"Portugal tentou tudo para evitar”
que Rui Pinto denunciasse a corrupção
O português Rui Pinto, que
denunciou alegados casos de corrupção e evasão fiscal no futebol, classificou
Portugal como "um país repressivo para denunciantes", esperando
mudanças com a lei hoje aprovada para proteger estas pessoas na União Europeia
(UE).
"Portugal é um dos países
europeus mais repressivos para os 'whistleblowers' [denunciantes]. Por isso,
espero que a nova diretiva europeia possa mudar isto, num futuro próximo, e que
dê coragem às pessoas que lutam contra a corrupção em todos os níveis",
salientou Rui Pinto
Esta mensagem de Rui Pinto, que
está preso em Portugal desde o passado dia 22 de março, foi lida na cerimónia
de atribuição de um prémio europeu para denunciantes promovido pela Esquerda
Unitária Europeia (GUE/NGL), do qual o 'hacker' português foi um dos
vencedores.
A mensagem foi lida numa
conferência de imprensa por outro denunciante, o auditor francês Antoine
Deltour, que divulgou o escândalo financeiro LuxLeaks.
"Planeei denunciar tudo este
ano, mas o mandado de detenção executado por Portugal precipitou tudo,
incluindo os meus esforços para estabelecer uma colaboração vital com autoridades
de outros países para investigar vários crimes", acrescentou Rui Pinto,
referindo que "Portugal tentou tudo para o evitar, mas não
conseguiu".
Sobre o prémio GUE/NGL, que
distinguiu 'Jornalistas, denunciantes e defensores do direito à informação',
Rui Pinto disse ser "uma grande honra" recebê-lo.
E vincou que fez "isto pelas
pessoas, pela verdade e pela transparência".
"As autoridades portuguesas
querem pintar-me como um criminoso e descredibilizam tudo o que fiz ao expor a
criminalidade no futebol e noutros setores", lamentou.
Na declaração, Rui Pinto
reiterou, assim, ter "receio de não ter um julgamento justo em
Portugal".
"A decisão absurda que levou
à minha detenção fortalece os meus medos", adiantou.
Através da plataforma eletrónica
Football Leaks, o 'hacker' começou a divulgar, em 2015, milhares de documentos
confidenciais de contratos e transferências do mundo do futebol, que davam
conta desses esquemas de evasão fiscal.
Rui Pinto, hoje com 30 anos, foi
entregue pelas autoridades húngaras à justiça portuguesa em março deste ano e
encontra-se em prisão preventiva no âmbito de um inquérito titulado pelo
Departamento Central de Investigação e Ação Penal, no qual está indiciado por
seis crimes relacionados com acessos aos sistemas informáticos do Sporting e da
Doyen Sports e com uma alegada tentativa de extorsão a este fundo de
investimento.
Os vencedores do prémio do
GUE/NGL foram anunciados à margem da sessão plenária do Parlamento Europeu, que
decorre em Estrasburgo, França, e incluem também o fundador da organização
Wikileaks, Julian Assange, e Yasmine Motarjemi, denunciante dos lapsos de
segurança alimentar da Nestlé.
Hoje foi ainda aprovada no
Parlamento Europeu, em Estrasburgo, a primeira lei europeia para os
'whistleblowers', visando uma proteção uniforme e elevada em toda a UE.
As novas regras preveem, por
isso, canais de comunicação seguros (internos e externos) para as denúncias e
medidas contra a intimidação e represálias.
No caso de Rui Pinto, o hacker
não irá beneficiar diretamente da nova lei, sendo que não agiu no seio de uma
organização, como prevê a diretiva, mas pode ser, ainda assim, abrangido pela
ação em prol do interesse público, desde logo quando esta legislação é
relacionada com outras existentes.
Lusa | em Notícias ao Minuto
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