A novela tem pano para mangas, o
que significa (esclarecendo os que se expressam bem em inglês mas não entendem
expressões em português) que o caso está para durar no tempo e na comunicação
social das tricas e laricas. Mas qual novela? Ora, a do PSD anti Rio e pró
linha tétrica dos Passos Montenegros de Mais à Direita Volver.
Este é o assunto primeiro do
Curto de hoje, ainda quentinho, pela lavra de Santos Costa, do Impresa Balsemão
e Companhia Ilimitada Porque Vale Tudo. Vamos nessa.
Que uns dizem assim e outros aqueloutro do dito. Está bem. Até podem andar à trolitada que seja para
aquecerem. Com este frio dará um jeitão e sempre poupam nos aquecimentos que
funcionam à custa dos contribuintes papalvos e enregelados. Até mesmo dos
velhotes com reformas de miséria que pagam a eletricidade dos aquecimentos dos
deputados e de outros felizardos em organismos para por lá gozarem o quentinho dos ares
condicionados e etc. Mas esses mesmos velhinhos, de reformas de miséria, têm de
se contentar com o frio porque não têm reformas suficientes para poderem
suportar as contas de eletricidade que estão apensas ao funcionamento do
quentinho e bom. Coisas desta dita democracia e dita justiça social. Ops. Dito isto
estamos a ver sorrisos ou muitos milhares de esgares? Milhões? Pois.
Avançando. Dizia alguém que este
governo de Costa navega à bolina e sem oposição. E é mesmo, uma vez que
constatamos que nem CDS, nem PSD, são oposição válida, credível, alternativa ao
governo de António Costa. E são assim porque motivo? Porque antes estiveram a
governar exclusivamente para os tais 1% que eram e são DDTs (Donos Disto Tudo),
os tais que atiram os lucros e as verbas dos cambalachos para os offshores. Que, como se não bastasse, debulharam os portugueses durante anos e anos,
condenando-os à miséria e correspondentes ausências de abrigo. Vimos famílias
destroçadas por via disso, cumprindo-se o adágio de “casa onde não há pão todos
ralham e ninguém tem razão”. Boa Passos! Boa Cavaco! Boa doutores-ministros
daquele governo debulhador que nem eram doutores mas sim uns intrujões.
Credibilidade? Só se a memória fôr curta e desavergonhada. Credibilidade? Só se for na matéria que ainda hoje se mantém no fundo da pia
dos despejos e 'obração'. Pois.
Recomende-se, para aquecer, que acabemos este
arremedo de entrada do Curto cantando, rindo, batendo palmas e com os pés no chão,
agitando ao máximo os membros superiores e inferiores: “Oh i oh ai os Passos Montenegros querem vir aí. Oh i oh ai já estamos fartos deles e de ti…” E por aí adiante. Pronto. Já aqueceram?
Cuidado com a conta de eletricidade. É que o Mexia já está podre de rico e os das ilhargas também. Os offshores citys que revelem.
Bom dia, se conseguirem, e boa
semana, se tiverem essa sorte. Abram os olhos como as mulas que carregam os donos-cavaleiros embriagados, de olhos mortiços e até fechados, mas que chegam a casa, ao destino,
para se abrigarem do vento e da chuva, da intempérie que as direitas em
Portugal preparam com toda a manha que caracteriza os que nos espoliam sem dó nem
piedade, ou sem uma réstia de pudor.
Vejam o Curto. Vale. Inté. (MM |
PG)
Bom dia este é o seu Expresso
Curto
Uma guerra civil em que ganham os
dois?
Filipe Santos Costa | Expresso
Bom dia.
Vamos às últimas na guerra civil do PSD.
Depois de Luís Montenegro se ter
disponibilizado para disputar a liderança e ter desafiado Rui Rio para que
convoque eleições diretas já, o presidente do PSD não fez a vontade ao ex-líder
parlamentar do partido, mas anunciou um Conselho Nacional para votar uma
moção de confiança. Agora, é hora de contar espingardas e fazer apostas.
Luís Marques Mendes
já fez as suas.
