Manuel Carvalho Da Silva * | Jornal de Notícias | opinião
Há validade e seriedade política
no argumento do Partido Socialista (PS), de não se dispor a aprovar legislação
laboral que não tenha sido "consensualizada" na Concertação Social? Não. E o PS e o Governo sabem bem que o argumento não tem sustentação.
Conceituados constitucionalistas,
juristas do trabalho, investigadores e académicos de várias formações, grande
parte dos atores sociais que participaram na Concertação Social e
ex-governantes da área do trabalho reconhecem que esse importante órgão de consulta
e concertação tem, desde a sua génese, entorses conceptuais, estruturais e
orgânicas e que, muitas vezes, foi instrumentalizado por governos. Além disso,
funciona com uma representatividade imposta, sem qualquer aferição inicial e ao
longo dos 35 anos da sua existência, por motivos políticos. A Concertação
Social nunca foi, mas hoje está ainda mais longe de ser, um espelho fidedigno
das relações laborais em Portugal.
O primeiro-ministro, António
Costa, afirmou ao "Público" a 7 de dezembro de 2015: "Tal como
não temos uma visão limitada do diálogo político ao "arco da
governação", também não temos o diálogo social limitado às confederações
patronais mais uma confederação sindical", rematando a análise do tema
dizendo, "ninguém queira transformar a Concertação Social numa câmara alta
com poder de veto sobre as decisões da AR".
O PS explora a necessidade de
submissão das reformas laborais à Concertação Social - a instituição mais
pensada na lógica do velho arco da governação - como modo de travar reformas de
sentido mais progressista. O PS raramente afirma discordar das reformas
laborais que vota desfavoravelmente. Diz apenas que os parceiros sociais ainda
não se pronunciaram ou se pronunciaram desfavoravelmente. Ao refugiar-se na
posição dos parceiros sociais, protege-se da posição insustentável que seria
assumir, abertamente, a rejeição de direitos fundamentais na área laboral.
Com este comportamento, o PS diz
aos portugueses que nunca será possível fazer reformas laborais de sentido
progressista em Portugal, mesmo que a maioria da população tenha transmitido um
sinal implícito nesse sentido através do seu voto. Submeter todas as reformas
laborais à Concertação Social é assegurar que só há dois caminhos possíveis: ou
a estabilização dos desequilíbrios, como agora fez, ou o aprofundamento desses
desequilíbrios. As duas opções, em conjunturas diferentes, agradam a Bruxelas,
à Direita e a todos os que objetivamente apostam nos baixos salários, na
precariedade, na descaracterização da negociação coletiva, na colocação de toda
a instabilidade no lado dos trabalhadores como caminhos para o sucesso do
"mercado de trabalho". A recente afirmação de António Costa à
"Visão" (11/07), "assumimos, perante o presidente Cavaco Silva,
que respeitaríamos os compromissos conseguidos em Concertação Social",
confirma por que lado ele optou nesta revisão de leis laborais.
Não teremos mudança qualitativa
da nossa matriz de desenvolvimento com o Governo aliado à elite empresarial
mais conservadora - que continua a dominar a economia e o emprego - e a não
valorizar os trabalhadores da Administração Pública, mesmo que faça muitos
discursos apelativos e qualitativos aos setores mais inovadores.
Coloque-se o tema da Concertação
Social e o do trabalho, em força, no debate eleitoral.
*Investigador e professor
universitário
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