparecer).

O jogo geoestratégico dos Estados Unidos passou a fundamentar-se por via do Comando África do Pentágono (AFRICOM), aglutinando:

. As “justificadas” políticas prioritárias de segurança antiterrorista por todo o Sahel e Grandes Lagos, do Senegal à Somália, até aos Camarões, República Centro Africana e Uganda, assim como as medidas anti-pirataria no Golfo da Guiné e na Somália;

. As “justificadas” políticas de conexão dos “lobbies” do petróleo e minerais, procurando a todo o transe arregimentar os interesses e as opções das elites africanas afoitas aos “mercados” neoliberais;

. As “justificadas” medidas duma globalização de “mercados abertos” capazes de integrar sub-repticiamente os colaterais emergentes e concorrentes, uma vez que por todo o continente há carência de estruturas, infraestruturas e todo o tipo de vias de comunicação, com o agravamento de em muitos países se travar uma autêntica luta pela sobrevivência duma parte importante de suas populações e comunidades;

. As “justificadas” políticas explorando e reinterpretando a dicotomia contraditória com implicações antropológicas, entre os povos habitantes das enormes áreas desérticas trespassadas pelo “jihadismo” e os povos habitantes dos espaços vitais ricos em água interior.

Decorrente deste último jogo geoestratégico, migrações descontroladas de africanos lutando por sobrevivência expandem-se a norte pelo Mediterrâneo, para dentro da Europa e a sul por dentro do continente, em direcção à África Austral.

Com essa migração em busca de sobrevivência, germinam todo o tipo de tráficos…

Em conformidade isso obriga África a enfrentar um choque neoliberal em regime de “fogo lento” e para além dos limites de suas capacidades levadas á exaustão, para que a terapia neoliberal ao sabor dos interesses do império de hegemonia unipolar e do petrodólar se torne ainda mais pressionante, quer na Europa (com uma União Europeia “rompendo pelas costuras” a debater-se internamente com as múltiplas opções “à direita”, adoptadas em relação às migrações), quer em África.

Os “concorrentes” da emergência colateral de tendência multipolar em África, não possuem projectos geoestratégicos ao nível da transcontinental euro-asiática Rota da Seda, pelo que mobilizar os seus meios implica procurar construir estruturas, infraestruturas e vias de comunicação, que no essencial não afectam o domínio exercido sobre os insípidos “mercados de matérias-primas” e “mão-de-obra barata”, típicos da ultraperiférica economia africana, sem alternativas suficientes, que incluem as tradicionais vias típicas das economias de recolecção e de auto-subsistência, para contribuírem para fazer sair os países africanos da cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano.

Mesmo o “pan-africanismo” ao abrigo da União Africana, está a ser projectado com os pés de barro dos “mercados” dependentes de índole neoliberal, proliferando cosméticas, alienações, manipulações e ilusões, na miragem dum desenvolvimento que tarda em ser sustentável e socialmente justo.

O renascimento humano é assim um mito, apesar de tão urgente que ele é e não será com indexações social-democratas, neoconservadoras ou neoliberais, que prevalecem na superestrutura ideológica do poder dos estados em África, que as imensas tarefas no âmbito da luta contra o subdesenvolvimento poderão prevalecer, num ambiente global conforme o que pende sobre as cabeças dos africanos, estando-se a perder o legado de luta de libertação e o sentido histórico do mesmo.

Em África, na ausência dum plano como a Rota da Seda e na ausência de resistências, a emergência multipolar reduz-se ao que o bastião da África Austral poderá criar de forma independente e soberana, pois o resto do continente está reduzido a frangalhos, a retalhos e a feudos “sob controlo”, ou “sob vigilância” do império da hegemonia unipolar.

A prova está que sendo um “colonizador-de-terceira” no Sahara, mesmo assim Marrocos voltou à União Africana…

Martinho Júnior - Luanda, 14 de Abril de 2018


Imagens:
A parelha que foi decisiva para a vitória do capitalismo neoliberal em benefício do império da hegemonia unipolar;
Refugiados do Ruanda migrando em assa para o Congo;
Náufragos africanos no Mediterrâneo;
O Boko Haram actuando à volta do Lago Chade;
O Rei de Marrocos, colonizador do Sahara, após 33 anos de ausência regressa á União Africana.

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