“Eu acho que Rui Rio vai ganhar”, disse o ex-líder do PSD, e atual comentador
da SIC. A razão é, tão só, a história e a estatística: “Nunca vi ao longo
da história do PSD um líder perder uma votação relevante num Conselho Nacional”,
explicou Mendes. “Se isso acontecer”, acrescentou, “acabam por sair ambos
vencedores”. Uma guerra civil em que ganham os dois, portanto. Rui Rio, porque
“sai reforçado” e não fica nenhuma dúvida de que irá a votos contra António
Costa em outubro, qualquer que seja o resultado das europeias; Luís Montenegro
“também ganha” porque teve a coragem de se chegar à frente e pedir a
clarificação, e fica “na pole position” para a sucessão de Rio depois das
legislativas de outubro.
O antigo presidente social-democrata desdramatizou o desafio feito por Luís
Montenegro, distanciando-se dos que usam expressões como “golpe de Estado” ou
“golpe palaciano”. “Estas coisas são normais e é sempre melhor uma
clarificação”, diz Mendes, para quem o ideal seria ir para diretas já - uma
vitória de Rio deixá-lo-ia “reforçadíssimo”, uma vitória de Montenegro abriria
“um novo ciclo”, com “um novo elán”. Havendo primeiro o Conselho Nacional,
Mendes diz que seria “preferível o voto secreto”, para que os conselheiros
tivessem maior liberdade. Com os apoiantes de Rio empenhados em reduzir as
motivações dos críticos à preocupação com “os lugarzinhos nas listas”, Mendes
advertiu que “a história dos lugares é uma avenida com dois sentidos, há dum
lado e do outro” e admitiu que “há uma parte significativa, de um lado e
de outro, que vota pelos lugares”.
E dos dois lados perfilam-se apoios. Paulo Rangel
colocou-se ao lado de Rio, elogiando a “coragem” e
“bom senso” com que respondeu ao desafio. Francisco Pinto Balsemão,
presidente do Conselho de Administração do Grupo Impresa (proprietário do
Expresso),
criticou o timing do desafio de Montenegro, bem como o
seu “conteúdo um pouco melodramático, ou patético”. Do lado de Luís Montenegro, Maria
Luís Albuquerque lamentou ontem que Rio não tenha aceitado uma
clarificação imediata em diretas, e
criticou a forma como o presidente do PSD recorreu a
ataques pessoais para responder ao desafio político que lhe foi feito por
Montenegro. Paula Teixeira da Cruz também já havia considerado a
declaração de Rio
“no
mínimo miserável”.
O Observador fez uma
análise desses ataques de Rio, que disse ou insinuou
que Montenegro é irresponsável, imaturo, inconsciente, sem ética... e
maçon.
Hoje, o Presidente da República recebe Luís Montenegro em Belém, depois de
se ter encontrado com Rio, no Porto, na sexta-feira à noite.
A luta continua, e a balcanização
do PSD também.
OUTRAS NOTÍCIAS
Não é só Rui Rio que, em clima de
balcanização, quer ver a sua autoridade reforçada com uma moção de
confiança. Na Grécia, Alexis Tsipras
fez
o mesmo, depois da demissão do ministro da Defesa, um ultranacionalista e
populista. Neste caso, é literalmente uma questão balcânica - o
Governo de Atenas, que resistiu às agruras da troika, pode não resistir ao
novo nome da Macedónia, um dos seus vizinhos a norte. Desde a semana passada o
país chama-se
República
da Macedónia do Norte, uma decisão que mereceu o acordo de Tsipras, o que
pôs fim a uma velha disputa diplomática, mas também pode por fim ao governo
grego. Desde que foi assinado o acordo de Skopje, há um ano, que os
ultranacionalistas gregos
ameaçavam romper
com Tsipras, pois não aceitam que Macedónia, nome de uma região grega, designe
também outro país.
Depois de mais um fim de semana de protestos dos coletes amarelos,
Emmanuel Macron
propôs um grande debate nacional em França em
torno de 35 questões, com temas que abrangem a fiscalidade, a democracia, a
ecologia ou a imigração. Não se sabe que consequências terá a iniciativa do
presidente francês, mas uma consequência deste movimento de protesto parece
iniludível: o
reforço de Marine le Pen. A líder da extrema-direita
francesa está bem lançada para uma vitória nas eleições europeias.
