sexta-feira, 22 de junho de 2018

Agro-negócio vencido pela luta camponesa | Zillah Branco

Zillah Branco* | opinião

As sementes da luta em defesa das populações camponesas e da soberania dos povos germinam apesar da violência e o poder financeiro dos seus inimigos. Foi divulgado em Portugal, através da edição local do jornal "Le Monde Diplomatique" de Junho/2018, um extenso artigo escrito por Stefano Liberti (¹) sobre "um projeto de açambarcamento de terras disfarçado de promessa de desenvolvimento" com o título "Os camponeses moçambicanos obrigam a agro-indústria a recuar".

É bastante gratificante ler em um jornal de grande circulação na Europa e em vários países do mundo, a explicação clara de que "os agro-industriais do Sul assemelham-se aos do Norte: sonham com lucros fáceis desenvolvendo uma agricultura comercial em detrimento dos camponeses que produzem generos alimentares. Assim nasceu o projeto ProSavana, que associa o Japão e o Brasil em Moçambique. Mas a resistência inédita dos camponeses dos três Estados permitiu parar a operação."

É preciso recordar que Moçambique conquistou a sua independência na sequência da Revolução dos Cravos de Abril de 1974. O primeiro Presidente da nação livre foi Samora Machel, lider da luta revolucionária anti-colonial, que estruturou um governo democrático capaz de defender com dignidade a soberania nacional, até ter sido morto em misterioso acidente aéreo em 1986. A Constituição de Moçambique, tal como de outros países africanos, estabelece que "a terra pertence ao Estado e não pode ser vendida". Esta prerrogativa, estabelecida em 1975 com a Independência, "concede às comunidades ou aos indivíduos um direito de uso e de aproveitamento da terra (DUAT) para cultivarem as suas pequenas parcelas agrícolas," produzindo o necessário para a alimentação local.

Moçambique enfrentou anos de conflito interno provocados pela Renamo contra o partido FRELIMO governante. Machel foi sucedido na Presidência por Joaquim Chissano até 2005 quando é eleito Armando Gabuza que apoiou o projeto ProSavana criado por "agências de cooperação" japonesas e brasileiras para implantar explorações agrícolas comerciais no continente africano.

Ao mesmo tempo em que, sob pressão externa Moçambique era manipulado por "cooperantes" que acobertam investidores e aventureiros em busca de lucros fáceis ligados aos grupos agro-alimentares e às altas finanças onde aparecem pessoas ligadas aos bancos Sachs, Merrill Lynch e outros (²), a população camponesa organizada durante a guerra colonial e os 10 anos de governo de seu lider Samora Machel formou a União Nacional de Camponeses - UNAC - que promoveu a mobilização popular a partir da aldeia de Nakari para resistir à implantação do projeto ProSavana conhecido como uma corrida às terras africanas substituindo as culturas tradicionais por "culturas rentáveis" (soja, algodão e milho) destinadas ao mercado mundial - apresentado pelo grupo Agromoz, financiado por capitais portugueses, japoneses da Agência Japonesa de Cooperação Internacional (JICA) e brasileiros da Agência Brasileira de Cooperação (ABC).

Escreve Stefano Liberti: "Por detrás da 'modernidade' de uma cooperação Sul-Sul 'ao serviço do desenvolvimento' o ProSavana destrói as relações de produção nos campos, transforma os pequenos camponeses em contratados das grandes empresas e faz de Moçambique uma placa giratória de produtos agro-industriais a exportar no mundo inteiro. Concebido em 2009 na Cimeira do G8 de Aquila, na Itália, o projeto pretende reproduzir um experiência lendária da savana tropical húmida de Mato Grosso.

O projeto foi elogiado em Novembro de 2011, por Hillary Clinton, secretária de Estado, e o magnata Bill Gates em 2011 quando o projeto foi apresentado no Forum de Alto Nível sobre Eficácia da Ajuda na Coreia do Sul.(³)"

Entretanto, em 2012, na comunidade de Wuacua próxima de Nakari, escreve S.Liberti, "funcionários públicos foram pedir aos habitantes que assinassem alguns documentos prometendo verbas em dinheiro e a realização de projetos sociais." Eles não eram alfabetizados e não perceberam que na verdade estavam renunciando ao DUAT e eram forçados a abandonar as terras. "Pouco depois a Agromoz - uma empresa de capitais mistos brasileiros e portugueses, com o envolvimento de uma companhia moçambicana, conseguiu uma concessão de 9 mil hectares, para o cultivo de soja." (...) "Wuacua hoje é uma aldeia fantasma, cercada por plantações da Agromoz. Os vigilantes recrutados pela empresa não deixam ninguém aproximar-se. A terra está nua, à espera de ser semeada."

Os pequenos agricultores de Nakari, segundo S. Liberti, "souberam pelos jornais, referido por Jeremias Vunjane da Ação Acadêmica para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais (Adecru) de Maputo, que < nos bastidores da "parceria inovadora" (atuava a GV Agro ligada à Fundação Getúlio Vargas, dirigida por Roberto Rodrigues (que foi ministro da agricultura no Brasil e consultor da empresa mineira Vale que extrai carvão na região de Tete) a quem se deve o paralelo entre o Mato Grosso e o Norte de Moçambique e a lenda de um desenvolvimento das monoculturas nestas "terras inexploradas". (4)

Alertados pelos membros das associações camponesas a nível nacional, UNAC, que acompanhavam as opiniões de técnicos do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas como o antigo relator Olliver De Shutter (5), entraram em contacto com as organizações similares no Brasil e no Japão, investigaram os objetivos comerciais, financeiros e aventureiros que estão por trás deste açambarcamento das terras onde há plantios para alimentação e da destruição da cultura camponesa na Africa, tal como já ocorre no Brasil e em outros países em que impera o agro-negócio. Stefano Liberti refere o depoimento de Carlos Ernesto Augustin, da Associação dos Produtores de Algodão do Mato Grosso: "Moçambique é um Mato Grosso no meio de África, com terras gratuitas, poucos obstáculos ambientais e custos de transporte das mercadorias para a China muito mais baixos"(6).

Jeremias Vunjane, da Adecru, associação de Maputo, relata (a Stefano Liberti) que em Novembro de 2012 uma delegação de cinco pessoas ligadas à Adecru e à Aram (Associação Rural de Ajuda Mútua) viaja para o Brasil para conhecer a situação de Mato Grosso onde ficaram em estado de choque ao percorrerem centenas de quilometros plantados com soja, sem árvores e sem comunidades camponesas. "O território está todo desarborizado. Não há nenhuma forma de vida, porque a utilização de pesticidas e de adubos criou um deserto. A perspectiva de ver a nossa terra transformada numa paisagem tão vazia pareceu-nos um pesadelo".

