Opositores querem que Presidente
angolano se pronuncie sobre alegada ligação com as “dívidas ocultas” de
Moçambique. UNITA e CASA-CE, partidos da oposição em Angola, exigem também
tomada de posição da PGR
Continuam as reações à possível
ligação do Presidente angolano a empresas envolvidas no escândalo das
"dívidas ocultas" em Moçambique. A
denúncia foi feita pela consultora
EXX Africa, que alerta que Angola pode enfrentar riscos reputacionais por
causa de negócios feitos em 2015, quando João Lourenço era ministro da Defesa.
Embora o Presidente esteja
atualmente em visita privada aos Estados Unidos da América, Lindo Bernardo
Tito, da CASA-CE, a segunda maior força política da oposição em Angola, quer
que João Lourenço, agora na qualidade de chefe de Estado, se pronuncie sobre o
caso.
"O Presidente da República
devia dar explicações aos angolanos sobre essa possível ligação ao escândalo
das dívidas ocultas de Moçambique, que já levou para prisão o antigo ministro
das Finanças daquele país”, afirma Tito.
Já Alcides Sakala, deputado e porta-voz
da UNITA, o maior partido da oposição angolana, quer que a Procuradoria-Geral
da República investigue as denúncias da consultora.
"Estamos a acompanhar, como
poderá imaginar, com bastante atenção. É nosso entendimento que perante estas
informações recorrentes, a Procuradoria-Geral da República já devia ter tomado
posições para melhor enquadramento desta matéria. Acredito haver aqui matéria
suficiente para o Ministério Público tomar as medidas que se acharem as mais
apropriadas”, diz Sakala.
Credibilidade em risco
Num relatório especial, a
consultora destaca a ligação entre o Governo de Angola e a empresa Privinvest,
liderada pelo libanês Jean Boustani. O principal suspeito no caso das
"dívidas ocultas" de Moçambique foi detido nos Estados Unidos no início
do ano. O Ministério da Defesa de Angola, na altura liderado por João Lourenço,
chegou a fazer um contrato de 495 milhões de euros para comprar barcos à
Privinvest, num contrato com muitas semelhanças com as empresas que estão no
centro do escândalo das dívidas ocultas, revelou a consultora. As ligações e os
negócios feitos podem "minar o ímpeto muito popular e mediático contra a
corrupção", diz ainda o relatório.
O combate
à corrupção e a impunidade tem, de facto, sido o cavalo de batalha do Presidente
angolano, que a comunidade internacional tem visto com bons olhos. Mas, para
Lindo Bernardo Tito, essa luta pode ser posta em causa por causa desta alegada
ligação.
"Se o Presidente não se
pronunciar, irá se criar sobre ele uma imagem menos boa, o que poderá perder
credibilidade na sua vontade de combater a corrupção, o nepotismo e a
impunidade quem se coloca num desafio com este deve ter a ficha limpa”, conclui.
Manuel Luamba | Deutsche Welle
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