Amanhã é o dia decisivo para o Brexit, com a votação na Câmara dos Comuns
do acordo entre o Reino Unido e a UE. Theresa May
voltou a dramatizar as consequências de um
chumbo, e deverá fazê-lo outra vez
hoje, num último esforço para conseguir uma
improvável maioria de apoio. Entretanto, Bruxelas
poderá adiar até julho a data limite para o
Brexit, de modo a evitar uma saída desordenada já no fim de março. Se assim
for, o Reino Unido ainda
terá de votar nas eleições europeias de maio.
António Costa
deu ontem a garantia aos britânicos que
vivem em Portugal de que poderão, depois do divórcio com a UE, continuar
serenamente
em Portugal. O
secretário-geral do PS chamou ainda a atenção para a importância das eleições
europeias, alertando que a Europa está a ser atacada pelo "virus do
protecionismo e do nacionalismo".
Noémia Jorge, Cecília Aguiar e Miguel Magalhães não são nomes consagrados como
é Fernando Pessoa, mas isso não os impediu de dar umas tesouradas na
obra do poeta português mais celebrado em todo o mundo. Os três autores de
“Encontros”, um manual de língua portuguesa para o 12º ano, da Porto Editora,
terão achado que a mocidade portuguesa não está preparada para alguns versos
com linguagem mais explícita e censuraram-nos, conforme
noticiou a Marta Gonçalves.
Trata-se de três versos da
“Ode Triunfal”, assinada pelo heterónimo pessoano Álvaro de Campos. Ei-los: “Ó
automóveis apinhados de pândegos e de putas”; “E cujas filhas aos oito anos – e
eu acho isto belo e amo-o! / Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de
escada”. Os alunos em causa têm pelo menos 17 anos. Estamos no ano da graça de
2019.
A
manchete do Público conta uma história
tipicamente portuguesa. Em abril de 2018 juntaram-se dois ministros e
representantes do Banco Central Europeu para, com a devida pompa e
circunstância, lançarem o programa Casa Eficiente 2020. Trata-se de uma
linha de financiamento com condições favoráveis para melhorar a eficiência
energética e hídrica das habitações portuguesas. O programa, que arrancou em
junho com uma dotação de 200 milhões de euros, permitiu nos primeiros seis
meses empréstimos num valor total de apenas 300 mil euros. O Governo diz
que a responsabilidade é da banca. E,
como é possível constatar, um crédito para comprar
carro é mais fácil e tem melhores condições do que um empréstimo para
fazer obras em casa.
Uma semana após a estreia do novo programa de Cristina Ferreira, uma
reportagem especial da SIC mostra o outro
lado do fenómeno da TV que está a dominar as audiências.
Por falar em Cristina: Marcelo Rebelo de Sousa esteve de surpresa no Hot
Clube para ouvir jazz. Foi no sábado à noite, em resposta a um desafio do
radialista José Duarte, conta o
Público.
O Presidente da República ouviu a apresentação do terceiro disco do Vitor
Pereira Quintet.
O primeiro concerto dos Xutos e Pontapés foi a 13 de janeiro de 1979.
Passaram ontem 40 anos. Diz quem assistiu que
"foi uma experiência fugaz, mas intensa". A banda
prepara-se para
lançar um novo disco, o primeiro sem o
guitarrista Zé Pedro, embora inclua gravações feitas pelo músico que morreu em
2017.
O
Diário de Notícias dá conta de uma nova
greve dos guardas prisionais. Da próxima quarta-feira até 3 de fevereiro os
reclusos ficam 22 horas por dia nas celas, terão apenas uma hora de visita por
semana, e deverão faltar a tribunal e ao trabalho.
Mulher, marxista, pacifista, revolucionária, "uma das melhores cabeças do
socialismo internacional" - Rosa Luxemburgo foi assassinada há cem
anos. A RTP recorda a sua história
aqui.