Quando as associações de camponeses conheceram o Plano Diretor, compreenderam que estavam a ser enganados. O documento elaborado pela GV Agro e por duas empresas de consultoria japonesas, a Oriental Consulting e a NTC International fala em "desviar os agricultores das práticas tradicionais de cultivo e de gestão das terras para práticas agrícolas intensivas baseadas em sementes comerciais, insumos químicos e títulos fundiários privados", deixando clara a intenção destruidora da vida camponesa local.

Situada perto de Wuacua está a comunidade de Nakari, do distrito de Malema, onde está presente a União Nacional de Camponeses (UNAC), de Moçambique que, pela palavra de seu representante Dionísio Mepoteia, entrevistado por S. Liberti, apoiando a decisão dos camponeses de recusarem o açambarcamento das terras da comunidade declara: "O governo está num impasse. A nossa luta permitiu-nos ter uma primeira vitória histórica. Impedimos a pilhagem e reafirmamos que a terra só nos pertence a nós, que a cultivamos há muitas gerações".

A mobilização, que começou por ser um movimento local, desencadeou uma campanha de resistência internacional. A história da expropriação de terras de Wuacua passa de boca-a-boca desafiaram o governo. "Um conjunto de 23 organizações moçambicanas escrevem uma carta aberta aos governos do Japão, Brasil e Moçambicano de denúncia (7) e cerca de 40 organizações internacionais co-assinam o documento.(...) O ProSavana é suspenso" , conclui Stefano Liberti.

Notas:
1 O autor é jornalista e realizador. Esta reportagem recebeu uma bolsa do Pulitzer Center on Crisis Reporting.
2 cf.Ward Anseeuw, Liz Alden Wily, Lorenzo Cotula e Michael Taylor, 2012 e Bases de dados Land Matrix.
3 Jun Hongo, "ODA transforming Mozambique", The Japan Times, Tóquio, 06/01/12
4 Cf. Alex Shankland e Euclides Gonçalves "Imagining agricultural development in South-South Cooperation: The contestation and transformation of ProSavana", World Development, vol.81, Amsterdão, 05/2016
5 Oliver Shutter, "How not to think of land-grabbing: three critiques of large scale investments in farmland", The Journal of Peasant Studies, vol.38, Routledge, RU, 2011
6 Patricia Campos Mello, "Moçambique oferece terra à soja brasileira", Folha de SPaulo, 14/08/2011
7 "Open letter from Mozambique civil society organisations and mouvements..."03/06/2013


* Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.

EUA vão investir 33 milhões na castanha de caju na Guiné-Bissau


O embaixador dos EUA na Guiné-Bissau anunciou hoje um investimento de 22 mil milhões de francos cfa (33 milhões de euros) na fileira da castanha de caju, no âmbito de um projeto que inclui também a Gâmbia e o Senegal.

"A boa notícia é que o nosso Governo decidiu investir 22 mil milhões de francos cfa para fortalecer a cadeia de valor da castanha de caju no Senegal, Gâmbia e Guiné-Bissau", afirmou Tulinabo Mushingi à saída de uma audiência com o Presidente guineense, José Mário Vaz.

Segundo Tulinabo Mushingi, a empresa para executar o programa na Guiné-Bissau já está escolhida e o encontro com o chefe de Estado guineense serviu, entre outros assuntos, para pedir ajuda para o seu estabelecimento no país.

A castanha de caju é o principal produto de exportação da Guiné-Bissau e motor do crescimento económico, mas o produto ainda não é transformado no país.

Segundo estudos realizados no país, a Guiné-Bissau podia ganhar dez vezes mais se aproveitasse o fruto e transformasse a castanha em amêndoa no país.

Lusa | em Notícias ao Minuto

São Tomé | Altos cargos envolvidos em tentativa de subversão da ordem constitucional


O primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, disse hoje que o objetivo do grupo que queria "interromper o funcionamento regular da ordem constitucional" era assassiná-lo num ato público e que estarão envolvidas pessoas que "já desempenharam altos cargos no país".

O Governo são-tomense anunciou na quinta-feira que foram detidos Gaudêncio Costa, antigo ministro da Agricultura e deputado do principal partido da oposição, e um sargento das Forças Armadas, Ajax Managem, por suspeita de envolvimento numa "tentativa de subversão da ordem constitucional".

"Tivemos que agir no sentido de travar um plano que visava numa primeira fase a eliminação física do primeiro-ministro numa cerimónia pública efetuada por um 'sniper' ajudado por outro elemento", para "criar condições para que depois o acesso ao poder de um grupo político fosse mais facilitado", acusou o chefe do Governo, em declarações à Lusa por telefone a partir de São Tomé.

Referindo que os serviços de segurança do Estado têm provas deste plano, nomeadamente gravações do deputado detido, Patrice Trovoada disse que estas provas foram apresentadas à Procuradoria-Geral da República e à Polícia Judiciária" para "travar o plano que deveria ser executado até ao final do mês de junho".

Questionado sobre o silêncio da comunidade internacional em relação a este caso, nomeadamente organizações que São Tomé e Príncipe integra, o primeiro-ministro referiu que recebeu "chamadas de alguns amigos com responsabilidades", mas que não está "minimamente preocupado" com a falta de posição internacional sobre o assunto.

"Não me manifesta estranheza nenhuma porque é um acontecimento recente, as pessoas têm que saber um pouco mais aquilo que se passa, não estou minimamente preocupado com isso", disse.

"O que é fundamental para mim é eu poder agir na defesa das instituições democráticas, estamos a três meses das eleições e ninguém pode retirar ao povo o seu direito de escolha", acrescentou, acusando os autores deste alegado plano de pretenderem evitar a realização de eleições.

Lusa | em Notícias ao Minuto

Sindicato questiona paradeiro de 13,5 milhões para indemnizações da TACV


Um sindicato cabo-verdiano questionou hoje o paradeiro dos 13,5 milhões de euros anunciados pelo Governo destinados ao pagamento de indemnizações aos trabalhadores da transportadora aérea TACV, acusando a empresa de falhar o cumprimento de acordos.

