Domingos de Andrade
| Jornal de Notícias | opinião
Se não o fizer por mais ninguém,
se não o fizer por si porque não acredita, porque se convenceu de que já não
vale a pena, porque lhe parece tudo igual, faça-o porque houve quem lutou e
haverá quem lute.
Porque vale a pena levar os pais
pela mão, os netos e os filhos, e passar o testemunho geracional do tempo em
que não se podia fazer para que nunca mais se perca a oportunidade de o fazer.
Votar. Porque este é, como escreve Valter Hugo Mãe neste jornal, o momento em
que somos todos únicos e em que valemos tanto quanto cada um, nem mais nem
menos.
E deixe que estes sejam dias
futuros de boas memórias. Para lá das escolhas partidárias. Como aqueles da
campanha quente para as presidenciais de 1986, que representaram para uma
geração inteira o primeiro sobressalto cívico e a perceção do que estava em
jogo num ato eleitoral. Entoava-se "Soares é fixe" e "Prá frente
Portugal".
Freitas do Amaral, protagonista
dessa disputa e um dos responsáveis pela integração da Direita na democracia,
deixou-nos em vésperas de ida às urnas. O seu percurso empenhado e livre, tão
livre que ficou por muitos momentos numa inesperada solidão, deve levar-nos a
refletir sobre a forma como vivemos os nossos direitos e deveres.
O adormecimento social, em parte
explicado pela sucessão de casos e de polémicas que retira dignidade à ação
política, faz chegar o distanciamento por parte dos eleitores a um ponto
inaceitável. Como o caso narrado por um adolescente, filho de um casal amigo,
que chegou a casa surpreendido porque uma professora tinha afirmado que este
domingo se realizariam eleições autárquicas.
Faz falta uma dignificação da
vida pública e uma renovação dos partidos que afaste os vícios da corrupção, da
promiscuidade e do aproveitamento dos cargos. Faz falta o surgimento de novas
lideranças, mais livres e inspiradoras. Mas nada disso se alcança sem uma
participação exigente dos cidadãos, porque a democracia faz-se da confluência
entre os dois papéis. Hoje é o dia de dizermos presente, mostrando que estamos
atentos. E que não abdicamos do dever e do poder que nos é confiado.
*Diretor
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