domingo, 30 de dezembro de 2018

Portugal | Um castigo que poderia ter algumas virtudes


Jorge Rocha | opinião

Falhada a arruaça dos coletes amarelos, já os mesmos mentecaptos se apressam a convocar nova algazarra tendo o culto de Salazar como motivação. A notícia fez-me recordar uma outra, com alguns dias, sobre um contumaz caçador furtivo a quem um juiz norte-americano condenou a prisão efetiva e à obrigatoriedade de ver diariamente «Bambi», o filme dos estúdios Disney em que é antológica a cena da morte da mãe do jovem protagonista.

Não sei se a receita conseguirá aos pretendidos objetivos do magistrado, mas ele terá, porventura, recordado como o protagonista da «Laranja Mecânica» mudara de comportamento depois de sujeito a tratamento similar. 

Por isso mesmo não seria mal pensado que os organizadores e participantes desse novo burburinho, fossem encarcerados em nome de uma Constituição, que proíbe explicitamente as atividades fascistas, recebendo como dose complementar a contínua visualização da série de Fernando Vendrell sobre Natália Correia, Vera Lagoa e Snu Abecassis, para entenderem quão indigente era o regime, que pretendem homenagear.

jorge rocha | Ventos Semeados

2019 | Apesar de tudo, esperança


Manuel Carvalho da Silva | Jornal de Notícias | opinião

Esperança, diz-se muitas vezes, é o mínimo que podemos desejar uns aos outros na véspera do novo ano.

Para milhões e milhões de seres humanos, velhos e novos, que se encontram acantonados, despidos de bens, de direitos, de instrumentos para ação e de condições mínimas para encarar o futuro, a recuperação da esperança poderá constituir o presente mais valioso. Mas isso só será possível se outros, voluntariamente ou obrigados, iniciarem a reposição dos roubos que lhes fizeram.

A esperança é indispensável para podermos vencer os medos vindos dos bloqueios, das nuvens negras dos tempos que estamos vivendo, dos velhos e novos "desafios mágicos" colocados às sociedades humanas, muitas vezes apresentados apenas nas suas variáveis apocalíticas com o propósito de nos subjugarem e aprisionarem. Esperança ativa construída a partir da inteligência e das capacidades de cada ser humano - convocado para agir individual e coletivamente - porque é a partir daí que se gera a confiança, a ousadia sustentada em valores, capaz de realizar a mudança radical, de transformar a sociedade, de catapultar-nos para vidas mais felizes.

Procuremos ousar exigir que os discursos militaristas e belicistas a ocidente e a leste, a norte e a sul não se transformem em escaladas de rearmamento e de guerra sempre iminente, e que diminua a imensidão de conflitos armados e de situações de sofrimento em que se encontram muitos povos. É possível valorizar e credibilizar a política pela participação dos cidadãos e pela exigência aos atores políticos de comportamentos com ética, rigor e empenho no bem comum. Está ao nosso alcance colocar o poder político a sobrepor-se ao poder económico e financeiro e a política ao serviço da paz, da construção do Estado social de direito democrático.

Vamos ter a esperança ativa de que alguma coisa seja feita para evitar uma nova crise financeira, em vez de se esperar por ela como se de uma fatalidade se tratasse; de que as alterações climáticas possam ser reconhecidas e combatidas, no pouco tempo que ainda temos para o fazer; de que não continue a aumentar o número de cidadãos que, em desespero, se deixam levar pelo fanatismo autoritário dos novos messias políticos da Direita e da extrema-direita que vêm alimentar o racismo, a xenofobia, o ódio entre grupos de pessoas e povos.

Vamos ter a esperança de que em Portugal não ocorra um retrocesso. Que seja possível continuar a desejar e a conseguir mais emprego e menos desemprego, salários dignos e menos desigualdades, mais e melhor justiça e serviços públicos capazes de responder às necessidades de todos, menos apropriação do que é de todos por interesses privados poderosos, menos emigração e mais regressos dos que foram expulsos para o estrangeiro contra a sua vontade.

Pode parecer que nos votos de ano novo como estes todos, ou quase, estamos de acordo. Que não há aqui política, nem de Esquerda, nem de Direita. Infelizmente, não é assim. Para se conseguir que os povos (e cada ser humano) tenham condições e razões para ter esperança é preciso contrariar muita coisa e vencer, em batalhas bem duras, interesses poderosos, egoísmos e muitos indivíduos que atribuem a si mesmos o direito a explorar uma imensidão de homens e mulheres. Estes votos de esperança convidam-nos a construir identidades coletivas, a afirmar a solidariedade transformadora, a combater o individualismo exacerbado e a pobreza, a uma luta sem tréguas pela dignidade e pelos direitos humanos no trabalho. Convidam-nos ao combate ideológico e à preparação e execução de desafiadores programas sociais e políticos.

2019 será um ano de escolhas políticas importantes. Relembremos o que nos disseram nos anos da troika e da governação da Direita: que a culpa dos problemas que vivíamos era do povo, logo todos os sacrifícios se justificavam e tínhamos que desistir da esperança. O que nos dizem agora? Que o problema é a criação de expectativas (ilusões, dizem eles). E o que nos propõem? Que desistamos da esperança, do sonho de viver melhor e mais felizes.

A mobilização e a ação cívicas e um debate político de qualidade podem consolidar, renovar e reforçar alternativas políticas de esperança, e evitar o retrocesso.

*Investigador e professor universitário

Brexit, piratas informáticos e populismo. O que preocupa Juncker em 2019?


Prestes a abandonar o cargo enquanto Presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker conta a um jornal alemão quais sãos as suas principais preocupações e os seus objetivos nesta fase final do mandato.

Jean Claude Juncker nega que a União Europeia esteja tentar dissuadir o Reino Unido de abandonar a Europa comunitária. Em entrevista ao jornal alemão Welt am Sonntag, o Presidente da Comissão Europeia reconhece que está preocupado com a coesão entre os 27 estados membros depois do Brexit, nada que faça com que os líderes europeus queiram, nesta altura, impedir a saída do Reino Unido.

O Presidente da Comissão Europeia garante que o objetivo da União Europeia é manter a coesão interna e começar a discutir novos traços com o Governo de Londres.

Juncker diz que respeita o resultado do referendo britânico e desmente que a União esteja a tentar manter o Reino Unido a todos os meios.

O líder europeu admite ainda que a União está pronta para negociar um novo acordo com a Grã-Bretanha, assim que o parlamento britânico aprovar o acordo de divórcio.

A cinco meses das Eleições Europeias, Juncker diz ainda estar preocupado com os desafios da Europa, a começar pela divisão dos europeus alimentada por movimentos populistas.

A crise política da Roménia é outra das preocupações, numa altura em que o Governo de Bucareste se prepara para assumir a presidência rotativa da União Europeia.

No plano externo, e no que toca ao acordo comercial sobre as tarifas dos carros, Donald Trump é outra dor de cabeça. Juncker espera que o Presidente norte-americano mantenha a palavra, caso contrário não se sente obrigado a honrar os compromissos com Washington.

O Presidente da Comissão Europeia manifesta também receio de que grupos de piratas informáticos da China e da Rússia possam influenciar as eleições europeias de 2019.

Maria Miguel Cabo com Sara Beatriz Monteiro | TSF | Foto: Vincent Kessler/Reuters

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