Em conferência de imprensa, o secretário do Sindicato de Indústria, Transportes, Telecomunicações, Hotelaria e Turismo (SITHUR), Carlos Lopes, lembrou que o Governo cabo-verdiano anunciou em outubro um empréstimo junto do Banco Negócios Internacional Europa de 13,5 milhões de euros para indemnizar os trabalhadores que seriam despedidos pela empresa.

Mas após o sindicato e administração terem assinado a 10 de abril um acordo para o pagamento de indemnizações a trabalhadores que assinaram o programa de rescisão por mútuo acordo, Carlos Lopes denunciou que o acordo não está a ser cumprido e questionou o paradeiro desse valor.

"Os trabalhadores perguntam: onde é que para o dinheiro que se encontrava em depósito na Caixa Económica para o pagamento das indemnizações?", questionou o sindicalista, informando que vários trabalhadores assinaram o acordo e que os prazos terminaram nos dias 10 e 14 deste mês.

"Não é de se acreditar que tenham utilizado o dinheiro que era destinado para o pagamento das indemnizações para outros fins? Os trabalhadores e o sindicato exigem uma explicação para toda essa situação", prosseguiu Carlos Lopes, pedindo também um esclarecimento para o "atraso injustificado" no cumprimento do acordo assinado há dois meses e meio.

O secretário permanente do SITHUR disse que já pediu explicações tanto à administração da TACV como ao ministro das Finanças Olavo Correia, mas até agora não obteve qualquer reação.

"Os trabalhadores e o SITHUR exigem o pagamento imediato das indemnizações devidas, tendo em conta os prazos que já foram largamente ultrapassados", pediu, dizendo que, face ao incumprimento dos acordos de rescisão, o sindicato exige que sejam pagos os salários por inteiro aos trabalhadores, até o pagamento das indemnizações.

"A administração da TACV deve estar ciente que os acordos de rescisão assinados com os trabalhadores são declarações de dívidas constituindo, portanto, títulos executivos, que poderão ser levados a todo o momento a tribunal para execução", afirmou.

Apesar de os prazos terem sido ultrapassados, Carlos Lopes adiantou que o sindicato deu mais tempo ao Governo, esperando que, juntamente com a empresa, arranje as "soluções adequadas" para o pagamento das indemnizações, por entender que ir aos tribunais "não é a melhor via".

Mas sublinhou que os trabalhadores estão "revoltados e indignados" e se situação se arrastar por muito mais tempo, o sindicato irá consultar os funcionários para as medidas a tomar.

A companhia aérea pública cabo-verdiana TACV está em processo de reestruturação com vista à sua privatização, tendo o Governo assinado com o grupo islandês Icelandair um contrato de gestão para reestruturação da empresa com vista à privatização.

Com um passivo acumulado de mais de 100 milhões de euros, a empresa assegura agora apenas as ligações internacionais depois de a Binter Cabo Verde ter ficado com as ligações domésticas.

O processo deverá implicar o despedimento de mais de 200 trabalhadores e o Governo anunciou os 13,5 milhões de euros para o pagamento das indemnizações, e que seguiam negociações com o Banco Mundial para a disponibilização de fundos, que deveriam estar disponíveis no primeiro trimestre, para liquidar este financiamento junto do BNI Europa.

Apesar de salientar a necessidade de reduzir os custos e de procurar uma solução para as dívidas, o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, garantiu que todos os direitos dos trabalhadores serão salvaguardados com a reestruturação da transportadora aérea.

Lusa | em Notícias ao Minuto

Cabo Verde apresenta imagem oficial da presidência da CPLP


Cabo Verde apresentou hoje, na cidade da Praia, o site e o logótipo da cimeira e da presidência cabo-verdiana da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que arranca em julho na ilha do Sal.

O logótipo apresenta um conjunto de nove linhas (representando os nove países da comunidade) dispostas em forma de um círculo aberto, em que dominam os tons azul, vermelho e verde.

O ministro da Cultura e Indústrias Criativas, Abraão Vicente, que presidiu à cerimónia de apresentação, explicou, aos jornalistas, que a imagem pretende transmitir uma "ideia de dinamismo" e de "reativação" da comunidade com "uma presença mais efetiva, mais conhecida e mais intensa" na vida dos cidadãos.

"Queremos tirar à CPLP a perceção de que é apenas uma conferência de chefes de Estado como a que se vai realizar no Sal. A nossa tónica é que a conferência do Sal é apenas o ponto de partida e de concertação", disse.

Abraão Vicente adiantou que, durante a cimeira, serão aprovadas algumas resoluções para que se possa "dar dinâmica à vida da CPLP", nomeadamente nas áreas dos oceanos, cultura e mobilidade.

"A ideia é ter de facto esse dinamismo e esse movimento que o logótipo espelha", sublinhou.

Cabo Verde acolhe, em 17 e 18 de julho, na ilha do Sal, a XII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, cimeira que marca o arranque da presidência cabo-verdiana da organização.

Para a cimeira está confirmada a presença dos chefes de Estado dos nove países membros da organização: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

A presidência cabo-verdiana da comunidade lusófona, que tem a duração de dois anos, terá como lema "Cultura, pessoas e oceanos".

Lusa | em Notícias ao Minuto

Portugal | O "bye bye" de Marques Mendes


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

Marques Mendes, de cognome o irrelevante, procura dar provas de vida mimetizando Marcelo Rebelo de Sousa, num misto de sabe tudo com a coscuvilhice da vizinha do rés-do-chão.

Tal como Paulo Portas, Mendes é um apaixonado por frases ocas, como aquela que profetiza o "bye bye" do PS à maioria absoluta se o partido não encontrar novas causas. Permita-me discordar, mas o "bye bye" à maioria absoluta acontecerá muito provavelmente e tornar-se-á uma inevitabilidade se o Governo fizer o jogo da direita. Ainda há escassas semanas um estudo internacional dava conta do elevado grau de satisfação dos portugueses no que diz respeito ao seu Governo, ocupando Portugal um dos lugares cimeiros. O estudo salientava também a forma exponencial como essa satisfação cresceu.

É evidente que nem tudo são rosas e que o desinvestimento dos últimos anos em áreas essenciais como a Saúde ou a Educação não foi suficientemente debelado. Ainda assim, parece evidente que os cidadãos encontram-se particularmente satisfeitos com a actual solução política que alia PS a PCP, BE e Partido Ecologista "Os Verdes".