AS MANCHETES DE HOJE
Correio da Manhã: Governo corta benefícios na ADSE
Negócios: Governo faz balanço
"favorável" das PPP na Saúde
Jornal de Notícias: Crianças
diabéticas forçadas a picadas por falta de dispositivo
Público: Plano para tornar casas
mais eficientes falhou em toda a linha
i: "Há uma justiça para
ricos e uma justiça para pobres"
O QUE ANDO A LER
Não vi a série “The Handmaid’s Tale”. Não recorro à pirataria para ouvir
música, ler jornais, nem ver filmes ou séries de televisão, por muito que me
interessem. Tanto quanto sei, em Portugal a única via legal de ver essa série
da Hulu é através de um operador de cabo de que não sou assinante, por isso,
mantenho-me fora desse buzz (já agora: é impressionante a quantidade de gente
razoável e bem formada que não roubaria nada… a não ser direitos de autor, e se
recusa a reconhecer o quanto é errado recorrer à partilha ilegal de conteúdos,
seja de entretenimento ou de informação. Adiante...)
A vantagem de não ter visto a série é o prazer com que estou a ler o livro
de Margaret Atwood que lhe deu origem ("A História de uma Serva" está
editado em Portugal pela Bertrand). Trata-se de uma distopia que nos apresenta
a República de Gileade, nome dos Estados Unidos do futuro, transformados
num regime teocrático, fundado por fundamentalistas religiosos depois de
acontecimentos que para mim (que ainda estou a meio do livro) não são claros -
há uma guerra em curso e há uma dramática crise de fertilidade, e ambas
estão na origem de uma sociedade totalitária em que todos têm papéis
perfeitamente definidos e são rigorosamente vigiados. É também uma sociedade profundamente
puritana, com a Bíblia como livro fundador, e misógina até à medula: os homens
governam, as mulheres obedecem, e umas obedecem mais do que outras. Não podem
ler, só podem falar com quem são supostas, e, sendo uma sociedade militarizada,
usam roupas pré-definidas, como se fossem fardas. O seu espaço é dentro de
casa.
A protagonista, Offred (não é o
seu nome, mas o que lhe foi dado pelo Estado), é uma Serva, uma das várias
categorias em que estão estratificadas as mulheres. As Servas têm como único
papel engravidar dos Comandantes (figuras da nomenclatura militar e
política) e dar à luz crianças que devem ser entregues às Esposas dos
Comandantes. No passado, Offred teve um marido, uma filha, e aquilo a que
podemos chamar uma vida normal, com as grandes e pequenas coisas das quais
muitas vezes nem se dá conta - aquilo que a protagonista recorda repetidamente,
como forma de não se deixar afundar na existência brutal, impessoal e invisível
que lhe está destinada.
Esta é a minha estreia na obra da escritora canadiana, e a primeira coisa que
me cativou foi a escrita, simultaneamente direta e lírica. Há um tom onírico na
narrativa que transmite ao leitor a sensação de irrealidade - diria até
imaterialidade - em que a protagonista vive. A segunda coisa que me
impressionou foi descobrir que o livro é de 1985. A tecnologia
existente neste futuro alternativo não tem nada de futurista, e fica-se pela
que existia na primeira metade dos anos 80. No entanto, as questões
levantadas pela obra são tão atuais, e algumas ameaças parecem extrapoladas de
perigos tão contemporâneos, que é dificil acreditar que o livro tem 34 anos.
Suponho que seja isso que faz um clássico.
A autodeterminação da mulher, a
violência de género, o fanatismo religioso, a recusa da ciência e da cultura, a
rejeição de quem é diferente, o fim da privacidade, a reacção violenta dos
ultras contra os “excessos” de liberdade ou os “excessos” do feminismo… até
há um Muro que serve como símbolo do poder.
Fui à procura de críticas antigas ao livro, para perceber se este era tão
pertinente quando saiu como é hoje. Encontrei poucas, mas dei com esta,
publicada pelo
New York Times em fevereiro de
1986. A autora aponta
várias objeções à obra, e uma delas é esta: “o livro não me diz a que é que,
nos nossos atuais costumes, eu devo estar atenta se não quiser que os EUA se
tornem num Estado de escravos como a República de Gilead”. Talvez as
ameaças de “A História de uma Serva” sejam mesmo mais atuais hoje do que quando
o livro foi publicado.
Tenha uma boa segunda-feira e uma boa semana, apesar do
frio que aí está e da chuva que vem aí.