Consequentemente considerar que a maioria absoluta voa pela janela devido à inexistência de novas causas ou é ingenuidade ou trata-se de má-fé. O "bye bye" profetizado pela vizinha do rés-do-chão acontecerá por culpa do PS se este insistir em se voltar a deitar na mesma cama com a direita e a legislação laboral é uma verdadeira prova de fogo. Seria mais profícuo para todos que o próximo "bye bye" fosse do próprio Marques Mendes.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

PS A ENTRAR PELO CANO RUMO AO ESGOTO DO RIO COM CRISTAS

Bom dia e boas festas aos animais que passarem por si, até aos bípedes. Este vai ser o Curto do Expresso, servido hoje por Ricardo Marques. Fixe. As abordagens são diversas, como sempre. Do nacional fazemos notar que o governo e o PS estão a entrar pelo cano, rumo ao esgoto do Rio e da Cristas. A guinada à direita do PS é o que está a dar.

Costa e certos da brigada do governo quando falam já causam vómitos. É que estamos muito fartinhos de gentes manipuladoras e aldrabonas. Vamos ver Costa a arrastar-se para a direita pelo chão sujo dos escolhos e bodegas que CDS e PSD não varreram nem lavaram após terem sido apeados do governo que teve de dar lugar ao atual, graças ao acordo de índole parlamentar do PS com o BE, o PCP e Os Verdes. Que batizaram de “geringonça”. Deixem lá, a seguir vem aí mais um Bloco Central, que para assim não o referirem vão optar por “traquitana”. Até vai ser “democrático” prós donos disto, contra o “mexilhão”. O costume. E depois diz-se o PS ser de esquerda. Nem da asa esquerda de um penico é capaz de ser. Boa morte.

Segue-se o texto do Curto à la Marques, com um palheto alentejano e uma sopita de poejos. Até vai. Está na hora. Bimba. (MM | PG)
  
Bom dia este é o seu Expresso Curto

Ó muro que vais tão alto...

Ricardo Marques | Expresso

...só um momento, por favor...estou a tentar segurar-me... Muito bem.

Escrevo-lhe do estreito muro onde todos os dias se tenta equilibrar quem faz esta newsletter matinal, obrigado a olhar para ontem, à procura do que não pode deixar de ser dito, e para hoje, em busca do que ainda será importante amanhã. A fórmula é a de sempre: um assunto principal, as outras notícias e, por fim, uma ou duas sugestões de índole mais cultural.

Vejamos alguns exemplos. Alguém mais ligado à economia começaria talvez por falar-lhe do acordo conseguido ontem relativamente à dívida da Grécia. Ou da guerra comercial entre os Estados Unidos da América e a Europa. Um especialista em política não perderia a oportunidade de mergulhar bem fundo causas e possíveis consequências do debate no Parlamento sobre o preço dos combustíveis.

Se o tema fosse desporto, não faltariam escolhas, do Sporting ao Mundial de futebol. Política internacional? Trump, claro, e o problema crescente dos migrantes que está a desorientar a Europa. Em Portugal? Greve na educação, greve na saúde... O tempo também é sempre uma escolha segura, mais segura do que o próprio tempo que faz, com chuva e trovoada em vários pontos do país.

Eu vou falar de muros.

A 22 de junho de 1990, uma pequena multidão juntou-se na Friedrichstrasse para ver uma grua arrancar do chão, e arrumar numa rua ali perto, o pequeno posto militar que o mundo inteiro conhecia como Checkpoint Charlie. A pequena estrutura de metal, testemunha de tantas tragédias e tão graves confrontos, já não servia qualquer propósito. O curso da história tinha mudado irremediavelmente sete meses antes, com a queda do Muro de Berlim. Mas havia um lado simbólico, talvez o mais importante.

"Nesta hora de alegria e expetativa, não podemos esquecer todos os que desesperaram com este muro e todos os que perderam as suas vidas por causa dele. Foi aqui, no Checkpoint Charlie, que aconteceram tantas tragédias humanas. Claro que o tempo cura muitas feridas, mas as feridas da alma não cicatrizam tão depressa", disse, nesse dia, Ingrid Stahmer, uma política do SPD.

Há sempre um lado simbólico quando se fala de muros.

OUTRAS NOTÍCIAS

Arranquemos, então, para uma cuidada seleção dos assuntos que, de uma forma ou de outra, vão preencher o seu dia noticioso.

O Eurogrupo chegou a um acordo já na madrugada de hoje sobre o 'alívio' da dívida grega ao fim de mais de nove horas de discussões. Os três principais pilares assentam numa extensão do prazo de um dos empréstimos, no prolongamento do seu período de carência, e num montante mais elevado do que se previa inicialmente para a última tranche a desembolsar pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade antes do fim do resgate em agosto.

Já reparou que há sempre gente a construir muros nos exercícios de matemática? E nunca a demoli-los. Atente no seguinte caso: Se dois homens constroem juntos 1 muro em apenas 3 dias, quantos dias serão necessários para que 10 homens, a trabalharem juntos, construam 5 muros?

Enquanto faz as contas, fique a saber que apesar de parecer ausente dos noticiários, e de se viver uma espécie de calma antes da tempestade, a greve na Educação vai de vento em popa. Um pouco por todo o país há conselhos de turma adiados (oito mil diz o DN em manchete), notas que não saeme alunos que não sabem bem o que lhes vai acontecer.

Ou melhor, têm uma ideia: os do ensino básico acabam hoje as aulas, os do 9.º ano têm prova de Português, os do 11.º de História B e os do 12.º de Desenho A e História A. Tudo Às 09h30. O Público revela hoje que mais de 35 mil alunos já foram a exame sem nota atribuída.

Às cinco e meia da tarde, a Fenprof tem marcada uma conferência de imprensa para analisar os protestos.

Já agora, a resposta é 3 dias. Uma vez, na China, vi crescer um muro do tamanho de um quarteirão num único dia.

Uma geringonça contra a geringonça que deixou sozinho o criador da geringonça. Eis o resumo da discussão e votação de ontem sobre o 'imposto' que foi imposto ao imposto sobre os combustíveis - o tal que seria revisto de vez em quando, mas nunca foi. O PS ficou sozinho e o resto das bancadas, da direita à esquerda, levaram a gasolina ao seu moinho num curiosojogo de votos a favor e abstenções.

Quando subimos tão alto no muro da política, a vista que temos é fascinante.

Um dia depois de José Silva Peneda, coordenador do PSD para a área da Solidariedade e ex-presidente do Conselho Económico e Social, ter deixado no ar a possibilidade de o partido viabilizar o Orçamento de Estado de 2019, eis que Ascenso Simões, deputado do PSD, ainda com o cheiro a gasóleo no ar, vem acusar o Bloco de Esquerda e o PCP, camaradas de geringonça, de "traição".

Do debate fica também a certeza de que o bicharoco fiscal, o-sempre-esfomeado, já percebeu que estão a pensar tirar-lhe comida da mesa. E gritou lá do fundo da caverna onde guarda o dinheiro dos impostos que não está com menos apetite - se não houver num prato, vai buscar a outro.

"A perda de receita fiscal associada às iniciativas em questão coloca um problema de sustentabilidade das nossas contas públicas", avisou o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Nunes, que não acredita nem em grandes nem em rápidas mudanças no preço em bomba. Já Assunção Cristas espera exatamente o contrário. O Público assegura, na primeira página, que só em 2019.

À hora a que tudo acontecia, perdi uns minutos a ver a quantas anda o litro. O mais barato, ontem à tarde, era num hipermercado de Vila Real de Santo António: gasolina a 1.469 euros/litro e gasóleo a 1.249 euros/ litro. Se atravessasse o rio até Aiamonte era mais barato, mas, neste caso, não era muito mais barato (conseguia a 1.434 euros e 1.224 euros, respetivamente).

Num dia com diversas iniciativas relacionadas com o sector da Saúde, um pouco por todo o país, e até uma greve, é provável que um dos temas fortes nos noticiários seja a inauguração da remodelação da Consulta Externa de Pediatria e do novo espaço de tratamento oncológico pediátrico no Hospital São João. Muito por causa disto.

Acaba hoje o período de discussão pública sobre os terrenos da antiga Feira Popular. E Lisboa venceu ontem o prémio Capital Europeia Verde de 2020.

Desfile de ministros, esta manhã, em Lisboa, para a discussão doPrograma Nacional de Investimentos 2030.

O Jornal de Notícias escreve em manchete, por cima de uma foto de sardinhas, que o "Líder do Turismo do Norte investigado por férias sem pagar".

Claro que o verdadeiro combustível que nos alimenta, aquele em que vale a pena investir, é o futebol. Não, não torça o nariz. Isto é mesmo verdade. É música para os nossos ouvidos.

Em plena época de festivais, - convém lembrar que o Rock in Rio, versão Marcelo a cantar Xutos, começa amanhã - aAltice Arena (espaço anteriormente conhecido como Meo Arena e, ainda mais anteriormente, como Pavilhão Atlântico, nome com o qual foi rebatizado o Pavilhão da Utopia na Expo'98, que faz este ano trinta anos...) promete esgotar amanhã à tarde para um dos espetáculos mais aguardados do ano: a Assembleia Geral do Sporting Clube de Portugal.

As portas abrem às 12h00 e o festival deve arrancar duas horas depois. A organização ainda não confirmou a presença do cabeça de cartaz, Bruno de Carvalho, mas o suspense não parece fazer diminuir o interesse do evento. Antes pelo contrário. O sound chek foi ontem. Jaime Marta Soares, uma espécie demanager em exercício da banda, esteve na arena e deixou no ar a possibilidade de nem aparecer. Bruno, o vocalista que querem afastar mas que não larga o microfone, ensaioumais um tudo ou nada na Sporting TV. Uma barulheira.

E amanhã, na edição do Expresso que chega às bancas logo pela fresquinha, será publicada uma sondagem sobre o que pensam os adeptos do futuro do clube.

Entretanto, os chineses compraram mais um pouco de Portugal. Como se  no Expresso, desta vez levaram parte da Lusoponte, a concessionária das duas pontes que ligam Lisboa à Margem Sul do Tejo. Com, digamos, uns pilares da 25 de Abril e da Vasco da Gama já controlados por Pequim, é com alguma preocupação que se aguardam notícias sobre a velhinha Marechal Carmona, ali para os lados de Vila Franca.

Há qualquer coisa no ar. No mar. E não é coisa boa. Ontem, o ministro da Administração Interna italiano voltou a proibir dois navios que transportam migrantes de aportar no país. Matteo Salvini, que é também o lider da Liga (de extrema-direita) acusa a ONG alemã Lifeline de apoiar os migrantes e de, ignorando os avisos das autoridades, ter "embarcado 224 migrantes ilegais, à força, em águas líbias".

Esta manhã, Roma parece ter reconsiderado e já admite abrir os portos e resgatar os 226 migrantes que estão a bordo do Lifeline - ainda que considere confiscar o navio.

Na véspera tinham sido os húngaros a aprovar um pacote de medidas legislativas que criminalizam a ajuda a migrantes sem documentos.

Eis o muro que não existe e que cada dia está mais alto. Este fim de semana há uma espécie de minicimeira de emergência da União Europeia, em Bruxelas, para discutir a questão da imigração.

É. Andamos tão preocupados com o muro que, quando chegou o murro, direto ao estômago, nem o vimos partir. A propósito do que se está a passar nos Estados Unidos da América - e enquanto ainda não é claro o que vai mudar, se é que vai mudar, na política fronteiriça de tolerância zeroresponsável por mandar crianças para a cadeia – deixo-lhe três artigos, de órgãos de comunicação de referência, onde pode encontrar uma chave para ler a realidade.

Comece no Washington Post , passe para a BBC e termine com um texto de opinião no The New York Times. Pelo caminho, leia sobre uma mãe e o seu filho.

Melania Trump foi ao Texas visitar uma dessas instalações onde se encontram crianças cujos pais foram detidos pelas autoridades norte-americanas - são prisões, não vale a pena dizer que não. Depois do aparente passo atrás de Trump, a visita da primeira-dama podia ser encarada como um sinal positivo. Mas não. Claro que não. A primeira-dama decidiu usar um casaco onde se lia "I really don't care do u?". Ao que conta a BBC, a porta-voz de Melania ficou zangada porque os media americanos só falaram da roupa.

E nós ficamos a pensar se isto tudo é a sério ou se as pessoas mais poderosas do mundo andam mesmo a brincar com o mundo.

A propósito de gente doida, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos rejeitou o recurso de Anders Breivik, o neonazi que matou 77 pessoas na Noruega, em 2011.

Nas coreias, representantes da Cruz Vermelha do norte e do sul participam hoje numa reunião com o objetivo de prepararem um encontro de famílias separadas pela guerra.

Em Espanha, um tribunal decidiu libertar sob caução os cinco homens condenados por abuso sexual de uma rapariga de 19 anos.

E a União Europeia respondeu à guerra comercial declarada pelos EUA com um pacote de medidas avaliado em 3,2 mil milhões de dólares. O alvo? As motos, uísque e sumos de laranja made in USA.

É cada vez mais fundo o fosso que os divide, como um muro enorme que vai crescendo para baixo.

Na categoria "A sério? Não fazia ideia", fique a saber que o nível de vida dos portugueses está a regredir há 15 anos.

Operação Fizz. O curioso caso que fez tremer as relações entre Portugal e Angola, a propósito do alegado envolvimento de Manuel Vicente, aproxima-se do fim com o Ministério Público a pedir pena suspensa para o procurador Orlando Figueira.

No domingo há eleições na Turquia. A revista E aborda o assunto na edição de amanhã, mas até lá pode ver aqui o que está em causa.

A gorila Koko morreu ontem, aos 46 anos. Em 1983, recorrendo a alguns dos mais de mil sinais que aprendeu ao longo da vida, pediu um gato como prenda de Natal.

E há também uma história triste que envolve um gato em Ponte de Lima e que, graças a um vídeo, se tornou notícia nacional.

Na Venezuela, o presidente Nicolas Maduro, que culpa a oposição e os empresários pela crise em que se encontra o país, anunciou mais uma subida do salário mínimo, desta vez de 103,7 %. Na prática, os venezuelanos passam a receber por mês um pouco mais de 5 milhões de bolívares. Na prática, são 56,7 euros.

Sente o cheiro a dinheiro no ar? A Chanel revelou pela primeira vez os seus resultados anuais e o mundo ficou a saber que a empresa de perfumes e produtos de luxo vale 10 mil milhões de dólares.

Breve noticiário sobre o Irão, próximo adversário de Portugal no mundial. Ao que parece, a decisão norte-americana de abandonar o acordo nuclear está a ter consequências estranhas. Uma das mais recentes, como conta o Financial Times, envolve um programa de TV que prometeu sortear um carro para os espetadores que conseguissem acertar mais resultados do Campeonato do Mundo. O problema é que, devido às sanções americanas, o preço dos carros – como os de quase tudo - estão a subir. E agora ninguém sabe como resolver o problema.

Sem mudar de tema, as sanções, nem de país, veja como a proibição de uma app pelas autoridades iranianas está a afetar a economia.

Resumo do dia na Rússia: A Argentina perdeu. Mais um treinoda seleção. A França ganhou. Faltam três dias para o jogo com o Irão. A Dinamarca e a Austrália empataram.

Também sobre o Mundial, e para aqueles (poucos) que ainda têm dúvidas de que o futebol é um dos maiores negócios à escala global, nada como ler acerca da vida difícil no mundial da Rússia de um jogador mexicano a contas com a justiça norte-americana.

Para o fim fica o muro mental do PCP, que, através de um artigo de opinião no jornal "Avante", assinado por Angelo Alves– membro do Comité Central e identificado pelo partido como "intelectual, 45 anos de idade" - vem em defesa da União Soviética do tempo do Checkpoint Charlie, hoje Rússia dos oligarcas milionários, ao mesmo tempo que ataca a imprensa portuguesa.

Há muros que ficam de pé muito depois de terem caído.

O QUE ANDO A LER

"Aqui mesmo", de Jean-Claude Forest. A editora Levoir apresenta-o como um dos mais conhecidos autores de BD francesa, pioneiro da BD adulta e criador de Barbarella. Comprei o livro há uma semana e, de propósito, conta a história de Arthur Même, um homem que vive em cima de muros e numa luta constante para recuperar as terras que lhe foram usurpadas pelos primos.

Arthur passa os dias a correr de um lado para o outro, com um molho de chaves numa mão e a outra mão estendida à espera do pagamento, sem o qual se recusa a abrir os portões que permitem passar de uma propriedade para a outra. É um homem que vive acima dos restantes, mas sempre com medo de cair e de ser mordido pelos cães. Incapaz de se libertar do labirinto a que se condenou, Arthur não percebe que há um mundo lá fora, e que esse mundo é maior do que o seu.

É maior do que o de qualquer um de nós.

O fim de semana está mesmo aí e nada como perder umas horas à mesa a ler a edição do Expresso em papel. A partir de amanhã estará à venda o novo guia Boa Cama Boa Mesa, que inclui uma listagem de mais de 500 marisqueiras, cervejarias, esplanadas e terraços. Até lá tem o Expresso Diário às seis da tarde e informação durante todo o dia no site do Expresso.

Bom dia e bom fim de semana.

Salte o muro.

Drogam as crianças | … E AINDA MAIS SOBRE O TERRORISMO DOS EUA E DE TRUMP


Parece um filme de terror mas não é um filme. É o terror dos EUA e de Trump exercido contra os latino americanos adultos e que também aterroriza os seus filhos, muitos de tenra idade. 

Os EUA são profícuos em aterrorizar populações, vimos no Vietname  e em outros terríveis teatros de guerra, vimos os seus parceiros de Israel a fazer o mesmo na Palestina, o que ainda não tínhamos visto com tanta nitidez é nos próprios EUA as crianças latino americanas sofrerem traumas irremediáveis devido ao terrorismo dos EUA, de Trump e da súcia de criminosos a viverem com gáudio na opulência da Casa Branca e noutros departamentos governamentais associados.

Trazemos ao PG novo texto do Expresso acerca do tema. Pouco importa ser dito que vão abrandar as ações coercivas praticadas contra os latino americanos e contra as suas crianças porque a maquilhagem que possa aplicar à realidade e drama do sofrimento de milhares de crianças e de adultos já não nos permite acreditar numa única palavra do criminoso Trump, nem dos que o ladeiam. Segue o texto de Hélder Gomes. Mais um com mais do mesmo: terrorismo dos EUA e de Trump. (MM | PG)

“As grades não são nada comparadas com a separação dos pais.” Mesmo dando calmantes às crianças

A badalada “tolerância zero” do Presidente dos EUA, Donald Trump, em relação aos migrantes sem documentos conheceu nas últimas horas avanços e recuos. Face à pressão política e humanitária, Trump pareceu recuar e assinou um decreto a proibir que as crianças fossem afastadas dos pais para, pouco depois, assegurar que continuará a agir com mão dura. Mais preocupante ainda parece ser a administração de enormes quantidades de psicotrópicos a crianças, entretanto revelada. “O sofrimento e o desamparo têm efeitos para toda a vida”, diz um dos psicólogos ouvidos pelo Expresso

Nos últimos dias, circulou uma gravação áudio de crianças da América Central, separadas dos pais, e mantidas num centro de detenção na fronteira entre o México e os EUA. “Há pessoas que não a conseguem ouvir porque o choro das crianças é excruciante. Esta nossa reação dá-nos uma curta medida da angústia e do sofrimento em que estas crianças se encontram”, avalia a psicóloga e psicoterapeuta Ana Moniz.

“A probabilidade de desenvolverem uma depressão reativa, perturbações de ansiedade e de personalidade e problemas comportamentais é muito alta”, continua, acrescentando que “algumas já podem estar a manifestar esses sintomas, enquanto outras só irão manifestá-los mais tarde”.

Ao contrário dos adultos, que têm “a capacidade intelectual de saber o que está a acontecer”, estas crianças “só comunicam entre si, com outras crianças também desesperadas e que também não sabem o que se passa”, contrapõe Tânia Dinis, também psicóloga e psicoterapeuta. Perante uma situação que não entendem, começam a revelar sinais de profunda insegurança.

Para tentarem remediar a situação, os adultos que se ocupam delas nos centros poderão pintar um cenário de esperança, que acaba por não se concretizar, “mentindo-lhes”, e as crianças rapidamente percebem e começam a desconfiar. “Quanto mais precocemente se manifestar essa desconfiança, maior será a dificuldade de estabelecer relações futuras – amorosas, no trabalho, etc. – porque sentirão sempre que qualquer pessoa lhes pode puxar o tapete a qualquer momento”, alerta.

Uma criança desamparada até pode aproximar-se de um adulto, em busca de conforto, de uma ligação segura. “Pode até agarrar-se às pernas de um adulto porque só quer que qualquer pessoa cuide dela, mas isso não é afeto genuíno”, sublinha Tânia Dinis. Do ponto de vista emocional, ligar-se ou não se ligar são cenários semelhantes, porque “não há segurança no vínculo”.

Por isso, a especialista defende que uma tentativa de aproximação é “um desastre tão grande como a situação em que a criança se encolhe num canto e não quer contacto com ninguém”. Por outro lado, as crianças detidas estão “entregues a adultos sem capacidade para lidar com elas e, mesmo que tivessem essa capacidade, não teriam mãos para atender a tantos casos”, refere.

“PODERIA SER TRAUMÁTICO PARA QUALQUER PESSOA E EM QUALQUER IDADE”

“O que se está a passar poderia ser traumático para qualquer pessoa e em qualquer idade”, ressalva Ana Moniz. “Mas estamos a falar de crianças de um a cinco anos, idades em que a ligação às figuras de vinculação é crucial para desenvolverem uma noção de confiança em si próprias, nos outros e no mundo. É uma necessidade básica”, defende. E acrescenta: “As grades não são nada comparadas com a separação dos pais. O sofrimento e o desamparo têm efeitos para toda a vida”. A diretora executiva da UNICEF Portugal, Beatriz Imperatori, concorda que se trata de uma “situação deveras traumática” e que, do ponto de vista clínico, “essas crianças poderão ter necessidade de acompanhamento”.

Beatriz Imperatori qualifica a situação atual como “um óbvio exercício de violência”, que põe em causa “o superior interesse da criança nos princípios fundamentais da segurança e do bem-estar”. De qualquer modo, a secção portuguesa da agência das Nações Unidas para a proteção das crianças mostra-se “satisfeita com a alteração da política”, anunciada esta quarta-feira por Donald Trump, e sobretudo com as “consequências no terreno”, ou seja, “não haver mais crianças desacompanhadas”, que passam agora a ser detidas juntamente com os pais.

No entanto, pouco depois de ceder à pressão interna e internacional e assinar uma ordem executiva para acabar com a separação de famílias na fronteira, o Presidente dos EUA assegurou que a política de “tolerância zero” em relação aos migrantes era para continuar. Trump garantiu então que os Estados Unidos iam mandar os migrantes de volta, numa formulação agressiva e difícil de traduzir de uma forma que lhe faça justiça: “we’re sending them the hell back”.

Por outro lado, de acordo com a própria administração americana, a tal ordem executiva não será aplicada às mais de 2300 crianças que já foram separadas dos pais. A responsável da UNICEF defende que é crucial “resolver a situação dessas crianças já separadas”, sublinhando que há uma “óbvia urgência na reunificação dessas famílias”. No processo de relativa normalização que venha a acontecer, o pediatra Hugo Faria defende que “é fundamental explicar à criança o que se passou”. Quando “a rede de suporte se rompe, é necessário ajudar a restabelecer os laços”, devolvendo às crianças “o conforto e a segurança” perdidos, acrescenta.

NOVE COMPRIMIDOS DE MANHÃ E SETE À NOITE

Na quarta-feira, o jornal “Huffington Post” revelou, citando documentos judiciais, que funcionários dos centros de reinstalação de refugiados estão a administrar psicotrópicos a crianças sem o consentimento dos pais. Num dos casos denunciado, uma criança tomou nove comprimidos de manhã e outros sete à noite, uma prática que, segundo a documentação médica e judicial a que o jornal teve acesso, é generalizada.

Hugo Faria mostra-se “profundamente chocado”, dizendo que isso “revela a intensidade do desespero e da angústia” por que passam as crianças quando é necessário administrar “uma quantidade tão grande de medicamentos”. “O fármaco pode ajudar, mas deve ser o último recurso. Não é desejável que a criança necessite dele”, acrescenta. E, tendo em conta a quantidade de medicamentos administrada, deixa a pergunta: “qual será a intensidade de um stress pós-traumático?”. “A confirmar-se este caso e existindo uma denúncia sólida, acreditamos que os mecanismos de supervisão atuarão da forma que for necessária”, afirma, por sua vez, Beatriz Imperatori.

A psicóloga e psicoterapeuta Tânia Dinis levanta um problema raramente considerado: o trauma dos próprios agentes nos centros de detenção. “A conformidade e a obediência de quem está no terreno poderão levá-los a considerar que a responsabilidade não é sua, que estão apenas a cumprir a lei. Mas quando um dia lhes passar o nevoeiro, que os faz acreditar que os imigrantes são más pessoas e que os culpados são os pais, isso poderá persegui-los para o resto da vida”, explica.

O stress, a irritabilidade, o consumo abusivo de álcool e drogas e até a violência doméstica são alguns dos cenários possíveis, refere, acrescentando a possibilidade de virem a ter “pesadelos com as caras das crianças”. Quanto às vítimas mais imediatas, Ana Moniz diz que “no limite, estas crianças vão sobreviver, é provável que sobrevivam”. “Mas é uma tragédia como sociedade que estejamos ao nível da sobrevivência”, conclui.

Hélder Gomes | Expresso

Wallerstein: o G-7, quem diria, acabou no Canadá


Como surgiu o clube de governantes que expressava a hegemonia do Ocidente sobre o planeta. Por que o poder dos EUA sempre foi um amparo e um ruído. Quais os sinais de que tudo está por um triz

Immanuel Wallerstein* | Outras Palavras

Uma instituição chamada G-7 [grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido] realizou sua reunião anual nos dias 12 a 13 de junho de 2018 em Charlevoix, Quebec, Canadá. O presidente Trump compareceu no começo do encontro, mas saiu mais cedo. Como as opiniões eram incompatíveis, o grupo de seis membros negociou com o sétimo (Trump) um texto bastante anódino como a declaração conjunta usual.

Trump mudou de ideia e se recusou a assinar qualquer declaração. Os seis, então, redigiram uma declaração que refletia seus pontos de vista. Trump ficou irritado e insultou os demais participantes da reunião. O incidente foi interpretado pela imprensa mundial como sinal do desprezo político recíproco entre Trump e os outros seis chefes de Estado e de governo participantes. A maioria dos comentaristas também avaliou que a batalha política sinaliza o fim do G-7 como um ator importante na política mundial.

Mas o que é o G-7? Quem inventou a ideia? E com qual finalidade? Nada é menos claro. O nome da instituição mudou constantemente ao longo dos anos, assim como o número de membros. Muitos pensam que surgiram grupos mais importantes, como a do G-20 ou do G-2. Há também a Organização de Cooperação de Xangai, fundada em oposição ao G-7, e que exclui os Estados Unidos e os países da Europa Ocidental.

A primeira pista para as origens do G-7 como conceito é a data do nascimento da ideia do G-7. Foi no início da década de 1970. Antes disso, não havia instituição em que os Estados Unidos participassem em pé de igualdade com outras nações. Lembre-se que, após o fim da Segunda Guerra Mundial e até os anos 1960, os Estados Unidos eram o poder hegemônico do sistema mundial moderno. Convocaram reuniões internacionais de seu exclusivo interesse. O objetivo de tais encontros era principalmente implementar políticas que os Estados Unidos considerassem úteis – para eles mesmos…

Mas, a partir da década de 1960, os Estados Unidos não podiam mais agir de maneira tão arbitrária. Começava a haver resistência a seus arranjos unilaterais. Essa resistência foi a evidência de que o declínio dos EUA como potência hegemônica havia começado. Para manter seu papel central, os Estados Unidos mudaram de estratégia. Os sucessivos governos do país buscaram maneiras para ao menos retardar o declínio. Uma das maneiras foi oferecer a certas grande potências industrializadas o status de “parceiros” na tomada de decisões no mundo. Era uma troca. Como retribuição à promoção ao status de parceiros, os países agraciados deveriam concordar em limitar sua independência em relação às políticas norte-americanas.

Seria possível argumentar, portanto, que a ideia do G-7 foi inventada pelos Estados Unidos como parte desse novo arranjo. Um momento-chave no desenvolvimento histórico do G-7 foi a primeira cúpula anual dos principais governantes, em oposição às reuniões de figuras de menor relevo, como ministros das Finanças. A iniciativa, no entanto, não partiu dos Estados Unidos, mas da França.

Foi Valéry Giscard d’Estaing, então presidente francês, que convocou a primeira reunião anual dos principais governantes em Rambouillet, na França, em 1975. Por que ele pensava ser tão importante que houvesse uma reunião dos principais governantes? Uma possível explicação foi ele ter enxergado no evento uma maneira de limitar ainda mais o poder dos EUA. Diante da negociação com o conjunto de outros governantes, cada um com prioridades diferentes, os Estados Unidos seriam forçados a negociar. E desde que os principais governantes mundiais se comprometessem com o resultado da reunião, seria mais difícil para qualquer um deles repudiá-lo mais tarde.

Rambouillet começou uma luta entre os Estados Unidos e várias potências europeias (especialmente a França) sobre todas as grandes questões mundiais. Foi uma luta na qual os Estados Unidos se deram cada vez pior. Em 2003, o país se viu incapaz, pela primeira vez na história, de obter a maioria dos votos no Conselho de Segurança da ONU, quando se preparava a reunião sobre a invasão do Iraque pelos Estados Unidos. Este ano, em Charlevoix, os EUA viram-se incapazes até mesmo de unir-se a uma declaração conjunta banal com os outros seis membros do G-7.

O G-7 está liquidado, para todos os efeitos. Devemos lamentar isso? A luta entre os Estados Unidos e os outros seis membros do grupo foi basicamente pelo direito de oprimir o resto das nações do mundo. Esses países menos poderosos serão (ou seriam) melhores donos do mundo se o modo europeu de opressão vencesse? Penso que não.

Todos saúdam Charlevoix! Trump pode ter nos feito o favor de destruir esse último grande remanescente da era da dominação ocidental do sistema mundial. É claro que o fim do G-7 não significará que a luta por um mundo melhor acabou. De modo algum. Aqueles que apoiam um sistema de exploração e hierárquico procurarão outras formas de viabilizá-lo.

O que me traz de volta ao que é meu tema central. Estamos em meio a uma crise estrutural do sistema mundial moderno. Está em curso uma batalha sobre qual sistema sucederá o atual. Tudo é muito volátil no momento. Cada lado está por cima um dia e por baixo no seguinte. Temos, de certo modo, sorte por Donald Trump ser  tolo a ponto de ferir seu próprio lado com um grande golpe. Mas não somos torcedores de Justin Trudeau ou Emmanuel Macron, cuja versão mais inteligente de um sistema de opressão está em lutar com Trump.

*Immanuel Wallerstein - Um dos intelectuais de maior projeção internacional na atualidade. Seus estudos e análises abrangem temas sociólogicos, históricos, políticos, econômicos e das relações internacionais. É professor na Universidade de Yale e autor de dezenas de livros. Mantém um site onde publica seus textos (http://www.iwallerstein.com/).

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